Buscar

Questões Campanário

Prévia do material em texto

1. Adam Smith (1776) escreveu que “o preço natural é como que o preço central ao redor do qual continuamente estão gravitando os preços de todas as mercadorias”. Qual o significado desta frase?
Há para Smith dois preços: o natural (média histórica prevalecente em um dado setor) e o de mercado (determinado pela oferta e demanda no referido setor); ambos são compostos por salários, renda e lucro (o natural pelas taxas médias destes componentes e o de mercado pelas taxas em vigor, correntes, no setor). O preço natural depende das circunstâncias e características tanto do setor em questão como da situação da economia como um todo. 
Se o preço de mercado está acima (abaixo) do preço natural — porque há um excesso de demanda (oferta) naquele setor —, alguns dos fatores de produção (trabalho, capital, terra) estão sendo pagos a uma taxa superior (inferior) à média do setor. Isto atrai (expulsa) fatores de produção para o setor que, por sua vez, implica em aumento (redução) da oferta. Este aumento (redução) de oferta reduz (aumenta) o preço de mercado, aproximando-o do preço natural. Tal processo só cessa quando PM=PN. Logo, PN é o centro de gravidade que continuamente atrai PM.
Cruciais para o funcionamento deste atrator são: concorrência (perfeita) entre setores e livre mobilidade dos fatores de produção.
2. É bastante conhecido o paradoxo da água e do diamante. Como a teoria da utilidade marginal permite uma explicação racional para este paradoxo? Lembrem-se de que foram Jevons, Menger e Walras os principais precursores deste princípio fundamental da economia moderna.
3. Para Karl Marx existe uma tendência no comportamento da taxa de lucro em uma economia capitalista. Qual é a tendência por ele apontada e seus determinantes? Para responder esta questão, explore a relação entre a taxa de exploração (m’) e a composição orgânica do capital (q).
Tendência declinante da taxa de lucro (mesmo que o lucro total tenda a aumentar).
Taxa de mais-valia (m’): a razão entre a mais-valia extraída (trabalho excedente) e o capital variável (trabalho necessário).
Composição orgânica do capital (q): a razão entre o capital constante e o capital total (capital constante+capital variável).
Taxa de lucro (p): é a razão entre a mais-valia extraída e o dispêndio total de capital.
Intuitivamente: há limites para o aumento da taxa de mais-valia (além do fato desta taxa ter uma certa rigidez institucional e histórica). A acumulação de capital no sistema capitalista tende a aumentar a composição orgânica do capital (i.e., aumenta a parcela do capital constante no estoque total de capital). Com isto, a mais-valia gerada teria que ser “diluída” em uma quantidade maior de capital — ou seja, a taxa de lucro cairia. 
Ainda intuitivamente: a participação do capital variável no estoque de capital total diminui (com aumento em “q”), diminuindo a “base” de sustentação da taxa de lucro.
Matematicamente (ver notas de aula para derivação): p = m’.(1-q). Como m’ não pode aumentar muito e prolongadamente, aumento gradual em q diminui p.
4. Uma das razões para que o sistema econômico de mercado tenha problemas é a dificuldade de determinar o investimento no longo prazo (gastos empresariais). Explique por que isto ocorre segundo John Maynard Keynes e o que ele pondera como solução.
Na análise clássica, o ajustamento automático das variáveis nominais, como o nível de preços e salários, garantia que a economia funcionaria a pleno emprego (isto é, só haveria apenas desemprego friccional – causado pela demora em combinar vagas ociosas e trabalhadores ociosos – e o voluntário – causado pelo fato de o salário corrente ser inferior ao salário de reserva do trabalhador, que prefere, portanto, não trabalhar). Quaisquer desajustes no mercado de trabalho seriam explicados por esses dois fenômenos, além das questões institucionais que não permitiam uma queda dos salários nominais de volta ao seu valor de pleno emprego (por exemplo, devido à legislação restritiva aos negócios, poder de barganha dos sindicatos, etc.).
Keynes lança seu livro em 1936. A crise iniciada em 1929 ainda não havia sido superada. Essa demora da economia em voltar ao seu nível ‘normal’ de pleno emprego, parecia estar em contradição com a análise clássica. A Lei de Say afirmava que as condições de oferta agregada eram o fator essencial na determinação do produto, cabendo ao nível da demanda agregada determinar apenas o nível geral de preços da economia. Para os autores clássicos o ajustamento automático das variáveis nominais (preços e salários) e a determinação da taxa de juros (no mercado de fundos emprestáveis) garantiam que a economia não operaria em um ponto de subutilização por longos períodos.
Keynes se propôs a derrubar essa idéia. O nível de demanda agregada era fundamental na determinação no nível de emprego e de produto no curto prazo. Políticas fiscais e monetárias expansionistas eram capazes de retomar o nível de atividade, tanto pela rigidez relativa das variáveis nominais (assim, uma política monetária expansionista causaria perturbações no lado real da economia, isto é, ausência da dicotomia clássica no curto prazo), quanto pela ausência do chamado crowding out pleno dos gastos do governo (que afirma, grosso modo, que qualquer aumento nos gastos do governo significa uma redução de igual magnitude dos gastos privados, mantendo assim os gastos totais inalterados). Para Keynes, aliás, os aumentos exógenos dos gastos do governo e dos investimentos estavam associados a um efeito multiplicador.
Na análise de Keynes, a demanda agregada em uma economia fechada é: Y = C + I + G. Ela é uma função da renda corrente disponível porque a função consumo depende desta variável. Para o autor a dinâmica de consumo não era determinante para as flutuações no produto que se verificava àquela época. Os agentes econômicos tendiam a manter um nível razoavelmente constante de consumo: o nível de consumo seria determinado pelo nível de renda na economia.
Os gastos do governo tampouco eram determinantes para a queda do produto, sendo razoavelmente estáveis da renda nacional. O ‘vilão’ para Keynes eram os investimentos. Para Keynes os investimentos eram função da eficiência marginal do capital (conceito análogo ao de taxa interna de retorno) e das expectativas de longo prazo em relação às condições de oferta e demanda quando acabar o prazo de maturação desse dispêndio. Keynes não descarta a relação negativa entre investimentos e taxa de juros, mas para o autor esse efeito era de menor grandeza. Sua justificativa era que variações marginais na taxa de juros obtidas através da operação de mercado aberto (digamos, uma queda de 3% para 2% ao ano) não teriam impacto suficiente para retomar o nível de atividade ao seu patamar ‘natural’.
O problema estaria, portanto, nas expectativas de longo prazo. Para Keynes, o sistema econômico estava envolto na incerteza não-probabilística. Os agentes econômicos, diante de tempos atribulados, tenderiam a retardar seus gastos e acumular sua riqueza sob a forma de moeda (ou outros ativos de alta liquidez). E a produção de moeda exige uma quantidade desprezível de trabalhadores. Assim, a economia ficaria presa a uma situação de sub-produção e de desemprego involuntário, sem que houvesse qualquer força endógena do sistema de mercado, capaz de recuperá-la.
Contrabalançando a incerteza há o animal spirits. Trata-se de um estado de confiança positivo, que impele os empresários a investirem. Para Keynes, portanto, caberia aos gastos do governo, amenizar as flutuações econômicas (sustentando a demanda agregada em nível superior ou inferior àquele observado na economia) decorridas tanto do excesso de pessimismo como de otimismo. Em casos de depressões, o governo deveria expandir seus gastos via endividamento, de modo que o efeito multiplicador desses gastos tenderia a levar a economia ao ponto de plena utilização dos fatores produtivos. Haveria também espaço para a política monetária expansionista, como forma de reduzir o desemprego e aumentar o produto, mas a ênfase, emmomentos como o da Grande Depressão, era nos gastos do governo. 
5. Explique a teoria do valor de William Stanley Jevons, resumida por ele como: “o custo de produção determina a oferta; a oferta determina o grau final de utilidade; o grau final de utilidade determina o valor.”
Utilidade total é o quanto de prazer gerado pelo consumo dos bens. Utilidade marginal é o acréscimo de prazer associado ao consumo de uma unidade adicional de um bem.
Em contraste à teoria do valor trabalho — segundo a qual o valor seria objetivo, intrínseco aos bens, e dado pelos custos de produção —, Jevons é adepto da teoria do valor utilidade, que trata valor (e preço) como sendo algo subjetivo, extrínseco aos bens.
Valor para Jevons é determinado pela utilidade marginal dos bens, que ele chama de grau final de utilidade. A utilidade marginal é decrescente na quantidade consumida do bem (diminuição da intensidade do sentimento de prazer). Para relacionar sua teoria de valor com a do valor trabalho, Jevons argumenta que porque a utilidade marginal depende da quantidade consumida (e ofertada), a oferta é relevante para determinar o grau final de utilidade e este o valor. Oferta depende dos custos de produção. Logo: custos de produção oferta UMg valor.

Outros materiais