Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Plasmodium – Malária Introdução A partir do conhecimento do ciclo de vida do parasito, diferentes estratégias de ataque à doença foram propostas, visando à interrupção de sua transmissão. Entre elas, o Programa de Erradicação da Malária, proposto em 1955 pela OMS, centrado em ações verticais, incluindo a borrifação de paredes com DDT e o tratamento em massa de indivíduos sintomáticos, com um antimalárico de baixa toxicidade (cloroquina). Esse programa apresentou efeito limitado em regiões da américa do Sul, incluindo a Amazônia brasileira. Agente Etiológico Os parasitas causadores da malária pertencem ao filo Apicomplexa, família Plasmodiidae e ao gênero Plasmodium. Quatro espécies parasitam exclusivamente o homem: Plasmodium falciparum, vivax, malariae e ovale. Etiologia Ciclo biológico dos plasmódios humanos Hospedeiro Vertebrado – Humanos A infecção inicia-se quando esporozoítos infectantes são inoculados pelo inseto vetor em seus hospedeiros vertebrados. Os esporozoitos se movem através de proteínas de superfície do parasito, Circum-esporozoíto (CS) e a trombospondina (TRAP), essenciais para a invasão das células hospedeiras. Após 1 hora da infecção 70% dos esporozoítos presentes na derme atingem os vasos sanguíneos e 30% alcançam os vasos linfáticos, esses, são destruídos. Os esporozoitos podem atravessar células hospedeiras sem se desenvolver nelas, isso facilita a migração por diversas células antes da infecção de um hepatócito, com consequente formação de um vacuolo pasitofago. Isso mostra que pode existir uma especificidade do parasito e da célula alvo. Após invadir o hepatócito, os esporozoítos se diferenciam em trofozoítos pré- eritrocíticos. Estes se multiplicam por reprodução assexuada do tipo esquizogonia, dando origem aos esquizontes teciduais e posteriormente a milhares de merozoítos que invadirão os eritrócitos. Esses merozoítos são liberados do fígado para a circulação sanguínea por meio de estruturas vesiculares denominadas merossomos e não por ruptura direta do hepatócito infectado. Acredita-se que os merozoítos no interior de hepatócitos consumam Ca intracelular e assim previnam a expressão do fosfolipideo fasfatidilserina (FLIP-FLOP), evitando que as células sejam destruídas por macrofagos. Essa primeira fase do ciclo é chamada de exoeritrocítica, pré-eritrocítica ou tissular, precendendo o ciclo sanguíneo. O ciclo eritrocítico inicia-se quando os merozoítos tissulares invadem os eritrócitos, através de receptores específicos. Os tipos de hemácias (maduras, imaturas…) invadidas dependem da espécie do parasita, e isso implica diretamente nas infecções causadas. O desenvolvimento intraeritrocítico do parasito dá-se por esquizogonia, com consequente formação de merozoítos que invadirão novos eritrócitos. Depois de algumas gerações alguns merozoitos se diferenciam em gametócitos, que não se dividem e vão continuar o ciclo nos mosquitos. O ciclo sanguíneo se repete sucessivas vezes, a cada 48 horas, nas infecções pelo P. Falciparum, vivax e ovale, e a cada 72 horas pelo P. Malariae. A fonte de nutrição dos trofozoítos e esquizontes sanguíneos é a hemoglobina e outros componentes metabolitos derivados do plasma, como: glicose, metionina, biotina, purinas e primidinas, fosfato e ácido paraminobenzoico (PABA). A digestão da hemoglobina resulta na produção do pigmento malárico, que se acumula no citoplasma do eritrócito, e quando esse se rompe, é liberado no plasma e posteriormente fagocitado pelas células de Kupffer no fígado ou macrófagos do baço e de outros órgãos. Hospedeiro invertebrado – inseto A femea do mosquito se alimenta do sangue contendo gametocitos, O gametocito feminino se transforma em macrogameta, enquanto o masculino passa por um processo de exflagelação e dá origem a oito microgametas. Dentro de 24h após a fecundação o zigoto passa a se movimentar pelo corpo, sendo denominado oocineto. Ao chegar no intestino médio do mosquito o oocineto se fixa, formando o oocisto. Esse oocisto, irá se romper e liberar esporozoítos, que serão disseminados pelo corpo do inseto pela hemolinfa, até atingir as glandulas salivares, e são injetados durante uma nova alimentação infectante. Habitat Varia para cada fase do ciclo dos plasmódios. No homem, os esporozoítos (forma infectante), atravessam células na derme e circulam brevemente na corrente sanguínea. Na etapa seguinte o parasito se desenvolve no hepatócito e, posteriormente, nos eritrócitos. Transmissão Femeas do mosquito Anopheles, parasitadas com esporozoitos em suas glandulas salivares inoculam essas formas infectantes durante a alimentação sanguínea. As fontes de infecção humana são indivíduos doentes ou até mesmo sintomáticos que abrigam a forma gametocitica. Primatas não humanos podem atuar como reservatórios de P. Malariae. Pode ser transmitida pela transfusão sanguínea e infecção congenita. Imunidade Divididos em três categorias: resistência inata; imunidade inata e imunidade adquirida. Resistência Inata é propriedade inerente do hospedeiro, independente de qualquer contato prévio com o parasito. Fatores do hospedeiro podem influenciar a suscetibilidade à malária. A ausência de receptores específicos na sua superfície dos eritrócitos impede a interação de merozoítos. O traço falciforme é considerado efeito protetor, indivíduos heterozigotos que apresentam HbAS são protegidos da malária grave e portanto apresentam vantagens seletivas sobre indivíduos homozigotos que se podem infectar e vir a morrer de malária. Resposta imune inata é essencial para o controle da paresitemia inicial nas infecções por plasmódios e é fundamental para o estabelecimento da resposta imune adquirida contra o parasito. Tal resposta pode ser desencadeada por diversos componentes derivados de diferentes microrganismos e que os TCRs expressos na membrana plasmática de células dentriticas, macrófagos e células B estão envolvidos. Os receptores TLR2 e TLR9 conhecem metabólitos do parasito, como as ancoras de GPI e hemozoína e esta interação promove uma resposta pró-inflamatória com liberação de citocinas IFN-y e TNF-a que serão importantes no controle da infecção em etapas posteriores. Respota imune Adquirida não tem os mecanismos muito bem elucidados para malária. Pode se tratar de uma imunidade não esterilizante que mantém os niveis de parasitemia abaixo de um limiar de patogenicidade, determinando infecções assintomáticas; e imunidade dependente de exposição contínua ao parasito, sendo perdida por indivíduos imunes após cerca de 1 ano, na ausência de exposição. A resposta imune é estágio e espécie-específica. Os esporozoitos induzem uma resposta imune que resulta na produção de anticorpos contra antifenos especificos da superfície.Durante a fase de desenvolvimento intra-hepático, o sistema imune parece funcionar através da citotoxicidade de linfócitos ou indiretamente através de citocinas como IFNy, IL1 e IL6, e o TNFa. Patogenia Apenas o ciclo eritrocítico assexuado é responsável pelas manifestações clínicas e patologia da malária. A passagem do parasito pelo fígado não é patogênica e não determina sintomas. A remoção das hemácias infectadas ou a captação do pigmento malárico (hemozoína) circulante por macrófagos esplênicos resulta na ativação de receptores da resposta imune inata e liberação de grande quantidade de citocinas. Essas citocinas induzem processos inflamatórios clássicos, conhecidos como ataque malárico, e a expressão de moléculas de aderencia pelas células endoteliais, que levam ao sequestro de hemacias parasitadas nos capilares, interrompendo o fluxo de sangue e promovendo microcoágulos, lesões endoteliais e rupturas nas paredes microvasculares, levando a extravasamento de liquido para o intesticio e inflamação tecidual local. Esses mecanismos contribuem para o desconforto respiratório agudo, a insuficiencia renal aguda e a malária cerebral, que são complicações graves da malária. Hemólise de eritrócitos não infectados,absorção de hemácias alteradas por macrófagos esplênicos e toxicidade eritropoiética induzida por citocinas resultam, frequentemente, em anemia. Produtos do parasito induzem a liberação de pirógenos endógenos liberados por monócitos e macrófagos. Além de estimular outras citocinas (TNF, IL1, IL6 e IL8) que estão envolvidas com a febre e o mal-estar. Sequestro dos eritrócitos parasitados na rede capilar no endotélio e entre os eritrócitos parasitados e não parasitados, formando as rosetas. A citoaderência e a formação de rosetas ocorrem no capilar de órgãos vitais como sbustância branca do cérebro, coração, fígado, rins, intestino). Podem levar à obstrução da microcirculação e consequente redução do fluxo de oxigenio. Quadro clínico O período de incubação de malária varia de acordo com a espécie de plasmódio, 9-14 dias para o falciparum, 12-17 dias para p vivax, 18-40 para o malariae e 16-18 para o ovale. Uma fase cintomatica inicial de mal-estar, cefaleia, cansaço e mialgia, geralmente precede a clássica febre da malária. O ataque paroxístico agudo (acesso malárico), coincidente com a ruptura das hemácias é geralmente acompanhado de calafrio e sudorese. Esta fase dura de 15 minutos a 1 hora, sendo seguida por uma fase febril, com temperatura podendo atingir 41 graus ou mais. Após 2 a 6 horas ocorre defervescência da febre e o paciente apresenta sudorese e fraqueza. Depois os sintomas desaparecem e o paciente sente-se melhor. Após fase inicial, a febre assume carater intermitente relacionado com o tempo de fuptura de uma quantidade suficiente de hemácias contendo esquizonte maduros. Periodicidade relacionada com o tempo de duração dos ciclos eritrocíticos de cada espécie de plasmódio: 48 horas para falciparum, vivax e ovale e 72 horas para malariae. Malária não complicada As manifestações da fase aguda são comuns às quatro espécies de malária. Em geral, os acessos maláricos são acompanhados de intensa debilidade física, náuseas e vômitos. Ao exame fisico o paciente apresenta-se pálido e com o braço palpável. A febre costuma ser mais presente em crianças. A anemia apresenta-se em graus variáveis. Estima-se que cerca de 20% dos pacientes com malária tenham hematócrito inferior a 35% na fase aguda da doença (no problema estava em 26%). Em quadros prolongados de infecção podem produzir manifestações cronicas da mal;aria, como a esplenomegalia reativa da malária, que pode ocorrer em alguns adolescentes e adultos jovens altamente expostos transmissão. Esses indivíduos apresentam, esplenomegalia, hepatomegalia, anemia, leucopenia e plaquetopenia, sendo importante realizar o diagnóstico diferencial com a leishmania visceral, esquistossomose hepatoesplênica ou leucemias. Malária grave e complicada Adultos não imunes, bem como crianças e gestantes, podem apresentar manifestações mais graves da infecção, podendo ser fatal no caso de P. Falciparum. P. Vivax também vem sendo relatado em casos graves. A hipoglicemia, aparecimento de convulsões, vômitos repetidos, hiperpirexia, icterícia e distúrbio da consciência são indicadores de pior prognóstico e podem aparecer das seguintes formas: • Malária cerebral: 2% dos indivíduos não imunes com falciparum. Forte cefaleia, hipertemia, Vômitos e sonolência. Em crianças, convulsões. O paciente evolui para um quadro de coma, com pupilas contraídas e alteração dos reflexos profundos. • Insuficiência renal aguda: redução do volume urinário a menos de 400ml ao dia e aumento da ureia e creatinina plasmática. • Edema pulmonar agudo: comum em gestantes. Transdução alveolar, com grave redução da pressão arterial de oxigênio. • Hipoglicemia: mais frequente em crianças. Níveis de glicose inferiores a 30mg/dl • Icterícia: aumento da bilirrubina sérica. Hemólise excessiva ou comprometimento da função hepática na malária grave. • Hemoglobinúria Epidemiologia Ocorre nas áreas tropicais e subtropicais do mundo. Os dados mais recentes sobre malária no mundo e nas Américas constam no Relatório Mundial da Malária de 20191 que reporta 228 milhões de casos de malária no mundo em 2018, sendo 213 milhões, 93%, na África. Dos 405 mil óbitos ocorridos no mesmo período, a imensa maioria aconteceu no continente africano, em crianças menores de 5 anos. Na região das Américas, nesse mesmo ano ocorreram 753.700 casos e 338 óbitos. Na América, cerca de 138 milhões de pessoas em 19 países e territórios estão em risco para malária, das quais quase 80% causada por Plasmodium vivax. Três países – Brasil, Colômbia e Venezuela (República Bolivariana da) – respondem por 80% de todos os casos estimados. Alguns fatores influenciam na endemecidade: • Fatores biológicos: cada elo da cadeia de transmissão, vetor, homem, parasito; • Fatores ecológicos: condições ambientais que favorecem ou dificultam a transmissão • Fatores socioculturais: atitudes e comportamentos humanos • Fatores economicos e politicos Diagnóstico A certeza de infecção é possível apenas com demosntra;cão do parasito ou de antigenos relacionados no sangue periférico do paciente. O diagnostico laboratorial é feito pela tradicional pesquisa de do parasito no sangue periférico pelo métido de esfregaço espesso ou delgado. A determinação da densidade parasitária é util para o prognóstico, sendo classificado em cruzes. Tratamento O tratamento adequado e oportuno da malária e hoje a principal ferramenta para o controle da doença, pois além de reduzir o sofrimento e evitar a morte dos pacientes, contribui significativamente para a redução da transmissão do parasito a outras pessoas. Antes da resistência do P. falciparum à cloroquina, esta droga era utilizada para as 4 espécies. Agora, o p falciparum apresenta resistência a diversos antimaláricos. A decisão de tratar o paciente deve ser precedida de informações como: • Espécie do plasmódio • Idade do paciente • História de exposição anterior à infecção • Gravidade da doença • Possibilidade de gestação Profilaxia da malária Medidas de proteção individual • Informação sobre o horário de maior atividade do mosquito, por do sol e ao amanhecer • Uso de roupas claras e com manga longa durante atividades de exposição elevada • Uso de medidas de barreiras. Telas nas portas e janelas, ar condicionado e uso de mosquiteiro impregnado com piretroides • Uso de repelentes Quimioprofilaxia Pode ser utilizada apenas para viajantes internacionais e grupos especiais como militares, missionarios, diplomatas cuja duração não ultrapasse 2 meses. A única droga sugerida é a doxiciclina (100mg/dia). Deve ser inciado uma semana antes e interrompido 4 semanas após Medidas coletivas Medidas de combate ao vetor adulto como borrifamento de inseticida, medidas de combate as larvas, medidas de saneamento básico, educação e comunicação social.
Compartilhar