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Maria Clara Fernandes - MEDICINA MORFOLOGIA DO PÂNCREAS: O pâncreas é uma glândula retroperitoneal localizado posteriormente à curvatura maior do estômago. Ele é considerado um órgão acessório da digestão, juntamente com o fígado e a vesícula biliar, e sua principal função é a produção do suco pancreático. O pâncreas é dividido em cabeça, corpo e cauda, além de dois ductos que o conectam ao duodeno. A cabeça do pâncreas é a porção mais expandida do órgão, o corpo se localiza superiormente à esquerda da cabeça, e a cauda é a última parte do pâncreas, que se encontra no ligamento plenorrenal. O pâncreas também apresenta dois ductos: o ducto pancreático e o ducto pancreático acessório. O ducto pancreático ou Ducto de Wirsung, une-se ao ducto colédoco (proveniente do fígado e da vesícula) e entra no duodeno com um ducto comum, chamado de Ampola de Vater. Já o ducto pancreático acessório ou Ducto de Santorini, é menor que o pancreático. Ele se origina no pâncreas e esvazia-se no duodeno, acima da ampola hepatopancreática. O pâncreas é formado por aglomerados de células epiteliais, onde 90% formam a porção exócrina (ácinos) e 10% formam a porção endócrina (ilhotas pancreáticas). A parte exócrina do pâncreas é formada pelos ácinos e tem como função sintetizar e secretar enzimas que são essenciais para a digestão no duodeno, formando o suco pancreático. Já a parte endócrina do pâncreas é formada pelas ilhotas pancreáticas ou Ilhotas de Langerhans, que tem como função sintetizar e secretar os hormônios da insulina, glucagon, somatostatina e polipeptídio no sangue. SÍNTESE E SECREÇÃO DE INSULINA: A insulina é um hormônio produzido e secretado pelo pâncreas, apresentando três funções principais: • Estimular a captação de glicose pelas células-alvo e armazenar glicose em forma de glicogênio; Maria Clara Fernandes - MEDICINA • Evitar a decomposição das gorduras e do glicogênio; • Inibir a gliconeogênese e promover a síntese de proteínas. A insulina ativa é composta por uma cadeia polipeptídica A e uma cadeia polipeptídica B Essa insulina ativa é produzida e sintetizada pelas células beta, encontradas nas ilhotas pancreáticas, através de uma molécula chamada de proinsulina. A proinsulina realiza a síntese da insulina através da clivagem da estrutura do peptídeo C, que interliga as cadeias A e B. A secreção da insulina é regulada a partir dos níveis de glicose no sangue, que são regulados a partir da oscilação da concentração de glicemia. A glicose sanguínea entra na célula beta através do transportador de glicose específico, chamado de GLUT-2. Em seguida, a glicose sofre fosforilação e forma o ATP (trifosfato de adenosina), que é responsável pelo fechamento dos canais de potássio e pela despolarização da célula. Essa despolarização da célula resulta na abertura dos canais de cálcio e, consequentemente, na secreção da insulina. A insulina que é secretada pelas células beta entra na circulação porta e é levada para o fígado, onde é 50% consumida ou decomposta. Para que a insulina tenha seu efeito nos tecidos-alvo, ela se liga a um receptor de membrana. As membranas das células são impermeáveis à glicose, mas elas possuem um grupo de transportadores de glicose (GLUT-1, GLUT-2 e assim por diante) encarregados de transferir essa glicose para dentro do sangue de forma mais rápida e, a partir disso, cada um tem sua distribuição tecidual específica. DEFINIÇÃO DO DIABETES: O diabetes mellitus é uma síndrome metabólica de origem e classificação múltipla, e ocorre em decorrência da produção insuficiente de insulina ou incapacidade da insulina de exercer a metabolização da glicose. CLASSIFICAÇÃO DO DIABETES: Existem diversos tipos de diabetes, com diversas etiologias. Os principais tipos são: diabetes mellitus tipo 1, diabetes mellitus tipo 2, diabetes gestacional ou diversos outros tipos decorrentes de defeitos genéticos ou outras doenças. O diabetes mellitus tipo 1 é causada pela destruição das células produtoras de insulina pelo próprio sistema imunológico, através de uma destruição autoimune das células beta. O diabetes mellitus tipo 2 é caracterizada como a perda progressiva de secreção insulínica combinada com a resistência à insulina. Já o diabetes gestacional se caracteriza pela hiperglicemia de graus variados durante a gestação, sem critérios de diabetes mellitus previamente. Maria Clara Fernandes - MEDICINA Os demais tipos de diabetes podem ser monogênicos, neonatal, secundário a endocrinopatias, secundário a doenças do pâncreas, secundário a infecções ou secundário a medicamentos. EPIDEMIOLOGIA: O diabetes mellitus se destaca como uma grande causa de morbimortalidade no mundo. Estimativas globais indicam que 382 milhões de pessoas vivem com DM e esse número pode chegar a 592 milhões em 2035, sendo que cerca de 50% dessas pessoas não sabem que têm a doença. Em âmbito nacional, em 2013 a Internacional Diabetes Federation classificou o Brasil na 4ª posição entre os países com maior número de pessoas diabéticas, com 11,9 milhões de casos entre indivíduos adultos. Os principais fatores associados a esse crescimento da prevalência de casos de DM são o envelhecimento da população, a obesidade e o sedentarismo. Esse cenário gera altos custos ao paciente e ao sistema de saúde. Estima-se que o DM chegou a causar 12% das hospitalizações, além de ser responsável por até 15,4% dos custos hospitalares do SUS do ano de 2008 até 2010. FATORES DE RISCO DO DIABETES: Os principais fatores de risco para DM são idade maior que 45 anos, sobrepeso (IMC > 25), obesidade central, antecedentes familiares de diabetes, hipertensão arterial, colesterol alto, diabetes gestacional, SOP, doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares. FISIOPATOLOGIA DO DIABETES: O diabetes mellitus tipo 1 é uma doença autoimune em que ocorre a destruição das ilhotas de Langerhans, através da ação autoimune de células efetoras contra antígenos endógenos das próprias células beta. Esse diabetes tipo 1 também pode ser dividido em tipo 1A e tipo 1B. O diabetes mellitus tipo 1A é o mais frequente e se confirma pela presença de um ou mais autoanticorpos no organismo. Sua fisiopatologia envolve predisposição genética e fatores ambientais que desencadeiam a resposta autoimune, entre elas estão as infecções virais, componentes dietéticos e determinadas composições da microbiota intestinal. Na maioria dos casos, os anticorpos marcadores de autoimunidade precedem a hiperglicemia durante meses e até anos, durante o estágio pré-diabético. Quanto maior for o número de anticorpos presentes, maior é a chance do individuo desenvolver a doença propriamente dita. Maria Clara Fernandes - MEDICINA As manifestações clínicas do diabetes mellitus tipo 1 começam de forma abrupta, podendo gerar cetoacidose diabética como primeira manifestação em até 1/3 dos casos. Já o diabetes mellitus tipo 1B ou idiopático está atribuído aos casos de diagnóstico mais difícil, quando os autoanticorpos não são detectáveis na circulação. As recomendações terapêuticas permanecem as mesmas do diabetes tipo 1A e não existem evidências de riscos distintos desse outro tipo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Os pacientes portadores de diabetes mellitus tipo 1 apresentam rápida e intensa perda de capacidade de secreção de insulina. Por esse motivo, os sintomas geralmente são: • Perda de peso e polifagia: o organismo passa a utilizar a própria gordura para geração de energia; • Poliúria: secreção excessiva de urina por consequência da diurese osmótica, pois os rins não conseguem reabsorver toda a glicose, que é eliminada na urina juntamente com a água; • Polidipsia: sede excessiva em decorrência do aumento da micção e da perda de eletrólitos; • Fadiga e indisposição geral: devido ao volume plasmático reduzido, que gera hipotensão postural,perda de potássio e catabolismo das proteínas; • Dificuldade visual: pois o cristalino e a retina são expostos aos fluidos hiperosmolares, causando retinopatia e edema macular; • Infecções de pele e mucosa: causada pela hiperosmolaridade do soro do diabético, dificultando a passagem de nutrientes e células de defesa para a pele; Maria Clara Fernandes - MEDICINA • Parestesias: formigamentos em decorrência da disfunção temporária dos nervos sensitivos periféricos; • Cetoacidose diabética: pois a deficiência de insulina faz com que o organismo metabolize triglicerídeos e aminoácidos ao invés de glicose para produzir energia. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: O tratamento para diabetes mellitus tipo 1 é feito baseado em quatro componentes principais: insulinoterapia, automonitorização glicêmica, orientação nutricional e exercício. As insulinoterapias podem ser classificadas de acordo com a biodisponibilidade e podem ser de ação curta e início de ação ultrarrápido, de ação curta e início de ação rápido, de ação intermediária ou de ação prolongada com picos de ação menos pronunciados. Na prática, a reposição de insulina é feita com uma insulina basal, uma insulina durante as refeições e doses de insulina necessárias para corrigir hiperglicemias pré e pós-prandiais (das refeições) ou no período interalimentar. O tratamento mais intensivo é feito com aplicações múltiplas de doses de insulina com seringas ou canetas. A dose diária total de insulina para pacientes com DM tipo 1, com diagnóstico recente ou após um quadro de cetoacidose diabética varia de 0,5 a 1,0 U/kg/dia, porém alguns casos requerem doses maiores de insulina para a recuperação do equilíbrio metabólico. As preparações de insulina seguem a classificação de ação rápida, curta, intermediaria ou longa. A insulina de ação rápida e curta é utilizada em casos em que há necessidade de correção rápida de glicose elevada, sendo administrada 15min antes ou depois da refeição. A insulina de ação intermediária é administrada em conjunto com a insulina de ação rápida para controle basal (em jejum), não podendo ser usada quando é necessário baixar rapidamente a glicose. Já a insulina de ação prolongada também é utilizada para controle basal por via subcutânea (SC). TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO: O tratamento não farmacológico do diabetes é fundamental para obtenção de bons resultados pois, associados ao tratamento farmacológico, podem otimizar os resultados. Esse tratamento consiste na mudança de hábitos do paciente, desde a alimentação até a prática de exercícios físicos. A alimentação deve ser apropriada e balanceada, de forma que possa suprir as necessidades do paciente sem a elevação dos níveis glicêmicos de forma abrupta e frequente. Maria Clara Fernandes - MEDICINA Os exercícios físicos devem ser realizados regularmente, além de ser importante interromper hábitos de etilismo e tabagismo, quando presentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: “Porth Fisiopatologia” de Sheila C. Grossman e colaboradores, 9ª edição, 2016. “Fisiopatologia das Doenças” de Gary D. Hammer e Stephen J. McPhee, 7ª edição, 2014. “Bogliolo Patologia” de Geraldo Brasileiro Filho, 9ª edição, 2016. “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Diabetes Mellitus tipo 1”, Ministério da Saúde, 2018. Artigo “Diabetes Mellitus: fatores de risco, ocorrência e cuidados entre trabalhadores de enfermagem” de Darlene Mara dos Santos e colaboradores, 2010. Artigo “Prevalência de Diabetes Mellitus e fatores associados na população adulta brasileira: evidências de um inquérito de base populacional” de Luisa Sorio Flor e Monica Rodrigues Campos, 2017.
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