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163 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS QUESTÕES DE DIREITO CONSTITUCIONAL Comentários: Karine da Silva Cordeiro 164 165 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS TRF - 1ª Região 1) Acerca do poder constituinte, da CF e do ADCT, assinale a opção correta. A) As normas que versam sobre a interven- ção federal nos estados e no DF, bem como dos estados nos municípios, incluem-se entre os chamados elementos de estabili- zação constitucional. B) O poder constituinte originário dá início a nova ordem jurídica, e, nesse sentido, todos os diplomas infraconstitucionais perdem vigor com o advento da nova constituição. C) Consideram-se elementos socioideoló- gicos da CF as normas que disciplinam a organização dos poderes da República e o sistema de governo. D) O ADCT não tem natureza de norma cons- titucional, na medida em que dispõe sobre situações excepcionais e temporárias. E) Segundo disposição literal da CF, os estados e municípios dispõem do chamado poder constituinte derivado decorrente, que deve ser exercido de acordo com os princípios e regras dessa Carta. COMENTÁRIO A) Esta é a assertiva correta. De acordo com a classificação de José Afonso da Silva, é possível distinguir, na estrutura normativa das constituições contemporâneas, cinco categorias de elementos: (1) elementos or- gânicos, contidos nas normas que regulam a estrutura do poder; (2) elementos limitati- vos, que limitam a ação dos poderes estatais e dão a tônica do Estado de Direito, mani- festando-se nas normas que consubstan- ciam o elenco dos direitos e garantias fun- damentais; (3) elementos socioideológicos, consubstanciados nas normas que revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado Social, intervencionista; (4) elemen- tos de estabilização constitucional, consa- grados nas normas destinadas a assegurar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da constituição, do Estado e das instituições democráticas, premunindo os meios e técni- cas contra sua alteração e infringência, e são encontrados, entre outros, nos arts. 34 a 36, que tratam da intervenção da União nos Es- tados e no Distrito Federal e da intervenção dos Estados em seus municípios e da União nos Municípios localizados em Território Federal; e (5) elementos formais de aplica- bilidade, são os que se acham consubstan- ciados nas normas que estatuem regras de aplicação das constituições1. B) O poder constituinte originário efetiva- mente dá início à ordem jurídica. No entan- to isso não significa que todos os diplomas infraconstitucionais deixem de vigorar com o advento da nova Constituição. Apenas as normas materialmente incompatíveis com o novo diploma constitucional é que o dei- xam. Discutiu-se se haveria revogação ou inconstitucionalidade superveniente, e o Su- premo Tribunal Federal decidiu pela tese da revogação na ADI 2, reafirmando, sob a égi- de da Constituição de 1988, orientação ju- risprudencial já consagrada no regime ante- rior: “CONSTITUIÇÃO. LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE. REVOGAÇÃO. INCONSTITUCIONALIDADE SUPER- VENIENTE. IMPOSSIBILIDADE. (…) O vício da inconstitucionalidade é congênito à lei e há de ser apurado em face da Constitui- ção vigente ao tempo de sua elaboração. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição superveniente; nem o legislador poderia infringir Constituição futura. A Constituição sobrevinda não tor- na inconstitucionais leis anteriores com ela conflitantes: revoga-as.”2 As normas materialmente compatíveis com a nova Constituição são por ela recepcionadas e, assim, permanecem em vigor. Trata-se do fenômeno da re- cepção, desenvolvido por Hans Kelsen, pelo qual a “nova ordem recebe, i.e., adota normas da velha ordem; isso quer dizer que a nova ordem dá validade (co- loca em vigor) a normas que possuem o mesmo conteúdo que normas da velha 1 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 44-45. 2 ADI 2, Relator Ministro Paulo Brossard, Tribunal Pleno, julgado em 06/02/1992, DJ 21/11/1997. 166 ordem. A ‘recepção’ é um procedimento abreviado de criação de Direito”3. Vale lembrar que a incompatibilidade me- ramente formal não interfere na recepção do ato normativo pela novel ordem consti- tucional. O Código Tributário Nacional, por exemplo, foi recepcionado pela Constituição de 1988, embora esta exija lei complementar para estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária (art. 146, inciso III), e aquele seja fruto de lei ordinária. C) Como referido acima, seguindo a clas- sificação de José Afonso da Silva, os ele- mentos socioideológicos da Constituição são as normas que “revelam o caráter de compromisso das constituições modernas entre o Estado individualista e o Estado So- cial, intervencionista, como as do Capítulo II do Título II, sobre os Direitos Sociais, e as dos Títulos VII (Da Ordem Econômica e Financeira) e VIII (Da Ordem Social)”4. As normas que disciplinam a organização dos poderes da República e o sistema de gover- no constituem os elementos orgânicos da Constituição. D) Embora disponham sobre situações ex- cepcionais e temporárias, as normas do ADCT são normas constitucionais com mesmo status jurídico das normas do texto permanente da Constituição. Conforme de- cidiu o Supremo Tribunal Federal no RE 160.4865, o ADCT “qualifica-se, juridica- mente, como um estatuto de índole consti- tucional. A estrutura normativa que nele se acha consubstanciada ostenta, em conse- qüência, a rigidez peculiar às regras inscri- tas no texto básico da Lei Fundamental da República. Disso decorre o reconhecimento de que inexistem, entre as normas inscritas no ADCT e os preceitos constantes da Carta Política, quaisquer desníveis ou desigual- 3 KELSEN, Hans. Teoria geral do Direito e do Estado. Tradução de Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 172. 4 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 44-45. 5 RE 160.486, Relator Ministro Celso de Mello, Primeira Turma, julgado em 11/10/1994, DJ 09/06/1995. dades quanto à intensidade de sua eficácia ou à prevalência de sua autoridade. Situam- -se, ambos, no mais elevado grau de posi- tividade jurídica, impondo-se, no plano do ordenamento estatal, enquanto categorias normativas subordinantes, à observância compulsória de todos, especialmente dos órgãos que integram o aparelho de Estado”. Na ADI 8306, o Supremo Tribunal Federal explicitou que, “contendo as normas cons- titucionais transitórias exceções à parte per- manente da constituição, não tem sentido pretender-se que o ato que as contém seja independente desta, até porque é da natureza mesma das coisas que, para haver exceção, é necessário que haja regra, de cuja existên- cia aquela, como exceção, depende. A enu- meração autônoma, obviamente, não tem o condão de dar independência àquilo que, por sua natureza mesma, é dependente”. E) Pela disposição literal do art. 25 da CF, o poder constituinte derivado decorrente de que dispõem os Estados deve ser exercido de acordo com os princípios daquela Car- ta, sem referir a expressão regras: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observa- dos os princípios desta Constituição”. Da mesma forma, o art. 11 do ADCT estabelece: “Art. 11. Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constitui- ção do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta”. A doutrina entende que os Municípios não detêm poder constituinte derivado decor- rente, na medida em o art. 11do ADCT atri- buiu tal poder apenas aos Estados, porque os Municípios não são regidos por uma consti- tuição, mas por lei orgânica que não deriva de um poder constituinte, e porque a lei or- gânica está subordinada tanto à Constituição Federal como à Estadual. Situação mais controversa é a do Distrito Federal, haja vista a maior proximidade do 6 ADI 830, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 14/04/1993, DJ 16/09/1994. 167 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS ente distrital aos Estados-membros do que aos Municípios e a subordinação de sua lei orgânica apenas à Constituição Federal. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que a Lei Orgânica do Distrito Federal apresenta a “natureza de verdadeira Constituição local”. A partir daí, parte da doutrina defende que o Distrito Federal, assim como os Estados- -membros, detém poder constituinte deriva- do decorrente7. De qualquer forma, ainda que adotado en- tendimento diverso, a assertiva estaria erra- da, pois o art. 29 da CF, tal qual o art. 25, não menciona a expressão regras: “Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, vota- da em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a pro- mulgará, atendidos os princípios estabeleci- dos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos”. RESPOSTA: A 2) Assinale a opção correta a respeito da inter- venção federal e da disciplina constitucional sobre os estados-membros e os municípios. A) A CF estabelece, de forma enumerada, os poderes dos estados e municípios, dispondo sobre áreas comuns de atuação administrativa paralela entre eles; nesse sentido, pode-se dizer que as competências desses entes estão taxativamente previstas no texto constitucional. B) Os municípios poderão, mediante leis aprovadas por suas respectivas câmaras municipais, instituir regiões metropolitanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, com o objetivo de oferecer soluções para problemas e carências de interesse comum. C) Uma das hipóteses que pode ensejar a intervenção estadual nos municípios é a falta de prestação de contas pelo prefeito municipal. D) A intervenção federal nos estados só pode ocorrer por iniciativa do Presiden- te da República e nas hipóteses taxativa- mente previstas no texto constitucional. 7 A exemplo de LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 180-181. E) Visando uniformizar tema de interesse predominantemente regional, a CF confere aos estados a competência de promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupa- ção do solo urbano. COMENTÁRIO A) Diversamente do que consta na asserti- va, os poderes dos Estados e dos Municípios não estão taxativamente previstos no texto constitucional. A Constituição enumera os poderes da União (arts. 21 e 22); reserva aos Estados poderes remanescentes, ou seja, as competências que não lhes sejam expressa- mente vedadas no texto constitucional (art. 25, § 1º); e atribui aos Municípios poderes definidos indicativamente (art. 30)8. B) De acordo com o art. 25, § 3º, da CF, os Estados (e não os Municípios) poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e mi- crorregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, para integrar a or- ganização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. C) A assertiva está correta, refletindo a pre- visão expressa do art. 35, inciso II, da CF: “Art. 35. O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: (…) II - não forem prestadas contas devidas, na forma da lei;”. D) A intervenção é medida excepcional, so- mente admitida nas hipóteses taxativamente previstas na Constituição. De outro lado, não é verdadeiro que a intervenção federal nos Estados só pode ocorrer por iniciativa do Presidente da República. Isso depende da hipótese que ensejou a decretação da medi- da, conforme discriminado no art. 36 da CF. No caso de intervenção para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas uni- 8 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 479 168 dades da Federação, a medida pode ocorrer por solicitação do Poder Executivo ou do Poder Legislativo coacto ou impedido, ou de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judi- ciário. No caso de desobediência à ordem ou decisão judicial, a intervenção depende de requisição do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral. E nos casos de interven- ção para assegurar a observância dos princí- pios constitucionais sensíveis e de recusa à execução de lei federal, a medida depende de provimento, pelo Supremo Tribunal Fe- deral, de representação do Procurador-Geral da República. E) Segundo expressa previsão do art. 30, inciso VIII, compete aos Municípios (e não aos Estados) promover, no que, couber, o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e c SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. ontrole de uso, do parcelamento e da ocupa- ção do solo urbano. RESPOSTA: C 3) Com relação às cláusulas pétreas e às normas constitucionais que versam sobre o processo legislativo, assinale a opção correta. A) O processo legislativo envolve a elabo- ração de várias espécies normativas, entre as quais se incluem as leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos e os regu- lamentos. B) A forma federativa de Estado e a forma republicana de governo constituem limites materiais explícitos ao poder de reforma constitucional, na medida em que o poder constituinte originário deixou assente, de modo expresso, a impossibilidade de su- pressão de tais matérias da normatividade constitucional. C) Compete ao STF a iniciativa de proposição de lei complementar que disponha sobre o Estatuto da Magistratura. D) São de competência da União as leis que disponham sobre a organização admi- nistrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços públicos e pessoal da administração do DF. E) Os limites materiais da CF impedem emendas que alterem o texto das cláusulas pétreas, visto que qualquer alteração nessas disposições descaracterizaria o núcleo es- sencial desenvolvido e explicitado pelo poder constituinte originário. COMENTÁRIO A) Nos termos do art. 59 da CF, o proces- so legislativo compreende a elaboração de emendas à Constituição, leis complementa- res, leis ordinárias, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resolu- ções. Decretos e regulamentos não são ob- jeto do processo legislativo. B) A forma federativa de Estado constitui li- mite material explícito ao poder de reforma constitucional, estando elencada expressa- mente entre as cláusulas pétreas (art. 60, § 4º, inciso I, da CF) A forma republicana de governo não está prevista no rol do art. 60, § 4º, da CF e, assim, não é um dos limites ma- teriais explícitos ao poder de reforma consti- tucional. Oportuno lembrar que o constituin- te originário de 1988, no art. 2º do ADCT, previu a realização de um plebiscito para que o eleitorado definisse a forma (república ou monarquia constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo ou presidencia- lismo). A doutrina majoritária entende que, realizado o plebiscito e eleita a forma repu- blicana de governo, esta não pode ser alte- rada pelo poder reformador, tratando-sede autêntico limite material, porém implícito9. Além disso, do voto periódico – estabeleci- do como cláusula pétrea no inciso II do § 4º do art. 60 da CF – decorre a obrigatoriedade de os mandatos serem periódicos. Assim, adverte Gilmar Mendes, uma “emenda não está legitimada para transformar cargos po- 9 Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. Eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed., rev., atual. e amp. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 421. 169 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS líticos que o constituinte originário previu como suscetíveis de eleição em cargos vitalícios ou hereditários. Isso, aliado também à decisão do poder constituinte originário colhida nas urnas do plebiscito de 1993 sobre a forma de governo, gera obstáculo a uma emenda monarquista”10. Soma-se ainda o fato de a forma republicana configurar princípio constitucional sensível (art. 34, inciso VII, alínea a). C) De acordo com o art. 93 da CF, “Lei complementar de iniciativa do Supremo Tri- bunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura”. Correta, portanto, a assertiva. D) A Constituição confere à União compe- tência privativa para legislar sobre a organi- zação judiciária e administrativa do Distrito Federal (art. 22, inciso XVII), mas atribui competência concorrente à União, aos Esta- dos e ao Distrito Federal para legislar sobre direito tributário e orçamento (art. 24, inci- sos I e II). Além disso, o Distrito Federal de- tém as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios (art. 32, § 1º), as quais naturalmente abrangem, em decorrên- cia do princípio federativo, a de dispor sobre os serviços públicos e pessoal da respectiva administração, afinal não existe autonomia federativa sem que seja garantida a capa- cidade normativa de auto-organização e de autoadministração. Importante registrar que a competência le- gislativa do Distrito Federal em matéria de pessoal restringe-se aos servidores sob regi- me estatutário, sendo-lhe vedado dispor so- bre as normas de Direito do Trabalho aplicá- veis aos empregados celetistas, cuja compe- tência é da União, conforme jurisprudência do Supremo Tribunal Federal11. E) O objetivo das cláusulas pétreas é prote- ger a essência do projeto do poder consti- 10 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 145 . . Correta, portanto, a assertiva.”emo Tribunal Federal, disporºa rno, gera obst notadamente porque uso, do parcelamento e da ocu 11 V.g. AI 466131 AgR, Relator Min. Ayres Britto, Segunda Turma, julgado em 14/12/2010, DJe-052 PUBLIC 21/03/2011. tuinte originário corporificado na Constitui- ção, e não o texto das normas constitucio- nais. Portanto os limites materiais ao poder de reforma não impedem meras alterações no enunciado das normas constitucionais protegidas pelas cláusulas pétreas, e sim as propostas de emenda tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, secreto e universal, a separação dos Poderes e os direitos e garantias individuais. Nesse sentido, decidiu o Supremo Tribunal Fede- ral, na ADI 2024, que “as limitações mate- riais ao poder constituinte de reforma, que o art. 60, § 4º, da Lei Fundamental enumera, não significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na Constituição ori- ginária, mas apenas a proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja preservação nelas se protege”12. Há quem defenda que tende a abolir um bem protegi- do pelas cláusulas pétreas apenas a emenda que atinja o núcleo essencial do princípio em questão, e não a que afete os seus elementos circunstanciais, de modo que não fica obsta- culizada a sua regulamentação, alteração e mesmo restrição13. RESPOSTA: C 4) Acerca da desapropriação por necessida- de ou utilidade pública, da função social da propriedade e do regime das jazidas, assinale a opção correta. A) O bem particular desapropriado com base no interesse social destina-se à ad- ministração, devendo ser obrigatoriamente incorporado ao patrimônio público, vedada sua transferência a terceiros. B) As jazidas pertencem ao proprietário do solo, para efeito de exploração ou aproveita- mento, sendo-lhe garantida, ainda, a proprie- dade do produto da lavra. C) A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências funda- 12 ADI 2024, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 03/05/2007, DJe-042 PUBLIC 22/06/2007. 13 Cf. SARLET, Ingo Wolfgang. Eficácia dos direitos fundamentais: uma teoria geral dos direitos fundamentais na perspectiva constitucional. 10. ed., rev., atual. e amp. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009. p. 421. 170 mentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. D) Diferentemente da desapropriação por inte- resse social, o pagamento da desapropriação por necessidade ou utilidade pública somente é possível mediante títulos da dívida pública. E) A política de desenvolvimento urbano é atribuição do poder público municipal; por isso, compete privativamente aos municípios legislar sobre direito urbanístico. COMENTÁRIO A) Como decidiu o Supremo Tribunal Fe- deral na SS 2.21714, os bens desapropriados com base no interesse social “não se desti- nam à Administração ou a seus delegados, mas sim à coletividade ou, mesmo, a certos beneficiários que a lei credencia para rece- bê-los e utilizá-los convenientemente”15. Não há obrigatoriedade de incorporação desses bens ao patrimônio público e nem é vedada sua transferência a terceiros, desde que observado o prazo de dez anos. Com efeito, o art. 189 da CF estabelece que os be- neficiários da distribuição de imóveis rurais pela reforma agrária receberão títulos de do- mínio ou de concessão de uso, inegociáveis pelo prazo de dez anos. Vale lembrar que a Constituição consagra a possibilidade de desapropriação por necessi- dade ou utilidade pública, ou por interesse social (art. 5º, inciso XXIV). Nas palavras de Hely Lopes Meirelles: “Não pode ha- ver expropriação por interesse privado de pessoa física ou organização particular. O interesse há de ser do Poder Público ou da coletividade: quando o interesse for do Po- der Público, o fundamento da desapropria- ção será necessidade ou utilidade pública; quando for da coletividade, será interesse social. Daí resulta que os bens expropriados por utilidade ou necessidade pública são destinados à Administração expropriante ou a seus delegados, ao passo que os desapro- 14 Noticiada no Informativo n. 320. 15 Decisão monocrática da lavra do Ministro Maurício Corrêa, proferida em 02/09/2003 e publicada no DJU de 09/09/2003. O Agravo Regimental interposto contra essa decisão foi julgado prejudicado em decisão publicada no DJE de 04/04/2011. priados por interesse social normalmente se destinam a particulares que irão explorá-los segundo as exigências da coletividade, em- bora em atividade de iniciativa privada, ou usá-los na solução de problemas sociais de habitação, trabalho e outros mais”16. B) Por expressa previsão do caput do art. 176 da CF, as jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União (e não ao proprietário do solo), garantida ao concessionário (e não ao proprietário do solo) a propriedade do produto da lavra. Ao proprietário do solo é assegurada a partici- pação nos resultados da lavra, na forma e no valor que dispuser a lei (art. 176, § 2º, da CF). C) A assertiva repete a previsão do § 2º do art. 182 da CF: “A propriedade urbana cum- pre sua função social quando atende às exi- gênciasfundamentais de ordenação da cida- de expressas no plano diretor”. D) A regra geral é a de que a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, pressupõe justa e prévia in- denização em dinheiro (art. 5º, inciso, XXIV, e art. 182, § 3º, da CF). Constituem exceção à regra a desapropriação do imóvel urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado (art. 182, § 4º, inciso III) e a desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária, de imóvel rural que não esteja cum- prindo sua função social (art. 184, caput, da CF), em que o pagamento da indenização se dá em títulos da dívida pública e em títulos da dívida agrária, respectivamente. E) A política de desenvolvimento urbano é executada pelo Poder Público municipal, porém em conformidade com diretrizes gerais fixadas em lei (art. 182 da CF). E o poder de instituir diretrizes para o desenvol- 16 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 22. ed. atual. São Paulo: Editora Malheiros, 1997. p. 519-521. 171 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS vimento urbano inscreve-se na competência constitucional da União (art. 21, inciso XX, da CF), havendo competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre direito urbanístico (art. 24, inciso I, da CF). RESPOSTA: C 5) Considerando a disciplina constitucional a respeito do controle de constitucionalidade das leis e dos atos normativos, assinale a opção correta. A) A ADI admite a intervenção de terceiros, mas a ADC, não. B) Uma vez proposta a ADI por omissão, todos os demais legitimados podem manifestar-se, por escrito, sobre o objeto da ação e pedir a juntada de documentos reputados úteis para o exame da matéria, no prazo das informações, bem como apresentar memoriais. C) Sendo a ADPF espécie de controle con- centrado que visa evitar ou reparar lesão às normas que, materialmente constitucionais, fazem parte da Constituição formal, e não à Constituição em seu conjunto, não cabe reclamação para o STF no caso de descum- primento da decisão. D) O STF, seguindo a doutrina constitucional majoritária, entende que a ADPF é cabível contra ato do poder público de natureza administrativa ou normativa, mas não contra ato judicial. E) A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo pelo STF está sujeita à manifestação, em um ou em outro sentido, de, pelo menos, oito ministros, quer se trate de ADI, quer se trate de ADC. COMENTÁRIO A) A Lei n. 9.898/99 veda a intervenção de terceiros tanto no processo de ADI (art. 7º) como no de ADC (art. 18). É importante re- gistrar que, para a ADI, há previsão expressa no art. 7º, § 2º sobre a possibilidade de o re- lator, considerando a relevância da matéria e a representatividade dos postulantes, admitir a manifestação de outros órgãos ou entida- des (cuida-se da figura do amicus curie). O mesmo era previsto para a ADC no § 2º do art. 18, mas o dispositivo foi vetado. A des- peito disso, a doutrina defende ser cabível a manifestação do amicus curiae, aplicando- -se à ADC a regra do § 2º do art. 7º, haja vista a idêntica natureza das ações17. B) Esta é a alternativa correta. Está inscrita no art. 12-E, § 1º, da Lei n. 9.868/99 a possi- bilidade de os legitimados para a propositu- ra da ADI por omissão se manifestarem, por escrito, sobre o objeto da ação e pedirem a juntada de documentos reputados úteis para o exame da matéria, no prazo das informa- ções, bem como apresentarem memoriais. C) A Lei n. 9.882/99, que disciplina o pro- cesso e julgamento da ADPF, prescreve, em seu art. 13, que caberá reclamação contra o descumprimento da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, na forma do seu Regimento Interno. Nas palavras de Gilmar Ferreira Mendes: “Não há dúvida de que a decisão de mérito proferida em ADPF será dotada de efeito vinculante, dando azo, por isso, à reclamação para assegurar a autorida- de do Supremo Tribunal Federal”18. D) O Supremo Tribunal Federal entende que a ADPF é cabível contra ato do Poder Público de natureza administrativa ou nor- mativa e, também, contra ato judicial. No julgamento da ADPF 10119, em que se dis- cutia se decisões judiciais que autorizam a importação de pneus usados violam os preceitos inscritos nos arts. 196 (direito à saúde) e 225 (direito ao meio ambiente) da CF, o Supremo Tribunal Federal rejeitou a preliminar de não cabimento da ação. Votou 17 Nesse sentido, ver MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 145 . 18 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1418. 19 ADPF 101, Relatora Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno. O julgamento teve início em 11/03/2009, encerrando-se em 24/06/2009. O acórdão está pendente de publicação, mas a decisão foi noticiada nos Informativos 538 e 552. 172 vencido, no ponto, o Ministro Marco Au- rélio, entendendo que a jurisdição não está incluída na alusão a ato do Poder Público contida na parte final do art. 1º da Lei n. 9.882/99 e que a ADPF não é sucedâneo recursal contra decisões judi- ciais. Na ADPF 144, a Corte Constitu- cional decidiu pela “admissibilidade do ajuizamento de ADPF contra interpreta- ção judicial de que possa resultar lesão a preceito fundamental”.20 No âmbito doutrinário, Gilmar Ferrei- ra Mendes leciona: “Pode ocorrer le- são a preceito fundamental fundada em simples interpretação judicial do texto constitucional. Nesses casos a contro- vérsia não tem por base a legitimidade ou não de uma lei ou de um ato norma- tivo, mas se assenta simplesmente na legitimidade ou não de uma dada in- terpretação constitucional. (…) Assim, o ato judicial de intepretação direta de um preceito fundamental poderá conter uma violação da norma constitucional. Nessa hipótese, caberá a propositura da arguição de descumprimento de pre- ceito fundamental para afastar a lesão a preceito fundamental resultante des- se ato judicial do Poder Público, nos termos do art. 1º da Lei n. 9.882/99.”21 E) De acordo com o art. 23 da Lei n. 9.868/99, a decisão sobre a constitu- cionalidade de lei ou ato normativo pelo Supremo Tribunal Federal exige a manifestação de pelo menos seis (e não oito) Ministros, seja no sentido da constitucionalidade, seja no da incons- titucionalidade. É necessário, contudo, que estejam presentes pelo menos oito Ministros na sessão de julgamento (art. 22). RESPOSTA: B 20 ADPF 144, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 06/08/2008, DJe-035 PUBLIC 26/02/2010. 21 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1253-1254. 6) Com relação às atribuições e às respon- sabilidades do presidente da República, ao Conselho da República e ao Conselho de Defesa Nacional, assinale a opção correta. A) Na vigência de seu mandato, o presidente da República não poderá ser responsabiliza- do por atos estranhos ao exercício de suas funções, tanto na esfera penal quanto na civil, administrativa, fiscal e tributária. B) O presidente da República somente poderá ser processado por crime de responsabilidade após autorização do Senado Federal, pelo voto da maioria absoluta de seus membros. C) O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do presidente da República nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do Estado democrático, sendo suas decisões vinculantes nos casos que envolvam declaração de guerra e cele- bração da paz. D) Compete ao presidente da República nomear dois membros do Conselho da Repú- blica, órgão superior de consulta convocadoe presidido pelo chefe do Poder Executivo. E) O presidente da República possui compe- tência para dispor, mediante decreto, sobre a criação e extinção de órgãos despersonaliza- dos, mas não de órgãos e entidades dotados de personalidade jurídica e capacidade processual. COMENTÁRIO A) A regra do art. 86, § 4º, da CF – que estabelece que o Presidente da Repúbli- ca, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções – não se aplica a situações jurídicas de responsabilidade civil, administrativa, fiscal e tributária, conforme decidiu o Supremo Tribunal Federal no In- quérito 67222: “… A norma consubstanciada no art. 86, § 4º, da Constituição, reclama e impõe, em função de seu caráter excepcio- nal, exegese estrita, do que deriva a sua ina- plicabilidade a situações jurídicas de ordem 22 Inq 672 QO, Relator Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 16/09/1992, DJ 16/04/1993. No mesmo sentido, AP 305 QO, Relator Min. Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 30/09/1992, DJ 18/12/1992. 173 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS extrapenal. O Presidente da República não dispõe de imunidade, quer em face de ações judiciais que visem a definir-lhe a responsa- bilidade civil, quer em função de processos instaurados por suposta prática de infrações político-administrativas, quer, ainda, em vir- tude de procedimentos destinados a apurar, para efeitos estritamente fiscais, a sua res- ponsabilidade tributária”. B) O art. 86 da CF estabelece que o Pre- sidente da República somente poderá ser processado por crime de responsabilidade depois de haver autorização pela Câmara dos Deputados (e não Senado Federal), pelo voto de 2/3 (e não maioria absoluta) de seus membros. C) O Conselho de Defesa Nacional é órgão de consulta do Presidente da República nos assuntos relacionados com soberania nacio- nal e defesa do Estado democrático, caben- do-lhe, entre outras atribuições, opinar nas hipóteses de declaração de guerra e de cele- bração da paz (art. 91, caput e § 1º, inciso I). A declaração de guerra e a celebração da paz são da competência privativa do Presidente da República (art. 84, incisos XIX e XX, da CF). Portanto é evidente que os pareceres do Conselho não são vinculantes, revestindo-se de caráter meramente opinativo. D) A assertiva expressa o previsto no art. 89, caput e inciso VII, da CF: “Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: (…) VII - seis cidadãos brasilei- ros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República …”. Além disso, o art. 84 da CF estabelece ser competência privativa do Presidente da República nomear membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII (inciso XVII), e convocar e pre- sidir o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional (inciso XVIII). E) A assertiva está em desacordo com a previsão do art. 84, inciso VI, alínea a, da CF: “Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (…) VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públi- cos;”. Quanto às entidades dotadas de per- sonalidade jurídica, o art. 37, inciso XIX, da CF estabelece que somente lei específica pode criar autarquia e autorizar a instituição de empresa pública, de sociedade de econo- mia mista e de fundação. Releva destacar que, tecnicamente, os ór- gãos públicos não têm personalidade jurídi- ca. Conforme definido no art. 1º, § 1º, da Lei n. 9.784/99, órgão é “a unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração in- direta”; e entidade é “a unidade de atuação dotada de personalidade jurídica”. RESPOSTA: D 7) Acerca da organização e atribuições do Poder Legislativo e da fiscalização financeira e orçamentária exercida pelo Congresso Nacional, assinale a opção correta. A) Ao tomarem conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade ocorrida no âmbito do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, os responsáveis pelo controle interno dela devem dar ciência à Controladoria Geral da União, sob pena de responsabilidade solidária. B) As normas da CF que versam sobre o TCU aplicam-se à organização e à fiscalização dos tribunais de contas dos estados e do DF, caben- do às respectivas casas legislativas estabelecer o número de conselheiros dessas cortes de contas e a sua forma de nomeação. C) O Poder Legislativo é composto por deputa- dos federais, eleitos pelo sistema proporcional, e por senadores, eleitos pela maioria absoluta do total de eleitores de cada unidade da Federação. D) Diferentemente das mesas do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, a mesa do Con- gresso Nacional será presidida, alternadamente, pelo presidente do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, com mandato de dois anos. E) Compete privativamente ao Senado Federal processar e julgar os ministros do STF e os membros do CNJ nos crimes de responsabi- lidade. 174 COMENTÁRIO A) Os responsáveis pelo controle interno que tomarem conhecimento de irregulari- dade ou ilegalidade ocorrida no âmbito do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário tem a obrigação de dela dar ciência ao Tribunal de Contas da União (e não à Controladoria Geral da União), sob pena de responsabilidade solidária (art. 74, § 1º, da CF). B) A Constituição define expressamen- te o número de conselheiros dos Tribu- nais de Contas dos Estados e do Dis- trito Federal, qual seja, sete (art. 75, parágrafo único). Além disso, a disci- plina desses Tribunais de Contas deve estar prevista na respectiva Constitui- ção Estadual. C) O Poder Legislativo é composto por de- putados federais e por senadores, aqueles eleitos pelo sistema proporcional (art. 45 da CF), e estes, segundo o princípio majoritá- rio (art. 46 da CF). Logo, elege-se senador o candidato que obtiver o maior número de votos em um único turno entre os eleitores do respectivo Estado ou do Distrito Federal, ou seja, maioria simples (e não maioria ab- soluta). Cada Estado e o Distrito Federal con- tam com três senadores. Como explicita Manoel Gonçalves Ferreira Fi- lho23, há duas modalidades de sistema majo- ritário, uma quando a escolha se dá num só turno, e outra quando pode passar por vários turnos. Na primeira, elege-se o candidato que mais votos obtiver, representem estes a maioria absoluta do eleitorado ou não. É esse o sistema da eleição para o Senado Federal. Na segunda, elege-se quem obtiver maioria absoluta no primeiro ou nos primei- ros turnos, ou, se a maioria absoluta não for alcançada, aquele que receber mais votos no derradeiro turno. É o sistema adotado para a eleição de Presidente da República. 23 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. 37. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 131-132. D) A Mesa do Congresso Nacional será pre- sidida pelo Presidente do Senado Federal (art. 57, § 5º, da CF). E) A alternativa reproduz o art. 52, inciso II, da CF: “Art. 52. Compete privativamente ao Sena- do Federal: (…) II processar e julgar os Minis- tros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador- -Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;”. RESPOSTA: E 8) Assinale a opção correta com referência ao Poder Judiciário. A) A permuta de juízes dos TRFs e a determi- nação de sua jurisdição e sede se darão por resolução do Conselho da Justiça Federal. B) Aos juízes federais compete processar e julgar as causasem que a União e as entida- des da administração indireta forem interessa- das na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, excetuando-se as de falência, de acidentes de trabalho e as sujeitas à justiça eleitoral e à justiça do trabalho. C) A CF estabelece que as unidades federati- vas com elevado número de ações judiciais devem constituir seções judiciárias nas capi- tais, cabendo aos juízes da justiça local, nos estados em que não existirem varas federais, o exercício da jurisdição e das atribuições cometidas aos juízes federais. D) Afora a remoção de ofício, os magistrados podem ser removidos independentemente de sua vontade, em razão de interesse público, por decisão tomada pelo voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do CNJ, assegurada ampla defesa. E) Os membros da magistratura, incluídos os ministros do STF e os dos tribunais superio- res, somente perderão o cargo por decisão judicial transitada em julgado. COMENTÁRIO A) A disciplina da remoção e da permuta de juízes dos Tribunais Regionais Federais e a determinação de sua jurisdição e sede cons- 175 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS tituem matéria reservada à lei (art. 107, § 1º, da CF). Portanto não se darão por resolução do Conselho da Justiça Federal. B) Segundo dispõe o art. 109 da CF, com- pete aos juízes federais processar e julgar as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessa- das na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho. Depreende-se daí que as sociedades de eco- nomia mista (como o Banco do Brasil e a Petrobrás, por exemplo), embora integrem a administração indireta, não atraem a com- petência da Justiça Federal. Nesse sentido, oportuno citar a Súmula 556 do Supremo Tribunal Federal: “É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista”. Na mesma linha é a Súmula 508: “Compete à justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil”. Mas as fundações públicas se equiparam às autarquias e, assim, a sua presença na lide na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes acarreta a competência da Justiça Federal. Este é o entendimento do Supremo Tribunal Federal: “RECURSO EXTRA- ORDINÁRIO. UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO. EXPEDIÇÃO DE DIPLO- MA. CONDENAÇÃO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. NATUREZA JURÍDI- CA DAS FUNDAÇÕES INSTITUÍDAS PELO PODER PÚBLICO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. ART. 109, I DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. 1. A Fun- dação Universidade do Rio de Janeiro tem natureza de fundação pública, pois assume a gestão de serviço estatal, sendo entidade mantida por recursos orçamentários sob a direção do Poder Público, e, portanto, inte- grante da Administração Indireta. 2. Confli- to de competência entre a Justiça Comum e a Justiça Federal. Art. 109, I da Constituição Federal. Compete à Justiça Federal proces- sar e julgar ação em que figure como par- te fundação instituída pelo Poder Público Federal, uma vez que o tratamento dado às fundações federais é o mesmo deferido às autarquias. 2.1. Embora o art. 109, I da Constituição Federal não se refira expressa- mente às fundações, o entendimento desta Corte é no sentido de que a finalidade, a ori- gem dos recursos e o regime administrativo de tutela absoluta a que, por lei, está sujeita a entidade, fazem dela espécie do gênero autarquia e, por isso, são jurisdicionadas à Justiça Federal, se instituídas pelo Governo Federal. Recurso extraordinário conhecido e provido”24. C) O art. 110 da CF determina que cada Es- tado, bem como o Distrito Federal, constitua uma seção judiciária que terá por sede a res- pectiva Capital, e varas localizadas segundo o estabelecido em lei. Sobre a competência federal delegada à justiça estadual, dispõe o § 3º do art. 109 da CF: “Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo fede- ral, e, se verificada essa condição, a lei pode- rá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual”. Dessa forma, o exercício da jurisdição e das atribuições cometidas aos juízes federais pe- los juízes da justiça local somente é admitido quando não houver vara federal na comarca e, cumulativamente, tratar de causas em que sejam parte instituição de previdência social e segurado ou de outras causas previstas em lei. Ou seja, se a causa não for de natureza previdenciária, é necessário que lei autorize o exercício da jurisdição federal delegada. Nas palavras do Supremo Tribunal Federal no RE 228.955: “O dispositivo contido na parte final do § 3º do art. 109 da Constituição é dirigido ao legislador ordinário, autorizan- do-o a atribuir competência (rectius jurisdi- ção) ao Juízo Estadual do foro do domicílio 24 RE 127489, Relator Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, julgado em 25/11/1997, DJ 06/03/1998. 176 da outra parte ou do lugar do ato ou fato que deu origem à demanda, desde que não seja sede de Varas da Justiça Federal, para causas específicas dentre as previstas no inciso I do referido artigo 109”25. A partir desse precedente da Corte Constitu- cional, o Superior Tribunal de Justiça cance- lou a Súmula 183 – que previa competir ao “juiz estadual, nas comarcas que não sejam sede de vara da Justiça Federal, processar e julgar ação civil pública, ainda que a União figure no processo” –, haja vista a ausência de previsão expressa na Lei n. 7.437/85. É importante lembrar que o Superior Tribu- nal de Justiça fixou o entendimento de que “a competência federal delegada para processar a ação de execução fiscal (art. 15, inciso I, da Lei n. 5.010/66) se es- tende também para a oposição do execu- tado, seja ela promovida por embargos, seja por ação declaratória da inexistên- cia da obrigação ou desconstitutiva do título executivo”26. D) A assertiva está correta. A Constitui- ção garante aos magistrados a prerroga- tiva de inamovibilidade (art. 95, inciso II). Os magistrados não podem removi- dos contra a sua vontade, a não ser em caso de interesse público, por decisão tomada pelo voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada a am- pla defesa, nos termos do art. 93, inciso VIII. E) Uma das garantias de que gozam os juí- zes é a vitaliciedade, que, no primeiro grau, só é adquirida após dois anos de exercício. Essa garantia significa que os juízes somen- te perderão o cargo por sentença judicial 25 RE 228955, Relator Ministro Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, julgado em 10/02/2000, DJ 24/03/2001. 26 AgRg no CC 96.308/SP, Rel. Ministro Humberto Martins, Primeira Seção, julgado em 14/04/2010, DJe 20/04/2010. Precedentes citados: CC 98.090/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, DJe 4.5.2009; CC 95.840/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 6.10.2008; CC 89267/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJ 10.12.2007. transitada em julgado (art. 95 da CF). Essa regra é excepcionada no caso dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que podem sofrer impeachment (por crime de responsa- bilidade) em processo julgado pelo Senado Federal (art. 52, inciso II, da CF). RESPOSTA: D 9) Relativamente à disciplina constitucional sobre a administração pública, o MP e a AGU, assinale a opção correta. A) Segundo decisão liminar exarada pelo STF, permanece em vigor a redação original do dispositivo da CF que consagra o regime jurídico único no âmbito da administração direta,das autarquias e das fundações, tanto na esfera federal como estadual e municipal. B) Conforme a CF, o MPU compreende o MP Militar, o MP do Trabalho, o MP Militar e o MP Eleitoral, todos dotados de estrutura própria. C) Ao MP é assegurada autonomia funcional e administrativa, mas não financeira, pois a elaboração de sua proposta orçamentária é realizada pelo Poder Executivo. D) A AGU é instituição chefiada pelo advoga- do-geral da União, cargo de livre nomeação pelo presidente da República, entre os mem- bros da carreira da advocacia da União. E) As funções de confiança e os cargos em co- missão, no âmbito da administração pública direta, só podem ser exercidos por servidores ocupantes de cargo efetivo. COMENTÁRIO A) Esta é a assertiva correta. De fato, a reda- ção originária do art. 39 da CF, que consagra o regime jurídico único dos servidores da administração pública direta, das autarquias e das fundações públicas, permanece em vigor por força de decisão liminar proferi- da pelo Supremo Tribunal Federal na ADI 2.135-427 suspendendo a eficácia do caput do dispositivo na redação dada pela Emenda Constitucional n. 19/98. 27 ADI 2135 MC, Relator Ministro Néri da Silveira, Relator p/ Acórdão Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 02/08/2007, DJe-041 PUBLIC 07/03/2008. 177 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS Observe-se que a decisão tem efeitos ex nunc, de modo que subsiste a validade dos atos anteriormente praticados com base em legislações eventualmente editadas durante a vigência do dispositivo suspenso. B) Conforme o art. 128 da CF, o Ministério Público da União compreende o Ministério Público Federal (não referido na assertiva), o Ministério Público do Trabalho, o Minis- tério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. C) Além da autonomia funcional e adminis- trativa (art. 127, § 2º, da CF), é assegurada ao Ministério Público a autonomia financei- ra, competindo-lhe elaborar sua proposta or- çamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias (art. 127, § 3º, da CF). D) Ser membro da carreira da advocacia da União não é um dos requisitos para ser nomeado ao cargo de Advogado-Geral da União. Nos termos do § 1º do art. 131 da CF: “A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nome- ação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada”. E) As funções de confiança, e não os car- gos em comissão, é que são privativas dos servidores ocupantes de cargo efetivo. Os cargos em comissão podem ser exercidos por pessoas estranhas à Administração. Vale registrar que a investidura em cargo ou em- prego público depende de prévia aprovação em concurso público de provas e de provas e títulos, mas a Constituição ressalva as no- meações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração (art. 37, inciso II, da CF). E, conforme dicção do inciso V do art. 37 da CF, “as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condi- ções e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de dire- ção, chefia e assessoramento”. RESPOSTA: A 10) Tendo em vista os direitos de nacionali- dade, os direitos políticos, o estado de defesa e o estado de sítio, assinale a opção correta. A) São requisitos para elegibilidade, entre outros, o alistamento eleitoral e o domicílio eleitoral na circunscrição em que o indivíduo pretenda candidatar-se. B) Os estrangeiros de qualquer nacionalidade somente poderão requerer a nacionalidade brasileira se residirem na República Federati- va do Brasil há mais de trinta anos ininterrup- tos e não tiverem condenação penal. C) O estado de sítio, medida excepcional, somente pode ser decretado nos casos de declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada estrangeira. D) O indivíduo que sofrer condenação penal transitada em julgado terá seus direitos políticos suspensos, mas apenas no caso de crimes dolosos, não no de crimes culposos e contravenções penais. E) O presidente da República pode decretar, com a finalidade de preservar a ordem pública ameaçada por grave instabilidade institucio- nal, estado de defesa em locais determinados, dependendo, para isso, de autorização do Congresso Nacional. COMENTÁRIO A) Esta é a assertiva correta. Segundo o art. 14º, § 3º, da CF, são condições de elegibi- lidade, entre outras, o alistamento eleitoral (inciso III) e o domicílio eleitoral na circuns- crição em que o indivíduo pretenda se can- didatar (inciso IV). As outras condições são a nacionalidade brasileira (inciso I); o pleno exercício dos di- reitos políticos (inciso II); a filiação partidá- ria (inciso V); e a idade mínima de 35 anos para Presidente e Vice-Presidente da Repú- blica e Senador, 30 anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, 21 anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, 178 Vice-Prefeito e juiz de paz, e 18 anos para Vereador, lembrando que os inalistáveis e os analfabetos são inelegíveis (art. 14, § 4º, da CF). B) Os requisitos para que os estrangeiros de qualquer nacionalidade requeiram a nacio- nalidade brasileira são residir no Brasil há mais de quinze (e não trinta) anos ininterrup- tos e não ter condenação criminal (art. 12, inciso II, alínea b, da CF). C) Além das hipóteses de declaração de es- tado de guerra ou resposta à agressão arma- da estrangeira, o estado de sítio pode ser de- cretado em caso de comoção grave de reper- cussão nacional ou ocorrência de fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa (art. 137 da CF). D) A Constituição não faz distinção entre crime doloso ou culposo, estabelecendo que os direitos políticos serão suspensos, entre outros, “nos casos de condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos” (art. 15, inciso III, da CF). A jurisprudência do Tribunal Superior Eleito- ral é no sentido de que o art. 15, inciso III, da CF determina a suspensão dos direitos políticos pelo tempo que durar a pena, in- dependentemente da natureza do crime e da pena, abrangendo os crimes culposos28 e, inclusive, as contravenções penais29. E o Supremo Tribunal Federal tem precedente entendendo que “a suspensão dos direitos políticos se dá ainda quando, com referência ao condenado por sentença criminal transita- da em julgado, esteja em curso o período de suspensão condicional da pena”30. Impende lembrar o Supremo Tribunal Federal reco- 28 RMS 252/SP, Relator Ministro Luiz Carlos Lopes Madeira, DJ 16/05/2003; Respe 13027/SC, Relator Ministro Nilson Vital Naves, Publicado em Sessão, em 18/09/1996. 29 Cf. REspe 13.293/MG, Relator Ministro Eduardo Andrade Ribeiro de Oliveira, Publicado em Sessão, em 07/11/1996; Agr-Respe 30218/ MG, Relator Ministro Arnaldo Versiani Leite Soares, Publicado em Sessão, em 09/10/2008. 30 RE 179502, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 31/05/1995, DJ 08/09/1995. No mesmo sentido, RE 577012 AgR, Relator Ministro Ricardo Lewandowski, Primeira Turma, julgado em 09/11/2010, DJe-056 PUBLIC 25/03/2011. nheceu a existência de repercussão geral no RE 601.182, em que se discute a suspensão dos direitos políticos de condenado à pena privativa de liberdade substituída por pena restritiva de direitos, mas a questão está pendente de julgamento. Diante disso, é re- comendável que o candidato acompanhe o andamento do processo. E) A autorização do Congresso Nacional é requisito prévio para a decretação do estado de sítio pelo Presidenteda República (art. 137 da CF), mas não o é para a decretação do estado de defesa (art. 136). Primeiro o Presidente da República decreta o estado de defesa, e, depois, dentro do prazo de vinte quatro horas, submete o ato ao Congresso Nacional, que, dentro do prazo de dez dias contados de seu recebimento, apreciará o decreto e decidirá por maioria absoluta (art. 136, §§ 4º e 6º, da CF). Se rejeitá-lo, o estado de defesa cessa imediatamente (art. 136, § 7º, da CF). RESPOSTA: A TRF - 2ª Região 1) De acordo com o disposto na CF sobre o Poder Judiciário, assinale a opção correta. A) Compete à justiça militar processar e julgar, singularmente, os militares das forças estaduais nos crimes militares definidos em lei, bem como julgar as ações judiciais contra atos disciplinares militares, sendo da compe- tência dos juízes federais processar e julgar os crimes militares cometidos contra civis. B) O STF é o órgão competente para proces- sar e julgar as causas fundadas nas relações internacionais e as relativas à tutela da nacionalidade. C) Compete aos tribunais regionais federais processar e julgar os juízes federais e os desembargadores dos tribunais de justiça es- taduais da área de sua jurisdição, nos crimes comuns e de responsabilidade. D) Em razão da chamada quarentena, os ex- -ocupantes de cargos na magistratura estão impedidos de exercer atividade advocatícia perante qualquer juízo ou tribunal até que 179 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS decorram três anos do afastamento por apo- sentadoria ou exoneração. E) Causas que envolvam grave violação de direitos humanos podem ser transferidas para a justiça federal, mediante incidente de deslocamento de competência suscitado pelo procurador-geral da República, em qualquer fase do inquérito ou processo. COMENTÁRIO A) A Constituição Federal distingue entre a Justiça Militar Federal (arts. 122 a 124) e a Justiça Militar Estadual (art. 125, §§ 3º, 4º e 5º). A assertiva se refere aos militares da forças armadas estaduais e, portanto, remete aos §§ 4º e 5º do art. 125 da CF: “Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, ob- servados os princípios estabelecidos nesta Constituição. (…) § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os mili- tares dos Estados, nos crimes militares defi- nidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a compe- tência do júri quando a vítima for civil, ca- bendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares mi- litares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). Valendo-se do resumo de Pedro Lenza31 acerca da competência da Justiça Militar Estadual, pode-se dizer que: (a) a Justiça Mi- litar dos Estados não julga civil (ao contrário da Justiça Militar da União, que, além dos militares das Forças Armadas, também jul- ga civis em determinados casos); (b) crime militar definido em lei praticado por militar estadual contra militar é julgado Conselho de Justiça Especial ou Permanente; (c) crime 31 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 15. ed., rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 691. militar definido em lei praticado por militar estadual contra civil é julgado por juiz de direito do juízo militar, singularmente (art. 125, § 5º, da CF), e não pelo Conselho, res- salvada a competência do júri popular; (d) crime doloso contra a vida praticado por mi- litar contra militar é julgado pelo Conselho de Justiça, presidido pelo juiz de direito do juízo militar; e (e) ações judiciais contra atos disciplinares militares são julgadas por juiz de direito do juízo militar, singularmente (a Justiça Militar da União não tem competên- cia para julgar matéria civil ou disciplinar). B) As hipóteses definidoras da competência originária do Supremo Tribunal Federal es- tão previstas, taxativamente, no art. 102, in- ciso I, da CF, em cujo rol não se encontram as causas fundadas nas relações internacio- nais e nem as relativas à tutela da naciona- lidade. Este é o entendimento fixado pelo Supremo Tribunal Federal: “… A COMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - CUJOS FUNDAMENTOS REPOUSAM NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA - SUBMETE-SE A REGIME DE DIREITO ESTRITO. - A competência originária do Supremo Tribunal Federal, por qualificar-se como um complexo de atribuições jurisdi- cionais de extração essencialmente consti- tucional - e ante o regime de direito estrito a que se acha submetida - não comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados, em nu- merus clausus, pelo rol exaustivo inscrito no art. 102, I, da Constituição da República”32. C) Efetivamente compete aos Tribunais Regionais Federal processar julgar, origina- riamente, os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade (art. 108, inciso I, alínea a, da CF). No entanto compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, originariamente, 32 Pet 1738 AgR, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 01/09/1999, DJ 01/10/1999. 180 os desembargadores dos Tribunais de Jus- tiça dos Estados e do Distrito Federal, nos crimes comuns e de responsabilidade (art. 105, inciso I, alínea a, da CF). D) Aos juízes é vedado exercer a advoca- cia no juízo ou tribunal do qual se afastou (e não qualquer juízo ou tribunal), antes de decorridos três anos do afastamento do car- go por aposentadoria ou exoneração (art. 95, parágrafo único, inciso V, da CF). E) A assertiva reflete o disposto no art. 109, § 5º, da CF: “Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá susci- tar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emen- da Constitucional nº 45, de 2004)”. RESPOSTA: E 2) Assinale a opção correta acerca do pro- cesso legislativo, das competências e do funcionamento do Congresso Nacional. A) É competência exclusiva do Congresso Nacional aprovar previamente, por voto se- creto, a escolha de magistrados, nos casos estabelecidos no texto constitucional, bem como processar e julgar os ministros do STF e os membros do Conselho Nacional de Justiça nos crimes de responsabilidade. B) O presidente do STF tem competência para solicitar a convocação extraordinária do Congresso Nacional a fim de discutir ma- térias relativas à organização administrativa e judiciária dos órgãos do Poder Judiciário. C) É expressamente vedada a edição de medida provisória sobre matéria relativa à organização do Poder Judiciário e do MP, à carreira e à garantia de seus membros. D) O decreto legislativo é o instrumento nor- mativo por meio do qual são disciplinadas as matérias de competência privativa da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. E) O tratado sobre direitos humanos aprova- do, em cada Casa do Congresso Nacional, por dois terços dos votos de seus respectivos membros equivale a emenda constitucional e dispõe de força executória a partir da edição do decreto legislativo que promulgue o seu texto. COMENTÁRIO A) Compete privativamente ao SenadoFe- deral (e não ao Congresso Nacional) apro- var previamente, por voto secreto, após ar- guição pública, a escolha de magistrados, nos casos estabelecidos na Constituição (art. 52, inciso III, alínea a, da CF), bem como processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os membros do Conselho Nacional de Justiça nos crimes de responsa- bilidade (art. 52, inciso II, da CF). B) As hipóteses de convocação extraordi- nária do Congresso Nacional, que são bem restritas, estão previstas no § 6º do art. 57 da CF, cujo inciso II estabelece que o Pre- sidente da República tem competência para fazê-lo em caso de urgência ou interesse pú- blico relevante, sempre com a aprovação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional. Além disso, uma das garantias institucionais do Poder Judiciário é a autonomia orgânico-administrativa, que compreende a independência na estrutura- ção e funcionamento de seus órgãos33 (art. 96 da CF). C) O art. 62, § 1º, inciso I, alínea c, da CF veda, expressamente, a edição de medida provisória sobre matéria relativa à organi- zação do Poder Judiciário e do Ministério Público, à carreira e à garantia de seus mem- bros. Portanto esta é a alternativa correta. D) O decreto legislativo é o instrumento nor- mativo por meio do qual são disciplinadas as matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional, enumeradas no art. 49 33 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 34. ed., rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 590-59144-45. 181 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS da CF. É também por meio de decreto legis- lativo que o Congresso Nacional disciplina as relações jurídicas decorrentes de medidas provisórias não convertidas em lei (art. 62, § 3º, da CF). E) Os tratados sobre direitos humanos equivalerão às emendas constitucionais se aprovados, em cada casa do Congresso Na- cional, em dois turnos, por três quintos (não dois terços) dos votos dos respectivos mem- bros (art. 5º, § 3º, da CF). Os tratados e con- venções internacionais somente adquirem força executória na ordem jurídica interna depois da promulgação de seu texto median- te decreto do Presidente da República (e não decreto legislativo, ato normativo de compe- tência do Congresso Nacional), seguido da publicação em português no Diário Oficial. O Congresso Nacional aprova os tratados internacionais por decreto legislativo (art. 49, inciso I, da CF), autorizando o Presiden- te da República a ratifica-los; e o Presidente da República promulga o texto por meio de decreto, incorporando o ato internacional ao direito positivo interno, dando-lhe publici- dade e lhe conferindo força executória. Na ADI 1.480 MC34, o Supremo Tribunal Federal examinou o processo de incorpo- ração dos tratados, acordos ou atos inter- nacionais. Da ementa, colhe-se o seguinte excerto: “O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua incorpo- ração à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ato sub- jetivamente complexo, resultante da conju- gação de duas vontades homogêneas: a do Congresso Nacional, que resolve, definiti- vamente, mediante decreto legislativo, so- bre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da Repú- blica, que, além de poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da competência para promulgá-los 34 ADI 1480 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 04/09/1997, DJ 18/05/2001. mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados internacionais - superadas as fases prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação congressional e da ratificação pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo Presidente da República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe são inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto; e (c) a executoriedade do ato interna- cional, que passa, então, e somente então, a vincular e a obrigar no plano do direito po- sitivo interno”. RESPOSTA: C 3) No que se refere ao controle incidental de constitucionalidade, à ação direta de inconsti- tucionalidade (genérica e por omissão), à ação declaratória de constitucionalidade e à arguição de descumprimento de preceito fundamental, assinale a opção correta. A) Uma vez admitida, pelo STF, a ação declarató- ria de constitucionalidade, a autoridade respon- sável pela criação da lei ou do ato normativo e o advogado-geral da União deverão ser citados para se pronunciarem sobre o objeto da ação. B) A ação direta de inconstitucionalidade por omissão tem como objeto omissão administra- tiva que afete a efetividade da CF ou omissão legislativa de órgãos legislativos federais, mas não estaduais, em face da CF. C) Cabe arguição de descumprimento de pre- ceito fundamental contra lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluindo-se os anteriores à CF; nesse sentido, pode-se dizer que tal arguição é cabível mesmo contra leis préconstitucionais. D) No controle incidental ou concreto, a ques- tão de constitucionalidade somente pode ser suscitada pelas partes da relação processual. E) Podem ser objeto de ação direta de inconsti- tucionalidade, além de leis de todas as formas e conteúdos, decretos legislativos, decretos autônomos e decretos editados com força de lei pelo Poder Executivo, resoluções do Tribunal Superior Eleitoral e medidas provisórias, mas não resoluções ou deliberações administrativas de tribunais, que não são consideradas atos normativos primários. 182 COMENTÁRIO A) A Constituição determina que o Advo- gado-Geral da União seja citado quando o Supremo Tribunal Federal apreciar a incons- titucionalidade, em tese, de norma legal ou ato normativo (art. 103, § 3º). Pela dicção do dispositivo constitucional, o Advogado- -Geral da União é citado para defender o ato normativo ou texto impugnado. Como na ação declaratória de constitucionalidade o que se afirma é a compatibilidade consti- tucional da norma legal ou ato normativo, não há por que citar o Advogado-Geral da União. Nas palavras do Ministro Moreira Alves no julgamento da ADC 1: “No pro- cesso da ação declaratória de constituciona- lidade, por visar à preservação da presunção de constitucionalidade do ato normativo que é seu objeto, não há razão para que o Ad- vogado-Geral da União atue como curador dessa mesma presunção”. Seguindo a mesma lógica, a Lei n. 9.868/99 estabelece que o relator da ação direta de in- constitucionalidade pedirá informações aos órgãos ou às autoridades das quais emanou a lei ou o ato normativo impugnado (art. 6º) e que, decorrido o prazo das informações, se- rão ouvidos, sucessivamente, o Advogado- -Geral da União e o Procurador-Geral da República (art. 8º). Já na ação declaratória de constitucionalidade, a Lei n. 9.868/99 exige apenas o pronunciamento do Procura- dor-Geral da República (art. 19). No que toca à função do Advogado-Geral da União nas ações diretas de inconstitucionali- dade, é interessante atentar para a evolução da jurisprudência do Supremo Tribunal Fe- deral ao longo do tempo. Inicialmente, a Cor- te Constitucional decidiu que o Advogado- -Geral da União deveria, obrigatoriamente, defender o ato normativo, não lhe cabendo “admitir a invalidez da norma impugnada”, pois atua como curador especial do princípio da presunção da constitucionalidade das leis e atos normativos (ADI 72 QO35). Na ADI 1.616, o Supremo Tribunal Federal passou a 35 ADI 72 QO, Relator Ministro Sepúlveda Pertence, Tribunal Pleno, julgado em 22/03/1990, DJ 25/05/1990. considerarque o Advogado-Geral da União “não está obrigado a defender tese jurídica se sobre ela esta Corte já fixou entendimen- to pela sua inconstitucionalidade”36. Final- mente, na ADI 3.91637, o Supremo Tribu- nal Federal optou por “uma interpretação sistêmica, que concede ao Advogado-Geral da União um direito de manifestação”, sem “obrigatoriedade de fazer a defesa do ato im- pugnado” 38, até porque a Constituição não prevê qualquer tipo de sanção caso ele não o faça. B) O art. 103, § 2º, da CF estabelece que, declarada a inconstitucionalidade por omis- são de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão ad- ministrativo, para fazê-lo em trinta dias. O art. 12-B da Lei n. 9.868/99 (incluído pela Lei n. 12.063/09), por sua vez, dispõe que a petição inicial deve indicar a omissão total ou parcial quanto ao cumprimento de dever constitucional de legislar ou quanto à ado- ção de providência de índole administrativa. Já o art. 102, inciso I, alínea a, da CF confere ao Supremo Tribunal Federal a competência para processar e julgar, originariamente, a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ano normativo federal ou estadual. Depreende-se daí que a ação direta de in- constitucionalidade por omissão tem como objeto tanto a omissão administrativa como a omissão legislativa, seja esta de órgãos legislativos federais, seja de órgãos legisla- tivos estaduais. Defendendo a competência do Supremo Tribunal Federal para apreciar inconstitu- cionalidade por omissão de órgão estaduais, Gilmar Ferreira Mendes leciona: “O texto constitucional outorgou ao Supremo Tribu- nal Federal a competência para julgar a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato 36 ADI 1616, Relator Ministro Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, julgado em 24/05/2001, DJ 24/08/2001. 37 ADI 3916, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2010, DJe-086 PUBLIC 14/05/2010. 38 Trecho do voto do Ministro Gilmar Mendes. 183 QUESTÕES PARA A MAGISTRATURA FEDERAL coMEnTADAS normativo federal ou estadual (art. 102, I, a). A função de guardião da Constituição que lhe foi deferida e a ideia subjacente a inúme- ros institutos de controle, viando concentrar a competência das questões constitucionais na Excelsa Corte, parecem favorecer enten- dimento que estende ao Supremo Tribunal Federal a competência para conhecer de eventuais omissões de órgãos legislativos estaduais em face da Constituição Federal no âmbito dessa peculiar ação direta”39. Essa questão ainda não foi examinada pelo Supremo Tribunal Federal, mas a ADO 740 – cujo objeto era a suposta inconstituciona- lidade por omissão da Lei n. 3.045/06, do Estado do Amazonas, de autoria do Presi- dente do Tribunal de Justiça e aprovada pela Assembleia Legislativa do referido Estado – foi extinta por decisão monocrática da Re- latora, Ministra Cármen Lúcia, em virtude da perda do superveniente do objeto oca- sionada pela edição de norma que supriu a alegada inconstitucionalidade por omissão, e não por eventual incompetência da Corte ou porque não cabível a ação. C) A arguição de descumprimento de pre- ceito fundamental tem por objeto “evitar ou reparar lesão a preceito fundamental, resul- tante de ato do Poder Público” (art. 1º da Lei n. 9.882/99), e é cabível, também, “quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição” (art. 1º, parágrafo único, inciso II, da Lei n. 9.882/99). Há pre- visão legal expressa, portanto, do cabimento da arguição de descumprimento de preceito fundamental contra leis pré-constitucionais. Assim, a assertiva está correta. D) No controle incidental ou concreto, a questão da constitucionalidade pode ser sus- citada pelas partes ou pelo Ministério Públi- 39 MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 1292. 40 ADO 7, Relatora Ministra Cármen Lúcia, julgado em 29/06/2010, publicado em DJe-141 PUBLIC 02/08/2010. co e deve ser conhecida de ofício pelo juiz ou tribunal, este observando a cláusula de reserva de plenário para o caso de declara- ção de inconstitucionalidade (art. 97 da CF). E) De acordo com o art. 102, inciso I, alínea a, da CF, são objeto da ação direta de in- constitucionalidade lei ou ato normativo fe- deral ou estadual, o que abrange as espécies normativas enumeradas no art. 59 da CF (emendas à Constituição, leis complemen- tares, leis delegadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções) e todos os atos de conteúdo normativo, ou seja, os revestidos de abstração, generalidade, au- tonomia jurídica, impessoalidade e eficácia vinculante41. Assim, o conceito de ato nor- mativo engloba, entre outros, decretos autô- nomos42 e decretos editados com força de lei pelo Poder Executivo, extravasando o poder regulamentar43, resoluções do Tribunal Su- perior Eleitoral44 e, também, resoluções45 ou deliberações administrativas de tribunais46, desde que presentes aquelas características. É importante lembrar que o Supremo Tribu- nal Federal, na ADI 4.048 MC47, reviu sua jurisprudência quanto ao não cabimento de ação direita de inconstitucionalidade contra atos estatais de efeitos concretos, passando admitir o controle abstrato da constitucio- nalidade de leis de todas as formas e con- teúdos, independentemente do caráter geral ou específico, concreto ou abstrato de seu objeto: “… CONTROLE ABSTRATO DE CONSTITUCIONALIDADE DE NOR- 41 ADI 2321 MC, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2000, DJ 10/06/2005. 42 ADI 1969 MC, Relator Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/1999, DJ 05/03/2004. 43 ADI 1553, Relator Ministro Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 13/05/2004, DJ 17/09/2004. 44 ADI 3345, Relator Ministro Celso de Mello, Tribunal Pleno, julgado em 25/08/2005, DJe-154 PUBLIC 20/08/2010. 45 ADI 1787 MC, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 26/02/1998, DJ 03/04/1998; ADI 662, Relator Ministro Eros Grau, Tribunal Pleno, julgado em 22/06/2006, DJ 10/11/2006. 46 ADI 1352 MC, Relator Ministro Moreira Alves, Tribunal Pleno, julgado em 05/10/1995, DJ 18/05/2001; ADI 4108 MC-REF, Relatora Ministra Ellen Gracie, Tribunal Pleno, julgado em 02/02/2009, DJe- 043 PUBLIC 06/03/2009. 47 ADI 4048 MC, Relator Ministro Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, julgado em 14/05/2008, DJe-157 PUBLIC 22/08/2008. 184 MAS ORÇAMENTÁRIAS. REVISÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O Supremo Tribunal Federal deve exercer sua função precípua de fiscalização da constitucionalidade das leis e dos atos normativos quando houver um tema ou uma controvérsia constitucional susci- tada em abstrato, independente do caráter geral ou específico, concreto ou abstrato de seu objeto. Possibilidade de submissão das normas orçamentárias ao controle abstrato de constitucionalidade”. No mesmo senti- do, decidiu o Supremo Tribunal Federal na ADI 4.049 MC48: “… 1. A lei não precisa de densidade normativa para se expor ao con- trole abstrato de constitucionalidade, devido a que se trata de ato de aplicação primária da Constituição. Para esse tipo de controle, exige-se densidade normativa apenas para o ato de natureza infralegal”. Nas duas ações, o objeto é constituído por medida provisória que abre crédito extraordinário. Em suma, entende o Supremo Tribunal Fe- deral que, se editado sob a forma de lei em sentido formal (ato normativo primário, as- sim considerados os enumerados no art. 59 da CF), o ato estatal de efeito concreto pode ser objeto da ação direta de inconstituciona- lidade. RESPOSTA: E 4) A respeito do que dispõe a CF sobre
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