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Direitos e Garantias Fundamentais - Evolução e Fundamentação

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DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 1 
 
 
MBA GERENCIAMENTO DE 
PROJETOS 
DIREITOS E GARANTIAS 
FUNDAMENTAIS 
PROFESSOR: GUILHERME SANDOVAL GÓES 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 2 
ÍNDICE 
AULA 1: O PERFIL DE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E SUA 
FUNDAMENTAÇÃO ÉTICA 3 
INTRODUÇÃO 3 
CONTEÚDO 4 
CONHEÇA AGORA A QUESTÃO TERMINOLÓGICA 4 
A PRÉ-HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS 6 
A FASE DE AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS NATURAIS PELO JUSCONTRATUALISMO 12 
A FASE DE CONSTITUCIONALIZAÇÃO: DA DEMOCRACIA LIBERAL À SOCIAL DEMOCRACIA 16 
O CONSTITUCIONALISMO LIBERAL E A PROTEÇÃO DAS LIBERDADES INDIVIDUAIS 17 
O CONSTITUCIONALISMO SOCIAL E A INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO PRIVADO 19 
ATIVIDADE PROPOSTA 21 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 22 
REFERÊNCIAS 29 
CHAVES DE RESPOSTA 30 
AULA 1 30 
ATIVIDADE PROPOSTA 30 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 31 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 3 
Direitos e Garantias Fundamentais – Apostila 
Aula 1: O perfil de evolução dos 
direitos humanos e sua 
fundamentação ética 
Introdução 
Na presente aula, será estudado o perfil de evolução dos direitos humanos e 
sua fundamentação ética, cujo conteúdo programático tem como escopo o 
estudo dos seguintes temas centrais: a questão terminológica, a pré-histórica 
dos direitos humanos, a afirmação dos direitos naturais pelas correntes 
juscontratualistas e a formação do constitucionalismo democrático. 
 
Destarte, no que tange à pré-história dos direitos humanos, destaca-se o 
exame da democracia direta ateniense e da escolástica da era medieval. Já o 
estudo da afirmação dos direitos naturais do homem será desenvolvido a 
partir das obras de Hobbes, Locke e Rousseau. Finalmente, a formação do 
constitucionalismo democrático englobará a análise do Estado liberal de 
Direito e o Estado social de Direito, aqui compreendidos como paradigmas 
estatais da modernidade. 
 
Objetivos 
1. Compreender a questão terminológica e a evolução do regime jurídico-
filosófico de proteção dos direitos humanos, desde seus primórdios até 
o início do constitucionalismo da modernidade; 
2. Analisar os elementos essenciais do constitucionalismo democrático da 
modernidade e suas fases liberal e social. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 4 
Conteúdo 
Conheça agora a questão terminológica 
Antes de enfrentar as questões relativas às fases de evolução dos direitos 
humanos, é importante compreender a questão terminológica envolvendo os 
conceitos de direitos naturais do homem, direitos humanos e direitos 
fundamentais. 
 
Com efeito, o estudioso dos direitos humanos não pode deixar de considerar 
esta questão terminológica, na medida em que tais expressões apresentam 
dimensões conceituais próprias, razão pela qual se impõe tal rigor de termos. 
É nesse diapasão, portanto, que é importante traçar os elementos 
diferenciadores dos conceitos em tela. 
 
Assim, a ideia de direitos do homem designa os direitos naturais do 
homem e ainda não positivados, seja na esfera interna, seja em sede 
internacional. Em linhas gerais, a expressão direitos do homem apresenta 
contornos amplos ligados aos direitos naturais e pré-estatais. Já o termo 
direitos humanos simboliza os direitos naturais do homem que já foram 
positivados na esfera internacional, vale dizer, nos textos dos documentos 
internacionais, como por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos do 
Homem de 1948. 
 
Finalmente, a expressão direitos fundamentais estaria reservada para 
designar aqueles direitos cujo reconhecimento está garantido em sede 
constitucional. Ou seja, os direitos fundamentais são os valores reconhecidos 
e positivados por cada ordem constitucional, o que evidentemente significa 
dizer que os direitos fundamentais variam de Estado para Estado, seja em 
termos de efetividade, seja em termos de proteção. 
 
A questão termininológica, longe de ter apenas valor acadêmico, ganha 
vitalidade inquestionavel quando se tem em conta as características dos 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 5 
direitos fundamentais. Assim, é lícito falar-se em universalidade dos direitos 
do homem ou dos direitos humanos (direitos do homem positivados em 
documentos internacionais) e na pretendida universalização dos direitos 
humanos (tenta-se implementar, em toda a comunidade internacional, a 
garantia dos direitos assegurados nas Declarações Universais e Regionias de 
Direitos Humanos). Com efeito, a proteção internacional dos direitos humanos 
ainda se encontra em fase incipiente, muito embora se saiba que tal 
concretização global, na prática, venha ganhando corpo e já apresente sinais 
reais de efetividade no âmbito das cortes internacionais. 
 
Diferentemente dos direitos humanos, a ideia de direitos fundamentais fica 
associada aos valores reconhecidos em sede constitucional, formando um rol 
de direitos que se colocam acima do próprio Estado. Assim sendo, no 
contexto jurídico de proteção do cidadão comum, o símbolo dos direitos 
fundamentais fica caracterizado como opção de cada Estado nacional. Isto 
significa dizer que os direitos fundamentais serão aqueles previstos nos 
ordenamentos constitucionais dos Estados. 
 
E assim é que, enquanto os direitos humanos simbolizam direitos ligados à 
aspiração de supranacionalidade e superconstitucionalidade, a noção de 
direitos fundamentais é conceito mais restrito conectado a uma Constituição 
específica de um Estado nacional. Destarte, os direitos fundamentais são os 
direitos naturais do homem que foram efetivamente positivados na 
Constituição de um determinado país soberano. 
 
É por isso que os direitos fundamentais são limitados no espaço e no tempo, 
ou seja, são os direitos do homem, jurídico-institucionalmente garantidos e 
limitados espaço temporalmente (J.J. Gomes Canotilho). Em termos 
comparativos, os "direitos humanos" são direitos de contornos mais amplos 
e imprecisos do que os “direitos fundamentais”, estes últimos com sentido 
mais preciso e restrito que delimita espacial e temporalmente o catálogo 
jusfundamental a ser respeitado pelo sistema jurídico do Estado. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 6 
 
A figura abaixo sintetiza a questão terminológica envolvendo os conceitos de 
direitos do homem, de direitos humanos e de direitos fundamentais. 
 
NOME DA AULA – AULA1
NOME DA DISCIPLINA
A QUESTÃO TERMINOLÓGICA DOS DIREITOS HUMANOS
DIREITOS DO HOMEM
POSITIVADOS EM 
UMA DETERMINADA 
CONSTITUIÇÃO
DIREITOS 
FUNDAMENTAIS
POSITIVADOS EM 
DOCUMENTOS 
INTERNACIONAIS
DIREITOS 
HUMANOS
 
 
Em suma, tudo isso demonstra que o regime jurídico de proteção dos direitos 
humanos é fruto de lutas e conquistas políticas e sociais, dentro de um 
processo histórico cheio de obstáculos e caracterizado por avanços e 
retrocessos. 
 
É nesse sentido, que vamos em seguida analisar tal caminho, longo e árduo, 
desde a fase de pré-história dos direitos humanos até seu atual estado da 
arte, denominado pela doutrina de fase de constitucionalização dos direitos 
fundamentais. 
 
A pré-história dos direitos humanos 
O objetivo acadêmico deste segmento temático é compreender as 
transformações do espaço jurídico-filosófico operadas no curso da evolução 
dos direitos humanos durante o período que a doutrina chama de pré-
história. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 7 
Nesse sentido, é importante destacar a classificação de Klaus Stern que 
mostra a evolução dos direitos humanos a partir de três fases bem distintas, 
a saber: 
1) pré-história dos direitos humanos; 
2) fase de afirmação dos direitos naturais; 
3) fase de constitucionalização dos direitos fundamentais. 
 
Com relação à tradicional classificação das fases de evolução dos direitos 
humanos concebida por Klaus Stern, Ingo Wolfgang Sarlet faz o seguinte 
resumo: 
Sintetizando o devir histórico dos direitos fundamentais até o seu 
reconhecimento nas primeirasConstituições escritas, K. Stern, 
conhecido mestre de Colônia, destaca três etapas: a) uma pré-
história, que se estende até o século XVI; b) uma fase 
intermediária, que corresponde ao período de elaboração da 
doutrina jusnaturalista e da afirmação dos direitos naturais do 
homem; c) a fase de constitucionalização, iniciada em 1776, com as 
sucessivas declarações de direito dos novos estados americanos. 1 
 
Sem nenhuma dúvida, esta classificação é uma maneira simplificada de 
perceber a evolução do regime jurídico de proteção dos direitos humanos, 
mas que, no entanto, não deixa de abordar a incessante marcha de avanços 
e retrocessos de todas as etapas de evolução do constitucionalismo e dos 
paradigmas estatais. 
 
Em linhas gerais, a pré-história dos direitos humanos antecede a fase de 
elaboração de afirmação dos direitos naturais desenvolvida pelos grandes 
pensadores da teoria contratualista, quais sejam Thomas Hobbes, John Locke 
e Jean-Jacques Rousseau. 
 
 
1 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 3. ed. rev.atual.,ampl. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 40. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 8 
Assim sendo, a fase pré-histórica dos direitos humanos pode ser 
considerada como sendo aquela primeira etapa de evolução de direitos 
naturais do homem que se desenvolve desde o mundo antigo (estoicismo 
greco-romano) até o fim do feudalismo (filosofia cristã medieval). Em 
decorrência, é lícito afirmar que, entre outras, tal fase engloba dois grandes 
modelos de Estado diferentes, isto é, o Estado-cidade grego e o Estado 
medieval. 
 
Lenio Streck e Bolzan de Morais estabelecem como formas estatais pré-
modernas o Estado oriental ou teocrático, a Polis Grega, a Civitas Romana e o 
Estado Medievo (a principal forma estatal pré-moderna). Para os autores, três 
elementos caracterizam a forma estatal medieval: cristianismo, invasões 
bárbaras e feudalismo.2 
 
Dessarte, vale insistir na ideia-força de que a fase de pré-história dos direitos 
humanos não permite obter grande entusiasmo em termos de regime jurídico 
estatal de proteção do homem comum, na medida em que não se tinha nem 
mesmo a desvinculação ao direito divino. Portanto, é uma fase que se liga 
aos modelos de Estado pré-moderno, seja com a polis grega (concepção 
aristotélico-tomista do Estado), seja com o Estado medieval (sistema 
teológico cristocêntrico). 
 
Eis que a pré-história é aquela primeira etapa de evolução dos direitos 
humanos que se desenvolve desde o mundo antigo (doutrina estoica greco-
romana) até o fim do feudalismo. É importante, por conseguinte, examinar as 
características dessas duas grandes modalidades de Estado. 
 
Em primeiro lugar, vale trazer a lume a antiguidade clássica e seu modelo 
predominante de Estado-Cidade, cuja dinâmica já se apresentava revestida 
 
2 STRECK Lenio Luiz; MORAIS, José Luis Bolzan de. Ciência política & Teoria do Estado. 7. ed. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010. p. 23-24. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 9 
da ideia de governo das leis e exercício direto do poder político a partir da 
democracia direta ou pura. Como bem destaca Luís Roberto Barroso: 
 
Atenas é historicamente identificada como o primeiro grande 
precedente de limitação do poder político - governo de leis, e não 
de homens - e de participação dos cidadãos nos assuntos públicos. 
Embora tivesse sido uma potência territorial e militar de alguma 
expressão, seu legado perene é de natureza intelectual, como berço 
do ideal constitucionalista e democrático. Ali se conceberam e 
praticaram ideias e institutos que ainda hoje se conservam atuais, 
como a divisão das funções estatais por órgãos diversos, a 
separação entre o poder secular e a religião, a existência de um 
sistema judicial e, sobretudo, a supremacia da lei, criada por um 
processo formal adequado e válida para todos.3 
 
Em consequência, pode-se afirmar que a fase pré-histórica ou fase pré-
moderna dos direitos humanos remonta aos tempos do Estado-Cidade, 
cuja nota diferenciadora é o exercício da democracia direta, sistema não 
representativo sem nenhuma necessidade de mandato político. Ou seja, no 
Ágora, praça pública onde se fazia o comércio e onde costumeiramente se 
realizavam as assembleias do povo, o cidadão participava diretamente das 
decisões políticas fundamentais do Estado.4 
 
Sem embargo da relevância da participação direta do cidadão no exercício do 
poder político, o fato é que a democracia ateniense, em essência, não 
passava de uma república aristocrática no sentido que lhe emprestava 
Aristóteles ao definir a forma pura do governo de alguns. Não era 
 
3 BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo. Os conceitos 
fundamentais e a construção do novo modelo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 6. 
4 Nesse sentido, precisa a lição de Paulo Bonavides quando preleciona que: Cada cidade que se 
prezasse da prática do sistema democrático manteria com orgulho um Ágora, uma praça, onde os 
cidadãos se congregassem todos para o exercício do poder político. O Ágora, na cidade grega, fazia, 
pois, o papel do Parlamento nos tempos modernos. Um povo sem Ágora era um povo escravo, como 
hoje um povo sem liberdade de opinião e sem direito ao sufrágio (Cf. BONAVIDES, Paulo. Ciência 
Política. Rio de Janeiro: Forense, 1988. p. 323.) 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 10 
verdadeiramente uma democracia na medida em que não praticava o sufrágio 
universal.5 
 
São estas as características da democracia do Estado-Cidade, um paradigma 
democrático imperfeito, mas que simboliza um tipo de constitucionalismo de 
democracia direta sem representação política; um espaço de liberdade do 
cidadão desvinculado da atuação de um agente político mandatário da 
vontade popular e maculado pelo vício da escravidão e da opressão. 
 
Uma vez examinada a contribuição da democracia direta ateniense para o 
curso de evolução dos direitos humanos, vale agora examinar o 
constitucionalismo medieval e sua concepção dual de poder. 
 
Com efeito, no campo teórico, o Estado medieval se caracterizava pelo poder 
dual, vale explicitar, poder disputado pela Igreja e pelo Estado. De observar-
se, com atenção, que esta dualidade de poder impedia a consolidação do 
conceito de soberania una e indivisível dentro de um estado territorial de 
fronteiras definidas e sem pretensões universais, como era, a contrario sensu 
o objetivo da Igreja e do cristianismo. 
 
É bem de ver, portanto, que o Estado medieval se caracterizava pela disputa 
da supremacia política entre o poder temporal do Estado e o poder 
eclesiástico da Igreja, resultando daí um pluralismo jurídico que envolvia o 
direito da Igreja, o direito das universidades, o direitos dos feudos, o direito 
das corporações de ofício, enfim, uma ordem jurídica plural sem uma única 
fonte de poder. 
 
 
5 Nelson Nery Costa, mostrando a evolução da polis grega, também destaca esse caráter de 
organização política excludente que segregava mulheres, estrangeiros e escravos, verbis: “A função 
política aí era vista como um dever da cidadania e, não, como um privilégio, tanto que diversos cargos 
eram atribuídos por meio de sorteios e a instância máxima era uma assembleia, dos cidadãos, excluindo 
mulheres, estrangeiros e escravos. (COSTA, Nelson Nery. Ciência política. Rio de Janeiro: Forense, 
2006. p. 1.) 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 11 
De tudo isso é importante extrair que, durante a vigência do 
constitucionalismo medieval, floresceu a ideia de que a autoridade dos 
governantes se fundava num contrato com os súditos: o pactum subjectionis. 
Por este pacto, o povo se sujeitava a obedecer ao príncipe enquanto este se 
comprometiaa governar com justiça, ficando Deus como árbitro e fiel do 
cumprimento do contrato. Assim, violando o príncipe a obrigação de justiça, 
exoneravam-se os súditos da obediência devida, pela intervenção do Papa, 
representante da divindade sobre a Terra. 6 
 
Nesse sentido, desponta a obra seminal (Summa Theologica) 7 de Santo 
Tomás de Aquino (1225-1274), cuja relevância para a teoria dos direitos 
fundamentais surge com a teorização acerca da doutrina da coexistência 
harmônica dos poderes temporal e eclesiástico, porém com preponderância 
da autoridade espiritual. 
 
É bem de ver que, durante toda a fase de pré-história, não se pode falar em 
doutrinas do direito natural da pessoa humana e muito menos ainda em 
doutrinas eminentemente democráticas acerca da origem e do exercício do 
poder político. O ponto alto do constitucionalismo feudal é a retomada das 
ideias de Platão por Santo Agostinho e de Aristóteles por Santo Tomás de 
Aquino, fato que faz avançar a teoria dos direitos humanos, na medida em 
que, sem se desvincular dos princípios basilares do cristianismo, cria as bases 
teóricas do tomismo, um dos principais segmentos da doutrina escolástica. 
 
E assim é que a escola tomista de Santo Tomás de Aquino recupera o 
prestígio do pensamento clássico de Aristóteles e consegue – sem se afastar 
da perspectiva teológica da supremacia divina – valorizar a investigação 
científica do mundo natural, do domínio real. Com isso, é lícito afirmar que a 
teoria tomista de inspiração aristotélica fixa a diferenciação entre filosofia e 
 
6 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva 2009. p. 
6. 
7 AQUINO, Santo Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Editora Loyola, 2001. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 12 
teologia e, na sua esteira, a conciliação entre a fé e a razão. Em outro dizer, 
muito embora já começasse a separar a fé da razão, a teoria tomista do 
constitucionalismo feudal não se opôs ao dogma cristão, na medida em que 
não afastou a ideia de que a fonte de todo o poder vem de Deus. 
 
Em conclusão, a fase pré-histórica dos direitos humanos ainda é uma fase 
tímida, principalmente quando se leva em consideração que é um período no 
qual os direitos naturais do homem não estão desvinculados da perspectiva 
divina.8 
 
A fase de afirmação dos direitos naturais pelo juscontratualismo 
Após a análise da pré-história dos direitos humanos, importa agora examinar 
a segunda fase de evolução, qual seja a fase de elaboração das doutrinas 
contratualistas do direito natural. 
 
Nesta fase, vamos examinar o pensamento dos grandes filósofos do 
contratualismo jurídico (Thomas Hobbes, 9 John Locke 10 e Jean-Jacques 
Rousseau11), na medida em que suas obras científicas irão neutralizar as 
doutrinas teocráticas do poder divino dos reis, substituindo-as pelas correntes 
filosóficas do contrato social como origem da sociedade. 
 
Com isso, as correntes do contratualismo jurídico fazem avançar 
cientificamente o conceito de direitos naturais, muito especialmente pelo elo 
que criam com as teorias democráticas da origem do poder. 
 
O primeiro grande filósofo do contratualismo é Thomas Hobbes, que pauta 
seu pensamento no conceito de Estado leviatã absolutista. Com efeito, 
 
8 Ingo Sarlet preleciona que da doutrina estoica greco-romana e do cristianismo advieram as teses da 
unidade da humanidade e da igualdade de todos os homens em dignidade (para os cristãos, perante 
Deus). Cf. Ob. cit. p. 41. 
9 HOBBES, Thomas. Leviatán o la Materia, Forma y Poder de una República, 
Eclesiástica y Civil. Fondo de Cultura Económica, México, 1940. 
10 LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Ed. Ibrasa, 1963. 
11 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. Ed. Cultrix, São Paulo, 1971. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 13 
Hobbes foi o primeiro grande teorizador de uma doutrina do direito natural 
com consistência metodológico-conceitual capaz afastar a noção de poder 
originário supra-humano e divino. Para tanto, Hobbes parte da visão de 
Estado enquanto sociedade política que nasce de um contrato celebrado pelos 
cidadãos e cujo objetivo é a cessão de direitos naturais a um poder comum, a 
cuja autoridade os cidadãos passam a respeitar, sem qualquer tipo de 
contestação. Trata-se, portanto, de um pacto de submissão. 
 
Com isso, a teorização de Hobbes começa a afirmar cientificamente os 
direitos naturais e, o que é mais importante, começa a negar o modelo 
tomista atinente à supremacia da autoridade espiritual sobre a autoridade 
terrena (Santo Tomás de Aquino). 
Entretanto, sem embargo de seu perfil democrático em relação à origem do 
poder político, o fato é que a tese hobbesiana serviu para justificar as 
pretensões absolutistas do Estado moderno pós-feudal, ou seja, as leis do 
Estado leviatã, por mais injustas que fossem, ainda assim deveriam ser 
obedecidas pelos súditos porque melhores que o caos do estado de natureza. 
 
Assim, no pensamento contratualista hobbesiano, o homem em seu estado de 
natureza não tinha como chegar à paz e à segurança, necessitava, pois, do 
Estado forte (poder comum) atuando como um verdadeiro Leviatã, o Deus 
mortal, o único capaz de superar o caos da guerra de todos contra todos. 
Portanto, o Estado leviatã seria o instrumento com poder total para afastar a 
guerra de todos contra todos, criando o estado societal de paz e segurança. 
Desta feita, Hobbes justifica o nascente Estado absoluto. 
 
Totalmente diferente era a linha de pensamento de John Locke surgida mais 
de quarenta anos depois (1692). Para este autor, o paradigma contratual não 
poderia se configurar no pacto de submissão hobbesiano, e, sim, no pacto de 
consentimento que somente legitima a ação do Governo Civil voltada para o 
objetivo de assegurar as liberdades individuais do cidadão comum, 
garantindo-lhe seus direitos à vida, à liberdade e à propriedade. Como bem 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 14 
destaca Norberto Bobbio, o estado de natureza de Locke difere frontalmente 
de outros filósofos, verbis: 
 
No estado de natureza, para Lucrécio, os homens viviam more 
ferarum (como animais): para Cícero, in agris bestiarum modo 
vagabantur (vagavam pelos campos como animais); e, ainda para 
Hobbes, comportavam-se, nesse estado natural, uns contra os 
outros, como lobos. Ao contrário, Locke – que foi o principal 
inspirador dos primeiros legisladores dos direitos do homem – 
começa o capítulo sobre o estado de natureza com as seguintes 
palavras: "Para entender bem o poder político e derivá-lo de sua 
origem, deve-se considerar em que estado se encontram 
naturalmente todos os homens; e esse é um estado da perfeita 
liberdade de regular as próprias ações e de dispor das próprias 
posses e das próprias pessoas como se acreditar melhor, nos 
limites da lei de natureza, sem pedir permissão ou depender da 
vontade de nenhum outro.12 
 
Portanto, a obra de Locke serviu de inspiração para as Declarações de 
Direitos que iriam acontecer no futuro com base no axioma de que “todos são 
iguais perante a lei” (igualdade formal). Com efeito, o art. 1º da Declaração 
Universal (todos os homens nascem iguais em liberdade e direitos) simboliza 
o Estado liberal e a ideia de igualdade formal. 
 
Com espeque no direito de resistência, que no entender do próprio John 
Locke era um instrumento político de aperfeiçoamento do Estado, surge o 
Estado de Direito. Nesse passo, a lógica de construção da obra de Locke é a 
limitação do poder estatal a partir desse direito de resistência. 
 
Eis que o pensamento de Locke inova a ciência jurídica dada, na medida em 
que reconhece ao cidadão comum a prerrogativa de resistir às autoridades 
tirânicas. Atingido o ponto de não direito, abre-se a perspectiva de aplicação 
do direitode resistência, caracterizando o pacto de consentimento, cuja 
 
12 Cf. A era dos direitos, p. 75. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 15 
essência está na limitação do poder do Estado, vale dizer, o pacto de 
consentimento somente legitima as ações do Estado voltadas para a garantia 
dos direitos civis e políticos do cidadão. Com isso, Locke justifica a ideia-força 
de Estado liberal. 
 
Destarte, a natureza do contrato social na obra de Locke o faz precursor do 
liberalismo, seja pela negação da cessão de direitos naturais (cada cidadão 
entrega ao Estado apenas a prerrogativa de resolver conflitos, permanecendo 
com o restante dos direitos naturais), seja pela intervenção mínima do Estado 
nas relações jurídicas privadas. Em consequência, os direitos naturais atuam 
como limites à ação do estado, cuja legitimação depende da garantia das 
liberdades individuais. Por conta disso, o núcleo central do ideário liberal é a 
garantia dos direitos civis e políticos, cuja lógica estatal minimalista rejeita o 
estado absolutista. 
 
Com esse tipo de intelecção em mente, fica mais fácil compreender o espírito 
que anima o paradigma contratual de Locke, qual seja sufragar as liberdades 
individuais ante o arbítrio do poder estatal. Eis aqui estampadas, com todas 
as letras, as razões pelas quais John Locke é apontado como sendo o pai do 
Estado liberal burguês. 
 
No âmbito do contratualismo liberal lockiano, não se pode falar em direitos 
sociais ou em proteção dos hipossuficientes ou ainda em igualdade real ou 
material. Tal perspectiva somente vai ser alcançada com o pensamento 
contratualista de Jean Jacques Rousseau e a sua defesa da democracia 
plebiscitária. Com efeito, a teorização do contrato social de Rousseau, terceira 
grande corrente do contratualismo jurídico, é calcada na vontade geral, que, 
em essência, é uma vontade própria que não se confunde com a simples 
soma das vontades individuais, sendo, com rigor, sua síntese. 
 
Para além disso, o contrato social faz referência ao conceito de igualdade 
natural que por sua vez projeta a ideia de que o pacto rousseauniano visa a 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 16 
reduzir as desigualdades físicas, transformando-as em igualdades em 
direitos.13 
 
Com isso, acreditamos que entre todos os contratualistas, Rousseau é aquele 
que mais se aproxima do princípio democrático. Na verdade, a posição 
teorizante de Rousseau o coloca na vanguarda da defesa da democracia 
plebiscitária, vez que sua ideia de mandato imperativo classifica o 
representante político como mero comissionário do povo. A partir da obra de 
Rousseau, é possível vislumbrar a formação de um núcleo essencial de uma 
democracia participativa de viés plebiscitário, que garanta efetivamente a 
igualdade de oportunidades. 
 
Em Rousseau, colhem-se conceitos deveras avançados, muito superiores à 
formulação hobbesiana de Estado-Leviatã e do Estado-burguês liberal de 
Locke e que podem servir de fonte de inspiração para o aperfeiçoamento da 
democracia participativa no Estado contemporâneo. 
 
A fase de constitucionalização: da democracia liberal à social 
democracia 
Uma vez examinadas as correntes do contratualismo jurídico e sua 
importância no curso de evolução dos direitos humanos, vale agora iniciar o 
estudo da fase de constitucionalização dos direitos fundamentais, que se 
inicia com as revoluções liberais do século XVIII e perdura até hoje. 
 
Com efeito, no campo teórico, é possível estabelecer dois grandes ciclos 
democráticos distintos desta fase, a saber: 
 
13 Dalmo de Abreu Dallari, em feliz síntese acerca da matéria preleciona, verbis: “Em resumo, 
verifica-se que várias das ideias que constituem a base do pensamento de Rousseau são hoje 
consideradas fundamentos da democracia. É o que se dá, por exemplo, com a afirmação da 
predominância da vontade popular, com o reconhecimento de uma liberdade natural e com a 
busca de igualdade, que se reflete, inclusive, na aceitação da vontade da maioria como 
critério para obrigar o todo, o que só se justifica se for acolhido o princípio de que todos os 
homens são iguais”. Cf. DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 
São Paulo: Saraiva, 2005. p.18. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 17 
 
a) o período de democracia liberal que vai da Revolução francesa (1789) até 
a Constituição de Weimar na Alemanha (1919); e 
b) o período de democracia social que se estende de Weimar até o fim da 
queda do muro de Berlim (1989). 14 
 
Destarte, a partir deste momento, nossa intenção passa a ser examinar os 
dois ciclos democráticos da modernidade (democracia liberal e social 
democracia). 
 
O constitucionalismo liberal e a proteção das liberdades 
individuais 
A fase de democracia liberal marca o início de uma nova etapa na proteção 
dos direitos humanos, cujo apogeu vem com a interpretação dogmático-
jurídica dos direitos humanos feita à luz de um estado de direito. Muitos 
autores entendem que é nesta fase que os direitos do homem se 
transformam em efetivos direitos fundamentais, ou seja, é a 
constitucionalização que cria um catálogo de direitos fundamentais a partir da 
preexistência de direitos naturais. 
 
A fase de constitucionalização é inaugurada a partir da Declaração de Direitos 
do Povo da Virgínia de 1776 ou então da Declaração Francesa dos Direitos do 
Homem e do Cidadão de 1789. Qual desses dois marcos históricos merece 
receber a glória de ser o símbolo do nascimento do Estado de Direito e 
constitucionalismo democrático ocidental? 
 
Luís Roberto Barroso – citando Hannah Arendt – destaca o fato intrigante de 
que foi a Revolução Francesa, e não a Inglesa ou a Americana, que correu 
mundo e simbolizou a divisão da história da humanidade em antes e depois.15 
 
14 Cf. GÓES, Guilherme Sandoval. Geopolítica e pós-modernidade. In: Revista da Escola Superior de 
Guerra, vol. 48, n. jul 2007, p. 96. Disponível em: 
<http://www.esg.br/uploads/2010/09/revista_48.pdf>. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 18 
 
Optamos por homenagear a Revolução Francesa de 1789 como símbolo 
inaugural da democracia liberal e da primeira versão do Estado de Direito. A 
racionalidade que cimenta nossa argumentação tem triplo aspecto, a saber: 
 
(i) é a Revolução Francesa que sela definitivamente o fim do regime 
monárquico absolutista, um verdadeiro “estado de não direito”; 
 
(ii) é a Revolução Francesa que instaura a ordem constitucional liberal 
com penetração universal; 
 
(iii) é a Revolução Francesa que consolida a ideia-força de direitos 
fundamentais constitucionais que se posicionam acima das próprias 
razões de Estado. 
 
De tudo se vê, por conseguinte, que foi nesse ambiente de transformação 
que a Revolução Francesa de 1789 introduz a perspectiva liberal burguesa 
focada na proteção das liberdades individuais perante o Estado. De fato, os 
processos revolucionários americano e francês simbolizam não só o 
nascimento da primeira dimensão dos direitos fundamentais, mas, também, a 
passagem do Estado Absoluto (Estado de não direito) para o Estado Liberal 
(Estado Legislativo de Direito). 
 
Observe que nesse mister, o modelo Liberal de Estado lança as bases do 
Estado de Direito, quais sejam: a separação de poderes e a declaração de 
direitos fundamentais acima do próprio Estado. É a dicção legal do artigo 16 
da Declaração de 1789 que projeta esta ideia-força: “A sociedade em que não 
esteja assegurada a garantia dos direitos (fundamentais) nem estabelecida a 
separação de poderes não tem Constituição”. 
 
 
15 Cf. BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, p.320.DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 19 
Eis aqui muito bem delineado o núcleo constitucional do Estado Liberal: a 
limitação do poder estatal (Estado Mínimo que não se intromete na esfera das 
relações privadas) e o respeito ao catálogo das liberdades públicas, mais 
precisamente a proteção dos direitos civis e políticos (primeira dimensão 
dos direitos fundamentais). 
 
Sem embargo de sua importância para a consolidação do constitucionalismo 
democrático ocidental, entendemos que o Estado Liberal circunscreveu, em 
essência, uma era histórica que se entremostrou insuficiente na busca da 
igualdade material, vale dizer, aquelas condições mínimas de vida digna e 
capaz de gerar a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. Esta é a 
razão pela qual o liberalismo entra em crise, suscitando a criação da segunda 
versão do Estado de Direito, qual seja, o Welfare State, entre nós, 
denominado de Estado do Bem-Estar Social ou simplesmente Estado Social. 
 
O constitucionalismo social e a intervenção no domínio privado 
Neste segmento temático, pretende-se analisar a passagem da democracia 
liberal para a social democracia. Com efeito, o encurtamento jurídico do 
Estado e as conquistas democráticas do constitucionalismo liberal não tiveram 
o condão de garantir para todos os cidadãos a dignidade da pessoa humana, 
ainda que em sua expressão mínima. 
 
De fato, as bases da democracia liberal – fincadas na igualdade formal e na 
plena autonomia privada (crença na força reguladora do mercado) – foram 
incapazes de criar as condições mínimas de vida digna para todos. No dizer 
de Vicente de Paulo Barretto: 
 
O Estado Liberal, por trás de sua aparente neutralidade, na 
realidade estava a serviço de uma classe social, a classe dos 
detentores dos meios de produção, que necessitavam de um 
sistema jurídico que regulasse de forma igual os conflitos que 
ocorressem na sociedade civil e garantissem a atividade econômica 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 20 
da intervenção do Estado, para que assim pudesse ser realizado o 
reino da autonomia e da liberdade individual.16 
 
De fato, o constitucionalismo liberal protegia as classes dominantes, na 
medida em que o tratamento igual de desiguais nada mais fez do que gerar 
grandes desigualdades sociais. É por isso que surge uma nova segmentação 
de direitos fundamentais, agora ditos de segunda dimensão, cuja 
concretização efetiva deveria ser patrocinada pelo próprio Estado mediante 
ações prestacionais positivas. 
 
Portanto, o constitucionalismo social tem a pretensão de assegurar bens 
imprescindíveis para a materialização da dignidade da pessoa humana, 
solapada que tinha sido pelo ciclo democrático liberal. Ou seja, os direitos 
sociais podem servir como instrumento político-jurídico de distribuição de 
justiça social e de concretização do princípio da dignidade da pessoa humana. 
Assim sendo, o novo paradigma constitucional passa a operar num domínio 
hermenêutico em que imperam três novos elementos essenciais: dirigismo 
constitucional, igualdade material e dignidade da pessoa humana. Tais 
elementos essenciais representam, de certo modo, as condições de 
possibilidade para a realização do sentimento constitucional de justiça, bem 
como o núcleo duro do ciclo do Estado Democrático Social de Direito. 
 
Destarte, a pedra angular do dirigismo constitucional é o estabelecimento de 
uma Carta ápice composta de normas programáticas que traçam ações e 
metas a serem implementadas pelo legislador ordinário e pelo Poder 
Executivo. Com rigor, não se trata apenas de regular a vida político-
administrativo-financeira do Estado, mas, sim, de garantir condições mínimas 
de vida digna para todos, dentro de uma perspectiva de igualdade material, 
na qual cabe ao Estado Social suprir o déficit econômico e social das classes 
menos favorecidas (hipossuficientes). 
 
 
16 Cf. O fetiche dos direitos humanos e outros temas, p. 210. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 21 
 
 
 
 
Atividade proposta 
Leia o texto abaixo de autoria de Luís Roberto Barroso: 
 
“Entre a luz e a sombra, descortina-se a pós-modernidade. O rótulo genérico 
abriga a mistura de estilos, a descrença no poder absoluto da razão, o 
desprestígio do Estado. Vive-se a angústia do que não pôde ser e a 
perplexidade de um tempo sem verdades seguras. Uma época aparentemente 
pós-tudo: pós-marxista, pós-kelseniana, pós-freudiana. O Estado passou a ser 
o guardião do lucro e da competitividade.” 
 
A partir da leitura do texto acima, responda, justificadamente, se, o contexto 
da pós-modernidade, como acima descrito, repotencializa o 
constitucionalismo welfarista. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 22 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1 
 
Acerca das fases de evolução dos direitos fundamentais, analise as seguintes 
afirmativas: 
 
I. A elaboração da doutrina juscontratualista, cujos principais 
teorizadores foram Hobbes, Locke e Rousseau, marca o início da fase 
de constitucionalização dos direitos fundamentais; 
II. A essência democrática da obra de John Locke vem da ideia de que o 
pacto entre cidadãos é um ato de transferência de direitos inerentes ao 
homem para o Estado; 
III. A teorização de Hobbes desconstrói a doutrina da coexistência 
harmônica dos poderes temporal e eclesiástico, com supremacia da 
autoridade espiritual, formulada por Santo Tomás de Aquino; 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 23 
IV. São características do pacto de consentimento de John Locke, entre 
outras, a proteção das liberdades individuais e o reconhecimento do 
direito de resistência. 
 
Somente é CORRETO o que se afirma em: 
a) ( ) I e III; 
b) ( ) II e IV; 
c) ( ) III e IV; 
d) ( ) I, II e IV; 
e) ( ) II, III e IV. 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 2 
Analise cada item a seguir e informe se as alternativas são VERDADEIRAS OU 
FALSAS: 
 
I. A teorização política de Locke faz avançar a afirmação dos direitos 
naturais, na medida em que reconhece o direito de resistência como 
um instrumento importante na limitação do poder estatal que deve, 
portanto, respeitar as liberdades individuais; 
II. O pacto social da vontade geral de Rousseau informa o princípio 
democrático e em especial a democracia participativa plebiscitária; 
III. Já o pacto de submissão de Thomas Hobbes justifica o Estado Liberal 
burguês; 
IV. O conceito de Estado-leviatã simboliza a reação antiabsolutista, cujo 
objetivo era limitar o poder do Estado em prol das liberdades 
individuais. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 24 
 
a) ( ) V; F; F; V; 
b) ( ) V; V; F; F; 
c) ( ) V; F; V; F; 
d) ( ) F; F; V; F. 
 
Questão 3 
No que tange à fundamentação ética dos direitos humanos, analise as 
afirmativas abaixo e assinale a resposta CORRETA: 
 
O pacto de submissão de Thomas Hobbes que rejeita o direito de resistência 
deve ser associado à (ao): 
 
a) ( ) Estado Liberal. 
b) ( ) Estado Social. 
c) ( ) Estado Pós-moderno. 
d) ( ) Estado Absoluto. 
Questão 4 
Acerca da terminologia envolvendo os direitos humanos e os fundamentais, é 
CORRETO afirmar que pela constitucionalização são transformados: 
 
a) ( ) direitos fundamentais em direitos das gentes. 
b) ( ) direitos humanos em direitos do homem. 
c) ( ) direitos naturais do homem em direitos fundamentais. 
d) ( ) direitos fundamentais em direitos do homem. 
 
Questão 5 
Analise as assertivas abaixo e marque a resposta correta. 
O pacto de consentimento de John Locke pode ser associado à: 
 
I. subordinação da burguesia ascendente ao poder aristocrático; 
II. supremacia do capital sobre a terra; 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 25 
III. primazia do social sobre o individual; 
IV. prevalência do Estado Mínimo sobre o Estado-Empresário. 
 
Somente é CORRETO o quese afirma em: 
a) ( ) I e II; 
b) ( ) II e IV; 
c) ( ) I e III; 
d) ( ) I e IV. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 6 
O descaso para com os problemas sociais, que veio a caracterizar o État 
Gendarme, associado às pressões decorrentes da industrialização em marcha, 
o impacto do crescimento demográfico e o agravamento das disparidades no 
interior da sociedade, tudo isso gerou novas reivindicações, impondo ao 
Estado um papel ativo na realização da justiça social. O ideal absenteísta do 
Estado liberal não respondia, satisfatoriamente, às exigências do momento. 
Uma nova compreensão do relacionamento Estado/sociedade levou os 
poderes públicos a assumir o dever de operar para que a sociedade lograsse 
superar as suas angústias estruturais. Daí o progressivo estabelecimento 
pelos estados de seguros sociais variados, importando intervenção intensa na 
vida econômica e a orientação das ações estatais por objetivos de justiça 
social. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 26 
(MENDES, Gilmar Ferreira et al. Curso de direito constitucional. São 
Paulo: Saraiva, 2007. p. 223.) 
 
Esse texto caracteriza, em seu contexto histórico, a 
 
a) ( ) primeira geração de direitos fundamentais. 
b) ( ) segunda geração de direitos fundamentais. 
c) ( ) terceira geração de direitos fundamentais. 
d) ( ) quarta geração de direitos fundamentais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 7 
Com relação ao perfil de evolução da proteção dos direitos humanos, assinale 
a alternativa CORRETA: 
 
a) ( ) A democracia liberal representativa surgiu com a Revolução 
Francesa como uma reação ao poder monolítico do Estado absoluto. 
b) ( ) Uma das características do constitucionalismo liberal é a busca da 
igualdade material e da proteção dos hipossuficientes. 
c) ( ) O constitucionalismo social volta-se para a defesa dos direitos 
fundamentais de primeira geração (direitos civis e políticos) ligados às 
liberdades individuais. 
d) ( ) O constitucionalismo medieval é considerado um dos ciclos estatais 
da modernidade e só foi superado em definitivo com o tratado de 
Utrecht. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 27 
 
Questão 8 
A democracia liberal surge a partir da Revolução Francesa com a ascensão da 
burguesia, detentora do poder econômico, porém sem o respectivo poder 
político. Assim sendo, analise as características e assinale aquelas 
correspondentes à democracia liberal: 
 
I. Proteção dos hipossuficientes. 
II. Predominância de direitos negativos. 
III. Igualdade material. 
IV. Garantia das liberdades individuais. 
V. Igualdade formal. 
 
São características da democracia liberal: 
a) ( ) I, II e IV; 
b) ( ) I e II; 
c) ( ) II e IV; 
d) ( ) II, IV e V. 
Questão 9 
Associado à questão da aplicação dos direitos fundamentais de segunda 
dimensão é lícito afirmar que são direitos que têm sua efetividade afirmada 
segundo: 
 
a) ( ) A reserva do possível encontrada na dignidade da pessoa humana. 
b) ( ) O mínimo existencial do Estado que o impossibilita de atender todas 
as demandas sociais prestacionais. 
c) ( ) A reserva do possível do Estado que obriga o atendimento das 
demandas sociais independentemente de recursos orçamentários. 
d) ( ) O mínimo existencial encontrado na dignidade da pessoa humana. 
 
 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Questão 10 
Leia o trecho abaixo de autoria de Luís Roberto Barroso: 
 
“Entre a luz e a sombra, descortina-se a pós-modernidade. O rótulo genérico 
abriga a mistura de estilos, a descrença no poder absoluto da razão, o 
desprestígio do Estado. Vive-se a angústia do que não pôde ser e a 
perplexidade de um tempo sem verdades seguras. Uma época aparentemente 
pós-tudo: pós-marxista, pós-kelseniana, pós-freudiana. O Estado passou a ser 
o guardião do lucro e da competitividade. E a triste constatação é que o Brasil 
chega ao neoliberalismo sem ter conseguido ser liberal nem moderno.” 
 
A partir do espírito do texto acima transcrito, assinale a resposta CORRETA: 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 29 
a) ( ) A ideia de que o Estado é o guardião do lucro e da competitividade 
é compatível com o paradigma do welfare state (constitucionalismo 
social). 
b) ( ) O desprestígio e a negatividade do Estado são características do 
constitucionalismo dirigente do Estado Bem-Estar Social. 
c) ( ) O ciclo estatal liberal tem por característica a busca da democracia 
direta participativa, da proteção dos hipossuficientes e da igualdade 
material. 
d) ( ) A concepção de Estado guardião do lucro e da competitividade é o 
eixo do Estado neoliberal, que defende a não intervenção do Estado no 
domínio das relações jurídicas privadas. 
 
 
 
 
 
 
 
Referências 
BARROSO, Luís Roberto. A reconstrução democrática do direito público 
no Brasil. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. 
_______. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos 
fundamentais e a construção do novo modelo. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 
2011. 
PIOVESAN, Flávia. Temas de direitos humanos. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 
2010. 
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 10. ed. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 
 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Chaves de Resposta 
Aula 1 
Atividade proposta 
Resposta: A resposta é negativa, pois a ideia de Estado guardião do lucro e 
da competitividade é a base do projeto epistemológico neoliberal, plenamente 
compatível com os conceitos de estatalidade mínima e igualdade formal, não 
se coadunando com o paradigma constitucional social, um modelo de 
intervenção do Estado no domínio privado. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 31 
 
Exercícios de fixação 
Questão 1: C 
Justificativa: A elaboração da doutrina juscontratualista marca o início da fase 
de afirmação dos direitos naturais do homem, enquanto que a essência 
democrática da obra de John Locke vem da ideia de direito de resistência que 
nega o ato de transferência de direitos inerentes ao homem para o Estado. 
 
Questão 2: B 
Justificativa: O pacto de submissão de Thomas Hobbes justifica o Estado 
absoluto, enquanto que o conceito de Estado-leviatã simboliza o Estado 
absolutista. 
 
Questão 3: B 
Justificativa: O pacto de submissão de Thomas Hobbes justifica o Estado 
absoluto, enquanto que o conceito de Estado-leviatã simboliza o Estado 
absolutista. 
 
Questão 4: C 
Justificativa: os direitos fundamentais são aqueles direitos naturais do homem 
que foram positivados em uma constituição de um determinado Estado 
nacional. 
Questão 5: B 
Justificativa: O pacto de consentimento de John Locke pode ser associado à 
supremacia do capital sobre a terra e à prevalência do Estado Mínimo sobre o 
Estado-Empresário. 
 
Questão 6: B 
Justificativa: o État Gendarme deve ser associado à primeira dimensão, 
enquanto que o Estado Social deve atrelado à segunda dimensão, vale dizer 
aos direitos sociais, econômicos, culturais e trabalhistas. 
 
 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – AULA 1 32 
 
Questão 7: A 
Justificativa: Com efeito, o constitucionalismo liberal surge com a Revolução 
Francesa como uma reação ao poder monolítico do Estado absoluto. 
 
Questão 8: D 
Justificativa: A proteção dos hipossuficientes e a igualdade material são 
características da democracia social. 
 
Questão 9: D 
Justificativa: O mínimo existencial encontrado na dignidade da pessoa 
humana é o eixo da problemática envolvendo a efetividade dos direitos 
sociais. 
 
Questão 10: D 
Justificativa: A ideia de Estado guardião do lucro e da competitividade 
simboliza o novo modelo de Estado que surge com o fim da Guerra Fria, logo 
tal ideia se transforma, efetivamente, no novo eixo do Estado neoliberal, 
paradigma estatal denegador da intervenção do Estado no domínio dasrelações jurídicas privadas.

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