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Do Plano Cruzado ao Plano Real

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10 – DOS PLANOS HETERODOXOS AO PLANO REAL 
Governo Sarney (mar/85 a mar/90)
Marcado por sucessivos planos com objetivo de estabilizar inflação
Cruzado (1986)
Bresser (1987)
Verão (1988) – “Feijão com arroz”
Ao longo desse período, a Constituição de 1988 e eleições complicavam ainda mais as tentativas de estabilização
Grande descontrole fiscal – emissão de títulos públicos com prazos menores. 
Dívida interna dominava o cenário: políticas fiscal e monetária ficaria reféns da mesma
Papel da moeda na economia
Moeda: ativo mais líquido possível.
Funções específicas que o distingue de outros ativos:
Meio de troca: facilita a troca de bens e serviços
Padrão de medida: serve para comparar valores
Reserva de valor: pode ser guardado para uso posterior
Inflação alta “destrói” as funções da moeda. No Brasil, a moeda era usada apenas como meio de troca( Agentes econômicos preferiam ter outro tipo de ativos que preservasse seu valor, além de ter liquidez. Uma alternativa era comprar títulos públicos ( O que elevava continuamente a dívida pública.
Como se defender da inflação?
O sistema financeiro oferecia depósitos bancários que tinham como contrapartida títulos públicos e privados (overnight). Observar que essa forma de manter a moeda tinha alta liquidez (resgate diário) com rendimento superior a inflação. Servia como reserva de valor e padrão de medida 
Se moeda nacional não cumpria as funções, uma opção era US$
Plano Collor
Objetivo: Acabar com a Inflação
 Diagnóstico: Crescente liquidez dos haveres financeiros não monetários. (em função da “fragilidade financeira do Estado”)
Clima desconfiança dos agentes econômicos:O BC era obrigado a rolar diariamente os títulos públicos, o que perpetuava a inflação.
Indexação diária dos ativos influenciava preços e câmbio que passavam para indexação plena
Como quebrar essa fragilidade?
No âmbito econômico:
Congelamento de preços (medida já desacreditada) e desindexação salários
Câmbio flutuante
Nova moeda
Sequestro de ativos-> deixar de rolar a dívida pública o que provocou uma drástica redução liquidez 
Lógica: BC poderia fazer política monetária ativa ao invés de ficar a mercê do mercado financeiro
Como complemento, no âmbito institucional:
Reforma administrativa e fiscal (reduzir tamanho do Governo)
Abertura economia- Fim modelo substituição importações
Confisco
Entre todas as medidas foi a traumática. 
Todas as aplicações financeiras que ultrapassasse certo limite (cerca de U$1 200 no câmbio da época) foram bloqueados por 18 meses, remuneradas pela correção monetária + 6%ªª
Balanço do Plano (1)
Ajuste fiscal: Houve superávit mas graças a redução dos gastos com a rolagem da dívida pública em função do confisco
Setor externo: piora saldo balança comercial
Reforma administrativa: frustrada pois corte funcionários públicos precisava de alteração constituição. Autarquias são fechadas
Privatização – sem a grandes avanços
Balanço Plano (2)
Recessão e desestruturação do sistema produtivo
Escândalos políticos provocaram o impeachment 
 Itamar Franco assume presidência 
Política econômica indefinida. Troca de vários Ministros da Fazenda até FHC assumir 
Plano Real
Diagnóstico: Desajuste das contas públicas(1) sem ignorar o problema da inflação inercial=> leitura fiscalista da inflação
Solução: Ajuste fiscal e reforma monetária segundo a proposta Larida.Simulação de uma hiperinflação com o convívio de 2 moedas: uma “boa” e outra “ruim” 
(1) Déficit fiscal seria bem superior ao informado pelo governo. Orçamento aprovado embutia uma previsão inflacionaria menor à observada, com despesas fixas nominalmente mas receitas corrigidas ( Efeito Tanzi às avessas
Implementação
1) Ajuste fiscal. Corte de despesa, aumento de impostos, diminuição temporária das transferências federais
2) Indexação completa da economia
Sistema bimonetário:
URV: unidade de conta
Cruzeiro real: moeda de troca
3) Depois de um tempo (alinhamento de preços), veio a reforma monetária: conversão da URV na nova moeda: R$
Contexto do Plano Real (1)
Em relação ao Plano Cruzado, existiam condições mais benignas:
Maior nível de reservas e melhor situação fiscal
Pais estava inserido no fluxo de capitais externos 
 Maior grau de abertura comercial aumenta nível de concorrência o que evitaria repasse de preços em mercados concentrados (oligopólios) 
Consenso de Washington: No âmbito externo discussão de como melhorar economias subdesenvolvidas. 
Solução: amplas reformas como disciplina fiscal, abertura economia , flexibilizar mercado de trabalho, desregulamentação mercados, reforma jurídica e política, redes de proteção social
Contexto do Plano Real (2)
“Havia um certo esgotamento e uma frustração muito grande pela incapacidade do país em controlar a inflação”. Logo, o Plano que seria implementado seria uma última tentativa. 
Mesma equipe que trabalhou no Plano Cruzado( conheciam principais riscos
Medidas preanunciadas, sem surpresas. 
Como evitar tentativas de repasses de preços?
Ancora monetária: política monetária restritiva para desestimular demanda e especulação.
Ancora cambial: câmbio fixo (bandas cambiais)
 ( Valorização do R$ em relação á moeda estrangeira + abertura comercial. Medida favorecida pois país estava com reservas
Entrada de importados reprimia tentativas de empresas aumentar preços
Maior nível de atividade econômica
Apesar de política monetária restritiva houve um aumento da demanda e portanto, crescimento. Demanda foi impulsionada por 	-Aumento do poder aquisitivo das classes mais pobres
Ilusão monetária
Queda da inflação aumenta previsibilidade da renda futura o que estimula o mercado de crédito (parcelas fixas)
Composição índices de preços: impacto diferenciado no orçamento segundo renda familiar
Apreciação cambial + entrada maciça de importados permitiu uma redução dos preços de bens comercializáveis (tradeables)( produtos que pesam mais no orçamento de classes de renda baixa
 No entanto aumentou muito preços dos serviços (non tradeables) aluguel, serviços públicos –privatizados- alimentação fora de casa( itens que pesam mais no orçamento da classe média
Mudanças institucionais – prós e contras
Privatizações estatais e bancos públicos- melhora eficiência econômica
Abertura e menor proteção empresas nacionais (falência, aumento do desemprego e informalidade)
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF)
Aberta a discussão sobre:
Reforma previdência
Reforma mercado trabalho
Problemas do Plano Real
Déficits comerciais e problemas no balanço de pagamentos
Crise bancária
Piora déficit fiscal
Aumenta dívida pública
Piora condições mercado de trabalho (informalidade)
Setor externo
Déficits crescentes da balança comercial: câmbio valorizado + demanda aquecida estimulou importações e deprimiu exportações
No curto prazo, situação não seria preocupante pois país estava com reservas. Mas choques externos complicaram a situação.
Efeito Tequila (1995) – 1o ataque especulativo contra o R$
Crise mexicana destacava fragilidade das contas externas. Mas liberação do câmbio poderia trazer de volta a inflação (economia aquecida e temor de memória inflacionária)
Crise bancária
Inflação alta facilitava a atividade bancária. Muitas instituições não conseguiram se ajustar a baixa inflação( Quebra de bancos (1995). 
BC cria programa de ajuda (PROER): facilitou fusões e entrada banca estrangeira
Re-estruturação dos bancos estaduais para depois privatizá-los.
Governo terminava assumindo rombos dos bancos (déficit quase-fiscal). Situação trouxe incertezas sobre o impacto das medidas nas contas públicas. 
Contas públicas
Aumento déficit primário apesar da maior carga tributária. Maiores despesas em função de déficit da previdência, rigidez gastos (constituição ’88), reconhecimento dos esqueletos (ajustes patrimoniais), re-estruturação sistema financeiro e bancos públicos
Aumento da dívida pública – Entrada de US$- atraídos pelo Selic - aumentavam reservas no BC. Porem isso tem um impacto expansionistasobre a oferta monetária o que obrigava ao BC esterilizar esses US$ , vendendo título públicos
 Diferencial de juros refletia os riscos de mudança cambial e expectativas negativas dos agentes econômicos
Vulnerabilidade – choques externos
Sucessivos choques externos:
Crise mexicana (1995)
Crise asiática (1997)
Crise russa (1998)
1999- desvalorização R$ - é adotado o câmbio flutuante
INERCIA E INDEXACAO
Inércia (física)- Segundo o Auréilio , resistência que todos os corpos materiais opõem à modificação do seu estado de movimento 
Inflação inercial – inflação adquire certa autonomia (ou inércia) onde a inflação do período passado determina a inflação atual.
De onde vem a inércia? Da indexação, processo que permite correção de valores monetários (impostos, salários, títulos) segundo um índice determinado pelo governo, moeda estrangeira, índices de preços, salário mínimo, etc.
Plano heterodoxo: Programa de estabilização que não se restringe a métodos convencionais de acabar com a inflação
Plano ortodoxo: Programa de estabilização baseado exclusivamente no controle da moeda e dos gastos (os chamados fundamentos) para acabar com a inflação.

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