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BLOCKCHAIN E CRIPTOMOEDAS AULA 2 Prof. Daniel Weigert Cavagnari 2 CONVERSA INICIAL Como sabemos, a evolução da moeda não só facilitou o funcionamento da economia mas também passou a ser um instrumento de vital importância no cotidiano da sociedade moderna. Em função disso, os sistemas econômicos passaram a incorporar os meios de pagamento como parte integrante de suas estruturas funcionais. Nesse contexto, foram estruturados também os sistemas monetários e financeiros que atuam de modo dinâmico juntamente com as estruturas dos sistemas econômicos. Por meio da articulação desses sistemas, instrumentos são utilizados pelos governos constituídos como autoridades monetárias para planejar e aplicar políticas monetárias buscando a estabilidade da economia como um todo. Desse modo, a presente aula tem como objetivo apresentar, discutir e entender o funcionamento dos seguintes aspectos: a. Intermediários financeiros e estruturação do sistema financeiro; b. Banco Central, seu papel e importância na organização do sistema financeiro; c. Política monetária, sua implementação e impactos; d. Moeda e inflação; e. As principais teorias monetárias e suas aplicações; f. Sistema financeiro internacional; g. Globalização financeira. CONTEXTUALIZANDO Sendo a moeda considerada como um importante instrumento para o funcionamento das economias modernas, uma questão se faz presente: deve a moeda sofrer o controle das autoridades monetárias para não gerar impactos e provocar instabilidades nos sistemas econômicos? 3 TEMA 1 – INTERMEDIÁRIOS FINANCEIROS E SISTEMA FINANCEIRO Crédito: Hilch/Shutterstock. A existência da moeda, e em decorrência toda uma gama de ativos – como os meios de pagamento, ativos monetários e ativos financeiros – contribuem para dinamizar um importante segmento do sistema econômico, chamado de sistema financeiro, que é composto por vários agentes, que, atuando num sistema articulado, fazem circular os vários ativos que dinamizam a vida econômica de uma nação ou do mundo como um todo. Dois importantes operadores funcionam no sistema: de um lado, os aplicadores de ativos que têm excedentes de recursos; de outro, os tomadores que precisam de recursos para investimentos ou demais gastos em suas diversas atividades. Entre esses dois operadores, existem os intermediários financeiros, que se encarregam de fazer a correta distribuição desses recursos por todo o sistema, distribuídos e classificados em diversas categorias, conforme a normatização que rege o sistema financeiro. 1.1 Sistema financeiro O sistema financeiro proporciona um importante serviço para a economia, tendo como função transferir fundos daqueles que têm sobrando para aqueles que precisam para antecipar gastos ou fazer investimentos, sejam estes produtivos ou especulativos. Com essa importante função, é possível dinamizar e fazer funcionar de forma eficiente a economia como um todo. De forma simplificada, pode-se observar na Figura 1 a circulação dos fluxos no sistema financeiro: 4 Figura 1 – Fluxo de fundos por meio do sistema financeiro Fonte: Hillbrecht, 1999, p. 19. Conforme a Figura 1, os agentes à esquerda são os emprestadores, ou seja, aqueles que não consumiram toda a sua renda e, por consequência, têm excedentes poupados que precisam ser aplicados para render juros. De outro lado, temos os agentes tomadores, ou seja, aqueles que têm falta de recursos, seja para gastos, seja para investimentos. Os fluxos passam de um lado para outro, conforme se pode ver, de duas formas: uma é por meio dos financiamentos diretos intermediados pelo mercado financeiro, como o de ações e de títulos, por exemplo; o outro ocorre via financiamentos indiretos, em que os tomadores recebem a transferência de fundos dos poupadores por meio de instituições financeiras, como bancos, fundos mútuos, companhias de seguro etc. (Hillbrecht, 1999, p. 20). 1.2 Estrutura e componentes do sistema financeiro O sistema financeiro, como se pode ver de forma esquematizada na Figura 2, compõe-se de diferentes grupos que englobam agentes diversos, cada um ocupando uma função específica na oferta dos serviços financeiros dentro de uma economia. Conforme Hillbrecht (1999), o sistema financeiro pode ser classificado da seguinte forma: I. Mercados financeiros, onde ocorrem as formas de financiamento direto, que podem ser classificados em: 5 1. Mercado monetário: onde ocorrem transações financeiras de curto prazo, como necessidades de caixa dos bancos comerciais ou do governo que via mercado aberto por intermédio do Banco Central também pode captar neste mercado; 2. Mercado de crédito: atende às necessidades de médio ou curto prazo, como os financiamentos direto aos consumidores na aquisição de bens duráveis ou ao capital de giro para as empresas. Em sua maior parte, é operado pelos intermediários financeiros bancários; 3. Mercado de capitais: operado pela Bolsa de Valores, que é um intermediário financeiro não bancário. Serve para captação de capital fixo para as empresas que operam nesse mercado, colocando ações que são compradas ou vendidas por investidores. 4. Mercado cambial: opera com compra e venda de moeda estrangeira cujos agentes são autorizados pelo Banco Central, podendo ser instituições financeiras bancárias ou não bancárias. II. Intermediários financeiros, que, no sistema financeiro, englobam os vários tipos de instituições, que podem ser bancárias, não bancárias e outras auxiliares: 1. Instituições bancárias ou captadora de recursos a. Bancos com carteira comercial: são instituições que realizam operações de banco comercial. Geralmente são constituídos em forma de sociedade anônima, podendo ser privados ou de economia mista, nacionais ou estrangeiros, com predomínio de capital nacional. Também englobam os bancos múltiplos que, a partir de 1988, também podem exercer, além das operações comerciais, funções de bancos de investimentos, sociedade de crédito e investimentos. b. Caixas econômicas: hoje também exercendo a função de banco comercial, têm, entretanto, a característica de captação de poupanças e administração de fundos mútuos (PIS, FGTS) que, em sua maioria, são direcionados ao sistema de habitação, dando suporte às políticas de governo. c. Cooperativas de crédito: são em sua maioria instituições privadas que tem por objetivo disponibilizar crédito para seus associados. 6 2. Instituições financeiras não bancárias: a. Bancos de investimentos: em geral, são instituições privadas voltadas às operações de financiamento que são disponibilizadas a médio ou longo prazo a tomadores que captam visando investimentos nos vários setores produtivos ou para suprimento de capital de giro. Essas instituições operam com recursos próprios como também da captação de poupança ou investimentos de terceiros. b. Bancos de desenvolvimento: são em geral instituições públicas vinculadas ao governo central ou estaduais, quando atendem a interesses regionais. Estão voltados ao atendimento das políticas de desenvolvimento dos governos. Em geral, operam com recursos públicos que são repassados aos agentes produtivos dos vários setores da economia, que são tomadores de investimentos de médio e longo prazo e com juros subsidiados. c. Sociedades de crédito, financiamento e investimento: são instituições privadas que operam em geral com crédito direto ao consumidor, destinado ao consumo. Captam recursos no mercado via emissão de letras de câmbio que são repassadas aos detentores de fundos (poupanças), que o fazem como investimento. d. Sociedades de crédito imobiliário: são instituições privadas constituídas na forma de sociedade anônima e operam exclusivamente com financiamento imobiliário. Captam recursos de poupanças do público ou de créditos oficiais. e. Associações de poupançae empréstimo: são sociedades civis sem fins lucrativos. Seu capital é formado por recursos comuns de associados que são repassados a tomadores que participam da sociedade e que necessitam de crédito para diversas finalidades. 3. Sistema distribuidor de títulos e valores mobiliários: a. Bolsa de valores: é uma associação civil sem fins lucrativos que tem por objetivo proporcionar local para as operações de compra e venda de títulos e valores mobiliários. Suas atividades são fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pela autoridade monetária. 7 b. Sociedades corretoras de valores mobiliários, títulos e câmbio: são instituições financeiras que operam junto a Bolsa de Valores, tendo como objetivo aproximar investidores compradores ou vendedores. c. Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários: são instituições privadas voltadas a congregar e organizar investidores no mercado financeiro e mobiliário. d. Factoring: são instituições financeiras que operam no mercado com a compra de títulos de crédito de empresas industriais, comerciais ou de serviços, tendo como objetivo dar liquidez a estas com taxa de juros estabelecidas. III. Agentes especiais: como agentes especiais no Sistema Financeiro Nacional, temos ainda os Agentes Autônomos de Investimento, o Banco do Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Nordeste do Brasil e da Amazônia. Em geral, são instituições voltadas às políticas de fomento dos governos que têm por objetivo incrementar as políticas de desenvolvimento nos vários setores da economia. TEMA 2 – BANCO CENTRAL E A POLÍTICA MONETÁRIA Crédito: Vector Tradition/Shutterstock. 8 Na condução e funcionamento do sistema financeiro, o Banco Central exerce papel fundamental para o funcionamento da economia, pois é por meio deste que é executada a política monetária para a economia cujos instrumentos são operados por ele. 2.1 O Banco Central O Banco Central, também chamado de o banco dos bancos, é uma instituição financeira pertencente ao governo e tem por objetivo as seguintes funções: a. Emitir moeda, sendo, portanto, um banco emissor; b. Executar a política monetária; c. Executar a política cambial e de relações financeiras com o exterior; d. Fiscalizar e supervisionar o Sistema Financeiro Nacional. Além desses objetivos específicos, compete também ao Banco Central garantir a liquidez da economia e o controle do crédito. Os bancos centrais, na maioria dos países, evoluíram da necessidade que houve de os governos tomarem para si o controle da moeda, já que, com o tempo esta passou a ter importante papel no funcionamento das economias. No início do padrão ouro, ou seja, quando o papel moeda circulante tinha lastro em ouro, eram os antigos ourives que, com suas casas de custódia, se transformaram em bancos e tinham o poder de influir no sistema financeiro vigente. Isso gerava muita instabilidade, que geralmente levava à ocorrência de crises e que certamente prejudicava a economia e países como um todo. Assim, os governos, visando corrigir tais riscos, tomam para si as emissões, nascendo assim as casas da moeda e, mais tarde, os bancos centrais. Com o fim do lastro, a circulação das moedas fiduciárias entrou em cena, dessa feita garantidas por lei, daí a necessidade de os governos terem uma instituição forte que pudesse não só garantir a liquidez do sistema mas também dar segurança e estabilidade. No Brasil, até 1964 não tínhamos um banco central. As atividades inerentes eram exercidas pela SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito), pelo Banco do Brasil e pelo Tesouro Nacional. Em 31 de dezembro de 1964, com a reforma bancária, foi extinta a SUMOC e criado o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional (CMN). O Banco de Brasil, que exercia as funções de banco do governo, mais tarde passou a operar como banco 9 comercial, apesar de ainda ser um banco operador de políticas do governo, entre as quais o crédito agrícola, que é repassado aos produtores rurais com vistas a dar sustentação de funcionamento desse importante setor da economia. Modernamente, o Banco Central é a autoridade monetária que, juntamente com o Conselho Monetário Nacional, que é um órgão que toma decisões colegiadas, exerce e executa a política monetária do país, dando estabilidade e segurança ao sistema financeiro nacional como um todo. Muito se discute hoje sobre qual é o grau de autonomia que um Banco Central deve ter, se ele deve ser totalmente independente ou atender aos interesses dos governos, estando mais vinculado ao Poder Executivo. Monetaristas e keynesianos são duas correntes que discordam em seus argumentos sobre essa questão. Os monetaristas defendem um banco central totalmente independente ao passo que os keynesianos defendem o oposto, argumentando que o banco central tem que estar atrelado às políticas macroeconômicas do governo. Esta última posição implica que o governo pode se utilizar do banco central para financiar seus déficits, tendo-o como um instrumento para a execução de políticas de estabilização de curto prazo, o que, segundo os monetaristas, não seria correto. Berchielli (1999) mostra que dois professores de Harvard, Alberto Alesina e Lawrence Summers, fizeram um estudo entre 1955 e 1988 relacionando o grau de independência do banco central de alguns países com a inflação. O estudo mostrou que quanto maior for a independência do banco central, menor é a taxa de inflação, ocorrendo o contrário quando menor é o grau de independência. Por outro lado, países com maior grau de independência do banco central tendem a apresentar uma taxa de desemprego mais elevada e maior instabilidade no sistema de produção. Países que apresentam maior autonomia de seus bancos centrais geralmente desvinculam as nomeações de seus presidentes com as eleições do executivo. Esse fato ocorre nos Estados Unidos, onde o presidente do Federal Reserv (FED) tem mandato de 14 anos e reporta-se ao Congresso e não ao Presidente da República (Berchielli, 1999). 10 2.2 A política monetária Dentre as políticas econômicas implementadas pelo governo, uma das principais é a política monetária. Como visto, sendo a moeda, na sua forma de meios de pagamento, um importante dinamizador da atividade econômica, o controle de sua circulação e fluxos é de extrema importância para o bom funcionamento de uma economia. Por meio dos instrumentos que um governo dispõe, ele pode controlar a oferta e a demanda por moeda na economia, implementando assim a política monetária desejada para atender aos objetivos da economia. Em geral, na operacionalização de uma política monetária, os governos mais se preocupam em controlar a oferta de moeda na economia, que, em decorrência desse controle, gera os demais impactos no funcionamento da economia. Para o controle da oferta de moeda, os instrumentos mais utilizados são os seguintes: a. Operações do mercado aberto (open market); b. Política de redesconto ou empréstimos de liquidez; c. Reservas compulsórias. Como já evidenciado anteriormente, as operações no mercado aberto são operacionalizadas via compra e venda de títulos pelo governo ao público. Utilizando-se da taxa de juros básica da economia, a SELIC, fixada periodicamente pelo Conselho Monetário Nacional, ele oferta e vende títulos ao público, com garantia de recompra no final do período estipulado acrescido da taxa de juros. Quanto mais títulos o governo vende, mais meios de pagamento ele retira da economia, promovendo, portanto, uma operação de enxugamento, ou seja, de contração dos meios circulantes. Quando ocorre o vencimento dos títulos, na operação de recompra o governo age de forma inversa, ou seja, promove a expansão dos meios de pagamento circulantes. Em decorrência disso, com as operações do mercadoaberto o governo tende a expandir o seu endividamento interno (dívida pública). Essa operação, quando efetivada para cobrir déficits do governo, não gera muito impacto na contração do meio circulante, uma vez que o que é retirado pode voltar a circular na economia quando o governo realiza seus gastos. As operações de redesconto, por sua vez, referem-se aos empréstimos que o Banco Central faz ao sistema bancário para garantir a liquidez da 11 economia. Essa é uma típica operação de injeção de meio circulante na economia, pois expande os meios de pagamento, razão pela qual o Banco Central a faz de forma controlada, em casos de justificada necessidade. Uma operação que tem efeito contrário ao redesconto é a que utiliza o instrumento das reservas compulsórias, pois provoca uma contração dos meios de pagamento circulantes, retirando moeda de circulação quando o governo aumenta a taxa do compulsório e obrigando os bancos a repassar uma maior quantidade de moeda oriunda dos depósitos à vista ao Banco Central. Do mesmo modo, a autoridade monetária também pode determinar que os bancos comerciais mantenham um maior volume de encaixes obrigatórios, não repassando ao público os volumes desejados. Isso pode provocar mais contração nos meios de pagamentos circulantes. A implementação da política monetária pelo governo pode exercer os efeitos de expansão ou contração dos meios de pagamento circulantes, o que vai afetar diretamente a taxa de juros da economia, considerando que o juro é o preço do dinheiro, ou seja, o quanto alguém estaria disposto a receber para não gastar o seu dinheiro e disponibilizá-lo a outrem que queira fazer um gasto ou investimento, e não tendo o recurso, esteja disposto a pagar um preço para fazer um empréstimo. Na Figura 4 pode-se observar como isso ocorre: Figura 4 – Funcionamento de uma política monetária expansiva Fonte: Valle, 2017. 12 Considerando um mercado monetário em equilíbrio em EM0, que define uma taxa de juros i0, com um aumento da oferta de moeda pelo Banco Central, ocorre um deslocamento para a direita de OM0 para OM1, levando a um novo equilíbrio do mercado monetário em EM1 com a taxa de juros i1. Nota-se que a expansão da oferta monetária provocou uma redução na taxa de juros do mercado de i0 para i1. Este é o caso típico de uma política monetária expansionista (ou expansiva), que provoca a redução dos juros no mercado, entretanto pode elevar a inflação, já que o excesso de moeda provoca a sua desvalorização. De modo contrário, teríamos uma política monetária restritiva. Como visto, a quantidade de moeda ofertada ao público, controlada pela autoridade monetária por meio da política monetária, afeta a taxa de juros da economia. Embora a taxa Selic fixada possa ser bem inferior, ao tomador final o juro praticado pode ser bem mais elevado quando há uma contração dos meios de pagamento. Isso provoca uma escassez de moeda em circulação, o que, conforme a lei da oferta e da procura, quem estiver disposto a pagar mais pode obter um empréstimo. Também contribui para elevar a taxa de juros praticada aos tomadores finais os impostos, o risco que os repassadores embutem no juro e o spread bancário (lucros dos repassadores). TEMA 3 – MOEDA E INFLAÇÃO Crédito: Anton Watman/Shutterstock. Sendo a moeda um meio de troca, reserva de valor que também serve para acumular riquezas, ela pode sofrer variações em termos de poder de compra. De forma geral, quando há excesso em sua circulação, ela perde valor, sendo necessário maior quantidade de moeda para comprar uma mesma 13 quantidade de mercadorias. Na economia monetária, isso é visto como o fenômeno da inflação que pode afetar a moeda. 3.1 Inflação e suas causas Em geral, define-se como inflação a taxa de variação no nível de preços na economia. Os monetaristas a veem como sendo um fenômeno monetário decorrente de uma elevação persistente no nível de preços devido ao excesso de moeda em circulação. Isso em geral ocorre no longo prazo. No curto prazo, além de se apresentar como um fenômeno monetário, ela pode ocorrer devido a outras causas que não essencialmente monetárias. Nesse caso, pode decorrer de dinâmicas comportamentais no ambiente microeconômico, como aumento dos custos de produção, escassez de oferta e aumento da demanda do mercado, entre outras. Para entender a visão monetarista, é importante conhecer o funcionamento da teoria quantitativa da moeda, que é apresentada pela seguinte equação: M x V = P x Y Sendo: M = a quantidade de moeda em circulação; V = a velocidade de circulação da moeda; P = o nível de preços da economia; Y = o produto real. Como se vê, o lado esquerdo da igualdade apresenta os meios de pagamento em circulação, ao passo que o lado direito apresenta o PIB da economia, que é a produção dos bens e serviços gerada multiplicada pelos preços. A teoria quantitativa da moeda se baseia no seguinte princípio: mantidos constantes a velocidade de circulação da moeda (V) e o produto real da economia (Y), se aumentar a quantidade de moeda em circulação (M), necessariamente haverá um aumento nos preços (P) para manter o equilíbrio, ocorrendo, portanto, a inflação. Isso ocorreria devido a um excesso de moeda que seria incompatível com o nível de produção da economia. Com base na teoria quantitativa da moeda, justifica-se uma política monetária restritiva, ou seja, com rígido controle dos meios de pagamento. 14 Nesse caso, pode-se conter a inflação, entretanto reduz-se o dinamismo da economia, podendo ocorrer queda no PIB, bem como o aumento do desemprego. 3.2 A curva de Phillips Os objetivos da política monetária seria manter uma baixa taxa de inflação como também um baixo nível de desemprego na economia. Entretanto esses objetivos são conflitantes, como mostrado na curva de Phillips, cujo nome decorre dos estudos desenvolvidos pelo economista inglês A. W. Phillips sobre o desemprego na economia inglesa no período de 1861 e 1957. A Figura 6 mostra como a curva de Phillips relaciona a inflação e o desemprego na economia: Figura 6 – Curva de Phillips convencional Fonte: Mochón, 2007. No gráfico da Figura 6 é apresentada, no eixo vertical, a taxa de inflação e, no eixo horizontal, a taxa de desemprego da economia. Tendo como princípio que a taxa de inflação aumenta com a elevação dos salários nominais, verifica- se, com isso, uma taxa de desemprego baixa, pois o nível de ocupação na economia aumenta devido ao seu maior dinamismo em função do aumento da moeda em circulação. Ocorre o contrário quando a inflação é baixa, levando a uma taxa de desemprego alta. Nesse contexto, a curva de Phillips mostra que há uma incompatibilidade entre as políticas econômicas de controle da inflação e do desemprego. Uma política anti-inflacionária pode levar ao aumento do desemprego na economia. 15 TEMA 4 – PRINCIPAIS TEORIAS MONETÁRIAS Crédito: Gilles Paire/Shutterstock. Exercendo a moeda importante papel no funcionamento das economias modernas, vários autores criaram e discutem diversas teorias monetárias. Como mostrado a seguir, cada estudioso do assunto tem seu posicionamento e nem sempre há consenso entre eles. 4.1 Teorias da demanda por moeda Como já sabemos, a demanda por moeda é parte importante do estudo da teoria monetária tendo em vista o comportamento que o público tem em querer mais ou menos moeda para suas diversas finalidades. Para os economistas clássicos, existem duas razões que levam os agentes a demandar moeda: a primeira é a falta de sincronismo entre os recebimentos e pagamentos, o que leva os agentes a manter encaixes suficientes para manter a liquidez necessária; outra razão que leva os agentes a reter moeda, de acordo com a escola clássica, é a incerteza rem relação ao futuro. Com base nessas constatações, como também narelação entre o estoque de moeda e a renda nominal, os economistas clássicos criaram modelos de demanda por moeda, como a Equação de Cambridge, que relacionava essas variáveis. O modelo keynesiano foi apresentado no início dos anos 30 na obra Teoria geral do juro, do emprego e da moeda, de Keynes (2012), que se distinguiu dos clássicos mostrando que são três motivos que levam os agentes a demandar moeda: para transações, para precaução e para especulação. Para 16 Keynes (2012), esses três motivos dependiam do produto nominal da economia e da taxa de juros corrente. Outra teoria da demanda por moeda considerada é o modelo de Baumol que, diferentemente de Keynes, considera que a demanda real por moeda depende somente da taxa nominal de juros e do nível de renda real. Apesar de conclusões semelhantes, tanto Keynes quanto Baumol baseiam-se em conclusões diferentes. Keynes enfatiza a incerteza quanto À demanda por motivos especulativos, sendo a demanda para fins transacionais uma proporção fixa da renda, ao passo que Baumol foca com mais ênfase a demanda para fins transacionais mostrando como a proporção entre o estoque de moeda demandado e a renda dependem da taxa nominal de juros (Berchielli, 2000). 4.2 O equilíbrio macroeconômico As interações entre oferta monetária e demanda por moeda levam ao equilíbrio no mercado monetário, entretanto muito se discute quanto à exogeneidade da oferta monetária, ou seja, ela pode não ser somente fixada pela autoridade monetária e, sim, poder ter influência de forças externas, como o setor privado. Assim, por intermédio do modelo IS/LM desenvolvido por John Hicks e Alvin Hansen na década de 40 pode-se esboçar o equilíbrio macroeconômico. O chamado equilíbrio IS/LM mostra uma separação de fluxos em que ocorre uma separação entre o equilíbrio no mercado de bens e serviços, definido como curva IS, e o equilíbrio dos estoques monetários e de títulos, definido como curva LM. A solução geral corresponde à combinação de taxas de juros que satisfaçam simultaneamente o equilíbrio no mercado de bens e serviços e o equilíbrio no mercado de ativos, determinado pelo ponto em que as curvas IS e LM se cruzam (Berchielli, 2000). De modo geral, não entrando no mérito das variações que podem ocorrer tanto no mercado de bens e serviços quanto no mercado monetário que promoverão alterações tanto na taxa de juros (r) como no nível de produto (y), o modelo pode ser visto na Figura 8: 17 Figura 8 – Modelo IS/LM Fonte: Berchielli, 2000. As políticas econômicas desenvolvidas pelo governo com os instrumentos de que dispõe possibilitam a busca do equilíbrio macroeconômico, considerados ambos os mercados, de bens e serviços e monetário. Com isso, impactos ocorrerão na economia, com reflexos na taxa de juros corrente, bem como no nível de renda e produto corrente, tanto em curto prazo quanto no longo prazo. 4.3 O pensamento monetarista A chamada escola monetarista agrega um pensamento de que é possível se manter a estabilidade de uma economia capitalista recorrendo-se apenas a controles monetários. Para tanto, o governo detentor dos vários instrumentos monetários pode influir não só nos meios de pagamento em circulação quanto também na taxa de juros da economia. Baseiam-se no princípio de que, conforme mostra a teoria quantitativa da moeda, o excesso de moeda circulante leva à ocorrência da inflação, sendo esta a sua principal causa. O economista Milton Friedman, principal expoente da Escola de Chicago e considerado o principal teórico da Escola Monetarista, argumenta que as variações na atividade econômica devem-se explicar pela oferta de moeda e não pelos investimentos na economia. Nesse ponto, ele se contrapõe à intervenção do governo na economia por meio da expansão dos gastos públicos. 18 TEMA 5 – SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E GLOBALIZAÇÃO Crédito: Lumella/Shutterstock. Os sistemas financeiros existentes em cada país se articulam no âmbito global com a circulação de capitais, fazendo funcionar um grande sistema chamado de sistema financeiro internacional, no qual existem instituições reguladoras como o Fundo Monetário Internacional (FMI) visando dar liquidez e estabilidade ao sistema como um todo. Modernamente os fluxos de capitais entre os países são dinamizados dada a maior velocidade de circulação proporcionada pelos avanços das comunicações. Em decorrência disso, novas práticas passaram a ocorrer, como a globalização financeira, podendo afetar positiva ou negativamente os países como um todo. 5.1 Sistema financeiro internacional O sistema monetário internacional é baseado no regime de moedas fiduciárias que sucedeu ao padrão-ouro nas décadas seguintes após a Segunda Guerra Mundial. Nesse contexto, cada país tem e opera seu próprio sistema financeiro que, vinculado a seus bancos centrais, executa suas políticas monetárias. Num sistema de economia aberta, os países fazem transações com o resto do mundo, não só de bens e serviços mas também com fluxos de capitais, que se constituem em poupanças do exterior que transitam por todo o sistema internacional na forma de investimentos, sejam produtivos ou especulativos. Levando em conta o movimento de capitais que transita pelo mundo, ocorre a necessidade de um padrão de conversão das várias moedas 19 internacionais em moeda nacional, o que é feito por meio da taxa de câmbio que nada mais é que a quantidade de moeda necessária para se adquirir uma unidade de moeda estrangeira. Num sistema de câmbio livre, adotado pela maioria dos países, esse mercado de divisas obedece à lei da oferta e da procura, ou seja, quando mais demanda ocorre por moeda estrangeira, a moeda nacional se desvaloriza. Do mesmo modo, uma grande entrada de moeda estrangeira num país (aumento da oferta) leva à valorização da moeda nacional. Os países que têm liberdade para aplicar política monetária (com exceção dos países vinculados ao euro, nos quais somente o Banco Central Europeu a pratica) também adotam políticas cambiais visando regular volumes de divisas, incrementar exportações ou limitar importações. Por meio do balanço de pagamentos, que é o registro da entrada e saída de divisas em cada país, é buscado o equilíbrio que nem sempre acontece. Quando acontecem déficits, ou seja, o país mandou mais divisas para o mundo do que recebeu, políticas internas podem ser aplicadas, como aumento na taxa de juros para atrair investidores internacionais ou desvalorização cambial para facilitar uma maior entrada de divisas externas. No âmbito do sistema financeiro internacional, órgãos de controle e de garantia da liquidez se tornaram necessários. Assim, ainda no final da Segunda Guerra, países líderes do sistema capitalista reuniram-se em Bretton Woods e determinaram as diretrizes do Sistema Financeiro Internacional, ocasião em que foi criado o Fundo Monetário Internacional (FMI), o qual tem como objetivo reunir fundos para socorrer países em dificuldade de equilíbrio em seus balanços de pagamentos, garantindo assim uma maior estabilidade ao sistema como um todo e evitando crises que poriam em jogo essa estabilidade. 5.2 Globalização financeira Com o advento da evolução dos meios de comunicação em tempo real, a partir dos anos 90, houve grande intensificação no movimento de capitais no mundo capitalista. O que antes era mais demorado para circular de um país para outro, agora com o uso da internet e da maior agilidade nos sistemas de transações, os capitais passaram a circular no mundo com elevada rapidez. Atualmente é possível um especulador financeiro comprar e vender em várias bolsas pelo mundo afora aproveitando-se das diferenças de fuso horário. Quando em dado horário num país uma bolsa de valores está fechada, em outro, 20 no mesmo tempo pode estar aberta e funcionando. Issofacilita aos aplicadores e agiliza o movimento de capitais, transformando o que antes era mais regionalizado em mercados globais. A globalização financeira tem seus pontos positivos como também negativos quando se leva em conta o comportamento das economias internas, que num sistema globalizado podem ser severamente afetadas pelos fluxos de capitais internacionais. Como ponto positivo, ela pode alavancar as economias nacionais quando estas têm mais facilidades para a captação dos capitais internacionais. Através de políticas internas os países podem fazer políticas cambiais ou de juros que atraiam investimentos externos contribuindo para a formação de reservas ou para o crescimento de suas economias. Por outro lado, vê-se como ponto negativo a dependência em que ficam as economias nacionais em relação aos capitais internacionais. A entrada de grandes fluxos externos, às vezes vista como positiva, torna-se prejudicial, pois políticas internas para atração podem elevar preços e juros internos, bem como provocar instabilidade nas economias que buscam incessantemente a atração desses capitais. Quando a maioria dos investimentos externos em um país se constitui de capital especulativo, que é atraído pelo lucro que pode ter em função de uma taxa de juros elevada, por exemplo, qualquer instabilidade que possa ocorrer faz com que esses capitais saiam tão rápido como entraram no país. Isso leva à redução das reservas cambiais do país, a déficits no balanço de pagamentos e às crises generalizadas. Como no mundo globalizado é tudo interconectado, às vezes uma crise interna num pequeno país afeta todo o sistema financeiro internacional. TROCANDO IDEIAS Discuta quais os principais benefícios e principais malefícios da globalização financeira causados aos países em desenvolvimento. NA PRÁTICA Considerando os aspectos abordados na presente aula, argumente quais seriam os principais impactos na economia decorrentes da adoção de uma 21 política monetária expansiva ou expansionista. Considere o comportamento das seguintes variáveis: a. PIB; b. Taxa de juros; c. Inflação; d. Nível de emprego na economia. FINALIZANDO Como já evidenciado em tópicos anteriores, quando a moeda surgiu e configurou o funcionamento das economias com suas principais características, houve a necessidade dos governos tomarem para si o controle dos meios de pagamentos circulantes. Constituídos em autoridade monetária, os governos puderam utilizar desse importante instrumento adotando políticas de crescimento e estabilidade das economias, bem como o correto funcionamento do sistema capitalista. As práticas adotadas no contexto monetário puderam, portanto, não só garantir o correto funcionamento das economias, mas também, de forma articulada, os sistemas monetários em âmbito global puderam funcionar adequadamente, contribuindo para a dinamização das relações entre os estados nacionais. 22 REFERÊNCIAS BERCHIELLI, F. Economia monetária. São Paulo: Saraiva, 2000. HILLBRECHT, R. Economia monetária. São Paulo: Atlas, 1999. KEYNES, J. M. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. Tradução Manuel Resende. São Paulo: Saraiva, 2012. MOCHÓN, F. Princípios de economia. São Paulo: Pearson, 2007. SANDRONI, P. Dicionário de economia. São Paulo: Nova Cultural, 1987. VALLE, W. M. Economia. Curitiba: Ed. da UTP, 2017. Conversa inicial Contextualizando Trocando ideias Na prática FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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