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Apostila-Completa-Arte-e-Processo-de-Criação-1

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARTE E PROCESSO DE CRIAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 
2 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA ARTE ................................................................. 5 
2.1 Cultura e Arte ...................................................................................................... 9 
3 A ARTE COMO UM REFLEXO DA CULTURA E DA SOCIEDADE ...................... 13 
3.1 Funções da Arte ................................................................................................ 15 
3.1.1 Função pragmática ou utilitária ......................................................................... 16 
3.1.2 Função naturalista ............................................................................................ 17 
3.1.3 Função formalista ............................................................................................. 18 
3.1.4 Função interativa .............................................................................................. 20 
4 O PROCESSO DE CRIAÇÃO ............................................................................... 22 
4.1 O percurso do artista na construção do projeto artístico ................................... 23 
4.2 O produto criativo .............................................................................................. 26 
4.3 A pessoa criativa ............................................................................................... 26 
4.4 Ideias correntes ................................................................................................ 28 
4.5 Componentes do processo criativo ................................................................... 30 
5 CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE O PROCESSO DE CRIAÇÃO .............. 31 
5.1 Freud (1856 – 1939) ......................................................................................... 34 
5.2 Lacan (1901 – 1981) ......................................................................................... 36 
5.3 Platão (427-347 a.C.) ........................................................................................ 37 
5.4 Aristóteles (384 – 322 a.C.) .............................................................................. 39 
6 PERCORRENDO OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA ......................... 41 
6.1 O processo de criação artística e a constituição da cultura .............................. 42 
6.2 Documentos de processo ................................................................................. 43 
6.3 Movimento permanente .................................................................................... 44 
6.4 Tendências de processo ................................................................................... 45 
6.5 Acaso ................................................................................................................ 46 
6.6 Produção de conhecimento .............................................................................. 47 
6.7 Poética .............................................................................................................. 48 
6.8 Ação, pensamento, sensação ........................................................................... 49 
6.9 Instrumentos e recursos ................................................................................... 50 
6.10 Conhecimento da matéria ................................................................................. 51 
 
3 
 
7 A INFLUÊNCIA DO USO DE MÉTODOS NO PROCESSO DE CRIAÇÃO........... 52 
7.1 Criatividade ....................................................................................................... 52 
7.2 Invenção e Inovação ......................................................................................... 53 
7.3 Imaginação no processo artístico ..................................................................... 55 
7.4 As produções artísticas e seus contextos de produção .................................... 56 
8 PROCESSOS DE CRIAÇÃO E ESTUDOS GENÉTICOS .................................... 57 
8.1 Referências do processo criativo ...................................................................... 60 
8.2 Aspectos Formativos das Redes de Criação .................................................... 61 
9 AS ETAPAS DO PROCESSO CRIATIVO PROPOSTAS POR WALLAS ............. 61 
9.1 Preparação ....................................................................................................... 62 
9.2 Incubação ......................................................................................................... 63 
9.3 Iluminação ........................................................................................................ 63 
9.4 Verificação ........................................................................................................ 64 
10 O PROCESSO CRIATIVO NA CONTEMPORANEIDADE .................................... 65 
10.1 Historicidade e Contemporaneidade ................................................................. 66 
10.1.1 Barroco ............................................................................................................69 
10.1.2 Mudanças............. .......................................................................................... 71 
10.2 Conhecimentos e habilidades do ser criativo .................................................... 73 
11 O PROCESSO DE CRIAÇÃO COMO FERRAMENTA DE ENSINO .................... 73 
11.1 Preparação e imaginação ................................................................................. 77 
11.2 Processo criativo do docente ............................................................................ 79 
11.3 Linguagem musical ........................................................................................... 80 
11.4 Linguagem Teatral ............................................................................................ 82 
11.5 Linguagem Visual ............................................................................................. 83 
11.6 Linguagem da dança ........................................................................................ 83 
12 EDUCAÇÃO EM ARTE ......................................................................................... 84 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 88 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 PRINCIPAIS ABORDAGENS DA ARTE 
 
A história da arte está diretamente relacionada com a história humana, quando 
esta proporciona ao homem um enriquecimento de suas experiências, uma forma de 
fantasiar acerca dos aspectos mais corriqueirose cotidianos, e de estimular a vida de 
outros por meio das características e singularidades presentes em uma obra 
desenvolvida, o que faz com que a arte seja uma ferramenta indispensável para a vida 
dos homens. 
Alguns estudos existentes tentam definir o que é arte. No entanto, ao se 
analisar as diferentes concepções acerca de sua natureza, percebe-se a dificuldade 
desta tarefa, frente à manifestação de intermináveis conceitos, comumente 
antagônicos, contraditórios e divergentes entre si, fazendo com que muitos entendam 
que a natureza da arte seria incompatível com o engessamento de uma definição. 
Nesse sentido, a arte, necessariamente, deveria ter significados fluidos, flexíveis, 
mutáveis, pois apenas estes seriam condizentes com a sua natureza sempre tão 
maleável. (SANTOS, 2018). 
Ao longo da história, o homem sempre produziu inúmeros artefatos para o seu 
dia a dia, concebidos de forma harmoniosa, a partir da combinação de cores e 
texturas. Mas, além de produzir objetos cotidianos, ele criou obras para expressar os 
seus sentimentos diante da vida e a sua visão da realidade, nas mais diversas 
linguagens. 
A arte nasceu com o homem e deu a ele a consciência de sua capacidade de 
criar, de sua possibilidade de interpretar, imaginar e se comunicar. Assim, a 
necessidade de manifestar-se artisticamente acompanha a evolução humana desde 
a Pré-História. Desse período datam as primeiras manifestações estéticas, ainda 
relacionadas aos rituais de conquistas. 
Para o crítico inglês John Ruskin (apud PROENÇA, 2009, p. 6), “[...] as grandes 
nações escrevem sua autobiografia em três volumes: o livro de suas ações, o livro de 
suas palavras e o livro de sua arte”. Ele ainda acrescenta que “[...] nenhum desses 
três livros pode ser compreendido sem que se tenham lido os outros dois, mas desses 
três, o único em que se pode confiar é o último”. 
Partindo dessa colocação, você pode entender a arte como reflexo da 
sociedade, ou seja, como algo profundamente ligado à cultura e aos sentimentos de 
 
6 
 
um povo. É por isso que, aos olhos de Ruskin, o livro da arte é o mais confiável. Por 
meio da arte, o homem pode se manifestar expressivamente e registrar a sua vida em 
diferentes aspectos. Ele pode, por exemplo, retratar uma festa, um nascimento, um 
trabalho, uma manifestação religiosa, assim como momentos de ilusão, ou ainda 
devaneios, sátiras e críticas. Em geral, as atividades humanas em algum momento 
foram elementos de representação artística, nas mais diversas linguagens, temas e 
técnicas de produção. 
 
 
Fonte: https://www.magnusmundi.com/michelangelo-e-capela-sistina/ 
A palavra “arte” vem do latim ars e corresponde ao termo grego tékhne 
(“técnica”), que significa “[...] toda atividade humana submetida a regras em vista da 
fabricação de alguma coisa” (CHAUÍ, 2003 apud FERREIRA, 2011, p. 61). A arte é 
um meio de fazer, de produzir. Nesse sentido, ela pressupõe um conhecimento prévio 
inerente ao ser humano. Veja: 
A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma 
transformação simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro 
— mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou mais ordenado — por 
cima da realidade imediata [...]. Naturalmente, esse mundo do outro que o 
artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das 
ideias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo [...] (GULLAR 
apud FERREIRA, 2011, p. 61). 
A arte, apesar de ser um conceito subjetivo, pode ser compreendida como um 
saber. Ela alia conhecimentos teóricos e práticos de modo a expressar os sentimentos 
de um povo intrínsecos ao seu contexto social. 
 
7 
 
Para D’Arcy Hayman (1975, p. 19), a arte deve ser definida como uma 
experiência que, necessariamente, precisa ser compartilhada, sendo a forma pela 
qual o homem demonstra seus ideais e sentimentos, o que faz com que a arte seja “a 
própria essência de tudo que é humano e como tal dá forma à experiência do homem 
e às metas traçadas por ele”. 
As obras de arte apresentam diferentes temas. Você pode considerar que elas: 
 Retratam elementos naturais, como é o caso das pinturas nas cavernas de 
Altamira, na Espanha; 
 
 
Fonte: https://www.historiadasartes.com/ 
 Expressam os sentimentos religiosos do homem, tal como o quadro 
Natividade, do pintor renascentista Sandro Botticelli, ou A Máscara do Deus-Morcego 
criada por uma antiga civilização pré-colombiana do México; 
 
https://www.historiadasartes.com/
 
8 
 
 
Fonte: https://artrianon.com/ 
 
 Retratam situações sociais, como A Família de Retirantes, do pintor 
brasileiro Candido Portinari; 
 
 
Fonte: https://www.culturagenial.com/ 
 
 Sugerem diferentes impressões a quem as contempla, como as pinturas de 
Tomie Ohtake. 
 
https://artrianon.com/
https://www.culturagenial.com/
 
9 
 
 
Fonte: http://obviousmag.org/ 
 
2.1 Cultura e Arte 
 
Arte e cultura são expressões que, não raras vezes, possuem suas definições 
confundidas entre si, equivocadamente tendendo a ser entendidas como sinônimas, 
portadoras de uma mesma concepção. Para que se possa romper essa perspectiva 
limitadora, deve-se invadir novos caminhos de estudos humanísticos e antropológicos, 
permitindo alcançar uma distinta visão de arte, não mais como sinônimo de cultura, 
mas como parte integrante desta. (SANTOS, 2018). 
A cultura, segundo o Dicionário Informal (2019, documento on-line), pode ser 
compreendida como um “[...] conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas 
e comportamentais de um povo ou civilização [...]”. Assim, fazem parte da cultura de 
um povo as atividades de teatro, música, danças, a arquitetura, as formas de 
organização das sociedades, os pensamentos, as criações, a língua falada e escrita 
bem como os rituais religiosos. Assim, pode-se afirmar que a cultura de um povo 
refere-se a expressão coletiva do homem em seu contexto social. Diante disso, 
observa-se que as manifestações de cultura na verdade são tipos de arte, pois a arte 
pode ser compreendida, segundo o Dicionário Informal (2019, documento on-line) 
como a “[...] aptidão ou habilidade para fazer alguma coisa [...]”, estando relacionada 
a culinária, às obras artísticas de uma época ou país, ao artesanato, entre outras 
áreas. 
 
 
http://obviousmag.org/
 
10 
 
A arte possui um caráter estético e está intimamente relacionada com as 
sensações e emoções dos indivíduos. [...] Vale salientar que a arte tem uma 
importante função social na medida que expõe características históricas e 
culturais de determinada sociedade, tornando-se um reflexo da essência 
humana (AIDAR, 2019, documento on-line). 
 
Enquanto a cultura vai sendo consolidada ao longo do tempo, levando em 
consideração diversos fatores, a arte faz parte da cultura e vai sendo produzida pelo 
homem conscientemente. Nesse sentido, a arte é uma forma de o ser humano 
expressar suas emoções através de diferentes maneiras. Portanto, as manifestações 
artísticas são o reflexo da história e da cultura de um povo e dessa forma fazem parte 
da cultura. Segundo Coli (1995, p. 8), “[...] somos capazes de identificar algumas 
produções da cultura em que vivemos como sendo ‘arte’ [...]”. É possível dizer que 
“[...] arte, são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso 
sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura possui uma noção que denomina 
solidamente algumas de suas atividades e as privilegia [...]”. (COLI, 1995, p. 8). 
A arte está presente na humanidade desde a pré-história e advém da 
necessidade do homem em representar os seus anseios, registrar momentos, 
expandir sua criatividade e demonstrar suas visões de mundo. Sendo uma das formas 
de representação da cultura, a arte tem a capacidade de evoluir de acordo com 
contextos e estilos, causando diferentes efeitos. 
Ela pode ser dividida em plástica, cênicas e visuais. As artes plásticas estãorelacionadas a arquitetura, escultura, artesanato e artes gráficas. As artes visuais 
podem ser determinadas pelas representações artísticas as quais usa-se muito a 
imaginação, como por exemplo, a pintura. Já as artes cênicas envolvem o teatro, a 
música e a dança. 
Conforme Aidar (2019), Aristóteles afirmava que a arte poderia ser entendida 
como uma imitação da realidade. “Esse conceito, mais tarde, foi duramente refutado 
por diversas correntes artísticas que compreendiam que a arte não era somente 
baseada na imitação da realidade, e sim, na criação [...]” (AIDAR, 2019, documento 
on-line). Na Idade Média as artes foram divididas em artes manuais, conhecidas 
também como artes mecânicas, e artes liberais, nomeadas também como artes 
intelectuais. Nesse momento valorizava-se mais as artes intelectuais, justamente por 
seu caráter voltado ao intelecto. A arte, assim como a arquitetura, pode ser dividida 
através de diferentes períodos, que produziram formas de arte diversas e voltadas ao 
contexto histórico. 
 
11 
 
A arte vai além de ser uma forma de representação e expressão de cada 
indivíduo, ela serve também para comunicar significados, retratar a história, 
manifestar códigos, podendo envolver a todos e permanecendo viva diante do passar 
do tempo. Assim, as formas de arte são elementos que aproximam as pessoas, e 
colaboram para o reconhecimento de semelhanças e diferenças de cada visão, 
perspectiva e senso estético. Segundo Coli (1995), é muito difícil dizer o que é arte e 
o que não é. Atualmente existem diversos pesquisadores e estudiosos que podem 
atestar se uma produção criativa pode ser considerada como arte. 
Nossa cultura também prevê locais específicos onde a arte pode manifestar-
se, quer dizer, locais que também dão estatuto de arte a um objeto. Num 
museu, numa galeria, sei de antemão que encontrarei obras de arte; num 
cinema "de arte", filmes que escapam à "banalidade" dos circuitos normais; 
numa sala de concerto, música "erudita", etc. Esses locais garantem-me 
assim o rótulo "arte" às coisas que apresentam, enobrecendo-as. No caso da 
arquitetura, como é evidentemente impossível transportar uma casa ou uma 
igreja para um museu, possuímos instituições legais que protegem as 
construções "artísticas" (COLI, 1995, p. 11). 
Ainda, mesmo que uma manifestação criativa não seja efetivamente rotulada 
como “arte”, ela consegue, da mesma forma, expressar as identidades de quem a 
criou, do povo, da origem, da história e das visões de mundo de uma pessoa e seu 
local. É também por meio das expressões artísticas que as pessoas conhecem outras 
realidades, expandem sua consciência e conseguem se inserir em outros contextos, 
compreendendo diferentes culturas e valorizando-as. 
Por isso que a arte faz parte de qualquer cultura, possuindo uma função muito 
importante dentro de cada região, comunidade ou povo, pois consegue construir e 
apresentar, através de diferentes formas de expressão e visões de mundo, conteúdos 
e história. (SCOPELL, 2018). 
Diante disso é evidente o quanto a arte e a cultura estão conectadas, pois a 
arte é um dos meios os quais pode-se apreciar, identificar e adquirir conhecimento de 
diferentes locais. Além disso, são os diversos tipos de arte que, juntamente com outros 
elementos, concebem e fazem parte de uma cultura, tornando-se únicas em cada 
local. 
Apesar de a relação entre arte e cultura ser bastante clara, é importante 
perceber que a cultura não é representada somente pelos diversos tipos de arte, mas 
é muito mais complexa que isso, abrangendo também os contextos históricos, os 
 
12 
 
hábitos de um povo, as técnicas passadas de geração em geração, as crenças e 
tradições, bem como os valores e símbolos de cada povo. (SCOPELL, 2018). 
Para a visão intelectual dos antropólogos, a cultura seria um gênero, um todo 
que englobaria os modos de pensar, valores morais, religiosos, sistemas de símbolos, 
incluindo a língua, a estética e as artes. Portanto, os antropologistas defendem uma 
visão de universalidade da cultura, pautada na ideia de que onde existir sociedade 
humana, existirão expressões culturais. Eles entendem que a arte se encontra 
englobada pela cultura, sendo um de seus aspectos, porém não o único. No entanto, 
os sociólogos tendem a questionar essa visão antropológica da arte e cultura que 
somente se destinaria para sociedades simples, homogêneas. Para sociedades 
complexas, como no caso das sociedades modernas, essas seriam mais amplas, 
pautadas na heterogeneidade, nas diferentes tradições, visões de mundo e distintas 
subculturas, coexistindo ao mesmo tempo apesar de seu antagonismo. (SANTOS, 
2018). 
É preciso afirmar que ainda não existe um posicionamento claro de quais 
seriam os limites das fronteiras conceituais existentes entre arte e cultura, que 
pudesse ser aplicado em todas as distintas formas de sociedade, das mais simples e 
homogêneas, até as mais avançadas e heterogêneas. 
 Assim sendo, é de se reiterar a presença de tão variados enfoques acerca 
da entrelaçada relação existente entre arte e cultura, manifestando-se correntes de 
pensamento que prestigiam aspectos distintos acerca dos domínios e da totalidade 
de cada expressão, inexistindo uma compreensão universal quanto aos pontos de 
variedade e integração presentes nas concepções de arte e cultura. (SCOPELL, 
2018). 
Estão elencados abaixo alguns elementos que compõem a cultura. 
 Conhecimentos: são informações que as pessoas vão acumulando, 
transmitindo e relacionando entre si, de acordo com sua vivência e seu cotidiano. 
Cada cultura privilegia um conjunto de conhecimentos para passar de geração a 
geração. 
 Crenças: é algo em que se acredita como, por exemplo, a fé religiosa. 
 Valores: podem ser objetos ou, como queremos destacar aqui, princípios e 
padrões que orientam o comportamento das pessoas. 
 
13 
 
 Normas: são as regras, em geral não escritas, mas conhecidas por todos, 
que orientam como as pessoas devem agir cotidianamente para facilitar o convívio. 
Símbolos: são representações físicas ou sensoriais, com significados que o homem 
atribui de acordo com o momento histórico ou lugar. Por exemplo, uma bandeira é um 
símbolo, um gesto de mão pode ser um símbolo, um objeto pode ser um símbolo. 
 Usos: padrões de comportamento reconhecidos e aceitos pelo grupo social 
de um mesmo país, estado ou região; embora bastante adotados, não são 
obrigatórios. 
 Costumes: padrões de comportamento que o grupo social espera que seus 
integrantes adotem. Cada país, região e cidades possuem costumes diferentes que 
além dos aspectos sociais podem ser influenciados por outras questões como, por 
exemplo, aspectos geográficos. 
 Leis: são regras de comportamento normalmente escritas, complexas, que 
cada sociedade (nem todas) adota como forma de organizar e facilitar o convívio. 
 Tradições: é o conhecimento que se transmite oralmente de geração para 
geração; 
 Hábitos: maneira de ser e agir que se repete com frequência, sem 
racionalização. 
 Personagens: são pessoas que possuem uma representatividade histórica 
e/ou contemporânea, locais e regionais, ligados às artes, à literatura, à história e a 
política. 
 
 
3 A ARTE COMO UM REFLEXO DA CULTURA E DA SOCIEDADE 
 
A obra de arte se situa entre o particular e o universal da experiência humana. 
Cada obra é tanto um produto cultural de determinada época quanto uma criação 
singular da imaginação humana, cujo valor é universal. A obra de arte revela para o 
artista e ao mesmo tempo para o espectador uma possibilidade de existência e 
comunicação, além dos fatos e relações habitualmente conhecidos. 
Dessa maneira, a criação artística pode se distinguir das demais modalidades 
de conhecimento por promover a comunicação entre os seres humanos, com a 
utilização particular das suas formas de linguagem. (SANTOS, 2018). 
 
14 
 
Para Arthur Schopenhauer (2003), filósofoalemão do século XIX, caberia à arte 
expor ideias e assim explorar o verdadeiro conteúdo do mundo. A arte, para ele, se 
definiria como a “exposição de ideias” ou o modo de consideração das coisas 
independentemente do princípio da razão. Ela seria o conhecimento cristalino dos 
graus de objetivação da vontade. Pela arte, o gênio, faculdade comum a todos em 
menor ou maior grau, intuiria “[...] o essencial propriamente dito do mundo, o conteúdo 
verdadeiro de seus fenômenos [...]” (SCHOPENHAUER, 2003, p. 15). Ou seja, para o 
filósofo, a arte seria a maneira mais efetiva de explorar o conteúdo do mundo. 
Além disso, a arte pode ser entendida como um modo privilegiado de 
conhecimento e aproximação entre indivíduos de diferentes culturas. Afinal, ela 
favorece o reconhecimento das diferenças e semelhanças, expressas nos produtos 
artísticos e concepções estéticas, num plano mais profundo que o do discurso verbal. 
Por meio da análise de objetos e imagens produzidas pelo homem no decorrer 
dos tempos, você pode, além de obter um retrato das transformações, ver os registros 
das descobertas proporcionadas pela ciência, sistematizadas pela geografia, 
registradas pela história, desenvolvidas pela matemática. Por meio da história da arte, 
é possível compreender a relação do homem com o seu tema e o seu espaço. 
As manifestações artísticas são exemplos da diversidade cultural dos diferentes 
povos, expressando a riqueza criadora dos artistas de todos os tempos e lugares. Os 
trabalhos de arte muitas vezes expressam as questões humanas, tais como 
problemas sociais e políticos, sonhos, medos, perguntas e inquietações das mais 
diversas. Também documentam fatos históricos e manifestações culturais 
particulares. Como afirma Ferreira (2011, p. 67): 
O artista, através de sua obra de arte autêntica, pode protestar contra as 
barbáries do mundo, transformando a submissão em ato de luta, buscando 
resgatar a dignidade humana, o ser humano pleno, rumo a uma sociedade 
melhor, mais justa e mais democrática, onde todos possam ter acesso aos 
bens culturais de consumo e ao lazer. 
Nesse sentido, a arte não se restringe a produzir o belo ou o útil, o prazer. Mas 
do que isso, a “[...] arte pode contribuir para a compreensão do mundo real e 
expressão da verdade” (FERREIRA, 2011, p. 67). 
 
 
15 
 
 
Fonte: http://www.eduardokobra.com/japao-rio/ 
3.1 Funções da Arte 
 
A função da arte modificou-se ao longo da história humana desde a sua origem. 
O homem adequou à arte as mudanças ocorridas na sociedade, nos seus costumes, 
na sua religiosidade, na sua forma de fazer política, de conceber a ética. Na busca 
humana de fazer de seu espaço algo significativo, a arte sempre teve, desde o início 
da humanidade, um papel essencial na compreensão do universo, na relação dialética 
com a realidade, com os fenômenos e com a sua imaginação lúdica. O homem sempre 
teve necessidade da arte, visto que ela está extremamente ligada à sua humanidade. 
A arte está completamente impregnada do universo humano (FISCHER, 2002). 
Durante muito tempo, a validade da arte estava centrada na sua função na 
sociedade, ou seja, a obra de arte só tinha validade mediante a função que ela 
desempenhava dentro da sociedade. A arte emerge da vida e, por isso, vem carregada 
de funcionalidade, porém esta não afeta em nada sua suficiência, ou seja, sua 
autonomia. Fischer (2002) defende que a arte quer ser contemplada por leis que lhe 
são próprias, sem abdicar da totalidade dos seus valores espirituais, sociais e éticos, 
de forma que toda a plenitude de significado e de funções que a obra irradia advém, 
na verdade, da sua própria realidade de arte. Assim, a obra não adquire validade pela 
função, e sim possui uma função justamente por ser suficiente. 
Quando enfocamos, por exemplo, a arte clássica, observamos que ela era uma 
produção de arte que não era entendida em primeiro plano como arte, “[...] mas como 
formas que se encontravam no meio religioso ou também no mundano, como 
 
16 
 
decoração do próprio mundo em seus atos de destaque: o culto, a representação dos 
soberanos e outros” (GADAMER, 1985, p. 27). 
Ao longo da história da arte podemos distinguir quatro funções principais para 
a arte – a pragmática ou utilitária, a naturalista, a formalista e a interativa. A seguir, 
veremos brevemente cada uma delas. 
 
3.1.1 Função pragmática ou utilitária 
 
A arte serve como meio para se alcançar um fim não artístico, não sendo 
valorizada por si mesma, mas pela sua finalidade. Segundo este ponto de vista a arte 
pode estar a serviço para finalidades pedagógicas, religiosas, políticas ou sociais. Não 
interessa aqui se a obra tem ou não qualidade estética, mas se a obra cumpre seu 
papel moral de atingir a finalidade a que ela se prestou. Uma cultura pode ser 
chamada pragmática quando o comportamento, a produção intelectual ou artística de 
um povo é determinada por sua utilidade. 
Na história antiga, no tempo das cavernas, o ser humano se expressava por 
meio da arte sem uma intenção artística propriamente dita, sua expressão tinha uma 
função mágica de dominar a natureza pela capacidade de criar imagens semelhantes 
a fatos reais, ou de simplesmente fabricar objetos com a finalidade específica de 
utensílio. Havia na época, uma estética natural de embelezamento, mas não com 
intenção artística como a denominamos hoje, Arte Rupestre. (OSBORNE, 1968). 
Aranha e Martins (2005, p.135) afirmam que o interesse pela arte era de função 
pragmática, ou seja, “a arte serve como meio para se alcançar um fim não-artístico, 
não sendo valorizada por si mesma, mas só pela sua finalidade”. As autoras explicam 
que, conforme o momento histórico vivido, a arte poderia ter finalidades: pedagógicas; 
políticas; sociais; religiosas ou de manufatura. 
Nessa perspectiva, a arte exercia uma função social, religiosa, mágica e 
educativa de aprimoramento do caráter moral do indivíduo em particular e da 
sociedade em geral. A arte não tinha uma função artística, mas sim utilitária de um 
conceito prático de apreciação como qualquer produto feito pelo homem, sendo 
avaliada “pela sua eficácia na promoção dos objetivos para os quais tinham sido 
feitas.” (OSBORNE, 1968, p.32). 
Seguindo as ideias de Osborne (1968), Aranha e Martins (2005, p.51) enfatizam 
que “até o século XVIII [...] as obras de arte eram para ser usadas e apreciadas pela 
 
17 
 
qualidade do trabalho e pela eficácia com que serviam aos fins para os quais haviam 
sido criadas.” A partir daí, passou-se a fazer a distinção entre artes aplicadas ou 
industriais e belas artes. 
Os critérios avaliativos das obras na função pragmática ou utilitária estavam de 
acordo com os critérios de moral e de eficácia da obra em relação a sua finalidade. 
Importava saber se a obra havia atingido os objetivos a que se propusera, não se 
preocupando com a qualidade estética da obra. (OSBORNE, 1968, p.39). 
 
3.1.2 Função naturalista 
 
O que interessa é a representação da realidade ou da imaginação o mais 
natural possível para que o conteúdo possa ser identificado e compreendido pelo 
observador. A obra de arte naturalista mostra uma realidade que está fora dela 
retratando objetos, pessoas ou lugares. 
Para a função naturalista o que importa é a correta representação (perfeição 
da técnica) para que possamos reconhecer a imagem retratada; a qualidade de 
representar o assunto por inteiro; e o vigor, isto é, o poder de transmitir de maneira 
convincente o assunto para o observador. Esta função da arte está ligada intimamente 
com o avanço da ciência e tecnologia, na descoberta de novos materiais e invenção 
de novas técnicas que podem ser utilizadas na representação de um objeto artístico 
o mais próximo da realidade. 
Nesta função a arte é vista como trabalho de expressão e mostra que, desde 
que surgiu foi inseparável da ciência e da técnica. Assim, por exemplo, a escultura 
grega teria sidoimpossível sem a geometria; a pintura da Renascença é 
incompreensível sem a matemática e a teoria da harmonia e proporções. 
O naturalismo marcou profundamente a arte ocidental a partir do século V A.C. 
na Grécia Antiga até o final do século XIX. Na arte grega o uso da técnica estava no 
interesse de “produzir fac-símiles convincentes das aparências visíveis das coisas, 
em lugar das formas e caracteres que se lhes conheciam. ” (OSBORNE, 1968, p.52). 
A arte abrangia um rígido formalismo, com o objetivo de dar às figuras e esculturas a 
aparência real e verdadeira independente do tempo e espaço, criando uma ilusão da 
realidade utilizando técnicas revolucionárias para a época como o escorço e a 
perspectiva. 
 
18 
 
Esse conceito é revelado, segundo Osborne (1968, p. 69), pela mimese, nítida 
ideia do naturalismo, ou seja, a imitação da natureza. Assim, “a definição mais antiga 
da arte na filosofia ocidental, a de imitação, pretende subordinar a arte à natureza ou 
à realidade em geral”. (ABBAGNANO, 2007, p. 368). Osborne (1968, p.54) acrescenta 
ainda que se definirmos “o naturalismo estético como a ambição de colocar diante do 
observador uma semelhança convincente das aparências reais das coisas, o critério 
do êxito passará a ser a verossimilhança ilusionística. ” 
 
 
Fonte: https://www.christies.com/ 
3.1.3 Função formalista 
 
 Atribui maior qualidade na forma de apresentação da obra preocupando-se com 
seus significados, valores e motivos estéticos. A função formalista trabalha com os 
princípios que determinam a organização da imagem – os elementos e a composição 
da imagem. Com o formalismo nas obras, o estudo e entendimento da arte passaram 
a ter um caráter menos ligado às duas funções anteriores importando-se mais em 
transmitir e expressar ideias e emoções através de objetos artísticos. 
Esta função baseia-se que a obra deve sustentar-se por si mesma e que o juízo 
da arte pode ser isolado de outras considerações tais como as éticas e sociais. Foi só 
a partir do séc. XX que a função formalista predominou nas produções artísticas 
através da arte moderna, com novas propostas de criação. Na discussão da relação 
 
19 
 
entre arte e sociedade existem duas concepções opostas que surgiram da função 
formalista – uma que afirma que a arte só é arte se for pura, isto é, se não estiver 
preocupada com as circunstâncias históricas, sociais econômicas e políticas – a “arte 
pela arte” – em que a perfeição da forma que conta e não o conteúdo da obra. E outra 
concepção que afirma que o valor da obra de arte decorre de seu compromisso crítico 
diante das circunstâncias presentes. A arte como função formalista preocupa-se com 
significados e motivos estéticos, se preocupa em transmitir e expressar ideias e 
emoções através de objetos artísticos (AZEVEDO JÚNIOR, 2007). 
Segundo Fischer (1983, p. 01) cabe a arte: 
Papel de clarificação das relações sociais, ao papel de iluminação dos 
homens em sociedades que se tornavam opacas, ao papel de ajudar o 
homem a reconhecer e transformar a realidade social. Uma sociedade 
altamente complexificada, com suas relações e contradições sociais 
multiplicadas, já não pode ser representada à maneira dos mitos. 
Trata-se da “arte engajada” na qual o artista toma posição diante de sua 
sociedade. Luta para transformá-la e melhorá-la, e para conscientizar as pessoas 
sobre as injustiças e opressões do presente. A “mensagem”, segundo essa 
concepção, é o que conta mesmo que a forma da obra seja precária, descuidada, 
repetitiva e sem força inovadora. 
No entanto, podemos dizer que uma obra de arte é grande e duradoura quando 
nela a perfeição da forma e a riqueza de seu conteúdo são inseparáveis, estão 
articuladas numa unidade harmoniosa que a constitui como única. 
A função ou interesse formalista visa à forma de apresentação da obra de arte 
em si, e principalmente a valorização da experiência estética desta obra propiciando 
um conhecimento concreto e sensível do mundo, cujo “objetivo [...] não é pensar o 
mundo e nem agir sobre ele; mas tão somente, senti-lo na sua profundidade. ” 
(ARANHA; MARTINS, 2005, p. 137). Assim sendo, desde o impressionismo quando 
os artistas davam importância à valorização das propriedades formais da obra de arte, 
como o uso das variações de luz, deixaram de ser importantes: o interesse pelo 
assunto ou o tema; a questão do realismo ou idealismo; os valores expressivos, 
sociais ou religiosos da obra, entre outros, que eram tão fortes no naturalismo e 
passam a fazer parte de um segundo plano. A obra de arte apresenta sua própria 
realidade autônoma e individual, isto é, é organizada com a finalidade de apreciação 
estética. (OSBORNE, 1968). 
 
20 
 
 
Fonte: https://artecomoarte.wordpress.com/ 
3.1.4 Função interativa 
 
Já na metade do séc. XX muitos artistas de vanguarda questionavam os 
motivos e valores estéticos produzidos em suas obras e, com o advento das 
tecnologias de comunicação em massa, as facilidades em obtenção de materiais e o 
avanço tecnológico de produção, fez com que os criadores repensassem seu papel 
na sociedade e a maneira de como o observador não fosse um expectador passivo, 
mas sim participante e integrante da arte, em algumas vezes tornando-se até mesmo 
colaborador criativo e ativo. (OSBORNE, 1968). 
Obras que exigem do observador a sua manipulação manual, o seu 
posicionamento corporal espacial, a interferência gestual ou a simples presença física 
para despertar o gatilho estético da obra de arte faz com que a função interativa seja 
uma das mais atraentes para o público no séc. XXI. 
A mídia impressa (revistas e jornais), o rádio, o cinema, a televisão deram início 
de certa forma a essa função com a massificação da comunicação e, mais 
recentemente, o advento dos computadores pessoais domésticos, notebooks, 
máquinas fotográficas digitais, tablets, smartphones com leitores de realidade 
ampliada e QR Code (Quick Response – um código de barras bidimensional) e a 
internet possibilitaram uma multiplicação do fazer criativo e na divulgação no campo 
da arte o que, por um lado, é extremamente positivo no sentido de democratizar o 
 
21 
 
acesso a bens culturais a massa, por outro, pode ocasionar manifestações cujo valor 
artístico são questionáveis em termos de relevância social e histórica. 
 
 
Fonte: http://g1.globo.com/ 
Atualmente a arte é fortemente presente nas manifestações artísticas de massa 
como cinema em 3D que possibilita uma ilusão espacial ao expectador “colocando-o” 
dentro da ação ou os videogames, com desenvolvimento de história, personagens, 
cenários e objetos que possibilitam uma imersão do jogador naquele mundo fictício 
criado. Estas novas tecnologias demandam novos profissionais criativos no mercado 
que atuam em design gráfico, escultores 3D, arquitetos de cenários e ambientes 
virtuais, programadores de softwares, engenheiros de sistema e informática, etc. 
Para Roy Ascott (1991), a arte interativa designa um amplo espectro de 
experiências inovadoras que se utilizam de diversos meios, sob a forma de 
performances e experiências individuais em um fluxo de dados (imagens, textos, 
sons), ainda com diversas estruturas, ambientes ou redes cibernéticas adaptáveis e 
inteligentes de alguma forma, de tal maneira que o espectador possa agir sobre o 
fluxo, modificar a estrutura, interagir com o ambiente, percorrer a rede, participando, 
assim, dos atos de transformação e criação. 
 
 
 
22 
 
4 O PROCESSO DE CRIAÇÃO 
 
A concepção de uma obra sofre constantes alterações e vai ser modificada a 
cada momento de reflexão ou discussão, sem o limite e a preocupação de concluir um 
trabalho para a sua apresentação ao público, pois o processo de criação continua e 
não pode ser algo predefinido, pode ser interrompido a qualquer momento ou então 
mudar de rumo dentro do que tinha sido proposto pelo artista: “A obra que chega ao 
público não é consideradacomo uma completude necessária que resulta de sua 
elaboração, mas como uma possibilidade de um processo que não se completa 
nunca, mas pode se interromper.” (SALLES, 2008, p. 11) 
As relações entre os documentos e o processo de criação do artista se 
transformam em uma rede relacional, que proporcionará material para a pesquisa 
crítica que será trabalhada concomitantemente à produção de um trabalho artístico. 
Nessa troca de experiências, o pensamento artístico e a interação entre crítico, demais 
interlocutores e artista, que ocorrem agora preferencialmente no ateliê, têm a 
finalidade de refletir sobre o processo artístico, e esse conjunto de fatores vai ser 
denominado de estética do processo. 
Existe uma infinidade de definições de criatividade. Podemos perceber que tais 
conceitos foram mudando com o passar dos tempos. Inicialmente, a criatividade era 
um dom divino, um “presente dos céus” digno de poucas pessoas. No século XVI, os 
indivíduos que se manifestavam de forma diferente dos demais, fugindo do padrão de 
normalidade da época, eram considerados pessoas ameaçadoras e acabavam por 
serem isolados dos demais (OLIVEIRA; NAKANO; WECHSLER, 2016). 
Buscando um conceito com base na origem da palavra, criatividade tem relação 
com “criar”, que vem do latim creare e significa “[...] dar existência, sair do nada, 
estabelecer relações até então não estabelecidas pelo universo dos indivíduos, 
visando determinados fins” (PEREIRA; MUSSI; KNABBEN, 1999, p. 4). 
Já nos dias atuais, buscando por criatividade no Dicionário Aurélio (2018, 
documento on-line), ela tem o seguinte significado: “[...] capacidade de criar, inventar; 
qualidade de quem tem ideias originais, de quem é criativo; capacidade que o falante 
de uma língua tem de criar novos enunciados sem que os tenha ouvido ou dito 
anteriormente”. 
 
23 
 
Mouchiroud e Lubart (2002, apud BRITO; VANZIN; ULBRICHT, 2009, 
documento on-line) resumem a criatividade como: “[...] um conjunto de capacidades 
que permitem uma pessoa comportar-se de modos novos e adaptativos em 
determinados contextos”. Já, para o publicitário Tadeu Brettas, da Ynner 
Treinamentos, ser criativo é ser capaz de criar conexões incomuns (SIMBER, 2017). 
E você sabe o que Albert Einstein dizia sobre criatividade? Para ele, “a criatividade é 
a inteligência divertindo-se”. 
Vários autores conceituam criatividade de maneira diferente e autoral. No 
entanto, a criatividade tem muito mais relação com a imaginação, a prática da ação e 
a novidade. Não só em criar um fato, um produto, um serviço novo, mas também em 
divulgar alguma coisa já sabida e conhecida, de uma forma nova, diferente, inovadora, 
criativa. (CONSTANTE, 2018). 
O processo de criação e associação de ideias é formado, basicamente, pela 
combinação de dois itens: imaginação e memória. Com base nisso, é importante citar 
que, para os gregos, existem quatro formas/técnicas de associação das ideias, que 
auxiliam a despertar a sua criatividade. 
1. Contiguidade: a proximidade entre duas palavras e a relação que fazemos 
entre elas. Por exemplo: estrela lembra céu; peixe remete ao mar. 
2. Semelhança: o caso de duas imagens que se superpõem. Por exemplo: um 
cachorro lembra um lobo; um gato lembra um tigre. 
3. Sucessão: uma ideia que vem em consequência de outra. Por exemplo: 
remédio/cura, relâmpago/chuva. 
4. Contraste: é o uso dos antônimos e de expressões que contrastam entre si. 
Por exemplo: amor lembra ódio; frio lembra calor; cachorro lembra gato. 
Uma combinação de vários outros estímulos pode gerar várias outras ideias. 
Simplificadamente, é assim que nosso cérebro funciona. (CONSTANTE, 2018). 
 
4.1 O percurso do artista na construção do projeto artístico 
 
O artista estabelece uma linha de pensamento registrado em seus documentos, 
como: esboços, diários, anotações, rascunhos, projetos, etc. Pensamento esse, em 
construção durante o processo de criação que dará suporte ao crítico genético para 
melhor entender o que impulsiona o gesto criador. 
 
24 
 
Salles (2008) oferece às pessoas interessadas no processo de produção, uma 
forma detalhada de analisar e entender a trajetória percorrida pelo artista desde a ideia 
inicial até a obra entregue ao público. A autora acaba por registrar uma ruptura dos 
antigos moldes pensamento sobre como a obra de arte era criada, já que o artista era 
tido como um único sujeito criador atuante e não se percebia que por trás daquele 
objeto de arte existe uma história de arte, um contexto sociocultural e econômico, 
também com lembranças, memórias e percepções e, além disso, muito estudo teórico 
e prático para viabilizar uma mensagem por meio da obra (SALLES, 2008). 
À medida que o artista se relaciona com agentes num contexto, forma alguns 
conceitos, que irão aliar-se aos seus pensamentos relacionados à cultura, a espaço, 
tempo, memória, percepção do cotidiano e esses conceitos formarão rede, uma rede 
de conexões que vai surgir diretamente ligada ao processo de produção artística. 
Conforme, acontece essa interação do artista com o meio e o contexto, as 
propostas de produção artística também vão se modificando, o processo vai ser muito 
dinâmico e a cada ação tomada o objeto criado vai se transformando em outro e assim 
sucessivamente. Portanto pode-se afirmar que essa memória criadora em constante 
mobilidade gera o conceito de inacabamento. (SALLES, 2008). 
O artista possui uma linha de pensamento que pode ser identificada como uma 
tendência do processo, mas trabalha com as incertezas, com escolhas que terá que 
fazer, com os erros e acasos, ou a interação com elementos internos ou externos, 
tudo isso poderá a qualquer momento se revelar e fazer com que o objeto seja 
transformado ou até mesmo inutilizado ou descartado para ser revisto em outro 
momento futuro. 
Portanto, o artista poderá optar por representar seu entorno, o que faz parte de 
sua vida cotidiana, sem separar emoções, sentimentos, conceitos, memórias, espaço, 
tempo social, troca de informações e, consequentemente, tudo que for percebido por 
ele e estiver ao seu alcance durante o processo de produção da obra será de alguma 
forma reaproveitado, isto se denomina processo relacional. Por isso, as anotações do 
artista podem servir como balizadores da análise do processo de criação. 
A matéria-prima a ser utilizada na obra vai ser parte importante do processo, 
com a escolha da materialidade, o artista irá passar o tempo necessário para realizar 
testes e verificar como se adapta ao seu projeto. 
 
25 
 
Esse percurso não tem tempo para acabar, o tempo é indefinido, é reversível e 
retroativo, pois o artista estará sempre à espera do material e vice-versa e esta espera 
representa o tempo do inacabamento, aguardando o gesto que também é inacabado, 
pois poderá retornar o processo do começo, ou continuar de onde parou e ainda se 
quiser pode parar ali mesmo. 
 
 
Fonte: http://carlosdamascenodesenhos.com.br/ 
A criação tem uma mistura de lembranças, percepção, imaginação e 
esquecimento, pois poderá servir para esquecer de alguns fatos, abrir caminho para 
lembrar e guardar outros na memória, que aliados a imaginação mostram o caminho 
em direção ao desconhecido, aos universos ficcionais. Mas, para esse processo 
funcionar, tudo tem que ser registrado, o ato de anotar as lembranças e 
acontecimentos faz com que o artista se envolva profundamente com o processo e 
perceba que sem esse hábito dificultará a conquista do seu objetivo (SALLES, 2008). 
Com o passar do tempo, o artista passa a registrar mais umas coisas do que 
outras, desenhar ou escrever sobre um motivo apenas, isto se deve a memória e a 
percepção serem seletivas nas pessoas. Assim, o artista passa também a fazer 
escolhas e ter preferências por esses detalhes que se destacam em seus documentos, 
e desta forma ele irá estipulando critérios de trabalho e a história da obra vai se 
escrevendo. 
Oprocesso de criação depende também do ambiente que o artista está inserido 
e de suas memórias, pois será a partir desses fatores que seu pensamento criativo, 
 
26 
 
sua imaginação e seu gesto criador se desprenderão dentro de uma linha de 
tendências que ele segue e dentro dos nexos da rede relacional que ele construiu 
durante o processo de produção da obra. Processo este que pode ser o tema da obra 
de arte ou até mesmo a própria obra de arte, conforme a tendência da arte 
contemporânea. 
 
4.2 O produto criativo 
 
A criatividade pode ser reconhecida e analisada na observação do produto 
criativo, como uma obra de arte. Teoria, crítica e história da arte situam e desenvolvem 
parâmetros do que é considerado criativo e inovador nas artes conforme a época em 
que vivemos. 
Quando Picasso pinta Guernica, nos meses de maio a junho de 1937, o faz 
num processo criativo profundamente arraigado a realidade, pois a obra se refere ao 
bombardeio que matou civis na cidade espanhola do mesmo nome, neste ano. O fato 
confere a obra um tom de denúncia, com imagens que impressionam e ao mesmo 
tempo aproximam o público, como se o artista desejasse quebrar o paradigma da 
representação estabelecido pela obra de arte. O significado das formas apresentadas, 
sua expressividade particular, sua relação com o caráter da imagem, “que é 
mensageira do significado tanto no sentido poético quanto no da realidade cotidiana. 
Estamos imaginando e contemplando por meio da obra objetos identificados, que 
conhecemos e com referência aos quais temos ideias e interesses”. (SCHAPIRO, pg. 
197, 200). 
 
4.3 A pessoa criativa 
 
A criatividade também pode ser estudada através da pessoa criativa, neste 
caso o artista, identificando habilidades que estariam ligadas ao pensamento criativo, 
conforme Guilford aponta: fluência, flexibilidade, originalidade e espontaneidade. 
Pesquisadores estudam as características que identificam o indivíduo criativo, 
buscando compreender atitudes, comportamentos e sentimentos que podem levar a 
uma alta produtividade criativa na vida adulta. As pesquisas relacionam quatro 
enfoques principais: biografias de pessoas reconhecidamente criativas, observações 
 
27 
 
e julgamentos de especialistas, testes de escala para avaliação do potencial criativo 
e características da produção criativa. (WESCHLER, 2002). 
 
 
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/ 
Ao analisar a vida e os processos de criação de Picasso, Gardner destaca uma 
característica atribuída a pessoas criativas e particularmente presentes nos artistas, 
que é a capacidade de criar imagens de longo alcance que traduzam a cultura de uma 
sociedade, capazes de estabelecer signos e revelar significados importantes (1996). 
O artista também pode sentir-se ligado a movimentos na arte, por afinidade de ideias, 
por sentir apoio ou desprezo de seus pares nas questões estéticas que propõe, ou 
ainda por acontecimentos externos a arte, como guerras e descobertas científicas. 
Picasso viveu e produziu muito, atravessando períodos com momentos culturais 
diferentes, que se refletiram em fases distintas de seu trabalho (GARDNER, 1996 e 
SCHAPIRO, 2002). 
 Sternberg et al. (1985) analisou a criatividade, com o objetivo de identificar a 
opinião e as crenças dos sujeitos acerca da mesma. Importava observar o grau de 
distinção que os sujeitos faziam entre três conceitos: “inteligência”, “sabedoria” e 
“criatividade”. Emergiram as seguintes propriedades dos indivíduos criativos: 
● Ausência de convencionalismos (ter o espírito livre, ser pouco ortodoxo); 
● Integração (ser capaz de integrar informações distintas, de relacionar ideias 
díspares ou teorias não relacionadas); 
 
28 
 
● Gosto estético e Imaginação (apreciar as expressões artísticas, escrever, 
compor músicas, pintar, ter “bom gosto”); 
● Flexibilidade e Decisão (ser capaz de tomar decisões depois de avaliar prós 
e contras, capacidade de mudar de direção); 
● Perspicácia (saber estar, conhecer as normas sociais de relação); 
● Motivação e Interesse pelo reconhecimento dos outros (ser enérgico, querer 
que os outros reconheçam a obra, ter objetivos claros). 
 
4.4 Ideias correntes 
 
Foi Csikzentmihalyi (1996) quem pensou o conceito de flow, o fluir de ideias 
correntes, que a nosso entender, se compatibiliza perfeitamente bem com o processo 
criativo do artista. Depoimentos de artistas visuais reconhecidos publicamente em 
diferentes épocas e países distantes, mostram características comuns na construção 
de suas obras, com se o processo criativo envolvesse o artista e uma espécie de 
transe, um fluir de ideias correntes: 
A obra de arte nasce como um mundo que se organiza: é sempre criadora de 
mundo. O material trabalhado faz-se forma objetivada desta nova realidade. 
Partindo ou não de um ser natural, chega o momento em que me deixo 
arrebatar pelas cores, pelos ritmos, pelas figuras que nascem sobre a tela. 
Então, persigo a verdade que intuo, mas que não posso precisar aprori 
(IBERÊ CAMARGO em diálogo com SALZSTEIN, 2003.) 
Neste estudo entendemos o conceito de flow como um fluir de ideias artísticas. 
O fluir seria uma possibilidade de organização do processo criativo, um estado que 
facilitaria a combinação de ação e consciência, e neste sentido é integrador: 
Em algumas atividades criativas, onde as metas não estão claramente 
definidas de antemão, uma pessoa deve desenvolver um forte significado 
pessoal com aquilo que deseja fazer. O artista pode não ter uma imagem 
visual de como será sua pintura, mas quando o quadro já progrediu até certo 
ponto, deve saber se é o que ou não. Um pintor que desfruta de uma pintura 
deve ter interiorizado critérios para saber o que é bom ou mau, para que 
depois de cada pincelada possa dizer: sim, isso funciona; não, isso não 
funciona. Sem tal guia interno é impossível experimentar o flow. 
(CSIKZENTMIHALYI, 1996, pg. 92). 
Na vivência do processo criativo, o tempo flui conforme as necessidades 
aparecem, num constante movimento de transformação. Uma das características 
 
29 
 
mais interessantes do fluir de ideias correntes é a ausência de tempo marcado, 
definido e planejado. 
O artista cria focado no presente imediato, sem ver o tempo passar, perdendo 
a noção da hora, num transe criativo. Mas tempo não definido não significa 
inconsciência total, como a expressão transe criativo poderia sugerir; é mais um 
deixar-se levar, naquele momento esquecer-se de tudo a sua volta, pensando apenas 
em solucionar a questão estética à frente da qual se colocou. Ao contrário, o artista 
pode usar o tempo com absoluta clareza mental, consciente do que é preciso fazer e 
de como isto pode ser feito, outra característica observada no estado de fluir. 
(CSIKZENTMIHALYI, 1996). 
O processo criativo é um estado de profunda concentração, quando a 
consciência está bem ordenada. Os pensamentos, as intenções, os sentimentos e 
todos os sentidos enfocam a mesma meta geral. Quando elabora a teoria do fluir, 
Csikzentmihalyi (1996), propõe formas de estimular este estado, de eliminar barreiras 
para permitir que isto aconteça. 
Uma habilidade facilitadora ao fluir, encontrada frequentemente em artistas 
visuais, é a capacidade de surpreender-se vendo algo interessante onde ninguém está 
vendo, mesmo nas situações mais inusitadas. É como se uma pessoa pudesse entrar 
no fluir involuntariamente, porque, de repente, viu ou sentiu algo que gostou muito, 
uma coincidência feliz que motiva o artista. Leonardo da Vinci surpreendeu-se com as 
imagens que viu num muro: 
Não deixarei de dizer, entre meus preceitos, uma nova invenção da teoria, 
ainda que pareça mesquinha e quase ridícula, porque ela é muito apropriada 
e muito útil para predispor o espírito às mais variadas invenções. Eis do que 
se trata: se você olha certos muros cobertos de manchas e construídos com 
pedras mescladas, supondo que tenha alguma obra, poderá ver sobre esse 
muroos simulacros de países diversos, com suas montanhas, seus rios, suas 
rochas, suas árvores, suas lendas, os grandes vales, as colinas e outros 
aspectos diversos. Poderá ver nele batalhas e vivos acontecimentos de 
figuras, rostos estranhos, roupas e mil coisas mais que poderá reduzir às 
formas precisas e úteis. Vi nuvens e velhos muros que sugeriram belas e 
varadas composições e estas imagens enganosas, ainda que privadas de 
toda perfeição formal, não carecem de outro gênero de perfeição, no sentido 
de movimento, sob outros aspectos (CARREIRA, pg.70, 2000). 
O fluir leva o indivíduo ao estado ótimo de experiência interna, ou seja, quando 
há ordem na consciência, quando há informação intencionalmente ordenada. Isto 
acontece quando se utiliza a energia psíquica para obter metas realistas e quando as 
 
30 
 
habilidades se encaixam com as oportunidades para atuar, encontrando um equilíbrio 
entre dificuldades e destrezas. (CSIKZENTMIHALYI, 1996). 
 
4.5 Componentes do processo criativo 
 
Para maior penetração no contexto criativo, estudiosos norte-americanos como 
Raymond e outros (1987) elaboraram os componentes da criatividade que são: as 
capacidades, o estilo cognitivo, as atitudes e as estratégias. 
a) Capacidades: significam habilidades específicas que os sujeitos devem 
possuir considerando seu campo de atuação. Referentes às capacidades criativas 
destacam-se: fluidez de ideias, associados remotos e a intuição. A fluidez de ideias 
diz respeito à capacidade de produzir grande número de ideias com rapidez e 
desembaraço. Os associados remotos se referem à capacidade criativa reflexa como 
recuperação de uma informação remotamente associada com o problema que se tem 
nas mãos. A intuição consiste na capacidade de se adquirir sólidas conclusões a partir 
de uma evidência mínima. 
b) Estilo cognitivo: diz respeito àquilo que as pessoas são ou não são capazes 
de fazer considerando-se os hábitos de processamento de informação. Existem 
diferentes estilos cognitivos, tais como: detectar o problema, pensamento janusiano, 
dependência/independência do campo. 
Detectar o problema: após verificar o problema, surge a tendência a explorá-lo 
em profundidade. 
Pensamento Janusiano se refere à habilidade de os sujeitos partirem de uma 
ideia ou concepção e saltarem a outra oposta ou ao polo conceitual contrário; isto 
significa pensar em termos contrapostos. 
Dependência/independência de campo é a capacidade de se perceber coisas 
pertencentes a um contexto e parcialmente escondidas por este. Isto poderia fomentar 
o pensamento inventivo das pessoas a descobrirem padrões ocultos. 
c) Atitudes: são reações comportamentais perante a criatividade. Pode-se 
considerar a retroalimentação como atitude nas pessoas criativas que não são 
solitárias, como tem sido estigmatizado. 
d) Estratégias: são maneiras estabelecidas que podem favorecer o 
pensamento criativo: as grandes buscas, a analogia e a explosão de ideias. As 
 
31 
 
grandes buscas consistem em buscar as mais variadas alternativas antes de se 
elaborar uma conclusão em definitivo sobre algum aspecto criativo. A analogia é a 
busca de uma unidade existente entre semelhanças ocultas. A explosão de ideias 
consiste em formar uma lista de opções e escolher uma delas, após o que estimula 
os participantes a construírem ideias com os demais. 
 
 
5 CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE O PROCESSO DE CRIAÇÃO 
 
A primeira concepção de arte é entendida como “fazer”. Sabe-se, no entanto, 
que nem todo “fazer” é arte. Com o romantismo, a ênfase recai no sentido do belo. 
Concebido, não como adequação a um modelo exterior, mas pela coerência das 
figuras artísticas, com o sentimento que as inspirava e suscitava. No renascimento, a 
concepção de arte era comprometida com a de visão da realidade – ora da realidade 
sensível, ora de uma metafísica, superior ou de uma realidade espiritual mais íntima, 
profunda, emblemática. 
Em 1984, Pareyson faz uma aproximação do conceito de arte através da 
articulação – exprimir, conhecer, fazer. 
Nenhuma dúvida há, de que a arte é expressiva, simbólica; enquanto forma, é 
um ser que vive por conta própria e contém tudo o que deve conter. A forma é 
expressiva, enquanto ser é um dizer. Ela não tem um significado, mas é um 
significado. Por isso, é também um conhecer, pois ao revelar um sentido das coisas, 
o faz de modo particular, apontando para uma nova maneira de perceber a realidade. 
É um novo olhar que se prolonga no fazer, como o olho do pintor, cujo ver já é um 
pintar. (PAREYSON, 1984). 
A especialidade do fazer artístico consiste num fazer tal que, enquanto faz 
inventa o por fazer e o modo de fazer. Invenção e execução caminham paralelamente, 
simultaneamente e de modo inseparável. 
Para Merleau Ponty, os primeiros desenhos das cavernas instauravam como 
um mundo a pintar ou desenhar. Quer tratemos do desenho na caverna, quer da 
pintura, o suposto é uma operação reflexiva, que funda a unidade da pintura e que na 
pintura se amplifica. Por ser diferente dos outros seres, por seu corpo, o homem se 
situa numa relação problemática com a própria imagem, relação que o leva a se 
 
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retocar, a fazer tatuagens, cirurgia plástica, tão em voga em nossos dias. Para o autor, 
nessa tendência autoplástica, talvez, esteja a raiz vital da própria arte. 
Sobre o homem, Michel Thevoz (1984) comenta: 
O homem necessita, desde os primórdios, de uma proteção artificial, proteção 
esta que não é apenas física, mas simbólica. O homem é exposto num duplo 
sentido: aos perigos e aos olhares. Ele é, com certeza, o único animal que 
faz de sua pele uma superfície a pintar, na qual se inscreve a sua identidade, 
que, por exemplo, a tela, epiderme ultrassensível, através da pintura e de 
toda a arte irá ampliar. 
Berman (1986) pontua a força que ganha a arte em nossos dias, ao quebrar 
totalmente os seus compromissos com os valores religiosos, éticos ou sociais, para 
poder expressar uma relação mais profunda e mais originária do homem consigo 
mesmo e com o mundo. Acresce-se que, a tudo isso, questões se lhe apresentam no 
momento atual – o olhar e o desejo, o imaginário e o real conferindo-lhe uma função 
e uma força insubstituíveis. 
A produção literária, por ser igualmente simbólica, como as artes plásticas, 
utiliza como matéria prima, na sua criação, um material essencialmente simbólico – a 
palavra. Tanto quanto a tela e a tinta do pintor, o escritor, ao escrever, constrói uma 
pele imaginária de palavras, da mesma forma que o brincar da criança pequena, que, 
com água, areia ou tinta vai construindo a superfície da pele. 
A necessidade de escrever, tanto quanto de pintar, de esculpir, de fazer música, 
tanto pode seguir a vivência de um luto, não necessariamente de uma perda concreta 
(aponta a psicanálise) mas, captação de um vazio qualquer, como diz Ana Cecília, 
professora de Psicologia da UFMG, escritora e psicanalista: “Por exemplo, a tentativa 
de um desvelamento, de um não dito, do deciframento de um enigma, de um segredo 
ou de um mito, que, pela sua própria natureza, comporta inúmeras versões”. Razão 
porque, uma mesma temática, a nível artístico, pode ser trabalhada e representada 
inúmeras vezes por um mesmo artista e outros. 
A produção literária traduz bem essa posição de “nomear o inominável”, de dar 
sentido ao que não tem sentido, de representar uma ausência, de substituir aquilo que 
se foi, recuperando-o em um outro registro. Melanie Klein vê na criação, a reparação 
do objeto destruído ou danificado pelo sujeito, na posição depressiva. 
Quando passamos a falar do processo criativo em si, temos o conceito do 
neurocientista Daniel Goleman (1995), que o separa em quatro fases distintas, 
descritas a seguir. 
 
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 Definição do problema: neste primeiro momento, você vai encarar o 
desafio de frente. É a hora de fazer perguntas e começar a traçar um caminho para 
decifrá-lo. Mergulho: hora de ir o mais fundo possível, buscando informações, 
bibliografias, fazendo pesquisas, vendo vídeos e tudo que possa ser fonte e base de 
ajuda para a resolução do problema. 
 Relaxamento: aquele momento para deixar a questão um pouco de lado e 
ouvir uma música, ler um livro, dar uma volta ou, simplesmente, não fazer nada. Essa 
é a hora de libertar-se do problema. É a hora de deixar o cérebro trabalhar. Estamos 
à espera do insight. 
 Execução: é a hora de realizar a sua ideia. Você teve o insight e é hora de 
colocar em prática a sua teoria. Um dos momentos mais delicados, já que, muitas 
vezes, boas ideias não são bem executadas. 
 
 
Fonte: http://www.culturamix.com 
O ato de criar implica em perda e sofrimento, já o dissemos. Sem sofrimento 
não há arte. É a arte um processo masoquista? Antônio Ribeiro, emérito psicanalista 
mineiro, pondera que no sintoma, no processo masoquista, o sujeito está alienado ao 
gozo do Outro. No processo criador, o artista se rebela contra esta alienação e não se 
conformando em ficar preso e alienado ao Outro, aposta em si mesmo, assumindo 
certo risco a procurar uma posição diferente em relação ao Outro. Esta posição seria 
a da separação. 
 
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O ato de criar implica necessariamente no aparecimento do novo, 
consequentemente, uma mudança de posição em relação ao antigo. Não que ao 
criador lhe seja facultado resolver a falta e a impossibilidade. Mas na sua criação, 
torna possível o impossível, elimina limites e assim a configuração de uma forma 
particular de lidar com a falta. A criação artística é um processo, é um devir sempre, 
ao contrário da doença que parece ser a interrupção e a parada no processo. 
 
5.1 Freud (1856 – 1939) 
 
Em 1911, no texto “Dois princípios do funcionamento psíquico”, Freud fala 
especificamente do artista e diz que o artista, para fugir da frustração que a realidade 
impõe, refugia-se na criação, mas que, depois ao buscar o reconhecimento, cai de 
novo no princípio de realidade. (FREUD, 1911). 
Já no Projeto, em 1835, Freud se refere ao primeiro ato de criação do ser 
humano. Antes mesmo de se constituir como sujeito, o recém-nascido diante da 
impossibilidade, cria um objeto alucinatório. E assim, o homem cria uma condição 
única, que é somente encontrada na espécie humana – o desejo. Não estaria a 
produção artística vinculada a essas primeiras experiências de satisfação? 
No Capítulo VII da Interpretação dos Sonhos, sabe-se que o desejo move o 
aparelho psíquico e é em torno dele que guiará o processo de criação. Desejo que é 
sempre desejo do outro e sempre já marcado pela sua realização impossível. 
Concluída a obra, os segredos mais recônditos estão ali, as impossibilidades. A 
singularidade do estilo. E já não é mais do autor. Está pronta para seguir o seu destino, 
como filhos “edípicos e parricidas”. Nada mais narcísico do que se eternizar numa 
obra de arte. E do ponto de vista pulsional, é a vitória de Eros sobre Thanatus. De 
algum modo, a morte foi driblada; a existência do artista, de finita, passa a ser infinita, 
através da obra, que o presentifica sempre. 
Não há obra de arte sem o espectador; nas artes plásticas e artes dramáticas, 
e sem o leitor na produção literária, e sem ouvinte, na música. Em Escritores Criativos 
e Devaneios, Freud tenta explicar o efeito que a obra de arte provoca no espectador; 
para ele, o artista, como o devaneador, fantasia para lidar com o princípio do prazer - 
desprazer. “Ele cria um mundo de fantasia, no qual pode satisfazer seus desejos 
inconscientes”. Nesse aspecto, diz Freud, o artista se aproxima mais das crianças 
que, quando brincam utilizam e moldam o mundo externo aos seus desejos. 
 
35 
 
Sabemos que as obras de arte, os romances querem dizer algo, querem dizer 
alguma coisa e somos impelidos a interpretar porque são intrigantes e por isso, 
interessantes. No entanto, não é a compreensão ou a explicação que faz surtir um 
efeito. Se dermos um sentido, tudo se fecha e a pulsão não se desprende. 
Freud (1914), no texto intitulado O Moisés de Michelangelo, diz: “Não sou 
conhecedor de arte, mas simplesmente um leigo. Tenho observado que o assunto 
‘obras de arte’ tem para mim uma atração mais forte que suas qualidades formais e 
técnicas, embora, para o artista, o valor delas esteja, antes de tudo, nestas”. Freud 
continua: “a meu ver o que nos prende tão poderosamente só pode ser a intenção do 
artista, até onde ele conseguiu expressá-la em sua obra e fazer-nos compreendê-la”. 
Ele descarta a questão da compreensão intelectual, pontuando: “o que o artista visa 
é despertar em nós a mesma atitude emocional que nele produziu o ímpeto de criar”. 
E porque a intenção do artista não poderia ser comunicada e compreendida em 
palavras, como qualquer outro fato da vida mental? Freud irá dizer que somente um 
outro discurso, um outro saber para tentar dizer da intenção do artista. Nem a própria 
obra o diz. Michelangelo foi, em suas criações, até o limite máximo do que é possível 
exprimir em arte. Freud também, aos limites da interpretabilidade: “Os sonhos bem-
sucedidos são aqueles dos quais não lembramos”. 
Trago-lhes aqui a articulação que Gilda Vaz faz dos conceitos de Freud e 
Lacan: “A psicanálise cujo campo vai sempre no avesso da cultura, detém sua atenção 
para o além das formas congeladas, onde ali, algo está em suspenso. Freud chega à 
conclusão do que Lacan vai postular mais adiante – ‘A verdade não é dita toda’”. 
Freud privilegia no Moisés de Michelangelo o momento antes de Moisés erguer 
e arremessar as Tábuas por Terra e desencadear a sua cólera. O instante antes do 
ato. A psicanálise se ocupa exatamente, não onde o movimento termina, mas onde 
ele se inicia e do movimento em si. 
Freud, em seu percurso para criar a psicanálise fez muitas referências à arte, 
algumas diretamente relativas ao artista e ao processo artístico, outras se 
preocupando mais especificamente com a própria obra, havendo também estudos 
dirigidos aos efeitos que estas produzem em quem é tocado por elas. Podemos ainda 
encontrar trabalhos onde ocorrem mesclas de todas essas preocupações. Não é 
inverdade dizer que, em muitas ocasiões, a arte entra como mero exemplo ilustrativo. 
E também não é nenhuma novidade, já que esta evidência é bastante comentada, que 
 
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há nas observações de Freud relativas à arte, uma profunda ambiguidade, ou até um 
desencontro (VAZ, 1996). 
 
 
Fonte: https://www.revistabula.com/ 
5.2 Lacan (1901 – 1981) 
 
Lacan, ao falar sobre as artes plásticas, interroga como o que ele chamou de 
“chuva de pincel”. Será que se um pássaro pintasse, não seria deixando cair suas 
penas, uma serpente suas escamas, uma árvore se desfolhar e fazer chover suas 
folhas? Não será isso o que o artista faz quando cria novos objetos? Lacan desloca 
nosso ponto de atenção para fora da linha, para a existência de uma temporabilidade-
espacialidade, que não está no objeto, na representação, mas além dele. É ainda no 
Seminário XI, sobre o tema em questão, que ele vai inverter a relação do ato de pintar 
com a obra, deslocando a nossa atenção enquanto analistas para um outro campo da 
verdade. (RODRIGUES, 2018). 
Para a Psicanálise, essas formas são da mesma ordem das formações do 
inconsciente estampadas nos objetivos. É da ordem do que Lacan chama de 
semblante que cumpre a função de enganar a verdade, que mobiliza o gesto, ou seja, 
o vazio do objeto feminino ou a morte. O inconsciente é puro furo, não é o semblante. 
Lacan a define a pulsão de morte como: vontade de destruição, vontade de 
recomeçar com novos custos, vontade de outra coisa. Essa é a pulsão de morte como 
potência criadora, criação ex-nihilo a partir do nada. Gilda Vaz Rodrigues articula a 
posição do artista como “fonte de algo que pode passar ao real e a que o tempo todo, 
https://www.revistabula.com/
 
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nós, seres comuns nos recuamos”. E situa oolhar num ponto chave do fazer do artista. 
O sujeito humano, diz ela, “joga com as formas, joga com a máscara a partir desse 
mais além que há além do olhar. O ser se decompõe entre o ser e o semblante, entre 
si mesmo e o que se dá a ver. O que dá de si mesmo e o que recebe dos outros é 
sempre máscara, invólucro. Só existem semblantes”. A única coisa que talvez não 
faça semblante é a morte. É um saber que só se tem nessa hora, de forma radical. 
(RODRIGUES, 2018). 
As formas servem para obturar esse buraco. O campo da sublimação é uma 
operação acionada de um lugar específico da estrutura do sujeito. A criação artística 
é da ordem da sublimação e, portanto, não passa pelo recalque. Quando Miró foi 
ameaçado pela ditadura de Franco de não poder mais pintar, reagiu: “Eliminem as 
tintas, destruam os pincéis, as telas, eu continuarei pintando através das baforadas 
do meu charuto”. É no mais além das formas que seu discurso se situa, pois, ele sabe 
da coalescência destas e continuará pintando porque o que interessa para o artista, e 
também para o analista, é o ato de pintar e não as formas onde o ato se petrifica. 
 
 
Fonte: https://zahar.com.br/ 
5.3 Platão (427-347 a.C.) 
 
Se falar numa teoria estética de Platão tem suscitado inúmeras problemáticas, 
a questão da criação artística levanta igualmente numerosas reflexões, e está 
 
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intimamente ligada as suas ideias sobre a arte, sobre o belo, sobre a inspiração e a 
imaginação ou, por certo contraponto, sobre a experiência artística, o prazer e as 
sensações. Em Platão encontram-se praticamente todas as ideias, questões e 
interesses que estiveram na base da construção de um conjunto de princípios e 
reflexões a que se denominou estética. 
Uma vez que as suas ideias sobre beleza e arte se integravam num 
pensamento filosófico abrangente e global, torna-se muito mais complexa a sua 
“descodificação” e hermenêutica, porque estão dependentes de uma teoria das ideias, 
da alma, da política e da moral, ou seja, de um sistema idealista e moral. 
Na obra de Platão poucas referências explícitas existem relativamente à 
criação artística, situação compreensível numa época em que os artistas não 
possuíam esse estatuto nem as obras de arte eram valorizadas da mesma forma que 
passaram a ser desde há uns séculos. 
No Banquete ou Do Amor, o diálogo entre Sócrates e Diotima é extremamente 
significativo na exaltação desse conceito, e pode alargar a concepção que 
aparentemente muitos têm sobre a relevância e a importância dada por Platão e pelos 
gregos ao processo de criação artística: 
A ideia de criação ou poesia é algo muito amplo, pois toda e qualquer 
passagem do não-ser ao ser se efectua por um acto de criar; de tal sorte que, 
mesmo as obras produzidas na totalidade dos ofícios são criações, como 
criadores ou poetas são todos os seus artífices. (...). Apenas uma parte 
delimitada do acto de criar (a que se liga às artes e ao ritmo) recebe o nome 
do todo. Só a este ramo especifico damos o nome de poesia e identicamente 
só aos que dele se ocupam chamamos de poetas. (PLATÃO, 371 a.C) 
A criação artística, mas sobretudo a interpretação artística, só é possível 
verdadeiramente se houver uma sintonia entre o artista e a obra, se esta tocar o 
coração ou a alma daquele se houver algo em comum que provoque a 
“magnetização”. O poeta não é capaz de poetar “se antes não se tiver inspirado e se 
não perder o tino, se antes não tiver perdido a mente”. Este magnetismo, este 
entusiasmo, esta loucura (mania) do poeta, transmite-se ao interprete do poema, ao 
rapsodo, que por sua vez, a passa ao receptor. (PLATÃO, 371 a.C). 
 
 
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Fonte: https://www.comshalom.org/ 
5.4 Aristóteles (384 – 322 a.C.) 
 
Textos antigos mencionam tratados ou livros sobre teoria da arte da autoria de 
Aristóteles que se perderam: Dos Poetas, Problemas homéricos, Sobre a beleza, 
Sobre a música, Problemas da Poética. Somente a primeira parte da Poética 
sobreviveu até os dias de hoje. 
Nestes textos, descrevem-se meticulosamente princípios, modos, processos 
da estrutura e da linguagem poética que o criador deve usar, mostrando não só um 
conhecimento aprofundado do método, da ars poética1, mas uma reflexão psico-
filosófica que implicou uma análise profunda e inovadora da arte, da estética, e mesmo 
da psicologia do criador e do espectador. 
A estética e os problemas da arte ocuparam muitos dos livros de Aristóteles, 
mesmo de forma pontual, como na Metafísica, na Política, na Física ou na Ética 
Nicomaqueia. Apesar de se ocupar sobretudo da poética, a sua análise e as suas 
ideias podem ser aplicadas à arte em geral. Relativamente a Platão, este pensador 
conferiu às suas ideias estéticas e artísticas, um caráter mais sistemático, organizado, 
metodológico, tendo por base a ideia de “conhecimento através da arte”, por esta ser, 
em si mesma, conhecimento. 
 
1 Na Poética, Aristóteles embora fazendo referências às artes figurativas, trata essencialmente da mousiké – 
tragédia que inclui música, poesia – propondo uma ars poética com princípios claros para um fazer ou compor 
de acordo com as regras, especificando os elementos constitutivos dessa arte dramática e polimétrica. 
 
https://www.comshalom.org/
 
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A arte pode ser uma produção, mas nem toda a realização se constitui num 
objeto artístico; só é arte, segundo Aristóteles, “uma produção consciente, baseada 
no conhecimento”. Arte não era considerada apenas uma produção que se baseie no 
instinto, na experiência ou na prática, tinha de se fundamentar no conhecimento de 
regras e nos domínios dos meios para atingir os fins. Mas ainda, é necessária uma 
capacidade permanente para criar que implica habilidade – que se desenvolve com a 
prática e, logo, pode ser aprendida – e disposição criativa inata. 
A capacidade de criação, de gênesis, do “passar a ser”, está, em Aristóteles, 
ligada à mudança, ao movimento, ao devir constante; não há verdadeira criação no 
sentido da passagem do não-ser ao ser; a criação e a destruição são dois aspectos 
complementares da transformação da substância em substância; este é um dos 
princípios da sua filosofia da natureza que se aplica à criação artística. “Tanto na 
produção natural como na artística deve preexistir uma parte do produto. ” 
A criação artística nasce da alma do artista e desenvolve-se no contato, na 
modelagem do material, numa relação produtiva e construtiva entre a ideia de arte e 
a matéria. “A arte necessita sempre da matéria”, ou seja, há uma relação íntima e 
imprescindível entre a forma artística e a estruturação da matéria. Na criação artística, 
o pensar ou o conceber um projeto, antecede o fazer ou a aplicação. (ARISTÓTELES, 
301 a.C) 
 
 
Fonte: http://lounge.obviousmag.org/ 
http://lounge.obviousmag.org/
 
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6 PERCORRENDO OS PROCESSOS DE CRIAÇÃO ARTÍSTICA 
 
A maior parte das pesquisas na área das artes visuais tem contemplado a 
leitura da produção artística através de inúmeras abordagens: questões sobre a 
imagem, a problemática histórica da obra e seus significados, a consideração dos 
aspectos socioculturais, as linguagens existentes ou em elaboração, entre muitas 
outras. Poucos estudos, especialmente em nosso país, têm-se detido no processo do 
fazer, isto é, naquilo que ocorre durante a elaboração do trabalho artístico e que, 
posteriormente, pode ser identificado na obra concluída. (CORRÊA, 2018). 
Entre as inúmeras variáveis que compõem o processo de produção artística, 
encontram-se os estudos da invenção, da confecção da obra, do acaso, das técnicas 
e procedimentos, dos materiais e instrumentos, dos sistemas de formas, da temática, 
das motivações e condicionamentos culturais, entre muitos outros aspectos. 
Algumas pessoas veem a criatividade como uma atividade relativamente não 
estruturada de pular em torno de ideias até se deparar com a ideia certa. Embora isso

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