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PEDIATRIA DESIDRATAÇÃO E REIDRATAÇÃO CONSIDERAÇÕES Água – 75-80% peso ao nascimento, 65% peso no final do 1º ano de vida, 60% peso dos homens e 55% do peso em mulheres LIC – 35% peso, e aumenta 45% no final no 1º ano de vida. LEC – 40% peso ao nascimento, 20% peso no final do 1º ano de vida Composição eletrolítica: LIC – ions PO4 e K+ LEC – Na+, Cl -, proteínas (P oncótica) Subcompartimentos: Intersticial Intravascular – 8% peso RN e diminui para 6,5- 7% no 1º ano de vida A água circula livremente entre os 2 compartimentos, na dependência da pressão oncótica, com objetivo de manter a osmolaridade igual entre eles; Soma dos osmois no intracelular tende a se manter inalterada, exceto nas células nervosas No LEC a osmolaridade veria por alteração no número de partículas osmóticas como por alteração na quantidade de água CONCEITO Consiste na perda de água e eletrólitos do organismo sem perda concomitante de tecido Emergência frequente em pediatria Causas: • maior susceptilidade a doenças infecciosas, principalmente doença diarreica aguda. • Maior superfície corporal – principal determinante do consumo de água em função das perdas insensíveis • Metabolismo basal é proporcional à superfície corporal • Maior proporção de água no compartimento do LEC que é perdida com maior facilidade que a do LIC. CLASSIFICAÇÃO DESIDRATAÇÃO AOS GRAUS Leve ou de 1º GRAU • Perda de peso de mais ou menos 5% • Mucosas pouco secas, olhos pouco encovados, turgor cutâneo levemente diminuído, diurese mantida e sem alterações cardiovasculares. Moderada ou 2º GRAU • Perda de mais ou menos 10% do peso • Clinica: turgor cutâneo diminuído, olhos encovados, mucosas bastantes secas, fontanela deprimida, algum comprometimento circulatório, oligoanuria, pulsos ditais diminuídos, aumento da FC com leve queda da PA. Grave ou de 3º GRAU • Perda de mais ou menos 15% • Turgor e elasticidade muito diminuídos, olhos muito encovados, mucosas secas, com comprometimento circulatório; oliguanuria, nítida queda de PA, pulsos distais débeis ou ausentes e FC elevada. ASSOCIADA À PERDA DE SÓDIO Na+ - RESPONSAVEL POR MANTER A PRESSÃO HIDROSTATICA CAPILAR DESIDRATAÇÃO ISONATREMICA A mais frequente, corresponde a 65¨% dos casos Deficit final isotônico, com diminuído do volume extracelular e do volume plasmático com manutenção do volume intracelular. Perda igual de NA+ e água; Causas: vômito e diarréia DESIDRATAÇÃO HIPONATREMICA Corresponde a 30% dos casos Perda maior de NA+ do que agua e queda da osmolaridade plasmática SVC – hipotonicidade do LIV, levando a choque sem significativa perda de líquidos Perda de agua do intra pro extravascular Obs – paciente pode entrar em choque hipovolemia sem grandes perdas de volumes, você tem um choque precoce SNC – hipotonicidade leva a edema cerebral, sendo mais intenso nos casos agudos Clinica: turgor muito diminuído, FA deprimida, sede discreta ou ausente, diurese presente, choque precoce, hipotonia, hiporreflexia, letargia Causas: Renal ou extrarenal Na+ urinário baixo – menor que 20, perdas extrarenais como as iliostomias, queimaduras, peritonites Na+ urinário alto (maior 20 meq/l) = doenças renais, uso de diuréticos, diminuição da produção da aldosterona. PSEUDOHIPONATREMIA – parte da água do soro é substituída por líquidos e proteínas naquelas situações onde estes encontram-se elevados Ex: aumento de lipídios e proteínas Hiponatremia factícia – há passagem de água do LIC para o LEC pela presença de solução não permeáveis no LEC levando a hiponatremia dilucional, ex. uso do manitol, hiperglicemia DESIDRATAÇÃO HIPERNATREMIA Mais ou menos 5% dos casos Maior perda de agua que de Na+ (Na+ sérico > 150mEq/l) Aumento da osm LEC > LIC (osm N = 285 – 300 mOs/l) SCV – para haver clinica, tem que ter perda de volume de pelo menos 10% Obs- aqui terá uma desidratação celular, a clinica exuberante será mais retardada SNC – desidratação cerebral, formação dos osmoides idiogenicos (formados por restos celulares, principalmente aminoácidos como a taurina)com a função de puxar água e evitar desidratação neuronal. Clinica: turgor pouco ou não diminuído, mucosas muito secas, fontanela anterior deprimida, sede intensa, diurese muito diminuída ou ausente, choque tardio, febre, alterações na consciência, hiperirritabilidade aos estímulos, tremores, Hiperreflexia, rigidez de nuca. Posição de opistotono, convulsões Causas: perda de líquidos hipotônicos-diarreia aguda associada ou não à reposição inadequada Perda de água pura (asmáticos), aumento das perdas insensíveis (sudorese profusa, hiperventilação) aumento das perdas renais, diurese osmótica (hiperglicemia, manitol), diabetes insípidos nefritogenicos e central. TRATAMENTO - TRO Terapia de rehidratação oral – TRO Indicações: Desidratação de 1º e 2º graus Desidratação de 3º grau até se viabilizar acesso venoso Contraindicações : Desidratação associada à choque hipovolêmico, sepsis, queda da consciência, íleo paralitico e convulsões. Volume: Reparação - 30 a 40 ml/kg por 6 horas Manutenção – 100 ml/kg/dia Obs -Não dar antieméticos Situações para suspensão da TRO e inicio da hidratação venosa: Vômitos incoercíveis, convulsões, choque hipovolêmico, ausência de melhora clinica após 4 horas de TRO. COMO PREPARAR O SORO CASEIRO? Em 1 litro de água mineral(ou filtrada/fervida - mas já fria) acrescente 1 colher pequena (tipo cafezinho) de sal. Acrescente 1 colher grande (tipo sopa) de açúcar. Misture bem e ofereça o dia inteiro ao doente em pequenas colheradas. Com a colher-medida 1 copo cheio (200 ml) de agua fervida ou filtrada + 1 medida (a menor) rasa de sal + 2 medidas (a maior) rasas de açúcar. Com a mão 1 colher cheia (200 ml) de água fervida o filtrada + 1 pitada de 3 dedos de sal + 1 punhado pequeno de açúcar. Mexer bem até dissolver. OBSERVAÇÕES: Em geral, vômitos não devem deter a hidratação oral (a menos que haja obstrução intestinal ou outras contraindicações à ingestão oral de líquidos) porque vômitos normalmente diminuem com o tempo. São utilizadas doses pequenas e frequentes, começando com 5 mL a cada 5 minutos e aumentado gradualmente se bem toleradas. O volume calculado necessário ao longo de um período de 4 horas pode ser dividido em 4 quotas separadas. Essas 4 quotas podem então ser divididas em 12 quotas menores e administradas a cada 5 minutos ao longo de uma hora com uma seringa se necessário. TRECHOS DO AIDIPI - INFORMAÇÕES EXTRAAULA PARA CRIANÇAS DE 2 MESES A 5 ANOS. CASO CLÍNICO 01 Paciente masculino, 3 anos, há 2 dias iniciou quadro de dejeções líquidas, 8 episódios por dia, associado a febre (39ºC), náuseas e vômitos. Refere sangue nas fezes. Genitora refere que há 24h a criança ficou “molinha”, sem querer brincar, não está aceitando alimentação nem água. Ao exame físico, ruim estado geral, torporoso, FC 150 bpm, PA 90x60mmHg, febril, olhos muito fundos, lágrimas ausentes, incapaz de beber água, sinal da prega desaparece muito lentamente e pulso muito fraco. PESO: 8kg. CONDUTA DO CASO… Esta criança apresenta todos os critérios de DESIDRATAÇÃO GRAVE segundo o ministério da saúde (Quadro 1, ao final do texto), portanto, devemos trata-la de acordo com o PLANO C. Dessa forma, esta criança deve ser mantida na unidade hospitalar e iniciado a primeira venóclise que é a FASE RÁPIDA ou FASE DE EXPANSÃO. Como ela tem menos de 5 anos, podemos iniciar com Soro Fisiológico 0,9% 20mL/Kg durante 30 min e reavaliá- la após esse período. Repetir essa quantidade até que a criança estejahidratada, sempre reavaliando- a. Exemplo: 20ml X 8 = 160ml de SF 0,9% em 30 min. *OBS: Para recém-nascidos e cardiopatas graves, fazer 10mL/Kg. Após hidratação da criança, iremos passar para as FASES DE MANUTENÇÃO E REPOSIÇÃO. Os volumes calculados na fase de manutenção e na fase de reposição serão administrados em 24h concomitantemente e somado ao volume de KCl a 10% ou KCl a 19,1%. Isto é, usamos cálculos diferentes para determinar o volume da fase de manutenção, o volume da fase de reposição e o volume de KCl, mas no final das contas iremos infundi-los juntos em 24hs. O volume da “fase de reposição” é calculado para compensar as perdas (diarreia e vômitos) da criança. Na “fase de manutenção”, usamos a Fórmula de Holliday e Segar: O volume calculado é a quantidade de soro que devemos infundir em 24hs usando Soro glicosado (SG) a 5% + Soro Fisiológico (SF) a 0,9% na proporção de 4:1. Lembrando que esse é o volume equivalente a fase de manutenção. Exemplo: 100ml X 8 = 800 mL, sendo 640mL de SG 5% + 160mL de SF 0,9% em 24hs. Na “fase de reposição”, devemos fazer 50mL/kg/dia de SG a 5% + SF a 0,9% na proporção de 1:1 em 24hs. Exemplo: 50ml X 8 = 400ml, sendo 200mL de SF 0,9% + 200mL de SG 5% em 24hs. Além disso, devemos calcular o volume de KCL a 10% ou a 19,1% que iremos acrescentar. É preconizado 2mL para cada 100mL de solução da fase de manutenção se KCl a 10% ou 1 ml para cada 100mL de solução da fase de manutenção se KCl a 19,1%. Exemplo: Temos 800mL da fase de manutenção à Regra de três: 2 x 800 / 100 = 16 mL de KCl a 10%. Como essa criança tem sangue nas fezes e apresentou comprometimento do estado geral, devemos também iniciar antibioticoterapia. De acordo com o ministério da saúde, podemos usar Ciprofloxacino 15mg/kg de 12/12h, via oral, por 3 dias OU Ceftriaxone 50 a 100mg/kg, intramuscular, uma vez ao dia, por 2 a 5 dias como alternativa. É prudente realizar também coprocultura e antibiograma nestes pacientes. Na diarreia por Shigella pode-se também usar Azitromicina 10 a 12mg/kg no primeiro dia e 5 a 6mg/kg por mais 4 dias por via oral. Além disso, devemos lembrar de prescrever antitérmico já que a criança está com febre. Devemos continuar reavaliando este paciente e quando ele voltar a capacidade de ingesta hídrica, iniciar a reidratação por via oral com soro de reposição ora (SRO), mantendo a reidratação venosa. A reidratação venosa deve ser interrompida apenas quando a criança conseguir ingerir a quantidade suficiente de SRO para manter-se hidratado. Após interrupção, devemos observar o paciente por pelo menos 6 horas em terapia de reposição oral (TRO). CASO CLINICO Paciente feminina, 2 anos, iniciou quadro de dejeções líquidas há 48hs. Refere 6 episódios por dias de dejeções, sem sangue ou muco nas fezes. Refere febre baixa (Tax: 37,9ºC) e 4 episódios de vômitos. Genitora refere que a criança está aceitando alimentação e água. Ao exame físico, regular estado geral, vigil, ativa e reativa, irritada, FC 100 bpm, PA 90×65 mmHg, olhos fundos, lágrimas ausentes, está sedenta por água, sinal da prega desaparece lentamente e o pulso está rápido e fraco. Peso: 5kg CONDUTA DO CASO… Esta criança contém os critérios de DESIDRATAÇÃO segundo o ministério da saúde (Quadro 1, ao final do texto). Portando deve ser tratada pelo PLANO B. Segundo esse plano, devemos tratar a desidratação por via oral com soro de reidratação oral (SRO) na unidade de saúde. Devemos ofertar 50 a 100mL/kg de SRO por via oral (usando colher ou copo) no período de 4-6 horas na unidade de saúde. Exemplo: 100 X 5 = 500 mL de SRO em 4 a 6 horas. Devemos sempre reavaliar o paciente. Se após reavaliação, o paciente apresenta melhora dos sinais de desidratação, devemos transferi-lo para o tratamento do plano A. Caso continue desidratado ou apresente muitos vômitos que impossibilite ingesta hídrica, devemos indicar a passagem de SONDA NASOGÁSTRICA para realizar GASTRÓCLISE (20mL/kg/hora por 4 a 6 horas). Entretanto, se o paciente evoluir com desidratação grave, tratá-lo de acordo com o plano C. No período da terapia de reidratação oral na unidade de saúde, deve-se suspender outros alimentos e manter o aleitamento materno. CASO CLÍNICO Paciente masculino, 7 anos, iniciou quadro de dejeções amolecidas, com 4 episódios, há 72hs. Nega sangue ou muco nas fezes. Nega vômitos. Genitora refere que a criança está aceitando bem alimentação e água e não apresentou prostração. Ao exame físico, bom estado geral, alerta, ativo e reativo, FC 85 bpm, PA 100×70 mmHg, olhos normais, sinal da prega desaparece rapidamente e pulso cheio. PESO: 12kg. CONDUTA DO CASO… Esta criança embora esteja com diarreia não apresenta nenhum sinal de alarme para desidratação ou desidratação grave (Quadro 1). Portanto, essa criança não tem desidratação e deve ser tratada conforme o PLANO A. De acordo com o plano A, essa criança não precisa ficar na unidade de saúde ou internada em unidade hospitalar, podendo ser tratada em domicílio. O foco desse plano é PREVENIR A DESIDRATAÇÃO OFERTANDO SRO APÓS CADA EPISÓDIO DE PERDA HÍDRICA. Portanto, devemos orientar a genitora a ofertar SRO ou líquidos caseiros após cada evacuação diarreica, além da ingesta hídrica habitual da criança. Orientar a MANTER A ALIMENTAÇÃO HABITUAL da criança e cuidados com a higiene pessoal e domiciliar. Além disso, orientar a genitora a reconhecer os sinais de alarme: • Piora da diarreia; • Vômitos repetidos; • Muita sede; • Recusa de alimentos; • Sangue nas fezes; • Diminuição da diurese. Na presença de qualquer desses sinais ou se não houver melhora do quadro em 2 dias, levar a criança ao serviço de saúde. Prescrever ZINCO uma vez ao dia por 10 a 14 DIAS, de acordo com a regra: Até 6 meses de idade: 10mg/dia Maiores de 6 meses de idade: 20mg/dia O zinco pode reduzir a duração do quadro de diarreia, a probabilidade da diarreia persistir por mais de sete dias e a ocorrência de novos episódios de diarreia aguda nos três meses subsequentes. Quadro 1. REFERÊNCIAS: 1. Sociedade brasileira de pediatria. Diarreia aguda: diagnóstico e tratamento. Nº 1, março de 2017. 2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Tratado de pediatria. 4 ed. São Paulo: Manole, 2017. 3. Ministério da saúde. Cartaz sobre manejo do paciente com diarreia.
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