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Eutanásia e as Emoções em Médicos Veterinários

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• O QUE É A EUTANÁSIA E A CARGA EMOCIONAL DELA 
Eutanásia constitui-se no modo humanitário de matar o animal, sem dor e com mínimo estresse. 
É a prática de causar a morte de um animal de maneira controlada e assistida para alívio da dor ou do 
sofrimento. Deve-se consultar profissionais com experiência na área e grupos taxonômicos envolvidos 
para assegurar a adequação da técnica, ou no caso de instalações animais. os procedimentos de eutanásia 
devem ser supervisionados por um Médico Veterinário com registro ativo no Conselho Regional de 
Medicina Veterinária. Alguns métodos de eutanásia requerem contenção física do animal, realizada de 
acordo com a espécie, raça, tamanho, estado de domesticação, comportamento, presença de dor ou 
doenças. Por esta razão, a manipulação correta do animal é fundamental para minimizar a dor ou o 
sofrimento para garantir a segurança do pessoal envolvido, para proteger terceiros e outros animais. 
Os critérios comumente adotados para indicação de eutanásia de uma forma individualizada são: 
animais gravemente feridos, com impossibilidade de tratamento, animais com doenças terminais em 
intenso sofrimento e animais idosos na falta de recursos para atender às suas necessidades. Entretanto, 
outras situações que indicam a indução da morte podem ocorrer, como, por exemplo, o abate 
humanitário de animais para consumo alimentar e quando os animais forem submetidos a atividades de 
ensino ou de pesquisa científica. Em atividades de ensino ou de pesquisa científica deve-se estabelecer 
o ponto final humanitário na proposta encaminhada à CEUA. 
A eutanásia não se limita apenas ao momento da morte. Todo o processo desde o alojamento 
dos animais à contenção física deve ser cuidadoso para minimizar ao máximo o sofrimento, o medo, a 
ansiedade e a apreensão. A manipulação dos animais deve ser cuidadosa e, muitas vezes, conversar com 
o animal durante a eutanásia pode ter um efeito calmante em animais acostumados com o manuseio. O 
uso de baixa luminosidade e um ambiente livre de ruídos também deve ser preconizado. A sedação e a 
anestesia facilitam o processo. Os animais devem ser mortos em um ambiente silencioso, limpo, longe 
de outros animais e, preferencialmente, no local onde eles vivem, e de forma rápida. Um animal não 
deve assistir a eutanásia de outro, devendo o cadáver ser retirado do ambiente e o local, bem como os 
objetos utilizados, serem limpos antes da entrada do próximo animal. A confirmação da morte deve ser 
realizada por profissional qualificado para este fim. 
• O PREPARO EMOCIONAL QUE OS MÉDICOS VETERINÁRIOS PRECISAM TER PARA ESSE PROCEDIMENTO 
A eutanásia exige considerações morais e éticas para que a prática seja realizada de forma 
humanitária. A exposição constante dos técnicos ao procedimento de eutanásia pode afetá-los 
psicologicamente sob diversas formas. Causar a morte de animais é difícil do ponto de vista psíquico, 
particularmente quando ocorre de forma frequente e resulta no envolvimento do executor com os 
animais. O efeito emocional da eutanásia nas pessoas ocorre mais intensamente quando há necessidade 
de causar a morte de um grande número de animais e de forma repetida. Alguns indivíduos podem 
estabelecer mecanismos psíquicos de defesa, de modo a reduzir a empatia e o respeito no manuseio dos 
animais, já outros podem experimentar um sentimento de pesar e tristeza pela perda da vida. 
Os envolvidos não devem trabalhar sob pressão ou estar obrigados a praticar a eutanásia, 
sugerindo-se que haja uma rotatividade entre os seus executores. A pessoa responsável pela eutanásia 
deve ter conhecimento técnico, usar métodos humanitários de manuseio, entender o motivo pelo qual o 
animal está sendo morto, estar familiarizado com o método e informado sobre a finalidade a que se 
destinará o cadáver. A participação ou exposição constante aos procedimentos de eutanásia pode 
provocar alterações na saúde física e mental dos envolvidos, causar um estado psíquico de profunda 
insatisfação com o trabalho e alienação, que pode se expressar em absentismo, agressividade, depressão 
ou falta de cuidado com os animais. 
Daí a necessidade de adotar medidas relativas à segurança, à qualificação e à preservação da 
saúde do trabalhador, que considerem os aspectos éticos, psicológicos e físicos que envolvam 
rotineiramente os funcionários nestas atividades. Como exemplo, deve-se estabelecer um programa 
institucional para minimizar o problema, como o acompanhamento periódico de profissionais 
credenciados para supervisão de apoio e para garantir a estabilidade emocional dos envolvidos. 
• COMO PROBLEMAS PSICOLÓGICOS PODEM INFLUENCIAR NA FORMA DE LIDAR, E COMO O PROCEDIMENTO 
PODE GERAR PROBLEMAS PSICOLÓGICOS 
Por conta, muitas vezes, da falta de exteriorizar esse sofrimento, o profissional acaba passando 
por transtornos mentais. Existe um estudo, de David Bartram, do Grupo de Saúde Mental da 
Universidade de Southampton School of Medicine (Inglaterra), que concluiu que os médicos-
veterinários têm uma taxa de suicídio quatro vezes superior à população geral e duas vezes superior a 
outras profissões. Várias são as causas conhecidas para esse quadro: longas jornadas de trabalho, 
convivência com casos de maus-tratos, remuneração baixa, mas já é sabido, também, que a realização 
frequente de eutanásia é um importante fator estressor e grande potencializador para o desenvolvimento 
da Síndrome de Burnout e Fadiga por Compaixão. 
Entretanto, no caso da eutanásia em si, alguns fatores devem ser levados em consideração, como 
o contexto em que é realizada (se em animal sadio x animal em estágio terminal de uma doença crônica, 
por exemplo); quantidade de eventos realizados por dia/semana/mês; a atitude pessoal do profissional; 
suporte social disponível ao profissional por parte da chefia/estabelecimento onde trabalha, entre outros. 
Esses aspectos devem ser observados com muita atenção, no sentido de adoção de medidas profiláticas. 
Pela natureza de suas atividades já se sabe que a classe veterinária é considerada uma população 
em risco para o desenvolvimento de transtornos de estresse pós-traumático, como os citados acima pela 
profissional. Sendo assim, é preciso cuidar desta questão com certa prontidão. Mas, apesar da urgência, 
felizmente, há muito que pode e deve ser feito para melhorar esse panorama e o interesse geral pelo 
assunto já é um grande sinal de avanço nesse sentido. 
Antes a eutanásia parecia ser um assunto pertinente somente ao paciente, nos dias de hoje, já 
ficou bem estabelecido que ela impacta emocionalmente não só toda a equipe veterinária, bem como os 
tutores. O veterinário assume, nesta tríade, papel extremamente relevante, sendo crucial que o currículo 
na graduação seja revisto, para que as instituições formem médicos bem preparados para tamanha 
responsabilidade. Assim, diante das demandas atuais, precisamos de novos ‘instrumentais’ de trabalho, 
para os médicos veterinários não adoecer na execução das atividades diárias, existe uma família como 
um todo que precisa da atenção do profissional. 
Faz parte do papel do veterinário informar o tutor sobre o a possibilidade de realização do 
procedimento, mas, muitas vezes, é o próprio tutor quem aborda o assunto com o profissional. Muitos 
profissionais receiam iniciar a conversa com os familiares do paciente, o que, em certas ocasiões, 
prolonga a tomada de decisão e todo o sofrimento que a acompanha. Independentemente da decisão em 
si, de fazer ou não a eutanásia, a conversa irá redefinir o curso do tratamento e cabe aos médicos 
responsáveis pelo paciente, tomar a iniciativa. 
• RELATOS DE PROFISSIONAIS, A REALIDADE NUA E CRUA DO PROCEDIMENTO 
O médico-veterinário Fabricio Rasi de Almeida Prado, formado pela Universidade Federal de 
Pelotas em 2003, conta que realizou uma estimativa de 200 eutanásias durante sua carreira. “É sempre 
uma decisão dura, onde o profissional não pode se levar pelaemoção, mas, sim, pela razão que este 
procedimento está sendo realizado”, destaca. 
Para Prado, ninguém gosta de executar essa decisão, pois os veterinários são instruídos, desde a 
época acadêmica, a salvar vida e não colocar um ponto final nela. “É uma situação difícil, principalmente 
quando o animal pertence a uma criança que está presente. Muitas vezes, nestes momentos, não 
conseguimos segurar a emoção. Sempre peço para o tutor do paciente realizar uma oração antes do 
procedimento e que se recorde dos bons momentos que passou ao lado de seu pet”, compartilha. 
O profissional revela que pede para que o tutor saia da sala antes de realizar o procedimento, 
justamente para preservar as boas lembranças ao lado do animal. “Deixo os proprietários se despedirem 
de quem trouxe a felicidade para sua família e, depois, dou seguimento sozinho”, declara. 
A médica-veterinária recém-formada, Bruna Martina Ribeiro dos Santos, conta que já esteve 
presente durante o procedimento de eutanásia enquanto profissional e, mais recentemente, no lugar de 
tutora. “Já se passaram nove meses desde então e ainda é difícil falar. E, por mais que eu já tivesse 
presenciado enquanto veterinária e durante a faculdade, quando se trata do nosso pet é diferente”, 
garante. 
Ela diz que pensava se, realmente, era o certo a se fazer: “Tinha um nó na minha garganta, um 
aperto no peito e tive até dor no corpo, talvez pela tensão dos dias que antecederam aquele momento. 
Antes de acontecer já sentia uma saudade absurda”, relembra. Apesar de sua experiência como 
proprietária, como médica-veterinária, a princípio, recomendaria aos tutores que acompanhassem o 
procedimento, explicando como tudo é feito. “Ainda hoje, muitas pessoas pensam que, de alguma forma, 
a eutanásia gera algum tipo de sofrimento ou dor ao animal, o que não é verdade, e o que talvez explique 
o porquê de muitos tutores optarem por não acompanhar”, expõe. 
Assim, a profissional considera importante para o animal ter a presença do tutor, mas que o 
acompanhamento deve ser uma opção, já que não é um indicativo de mais ou menos amor. “Quando 
nosso animal de estimação começa a apresentar sinais de que a velhice se aproxima, inevitavelmente, 
começamos a pensar no ‘quando chegar a hora’ e, por mais que saibamos que a morte também faz parte 
da vida, aprendi que ninguém nunca está totalmente preparado. Se uma despedida antes da eutanásia for 
mais confortável, principalmente para o animal e para os tutores, a escolha deve ser respeitada”, opina. 
Sobre a preparação psicológica do veterinário que lida com essa situação na rotina clínica, Bruna 
comenta que, por conta do estresse e de tantas responsabilidades que seu dia a dia exige, contar com um 
acompanhamento psicológico é de extrema importância para o profissional. Fabricio Prado, por sua vez, 
não se recorda de ter pensado em procurar ajuda psicológica referente a estes atos e/ou casos. “Se 
estamos agindo da forma correta não temos motivos para ficar com remorso”, finaliza.

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