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Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Introdução • Antigamente a rede de atenção à saúde era vista como pirâmide: poucas pessoas precisando da atenção hospitalar e esta como o único local com alta complexidade no cuidado à saúde, a média complexidade como nível secundário e a atenção básica concentrando a maior parte dos problemas de saúde da população, com maior número de pessoas e a concepção de baixa complexidade. Esse modelo não é mais válido. Há uma maior compreensão sobre o cuidado na atenção básica. • A partir dos anos 2000 surgiu a concepção da rede de atenção à saúde como setores interligados, sem hierarquia, com a atenção primária no centro, coordenando o cuidado. Contudo, é errado pensar que a atenção básica consegue manejar todas as formas de cuidado. A rede é composta por vários setores de atenção, sendo a atenção básica importante – mas não funciona sem os outros setores. Há um fluxo de encaminhamento, referência e contrarreferência entre as redes. • A atenção básica lida com todos os tipos de problemas de saúde da população. Doenças infectocontagiosas, saúde mental, saúde da mulher... A longitudinalidade do acompanhamento permite o contato direto com a população – há um contato contínuo com os indivíduos ao longo da vida. Logo, há uma ampla variabilidade de diagnósticos. • Termos: - Atenção primária à saúde: termo mais universal, utilizado e entendido por todos os países. Termo para literatura internacional. - Atenção básica: termo ¨abrasileirado¨ do termo atenção primária à saúde. É a porta de entrada ao SUS, o local onde o paciente recebe cuidados no primeiro nível da rede. Foi traduzido para dar o sentido de básico= o que não pode faltar. - Programa Saúde da Família: é mais limitado. Tem início, meio e fim. - Estratégia Saúde da Família: é a continuidade do PSF. Quando o programa se torna parte da política pública de saúde, deixando de ter apenas uma meta ou um objetivo. • Nem toda Unidade de Atenção Básica é uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família. A unidade de atenção básica é um local onde são oferecidos serviços básicos de saúde. • Para ser uma unidade de saúde da família deve ter no mínimo uma equipe que trabalhe na lógica de saúde da família – a principal é na ideia de território, população adscrita, território específico. • Em unidades básicas que não são ESF, não há acs, o enfermeiro está ligado a um programa específico de saúde – áreas específicas. História Dawson (1920): • Dawson foi o primeiro a trazer a ideia de porta de entrada, rede de saúde. • Pós 1ra guerra mundial. • Em 1920 ele escreveu um documento para dar a noção de organização do serviço de saúde. Esse relatório é o primeiro registro histórico da concepção de rede de saúde. • Dawson traz a ideia de territorialização no processo de cuidado. Delimita a importância de que a rede de saúde tenha níveis diferentes de atenção, distribuídos em um território. Poder proporcionar à população acesso à saúde perto dos domicílios. • Traz a ideia de centros municipais de saúde, os quais acompanhassem as pessoas ao longo da vida. Uma equipe de referência à qual pudessem visitar sempre que necessário. A partir desse centro, poderiam ser encaminhados para outros setores de atenção, conforme sua necessidade. • Traz a ideia de atenção domiciliar, da unidade de referência. • Realização de um prontuário único para registro da história clínica do paciente, acessível para as equipes que o atendessem em qualquer nível de atenção. Características da Atenção Primária à Saúde, Modelos existenciais, PNAB... Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • No relatório também se defende a não separação da medicina curativa e da preventiva, defendendo um cuidado de saúde completo. Primórdios da APS: • 1978: Declaração de Alma Ata considerada o marco da APS. Após essa conferência a saúde passa a ser vista não apenas como ausência de doença. Começa a dar foco e atenção ao nível de atenção primária, para ter um desenvolvimento econômico e social que acompanhasse o desenvolvimento da saúde populacional. • São detectados todos os fatores que interferem na saúde da população. • Os cuidados primários de saúde como chave para atingir a meta de Saúde para Todos no Ano 2000. Brasil • No brasil, desde a década de 50 havia programa de interiorização, a figura dos visitadores sanitários – próximo aos atuais agentes comunitários de saúde. • Os visitadores sanitários tinham como objetivo promover atenção domiciliar e trazer orientações para controle de doenças da época – febre amarela, imunização, doenças diarreicas... Já havia resultados positivos relacionados ao cuidado em saúde perto da moradia das pessoas, com visitas domiciliares. • A conferência de Alma Ata e a meta de saúde para todos no ano 2000 estimularam o financiamento de ações específicas em países em desenvolvimento. • Na década de 80 é criado o Programa de Agentes de Saúde no Ceará – mais perto da ideia de acs. Nesses anos existiu o Programa Emergencial financiado com recursos do Governo federal para socorrer a população atingida pela seca, introduzido por um médico participante ao movimento de reforma sanitária. Foram selecionadas em torno de 6 mil pessoas, na maioria mulheres pobres, para trabalhar como agentes de saúde local. Elas visitavam as pessoas atingidas, dando orientações sobre higiene, hidratação, doenças diarreicas... esse programa teve vários resultados positivos. • Então, quando o financiamento do programa cessa em 1988, o estado do Ceará passa a financiar os profissionais, já que os indicadores de mortalidade materno infantil diminuíram, os óbitos por doenças diarreicas caíram, a cobertura vacinal ampliou... A secretaria estadual de saúde chegou a receber um prêmio do UNICEF por atingir essas metas. • Com esses resultados, o ministério de saúde lançou em 1991 o programa nacional de agentes comunitários de saúde – PACS. • Depois do PACS, há o início do PSF em 1994, que mais à frente se torna ESF. • No PACS havia um grupo de agentes comunitários de saúde e o enfermeiro ligado a um determinado território específico de atuação; no PSF adiciona-se o médico e o técnico de enfermagem; na ESF há outra conformação, com a manutenção da equipe mínima. • Estudo recente: demonstra a diminuição da taxa de internações por condições sensíveis à atenção primária, conforme há o aumento da cobertura da ESF. Logo, mostra que questões manejadas na atenção primária conseguem prevenir internações. Condições sensíveis a APS: - Doenças imunopreveníveis; - Gastroenterites; - Doenças pulmonares; - Insuficiência cardíaca; - Doenças relacionadas ao pré-natal e parto • Esses índices permitem avaliar a ação das ESFs e possíveis áreas nas quais deva ser reforçado o trabalho. • Qualquer acontecimento da comunidade é responsabilidade da equipe de saúde do território. Deve haver um vínculo e intervenções – campanhas de vacinação, por exemplo. Essas ações interferem de forma concreta nos problemas de saúde das pessoas. • Cada equipe é responsável por um território específico – o número da população varia segundo comércio, áreas asfaltadas, escolas, número de moradias. As ações das equipes vão variar segundo as características específicas do território. Equipe de saúde da família • O acs é parte de quem vivencia a realidade – já que deve morar no território de atuação dele e ao mesmo tempo faz parte de quem controla e intervém na realidade vivenciada na saúde – por ser parte da equipe de saúde. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Em toda equipe de saúde da família tem um acs, um técnico, um enfermeiroe um médico. Podem haver de 4 a 6 acs. • A reunião de equipe que costuma acontecer uma vez por semana é primordial para o funcionamento da equipe. Cabe ao enfermeiro, segundo a PNAB, a gestão do trabalho do acs, do técnico... mesmo que haja uma divisão com o médico, pela formação de enfermagem dar uma base administrativa, o gerenciamento acaba sendo feito pelo enfermeiro. Durante a reunião é possível ter uma noção geral do território, estudar os casos mais complexos, dividir responsabilidades, planejar eventos e intervenções... é primordial. Usualmente acontece semanal e dura mais de 1h, em torno de 2h. • O trabalho em equipe envolve compartilhamento de técnicas, mas também ética. Exemplo: lidar com casos delicados, como abusos infantis. Tal situação necessita intervenção de psicólogo e assistente social do NASF, enfermeiro, profilaxia, notificação compulsória, acolhimento à família, atendimento clínico para constatação do fato, encaminhar para centros de referência para crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, notificação criminal, acompanhamento da família para ver a resolução da situação, avaliar necessidades dos outros integrantes da família, comunicação ao conselho tutelar, agendar consulta para continuidade do atendimento... • A responsabilidade sanitária do território é da equipe. NASF • É o núcleo de apoio à saúde da família, que possui como objetivo aumentar a resolutividade e a qualidade do cuidado em saúde na atenção básica. Amplia a capacidade do cuidado já que nenhum profissional consegue realizar tudo – é importante ter profissionais de outras áreas. • A ideia é de trabalho em matriciamento – não é apenas encaminhar, mas sim uma ação em conjunto com a ESF. O termo mais utilizado é interconsulta – consulta conjunta, ambos profissionais trabalhando juntos em uma mesma consulta e situação. Políticas Nacionais de Atenção Básica – PNAB • A primeira PNAB foi a de 2006, depois atualizada em 2011. A de 2011 teve uma atualização em 2017. • Na PNAB de 2017 houve mudanças que começaram a descaracterizar o trabalho da atenção básica, da forma em que inicialmente era conhecida. • Antes da PNAB de 2017: - Na equipe deveriam haver de 4 a 12 acs. - Máximo de 750 pessoas cadastradas por acs. - No máximo 4000 cadastrados por equipe; - Uma carga horária de 40 horas semanais para todos os profissionais de saúde, com exceção dos médicos – poderiam ter 20h, mas completando 40 entre os profissionais. Essa organização auxilia a ter uma melhor organização e estabelecer limites. • Com a PNAB de 2017 passa a haver a opção de expandir a atenção básica sem expandir equipe de saúde da família, pode se optar pela modalidade de equipe de atenção básica: - A equipe pode ser composta por um médico – preferencialmente especializado em medicina da família, um enfermeiro – preferencialmente especialista e um auxiliar e/ou técnico de enfermagem. O acs pode ou não estar na equipe. - Principal mudança da equipe de família para a de atenção básica: acs desnecessário. - É vista como uma fragilização da atuação das equipes de saúde da família, principalmente pela remoção da figura do acs. Os acs passam a fazer cursos técnicos de enfermagem para não perder seus cargos. - A carga horária mínima por profissionais passa a ser 10h, com no máximo 3 profissionais por categoria que devem somar mínimo 40h/semanais. Isso diminui o grau de vínculo entre os profissionais e o território – vários profissionais e menos vínculo entre a população e ele. - A equipe de atenção básica deve atender os princípios e diretrizes propostas para a AB. A gestão do município pode compor eAB segundo as características e necessidades do município. O modelo prioritário é a ESF. As esquipes eAB podem se organizar depois como o modelo prioritário (esf). Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez - Para a ESF passa a ser obrigatório 40h semanais – todos os membros. - O número de acs por equipe deve ser definido segundo a base populacional, critérios demográficos, epidemiológicos e socioeconômicos, de acordo com definição local. - Em áreas de grande dispersão territorial, de risco e vulnerabilidade social, é recomendada (não limitada) a cobertura de 100% da população com máximo 750 pessoas por acs. Estimula a diminuição de acs, já que não há o máximo de pop, assim como a sobrecarga dos já presentes. - Possibilita que o usuário possa ser atendido fora de sua área de cobertura – por meio da pactuação e negociação entre as equipes, segundo a necessidade e conformação do território. Sempre mantendo o diálogo e a informação entre as equipes. Facilita o acesso, já que o indivíduo pode acessar unidades perto de seu trabalho ou locais de melhor acesso. - Recomenda a inclusão do gerente de atenção básica, para contribuir com o aprimoramento e qualificação do processo de trabalho nas UBS, fortalecendo a atenção à saúde prestada pelos profissionais das equipes à população, por meio de função técnico-gerencial. A inclusão desse gerente deve ser avaliada pelo gestor municipal, segundo a necessidade e cobertura da atenção básica. O gerente de Ab deve ser um profissional qualificado, de preferência com nível superior, que deve garantir o planejamento em saúde, seguindo as necessidades do território e a comunidade, a organização do processo de trabalho, coordenação e integração de ações. É importante que o gerente não seja profissional integrante das equipes da UBS e tenha experiência na Ab. - Normalmente quem fazia o gerenciamento era o enfermeiro. • A PNAB descreve sobre todas as características de trabalho, assim como das atribuições de cada profissional dentro da atenção básica. Contudo, o essencial são as mudanças de acordo com as atualizações. O papel do enfermeiro na atenção primária • O enfermeiro não faz apenas educação em saúde, deve interferir em outras áreas – feridas, por exemplo. Ações típicas da área de saúde. • Entender a alta complexidade da atenção básica – a complexidade não está apenas na densidade tecnológica ou número de instrumentos utilizados para lidar com a vida dos pacientes. Na Ab o trabalho é contínuo – a longitudinalidade do trabalho traz uma sobrecarga, já que é necessário o acompanhamento contínuo dos usuários, a busca ativa desses, estar atento a abandono de tratamento, atenção à cobertura vacinal, campanhas de educação em saúde. • É necessário dar conta de várias patologias, situações, um território amplo, grupos etários. • Compreender que a competência profissional viabiliza o vínculo – conhecer melhor as técnicas e patologias dá confiança aos profissionais e pacientes. Saber a atuação de cada profissional e seu local de agir. As pessoas passam a ter grande confiança nos profissionais, pelo tempo de contato e qualidade do cuidado. Além de atendimento marcado, os profissionais atendem demanda espontânea. • Saber que ninguém faz nada sozinho – deve-se contar com a equipe, trabalhar em conjunto. Atribuições específicas do enfermeiro. • Saber diferenciar: - Processo de enfermagem: relacionado à sistematização da assistência – histórico, diagnóstico, planejamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez assistência, prescrição e implementação da assistência, e avaliação. É inerente ao enfermeiro, na consulta ou não. Na atuação do enfermeiro, em qualquer setor e ocasião, deve ser utilizado o processo de enfermagem. Aborda as etapas, o passo a passo que deve ser feito. - Consulta de enfermagem: realiza-se anamnese, exame físico, orientações necessárias. Deve ser utilizado o processo de enfermagem dentro da consulta de enfermagem. Processo de enfermagem aplicado a nível ambulatorial.- Pré- consulta/triagem: não é apenas feita pelo enfermeiro. A SAE – Sistematização da assistência em enfermagem tem os passos utilizados para utilizar instrumentos específicos de diagnóstico de enfermagem. Os instrumentos unificam a nomenclatura dos diagnósticos. Todo processo de enfermagem requer a SAE, que depende do uso do instrumento. A SAE indica qual instrumento será utilizado naquele momento, organiza o processo de enfermagem. • Processos de trabalho do enfermeiro no consultório: - Comunicação efetiva: o paciente entender o comunicado. - Reconhecimento das necessidades do paciente. - Escuta ativa: ter atenção a questões não ditas, mas perceptíveis no paciente. Às vezes há uma queixa que traz um problema muito maior por trás. - Tomada de decisão: necessário na profissão em qualquer situação. - Olhar clínico: atentar-se aos detalhes da condição de saúde de cada indivíduo, implicações das doenças na saúde, evitar agravos de patologias comuns à população. • O enfermeiro lida com a resposta das pessoas às patologias que possuem, e não somente a patologia. • A necessidade de sistematização da assistência é essencial. • Evitar uma visão extremamente biomédica. • Aprender a lidar com a demanda espontânea – atrapalha na organização, mas é necessário. • Olhar o indivíduo como um todo, com suas especificidades e vários problemas de saúde – não se limitar às caixinhas de cada doença, nem um processo automático. • Equilíbrio entre a promoção e prevenção e o manejo clínico.
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