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PONTO I ASPECTOS INICIAIS DO DIREITO ADMINISTRATIVO I - ESTADO 1. CONCEITO É uma Pessoa Jurídica de Direito Público Interno (mas que também atua junto à comunidade externa/estrangeira). É a organização jurídica de um povo, em determinado território, sob um governo soberano, para a realização do bem comum. Esses, pois, seriam, segundo doutrina majoritária, os elementos do Estado (Povo – Território – Governo Soberano). Para alguns doutrinadores, a busca do bem comum também seria um dos elementos do Estado. O Estado, por sua vez, é composto tanto de atribuições de Governo como de Administração Pública, as quais serão distribuídas e executadas entre os seus integrantes na busca dos objetivos maiores do Estado. II - GOVERNO 1. CONCEITO É a expressão política de comando, de iniciativa, de fixação de objetivos do Estado e da manutenção da ordem jurídica vigente (critério material, ou objetivo). É o conjunto de Poderes e órgãos constitucionais (critério formal ou orgânico). Segundo Hely Lopes Meirelles - HLM: “O governo comanda com responsabilidade política e constitucional”. Tem soberania (na União), ou, pelo menos, autonomia política (Estados, DF e Municípios). O Governo nada mais é que o Estado desempenhando a sua função política. Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, “são exemplos de atos políticos: a convocação extraordinária do Congresso Nacional, a nomeação de Comissões Parlamentares de Inquérito, as nomeações de Ministro de Estado, as relações com Estados estrangeiros, a declaração de guerra e de paz, a permissão para que forças estrangeiras transitem pelo território do Estado, a declaração de estado de sítio e de emergência, a intervenção federal nos Estados. Além disso, podem ser assim considerados os atos decisórios que implicam a fixação de metas, de diretrizes ou de planos governamentais. Estes se inserem na função política do governo e serão executados pela Administração Pública, no exercício da função administrativa propriamente dita”. O governo atua com independência funcional (podendo inovar no mundo jurídico) e comanda com responsabilidade constitucional e política, mas sem responsabilidade profissional pela execução. III - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. CONCEITO Segundo Hely Lopes Meirelles - HLM, Administração Pública é todo aparelhamento do Estado preordenado à realização dos seus serviços, visando à satisfação das necessidades coletivas. É o instrumental de que dispõe o Estado para por em prática as opções políticas do governo. Isto não quer dizer que a Administração não tenha poder de decisão. Tem! Mas o tem somente na área de suas atribuições e nos limites legais de sua competência executiva, só podendo opinar e decidir sobre assuntos jurídicos, técnicos, financeiros ou de conveniência e oportunidade administrativas, sem qualquer faculdade de opção política sobre a matéria. Tem poder de decisão somente na área de suas atribuições, dentro dos limites legais de sua competência executiva; não tem opção política. Comanda com “responsabilidade técnica e legal”. A doutrina costuma apontar um conceito/sentido amplo, no qual a Administração Pública incluiria tanto a) os órgãos de governo, na função típica/política; como também b) a estrutura, de órgãos e pessoas jurídicas, para a execução/cumprimento das funções do governo, cuja função seria meramente administrativa. Já para o conceito/sentido estrito, a Administração Pública abrange tão somente os órgãos e pessoas jurídicas que possuem função administrativa, de cumprimento, de execução das diretrizes fixadas pelo governo, não se incluindo as funções de criação/elaboração das políticas públicas, que são cometidas aos órgãos políticos. Para facilitar, podem ser apresentados os seguintes traços distintivos entre Governo e Administração Pública, extraídos da obra de HLM: Para arrebatar, temos que o estudo do Governo – suas características, organização e estruturas – fica a cargo, sobretudo, do Direito Constitucional. Já o estudo da Administração Pública (características, organização e estruturas) é missão principal do Direito Administrativo. 2. SENTIDOS, ASPECTOS, ACEPÇÕES CONCEITUAIS 2.1 CRITÉRIO FORMAL, SUBJETIVO OU ORGÂNICO Administração Pública é o conjunto, o complexo de órgãos, instituições públicas e agentes públicos que desempenham a função administrativa. Dá-se ênfase, aqui, àqueles que atuam como Administração Pública. 2.2 CRITÉRIO MATERIAL, OBJETIVO OU FUNCIONAL Administração Pública é o conjunto de atividades do Estado voltadas para a satisfação das necessidades públicas, de modo concreto e imediato. É, na expressão do mestre José Cretella Jr., “a expressão do Estado agindo in concreto”. “Mediante atividade ininterrupta, prevenindo, ordenando, garantindo a ordem jurídica e social, concretiza-se a Administração, cujos atos, contínuos e executórios, ao contrário dos legislativos e judiciais - intermitentes - asseguram ao Estado a obtenção dos fins a que se propõe”. Nesse sentido, verifica-se o que a Administração Pública desempenha, suas atividades, e não mais quem ela é. As atividades desenvolvidas, em regra, pela Administração Pública são: o Serviço Público; o Fomento; a Polícia Administrativa; e, para alguns doutrinadores, a Intervenção. 2.3 CRITÉRIO OPERACIONAL (H.L.M.) Embora não seja muito abordado nos concursos públicos, destaca-se que o saudoso Hely Lopes Meirelles indica um terceiro aspecto na identificação conceitual de Administração Pública, denominado de acepção operacional, que “é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico, dos serviços próprios do Estado ou por ele assumidos em benefício da coletividade”. IV - CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO É o ramo do direito público interno que estuda o conjunto de normas jurídicas (princípios e regras) que regem a organização e o funcionamento da Administração Pública e as relações jurídicas decorrentes de sua atuação, quando no uso da Supremacia do Poder Público. Para a conceituação do Direito Administrativo adota-se na doutrina majoritária o “Critério da Administração Pública”, que defende que a atividade administrativa está presente em todos os Poderes do Estado (Judiciário, Legislativo e Executivo, sendo que nesse último há uma predominância). Esse critério é adotado, sobretudo, em contraposição ao chamado “Critério do Poder Executivo”, que só admite atividade administrativa no Poder Executivo. V - REGIMES JURÍDICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA As relações jurídicas que se estabelecem entre a Administração e os particulares devem se nortear em regras jurídicas (regime jurídico) que permitam a busca do interesse coletivo. Para que a Administração Pública consiga atingir o bem comum ela está municiada de várias prerrogativas que garantem a denominada Supremacia do Interesse Público sobre o interesse privado (particular). A esse conjunto de regras (com prerrogativas e privilégios), dá-se o nome de regime jurídico de direito público, também chamado pela doutrina de Regime Jurídico Administrativo. Essa é a regra de atuação do poder público. A expressão Regime Jurídico Administrativo é reservada tão somente para abranger o conjunto de traços, de conotações, que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração Pública numa posição privilegiada. Da aplicação de tal regime decorrem dois princípios essenciais: o da Supremacia do Interesse Público (posição privilegiada da Administração, com diversas prerrogativas – presunção de legitimidade, autoexecutoriedade, impenhorabilidade de bens, etc.) e o da Indisponibilidade do Interesse Público (que não permite que a Administração Pública abra mão do interesse público a fim de beneficiar interesses pessoais). No entanto, existem relações jurídicas estabelecidas entre a Administração e os particulares que não são regidas pelo Direito Administrativo (Direito Público), mas sim, por ramos do Direito Privado (p.ex.: Direito Civil, Direito Empresarial, Direito do Consumidor). Isto ocorre quando a Administração abre mão da Supremacia,o que se dá apenas excepcionalmente, de acordo com a lei. Nesses casos, p.ex., não há a prática do chamado ato administrativo, mas sim de ato da administração,regido por um conjunto de regras, preponderantemente (mas não exclusivamente), de direito privado, chamado de Regime Jurídico de Direito Privado (híbrido ou misto). Quanto ao regime de Direito Privado que a Administração Pública também pode se submeter (p.ex.: quando um banco estatal – BB, CEF, BRB – celebra com particular um contrato de abertura de contacorrente), é necessário ter atenção no sentido de que ele jamais será adotado de maneira exclusiva – daí o fato de ele ser também chamado de Regime Jurídico Híbrido ou Misto. Isso porque algumas regras do direito comum (Civil, consumidor, etc.) serão afastadas (derrogadas), a fim de que normas de direito público tenham incidência. Percebe-se assim que se trata de uma predominância de regras de direito privado, mas não de exclusividade. Dessa forma, é correto afirmar que a Administração Pública pode submeter-se a regime jurídico de direito público (regra) ou a regime jurídico de direito privado (exceção). A opção por um regime ou outro é feita, em regra, pela Constituição ou pela lei, como, p.ex., os artigos 173, § 1º, e o art. 175, ambos da Constituição. A expressão Regime Jurídico da Administração Pública é utilizada para designar, em sentido amplo, tanto o regime de direito público quanto o de direito privado a que pode submeter-se a Administração Pública. VI – FONTES DO DIREITO ADMINISTRATIVO É tudo aquilo serve de base para a atuação do agente público. São consideradas fontes do Direito Administrativo a Lei, a Doutrina, os Costumes, a Jurisprudência e os Princípios Gerais de Direito Público. a) Lei: Essa fonte precede às demais, embora não seja, necessariamente, hierarquicamente superior em todas as situações. Em sentido amplo (lato sensu), é toda norma de conduta emanada do Poder Público, caracterizada especialmente pelos atributos de generalidade e abstração, dotadas de coercibilidade (coação em potencial, a ser deflagrada ante a inobservância da lei) e que visa garantir a vida em sociedade com harmonia e prevalência do interesse comum sobre o particular. A palavra lei pode ser interpretada de maneira ampla para se admitir o uso de todos os atos normativos, sobretudo os atos administrativos. É classificada como primária (devido ao seu poder vinculativo) e escrita (pois formalmente apresentável). b) Jurisprudência: é o conjunto de decisões num mesmo sentido, editada pelos Tribunais e Órgãos dotados de poder de decisão. É a tradução do “pensamento” dos órgãos julgadores. Jurisprudência, assim, é um conjunto de decisões que laboram num mesmo sentido, vale dizer, que decidem conflitos de direito da mesma forma, em decisões com conteúdos idênticos (ou semelhantes) sobre um determinado ponto de direito. A jurisprudência pode ser formada em mais de um sentido (majoritária ou minoritária). A uniformização de jurisprudência é desejável e necessária. Não apenas dos órgãos do Poder Judiciário (embora seja a regra), mas também de órgãos que possuem poder decisório e vinculativo (inter partes), como se dá com os Tribunais de Contas. Atualmente, existem diversos institutos jurídicos que têm sua aplicação pautada em decisões/julgados administrativos, como se verifica, p.ex., em relação às decisões do TCU. A jurisprudência, não tem, em regra, caráter vinculativo, sendo considerada, ainda, uma fonte “não escrita”, pois revela uma tendência, expõe um pensamento. Atualmente, contudo, existam situações em que “entendimentos e decisões jurisprudenciais” passaram a ter caráter erga omnes e vinculativo, como é caso das decisões do STF proferidas, em regra, em controle abstrato de constitucionalidade ou, ainda, quando edita Súmula Vinculante (art. 103-A da CF). c) Doutrina: conjunto de estudos, reflexões e pareceres, produzido pelos estudiosos do Direito. É o pensamento, o entendimento firmado sobre algo, mas desenvolvido apenas em caráter pedagógico. Não tem caráter vinculativo e também é considerada uma fonte “não escrita” d) Costumes: práticas reiteradamente observadas ao longo dos tempos – em determinada sociedade e num certo momento -, dotadas também de generalidade e abstração, que, não contrariando a lei, são acolhidas pelo direito como norma válida de conduta, com valor jurídico. É rita”. e) Princípios do Direito Administrativo: princípios são normas dotadas de generalidade e preeminência sobre as normas simples – regras – e que vinculam, desde o legislador infraconstitucional até o aplicador da lei, ao seu conteúdo, quando sua incidência é especificamente definida em lei. Nos moldes do art. 37 da CF, “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. Além dos princípios específicos(princípios setoriais), existem os princípios gerais de direito Público, dos quais podemos citar: a indisponibilidade do interesse público, a Supremacia da Administração, o devido processo legal com contraditório e ampla defesa, etc. Um princípio geral que se aplica tanto ao Direito Público como ao Privado é o da proibição de enriquecimento ilícito ou sem causa, especialmente à custa do patrimônio alheio. Conforme o caso que se apresenta, deve-se fazer uma ponderação, uma aplicação equilibrada de um princípio, a fim de que outro seja afastado, ao menos temporariamente.
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