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1 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 Tutorial 4 Objetivo 1: Discutir as doenças induzidas por cristais. Medicina interna – Harrison DOENÇA POR DEPOSIÇÃO DE PIROFOSFATO DE CÁLCIO (CPPD) - A doença por depósito de pirofosfato de cálcio, antigamente denominada pseudogota ou condrocalcinose, consiste em um tipo de inflamação causada pela deposição anormal de cristais de pirofosfato de cálcio na cartilagem das articulações. Este reumatismo tem como característica o fato de apresentar crises dolorosas agudas recorrentes em uma mesma articulação, principalmente nos joelhos. - O termo pseudogota era utilizado popularmente como uma alusão a outra moléstia reumática também provocada por acúmulo de cristais, a gota, que, no entanto, decorre da concentração de partículas de urato monossódico (provenientes do ácido úrico) nas articulações. Já os cristais de pirofosfato de cálcio derivam da combinação do cálcio com subprodutos do fósforo e parecem não ter influência da alimentação, tal como ocorre na gota. - O fato é que a presença desses cristais provoca uma intensa reação inflamatória na articulação acometida, desencadeando crises agudas de dor, que, em longo prazo, podem resultar em degeneração da junta e incapacidade de funcionamento da mesma. As artrites causadas pelo depósito de cristais são denominadas doenças microcristalinas e são tipicamente mais freqüentes em adultos, sobretudo após os 60 anos de idade. - A doença por depósitos de cristais de pirofosfato de cálcio (CPPD) é uma artropatia cuja forma de apresentação pode ser muito variada sendo a mais frequente a assintomática, seguida da monoartrite. - Pode apresentar sob as formas esporádica, familiar ou relacionada com outras patologias e/ou condições. A forma esporádica, sendo mais frequente, é geralmente encontrada em indivíduos com mais de 65 anos de idade, pelo que a sua presença em indivíduos jovens, torna necessário o despiste de doença metabólica associada ou possível condição heredo-familiar, ocorrendo em 10-15% das pessoas com 65- 75 anos de idade e em 30-50% naqueles com > 85 anos. - A doença de deposição de cristal do pirofosfato do cálcio ocorre quando estes cristais são depositados na articulação e cartilagem. Os depósitos de cristal provocam inflamação na articulação, o que pode causar a ruptura da cartilagem articular. - Clinicamente, as suas formas de apresentação são variadas. Nos casos familiares encontramos, com maior frequência, quadros de poliartrite mimetizando a artrite reumatóide, enquanto as formas esporádicas, se sintomáticas, assumem geralmente, características de mono/oligoartrites recorrentes. - Na maioria dos casos, esse processo é assintomático, e a causa da deposição de CPP, desconhecida. Levando-se em conta que > 80% dos pacientes têm > 60 anos de idade e que 70% possuem algum dano articular preexistente devido a outras condições, é provável que as alterações bioquímicas observadas com o envelhecimento ou que a cartilagem enferma favoreçam a nucleação dos cristais. - Nos pacientes com artrite por CPPD, observa-se maior produção de pirofosfato inorgânico e menores níveis de pirofosfatases em extratos de cartilagem. As mutações no gene ANKH, descritas em casos tanto familiares quanto esporádicos, podem acelerar a elaboração e o transporte extracelular de pirofosfato. - A liberação dos cristais de CPP no espaço articular é seguida de fagocitose desses cristais por monócitos-macrófagos e neutrófilos, os quais respondem liberando substâncias quimiotáticas e inflamatórias e que, como no caso dos cristais de urato monossódico (MSU) ativam o inflamassomo. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Os principais sintomas são a dor e o inchaço, sobretudo nas grandes articulações dos joelhos, punhos e tornozelos. Em geral, acomete uma articulação de cada vez, mas algumas vezes pode se manifestar em mais de uma junta ao mesmo tempo. O quadro doloroso pode durar de dias a semanas e é, geralmente, acompanhado de calor local e rubor. Contudo, é possível que a inflamação curse de forma subclínica, ou seja, sem nenhum sinal aparente. Não há uma causa específica para a deposição desses microcristais nas articulações. - A artropatia da CPPD pode ser assintomática, aguda, subaguda ou crônica ou pode causar uma sinovite aguda superposta ao acometimento crônico nas articulações. O joelho é a articulação acometida mais frequentemente na artropatia por CPPD. Os outros locais são punho, ombro, tornozelo, cotovelo e mãos. - A articulação temporomandibular pode estar acometida. . A evidência clínica e radiográfica indica que a deposição de CPP é poliarticular em pelo menos 66% dos pacientes. Quando o quadro clínico é semelhante ao da osteoartrite lentamente progressiva, o diagnóstico pode ser difícil. - Os ataques agudos de artrite por CPPD podem ser desencadeados por traumatismos. A rápida diminuição da concentração sérica de cálcio, como pode ocorrer nas enfermidades clínicas graves ou após uma cirurgia (especialmente paratireoidectomia), também pode dar origem a ataques de pseudogota. Em até 50% dos casos, os 2 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 episódios de inflamação induzida por CPPD estão associados à febre baixa e, em certas ocasiões, a temperaturas de até 40°C. DOENÇA POR DEPOSIÇÃO DE APATITA DE CÁLCIO - A apatita, ou hidroxiapatita, faz parte do grupo de cristais de fosfato básico de cálcio, que podem depositar- se não somente nas articulações, como também na pele, nos vasos sanguíneos e nas mamas, entre outros. Na articulação pode ser encontrada em, virtualmente, todos os tecidos como cápsula, tendões, ligamentos, bursas, sinó-via, cartilagem e disco intervertebral. Tendinites e bursites cálcicas são as principais manifestações clínicas. - Um dos principais mecanismos de deposição dos cristais são as alterações distróficas preexistentes, isto é, alterações teciduais decorrentes de outras lesões como isquemia, trauma e necrose. O tendão lesado sofre uma transformação fibrocartilaginosa seguida pela deposição de cristais de hidroxiapatita pelos condrócitos locais. - Um dos fatores reguladores da formação de cristais de hidroxiapatita é a concentração do pirofosfato inorgânico lo- cal, que tem ação inibitória sobre a formação desses cristais. A inflamação decorre da ruptura dos depósitos de cristais, expondo-os a áreas mais vascularizadas onde seriam fagocitados desencadeando o processo. - A apatita é o principal mineral do osso e dos dentes normais. O acúmulo anormal de fosfato de cálcio básico, em grande parte apatita carbonato substituída, pode ocorrer em áreas de dano tecidual (calcificação distrófica), nos estados hipercalcêmicos ou hiperparatireóideos (calcificação metastática) e em certas condições de causa desconhecida. - Na insuficiência renal crônica, a hiperfosfatemia pode contribuir para a extensa deposição de apatita tanto dentro quanto ao redor das articulações. A agregação familiar raramente é observada; até agora, não foi descrita nenhuma associação com as mutações ANKH. - Os cristais de apatita são depositados principalmente nos vasos da matriz. Alterações incompletamente compreendidas nas proteoglicanas da matriz, nas fosfatases, nos hormônios e nas citocinas provavelmente podem influenciar a formação de cristais. - Os agregados de apatita estão presentes comumente no líquido sinovial na artropatia crônica extremamente destrutiva dos idosos, que ocorre mais frequentemente nos ombros (ombro de Milwaukee), assim como em um processo semelhante nos quadris, joelhos e osteoartrite erosiva dos dedos. - A destruição articular está associada aos danos da cartilagem e das estruturas de apoio, resultando em instabilidade e deformidade. A progressão tende a ser lenta. Os sintomas variamde mínimos até dor e incapacitação graves que podem tornar necessária uma cirurgia de substituição articular. - As células de revestimento sinovial ou fibroblastos em cultura, quando expostos a cristais de apatita (ou de CPP) podem sofrer mitose e aumentar acentuadamente a liberação de prostaglandina E2 e várias citocinas, bem como colagenases e proteases neutras, ressaltando o potencial destrutivo das células do revestimento sinovial anormalmente estimuladas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Os cristais podem estar presentes sem provocar ma- nifestações. Quando sintomáticos, caracterizam-se por dois tipos de envolvimento: estruturas periarticulares determinando as periartrites e o envolvimento intra- articular. No caso das periartrites, o ombro é o local mais aco- metido. Geralmente o surgimento é antecedido por trau- ma ou uso excessivo e muitas vezes já existe um quadro doloroso preexistente. - O padrão articular de envolvimento pode manifestar sinovite aguda semelhante a da gota e uma artropatia crô- nica, geralmente mono ou oligoarticular. O mais frequente, entretanto, é a ocorrência de osteoartrite associa- da à presença dos cristais de fosfatos básicos de cálcio. - Os depósitos periarticulares ou articulares podem ocorrer e estar associados a inflamação aguda reversível e/ou a dano crônico da cápsula articular, dos tendões, da bolsa ou das superfícies articulares. Os locais mais comuns de deposição da apatita consistem nas bolsas e tendões dentro e/ou ao redor dos joelhos, ombros, quadris e dedos. - As manifestações clínicas incluem anormalidades radiográficas assintomáticas, sinovite aguda, bursite, tendinite e artropatia destrutiva crônica. A verdadeira incidência é desconhecida, porém 30-50% dos pacientes com osteoartrite possuem cristais de apatita em seu líquido sinovial. - Com frequência, esses cristais podem ser identificados nas articulações osteoartríticas clinicamente estáveis, porém é mais provável que chamem a atenção nas pessoas que experimentam um agravamento agudo ou subagudo da dor articular e tumefação. - Mais comumente afeta o joelho. A articulação afetada pode ficar quente, vermelho, inchado e intenso. A febre pode acompanhar um ataque agudo. - Cerca de 5% das pessoas com deposição de pirofosfato de cálcio vão ter uma artrite reumatóide crônica como condição envolvendo várias articulações em um padrão simétrico (que afetam a mesma articulação em cada lado do corpo, tais como ambos os pulsos ou ambos os joelhos). - A inflamação é de baixa qualidade, em oposição ao inchaço intenso e dor provocado pela artrite reumatoide. 3 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 Semelhante a artrite reumatoide, esta condição é caracterizada pela rigidez da manhã e fadiga e pode levar a deformidades conjuntas. - Metade das pessoas com a doença por depósito de pirofosfato de cálcio tem osteoartrite caracterizada por uma degeneração progressiva de várias articulações, mais comumente os joelhos, seguido pelos pulsos (onde o dedo anexa à mão), quadris, ombros, cotovelos e tornozelos. DOENÇA POR DEPOSIÇÃO DE OXALATO DE CÁLCIO - A oxalose primária é um distúrbio metabólico hereditário raro. A produção aumentada de ácido oxálico pode resultar de pelo menos dois defeitos enzimáticos diferentes, levando ao desenvolvimento de hiperoxalemia e depósito de cristais de CaOx nos tecidos. Em consequência, ocorrem nefrocalcinose e insuficiência renal. A artrite por CaOx aguda e/ou crônica, a periartrite e a doença óssea podem complicar a oxalose primária durante os anos subsequentes da doença. - A oxalose secundária é mais comum do que o distúrbio primário. Na doença renal crônica, os depósitos de oxalato de cálcio foram reconhecidos, por muito tempo, em órgãos viscerais, vasos sanguíneos, ossos e cartilagem, e, hoje, em dia, sabe-se que constituem uma das causas da artrite na insuficiência renal crônica. - Até o momento, os pacientes descritos dependiam de hemólise ou diálise peritoneal em longo prazo, e muitos deles haviam recebido suplementos de ácido ascórbico. O ácido ascórbico é metabolizado produzindo oxalato, que é inadequadamente depurado na uremia e pela diálise. Esses suplementos e alimentos ricos em oxalato habitualmente são evitados nos programas de diálise, devido ao risco de exacerbar a hiperoxalose e suas sequelas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Os agregados de CaOx podem ser encontrados no osso, na cartilagem articular, na sinóvia e nos tecidos periarticulares. Desses locais, os cristais podem ser derramados, causando sinovite aguda. Os agregados persistentes de CaOx podem, como os de apatita e CPP, estimular a proliferação das células sinoviais e a liberação das enzimas, resultando em destruição articular progressiva. Os depósitos foram documentados nos dedos, punho, cotovelo, joelhos, tornozelos e pés. - As manifestações clínicas da artrite aguda por CaOx podem não ser diferenciadas daquelas produzidas por urato, CPP ou apatita. Objetivo 2: Discorrer acerca dos fatores de risco, fisiopatologia e manifestações clínicas da gota. GOTA: UMA REVISÃO- Felipe Dunin dos Santos UFPR Clínica médica – USP CONCEITO - A gota decorre de um estado de aumento nos níveis de ácido úrico que acarreta a formação de cristais de monourato de sódio em diversos tecidos, destacando-se pela frequência, as articulações, as estruturas periarticulares, os rins e o subcutâneo. - Caracteriza-se clinicamente por surtos agudos da artrite, geralmente envolvendo uma ou poucas articulações, e por formação de cálculos urinários. Outra marca característica da doença é o desenvolvimento de grandes acúmulos de cristais de urato denominados tofos, localizados principalmente nos tecidos periarticulares e subcutâneo. EPIDEMIOLOGIA - É notória a forte predominância no sexo masculino, que é acometido em uma proporção de 7:1 a 9:11, incidindo dos 30 aos 60 anos, com pico aos 40 anos. - No sexo feminino, a maior incidência ocorre entre os 55 e 70 anos, principalmente após a menopausa (em decorrência da perda do efeito uricosúrico secundário do estrogênio). A distribuição entre homens e mulheres acima dos 65 anos é de 3:13 ; para outros autores aproximadamente 50% dos casos com diagnóstico após os 60 anos de idade são do sexo feminino, podendo exceder os 50% na faixa acima dos 80 anos. - A prevalência da gota na população adulta geral é de 0,5 a 1%. Nas últimas décadas verificou-se uma tendência para o aumento da prevalência da gota, possivelmente relacionada à alteração dos hábitos alimentares e ao aumento da longevidade e suas consequências. - Existe uma forte influência hereditária na transmissão da gota, sendo verificada a presença de antecedentes familiares em 10 a 80% dos paciente. FATORES DE RISCO Fonte: Tratamento farmacológico e não farmacológico da gota: uma revisão; laíla teresa ribeiro ferreira;2017. - Os principais fatores de risco são idade, sexo e genética. Segundo alguns especialistas, mais de 50% dos portadores de gota têm um histórico familiar da doença. Além disso, os homens são mais afetados, principalmente entre os 40 e 50 anos. A probabilidade de um homem ter gota é três ou quatro vezes maior do que uma mulher, que raramente a desenvolve antes da menopausa. - Nos adultos, a concentração média de ácido úrico sérico em homens é cerca de 1 a 1,5 mg/dl maior do que em mulheres da mesma idade, por uma maior fração excretora de urato mediada por hormônios estrogênicos no sexo feminino. Isto explica em parte a baixa incidência de gota entre mulheres jovens, e o aumento da sua incidência durante a menopausa, quando os níveis séricos de ácido úrico se aproximam dos masculinos. O uso combinado de estrogênio e progesterona 4 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 pode resultar em uma redução no ácido úrico séricoem mulheres hiperuricêmicas em pós-menopausa. - Estilo de vida: Obesidade é um dos maiores riscos para hiperuricemia e gota, ao reduzir a excreção de ácido úrico e aumentando a produção de purinas. Ingesta aumentada de carnes vermelhas, frutos do mar e peixes, parece ter um efeito de aumento da incidência de gota. O aumento de ingesta de gorduras saturadas está relacionado com aumento da resistência insulínica, a qual reduz a excreção renal de urato. Pessoas que ingerem grandes quantidades de laticínios, principalmente os de baixo teor de gordura, têm menor risco de gota. - Ingesta de bebidas alcoólicas está associada com aumento de risco de gota de forma dependente da dose, independentemente do tipo de bebida alcoólica. O álcool induz hiperuricemia tanto pelo aumento da produção de uratos quanto pela redução da excreção. Consumo de café reduz o nível de ácido úrico a longo prazo, ao bloquear a ação da xantina-oxidase, além de reduzir os níveis de insulina e aumentar a sensibilidade do organismo à insulina. - Certas medicações podem afetar nos níveis de ácido úrico no organismo. Baixas doses de salicilato, fenofibrato, losartana e bloqueadores de canais de cálcio reduzem os níveis séricos de ácido úrico. Betabloqueadores e tiazídicos aumentam níveis de ácido úrico sérico - Bebida: O consumo excessivo de álcool pode inibir a excreção de ácido úrico, resultando num acúmulo. - Problemas de saúde: a gota pode ser desencadeada por certas condições, incluindo “(hipertensão) não tratada e doenças crônicas como diabetes, hiperlipidemia e arteriosclerose. A gota também está associada a “doenças ou ferimentos repentinos e graves, imobilidade por causa do confinamento à cama” e doenças renais. Tudo indica que o dedão do pé é o principal alvo da gota por causa de sua baixa circulação e temperatura menor — dois fatores que podem favorecer o acúmulo de ácido úrico. - Medicamentos: Produtos que aumentam o risco de gota incluem diuréticos tiazídicos (remédios que estimulam a liberação de água do corpo, comumente usados para pressão alta), aspirina em baixa dosagem, medicamentos imunossupressores administrados em pacientes transplantados e drogas usadas em quimioterapia. - Obesidade: Indivíduos obesos são quatro vezes mais propensos a desenvolver gota em oposição a alguém com peso corporal normal. O diabetes e a resistência à insulina também podem contribuir para o desenvolvimento da gota, bem como a diminuição da função renal. Aqueles com tumores malignos e em tratamento também podem ter níveis elevados de ácido úrico, levando à gota. - História de família: A gota também pode ser hereditária. Se outros membros da sua família tiverem um histórico de gota, você provavelmente desenvolverá a doença. FISIOPATOLOGIA - A gota pode ser primária, quando tem causa desconhecida e é ligada a fatores genéticos, e secundária, quando associada a outras condições como hipertensão arterial, obesidade, alcoolismo e insuficiência renal crônica. Na gota ocorre o aumento dos níveis sanguíneos de ácido úrico, ou seja, a hiperuricemia. - Por sua vez, a hiperuricemia pode ser causada por deficiência da enzima uricase ou pela reabsorção renal aumentada do ácido úrico filtrado. O ácido úrico, então em excesso na corrente sanguínea, vai depositar-se em tecidos articulares, causando o processo inflamatório. - O ácido úrico resulta do catabolismo das purinas (adenina e guanina), e é a única via de excreção das mesmas, que se dá pela urina. - As purinas necessárias à síntese de ácidos nucleicos (DNA e RNA) são produzidas no próprio organismo humano, i.e. não há necessidade de ingesta. As purinas ingeridas não são incorporadas a ácidos nucleicos. São convertidas a ácido úrico por enzimas da mucosa intestinal e do fígado e também excretadas na urina. - Grande parte das purinas resultantes da degradação do DNA endógeno são reaproveitadas para síntese de novos nucleotídeos. A falta geneticamente condicionada da enzima hipoxantina-guanina fosforibosil transferase causa grande catabolismo dos nucleotídeos, que não podem ser reutilizados, Isto resulta em forte hiperuricemia e caracteriza a síndrome de Lesch-Nyhan (retardo mental, coreoatetose, tendência a automutilação). É uma causa rara de hiperuricemia. - Dietas ricas em purinas aumentam transitoriamente o nível sanguíneo de ácido úrico ou urato de sódio, ou seja a uricemia, e aumentam a excreção renal de uratos, ou seja, a uricosúria. Dietas ricas em purinas incluem alimentos ricos em núcleos celulares: carnes, vísceras (p.ex. fígado), crustáceos (camarão) e bebidas fermentadas. A cerveja é rica em purinas porque contém leveduras, usadas na fermentação. Exemplos de alimentos pobres em purinas: queijo, leite, ovos. - A uricemia resulta de um equilíbrio entre a ingesta + produção endógena de purinas, e a excreção urinária de uratos. A uricemia normal é da ordem de 5,0 mg / 100 ml. em homens e 4,1 mg / 100 ml. em mulheres, e relativamente estável, variando pouco com a ingesta. Isto porque, aumentando a ingesta, aumenta a excreção renal do ácido úrico. 5 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 - A base do ataque articular da gota decorre da resposta celular desencadeada pela presença dos cristais. Estes, ao se formarem abaixo da membrana sinovial, são opsonizados com IgG, acarretando a sua fagocitose por células com receptor de Fc e formação de fagolisossomos. Outros peptídeos e endotoxina também podem aderir à superfície do cristal. Já a apolipoproteína E pode inibir a fagocitose. - A presença ou não desses opsonizantes pode determinar a interrupção da aderência celular e conseqüentemente da inflamação. Esse fenômeno pode explicar a presença de cristais no tofo e no líquido sinovial de articulações normais sem desencadear inflamação. - Participam do processo, basicamente, neutrófilos, monócitos, fibroblastos, linfócitos e sinoviócitos. As enzimas lisossômicas retiram a IgG dos cristais, ocorre liberação de hidrogênio por estes e atividade membranolítica, rompendo a célula e derramando enzimas no tecido comprometido. - A migração celular aumenta pela ação de substâncias quimiotáxicas. Mediadores inflamatórios como prostaglandina E2, leucotrienos, bem como as citocinas IL1 e IL6, e espécies ativas de oxigênio amplificam o processo inflamatório, causando congestão vascular, proliferação sinovial e infiltração neutrofílica e dano tecidual. CLASSIFICAÇÃO E ETIOPATOGENIA - A gota pode ocorrer por dois mecanismos básicos: Aumento na produção de ácido úrico: idiopático, defeito enzimático, turnover elevado de ácidos nucléicos, estresse (trauma, cirurgia, infecção) e dieta rica em proteína. Eliminação diminuída de ácido úrico pelo rim. Aproximadamente 85% dos pacientes com gota apresentam um defeito específico na eliminação de ácido úrico (que independe da função renal global). Em alguns pacientes, o mecanismo desencadeante é misto. - Quanto à etiopatogenia, a gota pode ser classificada em primária ou secundária. No primeiro grupo enquadram-se a gota idiopática e a gota associada a defeito enzimático. A gota secundária pode ocorrer por: Elevação do turnover de ácidos nucléicos como em neoplasias, tratamento quimioterápico (no qual há muita morte celular), hiperparatireoidismo, psoríase, estresse físico (cirurgia, exercício físico intenso etc.), estresse emocional etc. Eliminação diminuída de ácido úrico por insuficiência renal e uso de drogas (diuréticos, ácido acetilsalicílico,tuberculostáticos), ingestão de álcool, intoxicação por chumbo e distúrbio ácido metabólico (infecção, jejum etc.). - Uma rara e grave forma de gota foi descrita na infância denominada de síndrome de Lesh-Nyhan. Ela ocorre por causa de uma deficiência completa da hipoxantina guanina fosforibosil transferase que acarreta umahiperuricemia grave, provocando comprometimento neurológico (espasticidade, coreoatetose e automutilação) e morte precoce. QUADRO CLÍNICO - O quadro clínico mais comum da gota é a artrite aguda, geralmente de uma só articulação e de preferência nos membros inferiores. A grande maioria dos pacientes (70%) inicia com a inflamação do primeiro dedo do pé (hálux), quadro chamado podagra. Os episódios de artrite duram de 5 a 7 dias e podem ter resolução espontânea. Os períodos entre as crises são assintomáticos e podem durar de 6 meses a 1 ano. Se o paciente não tiver um tratamento adequado, as crises se tornam mais duradouras e frequentes, atingindo mais articulações e podendo levar a um quadro de poliartrite crônica. - Outra característica clínica da gota é o aparecimento dos tofos, que são nódulos decorrentes do acúmulo de ácido úrico em tecidos extra-articulares, como pavilhão auricular, ponta de nariz e superfícies extensoras de articulações, como cotovelos, joelhos e mãos. A presença de tofos ocorre em quadros de longa duração, em torno de 5 a 10 anos, e, geralmente, aparecem em casos não tratados adequadamente. O espectro clínico da gota pode ser didaticamente dividido em 5 grupos: - Hiperuricemia assintomática - Artrite aguda - Período intercrítico - Gota tofácea crônica - Gota renal e urolitíase HIPERURICEMIA ASSINTOMÁTICA - A constatação de níveis persistentemente elevados de ácido úrico, na realidade, não faz parte do espectro clínico da gota e sim representa uma situação de maior risco para o seu surgimento. Caracteriza-se por indivíduos que apresentam níveis elevados de ácido úrico sérico, sem apresentar manifestação de doença. - O ácido úrico é um produto do catabolismo das purinas, excretado basicamente pelo rim. Em concentrações de até 7 mg/dL no soro, na temperatura de 37ºC, apresenta boa solubilidade nos fluidos fisiológicos. Acima desse nível aumenta progressivamente a possibilidade dessa substância depositar-se nos tecidos sob a forma de cristais. - Por esse motivo, define-se hiperuricêmico o indivíduo com nível sérico de ácido úrico superior a 7 mg/dL. A prevalência da hiperuricemia é de 2 a 13% entre os americanos13, podendo chegar a 18% dependendo da população estudada. - Indivíduos hiperuricêmicos têm maior chance de desenvolver gota que normouricêmicos e essa evolução é 6 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 diretamente proporcional ao nível do ácido úrico (risco anual de 0,1% em homens com nível sérico abaixo de 7 mg/dL, 0,5% entre 7 e 8,9 mg/dL e 4,9% em níveis superiores a 9 mg/dL)15. Entretanto, a maioria dos pacientes com hiperuricemia permanece assintomática ao longo do tempo, não sendo indicada terapia específica. ARTRITE AGUDA - A crise aguda da gota manifesta-se por uma monoartrite em 85 a 90% dos casos, predominantemente nos membros inferiores. Tem início repentino e rápido, além do desenvolvimento de dor intensa, edema, aumento de temperatura e eritema, por vezes violáceo. - Essas características fazem da crise aguda de gota uma manifestação ímpar dentro das artropatias inflamatória. A resposta ao tratamento tende a ser rápida, mas mesmo quando não tratadas as crises resolvem-se espontaneamente em um período de 3 a 10 dias, podendo mais raramente estender-se além de 2 semanas. As articulações mais comumente afetadas são: - Membros inferiores: joelhos, tornozelos, tarso, metatarsofalangianas e interfalangianas. O envolvimento da primeira articulação metatarsofalangiana é o mais típico da gota, e ocorre em 50% dos casos na crise inicial e em 90% no evoluir da doença . Nesse local, a artrite denomina-se podagra. - Membros superiores: cotovelos, punhos, metacarpofalangianas (Figura 3) e interfalangianas. Surtos poliarticulares podem ocorrer em 2 a 13% dos casos na primeira crise, sendo mais frequentes quando a gota é secundária à doença linfo ou mieloproliferativa e em transplantados renais sob uso de ciclosporina. Irritabilidade, febre e poliúria podem ocorrer tanto antes como durante a crise. - Após a crise gotosa aguda pode ocorrer descamação epidérmica apenas sobre o local afetado e por causa desse fato quaisquer lesões descamativas cutâneas nas mãos e nos pés são popularmente associados a "ácido úrico", sem ter na verdade relação com hiperuricemia. - Os fatores desencadeantes mais frequentes da crise aguda são: ingestão de bebida alcoólica, uso de fármacos como diuréticos, tuberculostáticos e salicilatos, trauma, infecção, cirurgia, estresse emocional e ingestão excessiva de carne e leguminosas (feijão, ervilha, lentilha). As crises também podem ser desencadeadas durante a introdução ou interrupção dos uricorredutores. - Nos indivíduos mais velhos, a crise da gota pode assumir uma forma atípica, sendo menos intensa e de início mais insidiosa, assumindo por vezes um padrão poliarticular, especialmente nas mulheres nas quais é mais freqüente o acometimento das falanges das mãos e formação de tofos nessa localização. PERÍODO INTERCRÍTICO - Entre os ataques agudos, nos primeiros anos da doença, os pacientes ficam assintomáticos e comumente sem nenhuma seqüela articular, caracterizando o período intercrítico da gota. Habitualmente, os ataques se sucedem a cada 1 a 6 meses em média. Com a evolução da doença, as crises se tornam mais frequentes, menos intensas e mais prolongadas e, em alguns casos, envolvendo mais de uma articulação. - Alguns pacientes podem apresentar apenas uma ou poucas crises ao longo da vida. Em alguns casos, o indivíduo entra em uma fase poliarticular crônica com dor mesmo no período intercrítico, com sinais permanentes no exame físico e radiográfico articular. Tal manifestação ocorre geralmente após 10 ou mais anos de doença. GOTA TOFÁCEA CRÔNICA - Nessa fase da doença, verifica-se a presença de tofos (depósitos de urato) em vários tecidos, principalmente o subcutâneo periarticular e articular. Ocorre em pacientes com doença de longa evolução, após muitos surtos de artrite. - O intervalo entre o primeiro surto e o surgimento de tofos é variável, porém, em média, é de 11 anos. Antes da terapêutica uricorredutora, 50 a 70% dos pacientes desenvolviam tofos, cifra que caiu para 17% após a introdução desse grupo de medicamentos. Os locais mais afetados são a bursa olecraneana, no cotovelo, o tendão do calcâneo, as mãos e os pés (principalmente na região dorsal), joelhos, tornozelos, superfície ulnar dos antebraços, punhos e orelha externa. Podem atingir grandes dimensões em pacientes não tratado. GOTA RENAL E UROLITÍASE - O envolvimento das vias urinárias na gota vem em terceiro lugar em frequência, atrás das articulações e do subcutâneo. Existem 3 tipos de acometimento desse sistema: a urolitíase, a nefropatia úrica aguda e a nefropatia úrica crônica. Urolitíase: 7 Sanndy Emannuelly – 5° Período 2020.2 - A presença de cálculos no trato urinário é observada em 10 a 25% dos pacientes com gota. São formados por ácido úrico ou podem ser mistos de ácido úrico e outros sais como, por exemplo, o oxalato de cálcio . Decorre basicamente do baixo pH verificado na urina desses pacientes, o que diminui a solubilidade do ácido úrico. - Em segundo lugar em frequência, a urolitíase pode ser desencadeada pela quantidade e concentração do ácido úrico excretado. Ocorre também em 20% dos hiperuricêmicos sem manifestação articular, porém, nesses casos, por definição não se configura o diagnóstico de gota. Nefropatia úrica aguda: ocorre pela hiperuricemia aguda e grave decorrente do tratamento quimioterápico de doença linfo ou mieloproliferativa. Ocorre precipitação de grande quantidade de cristais de ácido úrico nos ductos coletores e ureteres levando à insuficiência renal aguda de padrão obstrutivo. Nefropatia úrica crônica: decorre da deposição doscristais de urato no parênquima renal, que pode levar à reação inflamatória com a participação de células gigantes, causando proteinúria e incapacidade de concentração da urina. Acredita-se que as comorbidades presentes na gota contribuam para sua patogênese. Recentemente, verificou- se in vivo a ação lesiva direta vascular devido ao ambiente hiperuricêmico nos fluidos biológicos, independente da hipertensão arterial frequentemente observada nesses indivíduos. Doenças associadas: estão frequentemente associadas à gota, como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia, insuficiência coronariana e outras doenças vasculares. A investigação dessas condições deve ser sempre realizada nos pacientes com gota, independentemente da presença de manifestações. Objetivo 3: Compreender o tratamento não farmacológico da gota. Laíla Teresa Ribeiro Ferreira Tratamento Farmacológico E Não Farmacológico Da Gota: Uma Revisão 2017 RECOMENDAÇÕES PARA OS PORTADORES DE GOTA - As modificações dietéticas podem afetar positivamente a uricemia e crises de gota, bem como a síndrome metabólica, hipertensão e doença coronariana. Certos alimentos e hábitos cotidianos podem melhorar controlar e prevenir a hiperuricemia. 1. Alimentos ricos em purinas A ingestão dietética de purinas pode contribuir substancialmente para o aumento dos níveis de ácido úrico no sangue. Os alimentos que podem aumentar os níveis de urato são: sardinhas, anchovas e outros frutos do mar, aves domésticas e carnes em miúdos (rim, fígado, moela), molhos, leguminosas (feijão, soja, ervilha). As recomendações dietéticas incluem limitar o consumo de xaropes de milho com alto teor de frutose e incentivar o consumo de vegetais e produtos lácteos com baixo teor de gordura. 2. Consumo de bebidas alcoólicas - A ingestão de qualquer tipo de bebida alcoólica pode aumentar o risco de ataques agudos de gota. Os profissionais de saúde e pacientes devem, portanto, considerar limitar o consumo, não apenas da cerveja, e sim de todas as outras bebidas alcoólicas. - Quanto aos diferentes tipos de bebidas alcoólicas, o consumo de cerveja é a associação positiva mais forte com o risco da gota, logo em seguida vêm os destilados e por último o vinho que em ingestão moderada parece não aumentar os riscos de crises. Além do seu teor de álcool, a cerveja é rica em purinas, em especial a guanosina, favorecendo ainda mais a hiperuricemia. Na gota A ingestão de qualquer tipo de bebida alcoólica pode aumentar o risco de ataques agudos de gota. Os profissionais de saúde e pacientes devem, portanto, considerar limitar o consumo, não apenas da cerveja, e sim de todas as outras bebidas alcoólicas. A ingestão de álcool aumenta a uricemia por incrementar a degradação de ATP (Trifosfato de Adenosina) em AMP (Monofosfato de Adenosina), que é rapidamente convertido em ácido úrico. Por outro lado, a desidratação e a acidose metabólica, relacionados com o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, reduzem a excreção renal de ácido úrico. 3. Outras recomendações A educação do paciente e a modificação de estilo de vida, as recomendações incluem redução de peso e melhoria da força muscular (fisioterapia nos doentes mais debilitados).
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