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DIREITO CIVIL ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DO DIREITO CIVIL, PESSOA NATURAL Livro Eletrônico 2 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural .................................................3 1. Introdução ..................................................................................................................3 2. Pessoa Natural ......................................................................................................... 18 Resumo ....................................................................................................................... 50 Questões de Concurso ..................................................................................................55 Gabarito .......................................................................................................................62 Gabarito Comentado .....................................................................................................63 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 3 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL ASPECTOS INTRODUTÓRIOS DO DIREITO CIVIL, PESSOA NATURAL 1. Introdução Olá pessoal, tudo bem com vocês? Vamos iniciar nossa primeira aula? Empolgação total, hein?! Quero começar hoje, nessa introdução, conversando sobre alguns pontos iniciais que irão facilitar a compreensão de temas que serão abordados futuramente. Bom, para iniciar, você lembra que o Código Civil que vamos estudar entrou em vigência no ano de 2003? Pois é, o Código Civil anterior era de 1916, o qual chamo carinhosamente de Código de Bebé. (Clóvis Bevilaqua, olha ele aqui...) Esse Código, revogado, era composto por um sistema extremamente cuidadoso com questões patrimoniais. Algumas figuras específicas eram a “preocupação” desse diploma, dentre elas: • o homem – que tomava as decisões nas relações familiares, fixava domicílio conjugal, autorizava a esposa a trabalhar, administrando-lhe o salário, detinha o pátrio poder (isso mesmo, pátrio poder!) sob os filhos, entre outros...; • o testador – que nas relações sucessórias poderia dispor livremente e da forma que melhor lhe aprouvesse os seus bens; • os contratantes – que poderiam contratar da forma que melhor lhe conviessem e sem possibilidade de revisão contratual (salvo a questão do fortuito ou força maior, não existia teoria da imprevisão); • os proprietários – que poderiam utilizar a propriedade da maneira que pretendia sem preocupação com viés social. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 4 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Hoje tais figuras ainda existem, mas estão alinhadas com ditames constitucionais, mais precisamente a Dignidade da Pessoa Humana. Mas, professora, como isso aconteceu? Talvez, por essa nossa conversa, você pense que foi uma transição rápida. Porém, foi algo paulatino, bem devagar, que acompanhou todo o movimento histórico e político do país e do mundo. Não foi algo tão simples, decorreu de muitos movimentos que aconteceram ainda na vi- gência do “Código de Bebé” (1916 a 2003). Resumindo: durante uma boa parte desse momento tínhamos uma relação entre o direito público e direito privado marcada por uma verdadeira dicotomia, ou seja, um não se relacio- nava com o outro. O direito público era pensado para reger as relações, tão somente, de direito público, ou seja, as relações do Estado. Estavam em sentido totalmente opostos e não se comunicavam. Por sua vez, o direito privado, para reger as relações privadas, dos particulares, somente. Tal dicotomia refere-se à chamada summa divisio clássica. Hoje, decorrente dos movimentos de preocupação com a pessoa humana e não mais com o patrimônio, é que, atualmente, verifica-se a existência de uma summa divisio constituciona- lizada que se expressa na aproximação do direito público com o direito privado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 5 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Contudo, é importante que você saiba que nosso Código Civil não é tão novo assim. Sua redação começou na década de 70 e, lembre-se que o Brasil vivia, à época, a ditadura militar. Neste mesmo período, iniciou-se a elaboração do projeto do Código Civil de 2002, ou seja, nosso atual sistema foi pensado, redigido e elaborado em regime militar. Esse projeto tramitou no legislativo e, após emendas, foi promulgado e publicado em 2002. Então, você já sabe que o Código Civil de 2002 não é de 2002. Na verdade, esse Código já nasceu idoso, velho, e, até mesmo, um pouco desatualizado. Por conta disso, é que, hoje, nos deparamos com alguns dispositivos que não estão de acordo com a nossa realidade. A exemplo disso, podemos mencionar a declaração do STF sobre a inconstitucionalidade artigo 1.790 do Código Civil que tratava a sucessão do companheiro de maneira detrimentosa em relação à sucessão do cônjuge, tradada pelo artigo 1.829 do mesmo Código.1 Mas isso é só para ilustrar, vamos estudar na parte de sucessões. Professora, como assim década de 70? demorou muito... Pois é, eu também achei bastante demorado, mas desde o período dos anos 70, até che- garmos efetivamente na publicação do nosso Código Civil de 2002, o qual teve o período de vacatio legis de um ano, houve diversas alterações, reformas e emendas nas Casas Legisla- tivas até sua aprovação. O NCC passou então a ter vigência em 2003, olha só esse print do do finalzinho da lei: 1 Vide Recurso Extraordinário n. 646.721 e Recurso Extraordinário n. 878.694. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 6 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Assim, hoje, a preocupação do momento é a dignidade da pessoa humana – essa é a res- ponsável pela forma de estrutura do atual sistema civil. É a responsável pela aproximação do direito público e do direito privado. No “mundo privado”, verifica-se, portanto, uma humanização do Direito Civil, uma consti- tucionalização do Direito Civil. Segundo o professor Cristiano Chaves de Farias2, temos uma consciência das transfor- mações do direito, que evolui a cada dia, concomitantemente, à evolução da sociedade. Ve- rifica-se, além da releitura dos institutos já mencionados, a partir da dignidade humana, o compromisso ético que conduz a uma sociedade justa e digna. HUMANIZAÇÃO DO DIREITO CIVIL consciência das transformações + releitura dos institutos + compromisso ético = SOCIEDADE MAIS JUSTA E DIGNA fundamentos e princípios básicos da república saem do papel Assim, observe que, embora o nosso Código Civil realmente tenha sido um Código quejá nasceu velho e desatualizado em muitas passagens, inadequado ao momento em que nós vivemos, já é um rompimento muito grande no sentido de que nós temos institutos novos que configuram uma nova jornada no Direito Civil. É essa jornada que eu convido vocês a percorrer comigo a partir de agora, dentro do Direito Civil que vamos estudar, sempre com o pensamento voltado ao moderno, às evoluções sociais... Onde a sua leitura encontrar um instituto inadequado ao momento, eu peço a você que releia já de acordo com o ordenamento jurídico que a gente tem hoje, sempre observando a dignidade da pessoa humana, que é o pilar, o baldrame de sustentação do Direito Civil moder- no, constitucionalizado. Peço licença a você para citar mais um trecho do professor Cristiano Chaves: Velhos institutos cedem espaço para novos valores, trazidos pela brisa segura e agradável do mo- delo social estabelecido pela Constituição [...] essa é a travessia que se inicia, afirmando a nova era de respeito ao homem e estímulo à cidadania. O céu é ‘de brigadeiro’. Boa viagem a todos nós. 2 Chaves de Farias, Cristiano. Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB. 18ª ed. rev. atual. amp. Editora JusPodivm. 2020 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 7 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Professora, você citou sobre baldrame de sustentação do Direito Civil moderno. Então... quais são? Ah, sim... Então, são princípios implícitos, automáticos, no ordenamento jurídico civilista, previstos no Direito Civil de ponta a ponta. Decorrem, inclusive, da aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas. Lembra da Dignidade da Pessoa Humana? Dentro do Direito Civil, um grande mandamento é a dignidade da pessoa humana, que é a verdadeira essência do que nós temos hoje de Direito Civil constitucionalizado, certo? Nós temos, assim, três princípios que regem o nosso Direito Civil moderno, contemporâ- neo, constitucionalizado, humanizado... PRINCÍPIO DA ETICIDADE O princípio da eticidade impõe a ética, a probidade nas relações privadas, a boa-fé. Engana-se quem pensa que probidade é tema exclusivo do Direito Administrativo. Não! Probidade é tema do Direito Civil também! E, assim, a eticidade está a impor a boa-fé objetiva em todo o direito civil. Ah, Roberta, mas, na parte de contratos, ela está lá, expressa no Código Civil! Sim! Mas, mesmo não expressa em áreas como a de alimentos, regime de bens, obrigações, posse, proprie- dade, direitos reais, vizinhança, sucessão... está, implicitamente, presente em tudo, porque a principiologia civilista impõe, hoje, a boa-fé objetiva em tudo! Ué, temos duas formas de boa-fé? Sim, sim. Temos dois tipos de boa-fé: a subjetiva e a objetiva. A subjetiva tem a ver com a intenção, com o que está interiorizado na mente do sujeito. A objetiva, por sua vez, é aquele padrão comportamental ético exigido nas condutas dos sujeitos. Então, principiologia relacionada à boa-fé é a boa-fé objetiva. Ah, Roberta, isso quer dizer que a boa-fé subjetiva não é levada em consideração? É levada em consideração sim, mas em situações bem pontuais. Um exemplo no qual você pode levar em con- sideração a boa-fé subjetiva é no campo da posse, por exemplo. O que é possuidor de boa-fé? É aquele que ignora o vício ou tem justo título, que faz presumir a boa-fé, não é? Então, lá, quando você leva em consideração que a pessoa ignora o vício, está tratando da boa-fé em sua vertente subjetiva. Mas quando falo em padrão comportamental, principiologia, estou me referindo à boa-fé objetiva. Aliás, o rompimento da boa-fé objetiva, quando você está exercendo um direito seu, é causa de abuso do direito e o artigo 187 do CC, enquanto aplicador da teoria do abuso do direito, enseja uma responsabilidade civil obje- tiva. Mas caaalma, não se preocupe, pois vamos falar desse artigo com calma mais adiante. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 8 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL PRINCÍPIO DA SOCIALIDADE Por meio desse princípio, nós temos uma transcendência do egoísmo, da preocupação individualizada, para uma preocupação com o coletivo. O princípio da socialidade não impõe socialismo, não tem nada a ver. Na verdade, esse princípio impõe uma preocupação com o coletivo. A gente sai daquela esfera de egoísmo, de preocupação com patrimônio, de “eu posso fazer o que eu quiser enquanto eu sou proprietário”, “eu sou con- tratante e posso usar do contrato como forma de esmagamento social”... a ideia não é mais essa! Já foi (lá no Código de Bebé)! Na verdade, a socialidade tem a ver com a função social. E nós falamos em “função social” de uma maneira geral! É inerente ao Direito Civil falar em função social da propriedade, função social do contrato... Ok prof., mas o que vem a ser a função social da propriedade? Ah, sim, significa dar à propriedade uma destinação, sem ficar sobressaindo o seu interesse individual. Então, no âmbito urbano, por exemplo, dar a função social à propriedade significa cumprimento do plano diretor. Tanto é verdade isso, que ocorre punição pelo descumprimento da função social, por meio do fenômeno da desapropriação, que, além de estar na própria Constituição Federal, é previsto no art. 1.228 do Código Civil. A função social do contrato também é de enorme relevância no ordenamento jurídico, porque, muitas vezes, é o ponto central para uma revisão contratual. Só que é muito fácil falar de função social da propriedade e do contrato, mas função social não está restrita somente a esses institutos. A gente tem função social das famílias, função social da posse – que é muito considerada para a usucapião coletiva, lá no artigo 1.228 do CC, função social do recibo (lá, nas obrigações), entre outros... E, para deixar um pouco o “jurídico” de lado, existe um texto que é de um viés bem social mesmo, que se chama “função social do(a) amante”. Coloca lá no Google, que é bastante interessante a leitura, embora não tenha um aspecto propriamente jurídico. Então, com tudo isso exposto, a gente tem um rompimento do individualismo para uma preocupação com o coletivo em vários institutos outrora “egoístas”. PRINCÍPIO DA OPERABILIDADE OU CONCRETUDE Por esse princípio temos a ideia de cláusulas gerais, de conceitos abertos, de expressões que se encaixam em qualquer situação, posto que sujeitas a uma interpretação momentânea. Observando isso, o Direito foi pensado para ser concretizado, para ser aplicado. Então, você não pode ter a elaboração de uma norma com expressões restritas e adstritas à época de criação da lei, porque, assim, ocorre um engessamento do ordenamento jurídico. Prof., você tem um exemplo? Yes, baby: O artigo 5º do Código Civil trata da emancipação e estabelece essa possibilidade para os casos em que o menor com 16 anos que tenha “economia própria” seja emancipado pela lei. Em 2002, o que era “economia própria”? É só pensar quanto era o salário mínimo nesse ano: 200 reais? 250 reais? (não me recordo, mas era por aí, rsrsrs) Se você coloca 250 reais na lei – é só um exemplo esdrúxulo, para você entender –, hoje, poderíamos conside- rar esse valor como sendo “economia própria”? Claro que não! Então, na verdade, você tem, aí, a interpretação do instituto considerando o que a gente tem hoje. É uma expressão que se ajusta ao tempo e isso é exatamente o que chamamosde cláusulas gerais, conceitos abertos. Aliás, boa-fé objetiva e função social são expressões cláusulas gerais. 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O direito objetivo é exatamente o que está previsto nas leis, como por exemplo, tudo que está no Código Civil, Código Penal etc. É o direito positivado! O direito subjetivo, por sua vez, é o direito que o sujeito tem de exercer uma determinada conduta autorizada por lei; revelam-se como “poder-dever”. A exemplo disso podemos citar um credor que ajuíza uma ação contra seu devedor para cobrança de seu crédito. Esses direitos subjetivos estão intimamente ligados a prazos prescricionais. Não esquece! “Assim, enquanto a expressão direito objetivo exprime o conjunto das regras normativas que disciplinam um determinado ordenamento, o direito subjetivo, por seu turno, diz respeito ao poder de exigir ou de pretender de alguém um comportamento específico.”3 Professora, o que é direito potestativo? Ah, sim, o direito potestativo é um direito que pode ser exercido pelo seu titular indepen- dentemente da “oposição” de um terceiro; é o direito que pode ser implementado mesmo contra vontade de alguém. É o caso, por exemplo, do direito de revogar uma procuração dada, cabendo ao mandatário apenas aceitar tal condição. É uma prerrogativa jurídica de impor a outrem, unilateralmente, a sujeição ao seu exercí- cio; é um ato unilateral. Arrematando, importa lembrar que, se a norma jurídica prevê um prazo para que o titular venha a realizar determinado direito potestativo, por meio de sua declaração de vontade, o 3 Chaves de Farias, Cristiano. Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB. 18ª ed. rev. atual. amp. Editora JusPodivm. 2020 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 10 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL seu não exercício importa decadência (também dita caducidade). Não havendo prazo em lei para o exercício de direito potestativo, este não estará sujeito a prazo extintivo, podendo ser exercido a qualquer tempo.4 Podemos até já mencionar aqui que nem todo direito potestativo tem prazo, a exemplo do divórcio, mas quando houver prazo, esse será decadencial. Professora, agora sim eu entendi. Maravilha. Uaau, agora sim, você está pront@ para conversar sobre Direito Civil... Então, vamos entender a estrutura do Código Civil? Bom... Vamos estudar esse Código que é representado pela lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002 e, como falamos anteriormente, passou a ter vigência em 12 de janeiro de 2003. Professora, já me falaram que o Código é como um livro... é verdade? Sem dúvida nenhuma, é um grande “livro da vida” dividido em Livros, Títulos, Capítulos e Seções, cuida da vida das pessoas do momento em que nascem até a morte. Mas não esqueça que Código Civil não é sinônimo de Direito Civil. Na verdade, o Direito Civil é composto pelo CC e outras normas civilistas, como ECA, CDC, Estatuto do Idoso, Ali- mentos Gravídicos, entre outras tantas que falaremos ao longo do estudo do Código Civil. Mas voltando, olha só que estrutura bacana tem nosso CC: P A R T E G E R A L LIVRO I DAS PESSOAS TÍTULO I DAS PESSOAS NATURAIS CAPÍTULO I DA PERSONALI- DADE E DA CAPACIDADE LIVRO II DOS BENS TÍTULO ÚNICO DAS DIFEREN- TES CLASSES DE BENS CAPÍTULO I DOS BENS CONSI- DERADOS EM SI MESMOS LIVRO III DOS FATOS JURÍDICOS TÍTULO I DO NEGÓCIO JURÍDICO CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS CAPÍTULO II DA REPRESENTAÇÃO 4 Chaves de Farias, Cristiano. Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil – Parte Geral e LINDB. 18ª ed. rev. atual. amp. Editora JusPodivm. 2020 O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 11 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL CAPÍTULO II DOS DIREITOS DA PERSONA- LIDADE CAPÍTULO III DA AUSÊNCIA Seção I Da Curadoria dos Bens do Ausente Seção II Da Sucessão Provisória Seção III Da Sucessão Definitiva TÍTULO II DAS PESSOAS JURÍDICAS CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS CAPÍTULO II DAS ASSOCIAÇÕES CAPÍTULO III DAS FUNDAÇÕES TÍTULO III DO DOMICÍLIO Seção I Dos Bens Imóveis Seção II Dos Bens Móveis Seção III Dos Bens Fungíveis e Consu- míveis Seção IV Dos Bens Divisíveis Seção V Dos Bens Singulares e Cole- tivos CAPÍTULO II DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS CAPÍTULO III DOS BENS PÚBLICOS CAPÍTULO III DA CONDIÇÃO, DO TERMO E DO ENCARGO CAPÍTULO IV DOS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO Seção I Do Erro ou Ignorância Seção II Do Dolo Seção III Da Coação Seção IV Do Estado de Perigo Seção V Da Lesão Seção VI Da Fraude Contra Credores CAPÍTULO V DA INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO TÍTULO II DOS ATOS JURÍDICOS LÍCITOS TÍTULO III DOS ATOS ILÍCITOS TÍTULO IV DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA CAPÍTULO I DA PRESCRIÇÃO Seção I Disposições Gerais Seção II Das Causas que Impedem ou Suspendem a Prescrição Seção III Das Causas que Interrompem a Prescrição Seção IV Dos Prazos da Prescrição CAPÍTULO II DA DECADÊNCIA TÍTULO V DA PROVA P A R T E ESPECIAL LIVRO I DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES (engloba contratos) O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - 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Obrigada, senhor!!! LIVRO III DO DIREITO DAS COISAS TÍTULO I DA POSSE CAPÍTULO I DA POSSE E SUA CLASSIFI- CAÇÃO CAPÍTULO II DA AQUISIÇÃO DA POSSE CAPÍTULO III DOS EFEITOS DA POSSE CAPÍTULO IV DA PERDA DA POSSE TÍTULO II DOS DIREITOS REAIS CAPÍTULO ÚNICO DISPOSI- ÇÕES GERAIS TÍTULO III DA PROPRIEDADE CAPÍTULO I DA PROPRIEDADE EM GERAL Seção I Disposições Preliminares Seção II Da Descoberta CAPÍTULO II DA AQUISIÇÃO DA PROPRIE- DADE IMÓVEL Seção I Da Usucapião Seção II Da Aquisição pelo Registro do Título CAPÍTULO IV DA PERDA DA PROPRIEDADE CAPÍTULO V DOS DIREITOS DE VIZI- NHANÇA Seção I Do Uso Anormal da Proprie- dade Seção II Das Árvores Limítrofes Seção III Da Passagem Forçada Seção IV Da Passagem de Cabos e Tubulações Seção V Das Águas Seção VI Dos Limites entre Prédios e do Direito de Tapagem Seção VII Do Direito de Construir CAPÍTULO VI DO CONDOMÍNIO GERAL Seção I Do Condomínio Voluntário Subseção I Dos Direitos e Deveres dos Condôminos TÍTULO VI DO USUFRUTO CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS CAPÍTULO II DOS DIREITOS DO USUFRUTUÁRIO CAPÍTULO III DOS DEVERES DO USUFRUTUÁRIO CAPÍTULO IV DA EXTINÇÃO DO USUFRUTO TÍTULO VII DO USO TÍTULO VIII DA HABITAÇÃO TÍTULO IX DO DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR TÍTULO X DO PENHOR, DA HIPOTECA E DA ANTICRESE CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS CAPÍTULO II DO PENHOR Seção I Da Constituição do Penhor Seção II Dos Direitos do Credor Pignoratício Seção III Das Obrigações do Credor Pignoratício Seção IV Da Extinção do Penhor O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - 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Boa viagem a todos nós... 2. Pessoa natural Nesse tópico nós começamos o estudo do Direito Civil falando de quem realmente é o “centro” do Direito – a pessoa natural. Quem é a pessoa natural? É o ser humano! Esse é a pessoa que a gente tanto fala, com quem nos preocupamos hoje no estudo e interpretação do Direito Civil. Essa pessoa é tão importante porque é ela o centro das relações jurídicas. Aliás, você já ouviu falar na expressão “sujeito de direito”? Provavelmente sim, mas você sabe a extensão dessa terminologia? Bom, “sujeito de direito” é um gênero que comporta duas espécies: com personalidade jurídica ou civil e sem personalidade jurídica ou civil – vejamos o esquema do coração: É relevante que saibamos o conceito de sujeito de direito para fazermos a diferenciação com o conceito de pessoa natural. Veja que não são sinônimos! Na verdade, sujeito de direito é gênero que comporta espécies. A pessoa natural é “sujeito de direito” com personalidade jurídica, mas nem todo sujeito de direito tem personalidade jurídica. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 19 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Sobre esse ponto, um questionamento é até interessante: Você sabia que no direito civil existe princípio da legalidade também? “Ah, professora, eu sei que no Direito Administrativo, temos o princípio da legalidade e lá significa que o administrador só poderá atuar quando a lei permitir; administrar significa apli- car a lei de ofício.” Muito bem, meu bem, mas e aqui no Direito Civil? Pois bem, aqui também há um princípio da legalidade e ele é visto de maneira um pouco diferenciada: para quem tem personalidade jurídica, esse princípio dita que “pode tudo que a lei não proíba”. Então a pessoa natural e a pessoa jurídica podem tudo que a lei não proibir, Roberta? Sim. Exatamente. Eu, Roberta, posso criar um regime de bens que não tem previsão na lei? Sim, posso – a lei não me proíbe; posso criar um contrato que não tenha previsão legal? Sim, pois a lei não me proíbe. Veja que o particular com personalidade pode praticar os atos que a lei não proibir. Aliás, isso foi um fundamento para a admissão, no ordenamento jurídico, do casamento e da união estável homoafetiva. Isso porque, embora a lei fale em “homem e mulher”, não houve proibição casais homoafetivos, razão pela qual entendeu-se que há uma permissão tácita. Esse foi o grande fundamento! Por isso, é possível o casamento homoafetivo, além de outras razões como o direito à felicidade, a família eudemonista, da pauta do amor... Por outro lado, o princípio da legalidade para quem não tem personalidade jurídica, é ana- lisado sob o mesmo ponto de vista do direito administrativo – só é permitido o que está pre- visto em lei. Aqui, fazendo uma correlação com o direito processual, veremos que esses sujeitos po- dem ser autores ou réus de demandas judiciais, porque possuem o fenômeno da personalida- de judiciária, mas isso é matéria do Processo Civil. Nossa, professora, gostei de saber disso, mas qual conceito de personalidade jurídica? O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 20 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Então, trata-se de uma aptidão genérica para titularizar direitos e deveres. Destacamos a palavra “deveres” porque é muito comum você falar“direitos e obriga- ções”, quando, na verdade, é melhor mencionar “deveres”. Isso porque, no Direito Civil, a palavra “obrigação” tem a ver com o aspecto patrimo- nial (dar, fazer, não fazer...), ao passo que a expressão “deveres” é um gênero, um termo muito mais abrangente do que simplesmente “obrigações”. Muito cuidado com isso! O dever inclui a obrigação e, também, outros aspectos que não tenham conteúdo patrimonial, a exemplo do dever de fidelidade no casamento... Importante colacionarmos aqui, também, que personalidade jurídica é sinônimo de personalidade civil. Nesse sentido, o artigo 2º do Código Civil estabelece que: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Roberta, quando se dá o início da personalidade jurídica? Ocorre com o nascimento com vida. No Brasil, considera-se “nascimento com vida” o funcionamento do aparelho cardior- respiratório – entrou ar nos pulmões, adquire a personalidade jurídica. Existe um exame próprio para verificar se houve ou não entrada de ar nos pulmões, chamado “docimasia hidrostática de Galeno”, que consiste na colocação de fragmentos do pulmão do recém-nascido – caso venha a falecer, óbvio, né, Brasil?! Se os fragmentos flutuarem, é porque entrou ar, então adquiriu personalidade jurídica. Ainda que tenha sido um breve suspiro... Aqui eu quero fazer nossos esquemas também, veja: O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 21 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Saber se respirou ou não é para fins de saber se o sujeito adquiriu ou não personali- dade jurídica. Imagina o pai do nascituro que morreu no curso da gestação. Se ele respira, recebe a he- rança e se morre logo após, transmite a herança para a mãe dele. Se ele sai do ventre materno e não respira, ele não receberá a herança e a regra sucessória dos bens de falecimento do pai segue a regra normal do art. 1.829: não havendo descendentes, vai para os ascendentes. Ei, não esqueça que as certidões mencionadas possuem natureza declaratória!!! Por isso, tem efeito ex tunc. Exemplo: eu nasci no dia 09 de julho, mas minha certidão de nascimento deve ter sido feita em algum dia posterior a essa data. Eu não passei a existir a partir da data em que foi feita a certidão, mas, sim, desde o meu nascimento!!! Entendeu? O início da personalidade, então, se dá com o nascimento com vida. A certidão de nascido morto, do natimorto, tem assento no livro auxiliar, letra C, do cartório de pessoas naturais, conforme a Lei de Registros Públicos. No Brasil, basta o funcionamento do aparelho cardiorrespiratório. Entenda: no Brasil, não se exige viabilidade, não se exige sobrevida, não se exige forma humana. Isso quer dizer que, no Brasil, basta respirar para ser pessoa natural. Não se exige viabilidade: não é preciso a formação interna dos órgãos de maneira perfeita, apta a propiciar a vida extrauterina. Por isso que os anencefálicos nascem, respiram, e, mes- mo tendo uma má formação cerebral adquirem personalidade jurídica, mesmo sabendo que eles podem morrer imediatamente após o parto. O mesmo ocorre com pessoas com microce- falia ou com uma formação interna dos órgãos que inviabilize a vida extrauterina. Não se exige sobrevida: sobrevida seria um lapso temporal mínimo fora do ventre materno para adquirir personalidade. No Brasil, não temos isso. Nasceu e respirou, já ganha a perso- nalidade jurídica. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 22 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Não se exige forma humana: é até um termo pejorativo, mas significa pessoas com de- formidades físicas – aquelas que destoam da forma tradicional humana também adquirem a personalidade jurídica. Roberta, entendi tudo, tudinho, mas o que acontece com o nascituro? É ou não é pessoa? Tem direitos? Como é essa história? Ah, cuidado com essa questão do nascituro! A gente entra na análise das teorias... Olha só, temos três teorias mencionadas na doutrina, vejamos: De acordo com a teoria natalista, o nascituro só se torna pessoa a partir do momento em que adquire a personalidade jurídica, ou seja, com a respiração. Assim, para os defensores dessa teoria, a ideia é a de que, não sendo pessoa, é coisa. Já a teoria da personalidade condicional ou personalidade formal, a observa que o nasci- turo seria uma “quase pessoa”. Ele pode receber direitos, mas estaria sob condição suspensi- va de nascer com vida. Se nasceu com vida, é pessoa. Se não, nunca foi. É um “meio termo”. Confesso que acho estranha essa teoria... A teoria concepcionista, por sua vez, diz que é pessoa desde a concepção. É uma que está muito em voga, sendo abordada especialmente pelos doutrinadores mais modernos, como Pablo Stolze, Cristiano Chaves e Flávio Tartuce. Esses professores defendem a concepção.5 5 Dentre os concepcionistas existem os mais “extremistas” e os “menos extremistas”. Os primeiros, consideram pessoa desde a concepção, desde o coito. Se teve a relação sexual e fecundou o óvulo, é pessoa. Já outros, consideram que é O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 23 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Uau, mas qual a teoria adotada pelo Código Civil? O artigo 2º do CC, que mencionamos acima, deixa muito claro: A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Uai, então é a teoria NATALISTA! Sim, perfeito! Isso porque o dispositivo legal diz que a personalidade civil da pessoa começa do nasci- mento com vida. MAS CUIDADO: já vimos que o ordenamento jurídico civilista não é sinônimo de Código Civil. Como eu te disse, essa ideia já está ultrapassada! Na verdade, o CC está dentro do or- denamento jurídico civilista, que é composto, também, por outras normas, entendimentos doutrinários e jurisprudenciais. É importante mencionar que o STJ é concepcionista, uma vez que, por exemplo, ele reco- nhece a possibilidade de dano moral ao nascituro. Por isso, melhor entender que, embora a redação do artigo 2º do CC não tenha sido alterada até o momento, há uma grande possibili- dade de alteração futura, porque a teoria natalista é considerada um pouco ultrapassada nos dias de hoje. Então, embora o Código Civil aponte claramente para a adoção da teoria natalista, o or- denamento jurídico como um todo, considerando o “todo”, indica uma forte tendência para a adoção da teoria concepcionista. Um tema muito recorrente de OAB é a Lei de Alimentos Gravídicos, e quem é o destinatário desses alimentos? O nascituro, óbvio, pensando, então, em uma teoria concepcionista. Contudo, não podemos deixar de mencionar a ADI 3510, que discutiu a questão das célu- las-tronco, na qual o STF decidiu que o embrião congelado é objeto de direito. Então, temos que analisar todas as situações, sem fixar barreiras de informação. Mas não se preocupa, a banca não vai querer cobrar isso... é polêmico demais...Mas vou retomar o tema mais adiante. pessoa a partir do 14º dia após o coito, que é quando ocorre o fenômeno da nidação, ocorrido quando o embrião se fixa na parede do útero materno. 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Além disso, pode ocasionar a prisão do devedor de alimentos, caso ele não pague, nos moldes do artigo 732 e seguintes do CPC. Lembre-se, também, que, com o nascimento do bebê, caso seja constatado que o alimentante não era pai, não há a possibilidade de repe- tibilidade, porque os alimentos são irrepetíveis, indevolvíveis. Talvez, o sujeito possa pleitear danos morais ou materiais em face da genitora, mas deverá comprovar os as- pectos relacionados à responsabilidade civil, em uma vara cível (e não de família); • Existe direito ao pagamento de DPVAT pela morte de nascituro – {Resp 1.120.676 – informativo 547 do STJ}. Não é uma jurisprudência recente, mas continua a ser objeto de discussões, pois a lei do DPVAT trata dos danos “à pessoa humana”. Se o nascituro fosse considerado meramente uma coisa, não se teria direito ao pagamento de DPVAT pela morte de nascituro em acidente de trânsito. Porém, o STJ decidiu pela aplicação do seguro ao nascituro, seguindo a linha concepcionista;6 • O nascituro pode receber doação, sem prejuízo do recolhimento do imposto de trans- missão inter vivos (exemplo simplório: chá de fraldas); • O nascituro pode ser beneficiado por legado e herança (para ser herdeiro, tem que estar vivo na data da morte do autor da herança, ou pelo menos CONCEBIDO, e o nascituro o está, concorda?); • Pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses; • O Código Penal tipifica o crime de aborto; • É desnecessária a intervenção do MP como curador ao nascituro no ato em que nuben- tes definem o regime de bens do casamento – {Resp 178.254}. Isto porque cabe apenas ao casal definir o seu regime de bens. 6 LEI N. 6.194, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1974 – Dispõe sobre Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas transportadas ou não. 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Nós falamos, também, que o exame realizado para fazer essa aferição é a docimasia hidrostática de Galeno, que consiste na colocação de fragmentos do pulmão em um líquido. Isso é muito importante, inclusive, para fins de direito sucessório. Se o pai da criança que está no ventre materno falece durante a gestação, o nascituro poderá ser herdeiro. Na quali- dade de herdeiro, poderá adquirir personalidade jurídica e, por consequência, a sua herança. Se ele respirar, receberá a herança imediatamente e, falecendo em seguida, transferirá a he- rança para a mãe, na ordem de vocação hereditária do art. 1829, CC. Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares; II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais. Caso o bebê não respire, será considerado natimorto. Não adquiriu personalidade jurídica e, por isso, não recebeu direitos e deveres e, por isso, não recebeu a herança. Sendo assim, a herança do genitor vai seguir a ordem normal, dos casos em que não há descendentes. (re- cordar é viver!) Ainda, convém destacarmos aqui algumas terminologias que não se confundem: • Nascituro: aquele que tem vida intrauterina, que está no ventre materno, independente- mente do que se pensa a respeito da nidação ou do momento do coito; • Concepturo: é aquele que ainda nem foi concebido. Quando falamos em concepturo, falamos em prole eventual. É um conceito estudado na aula de fideicomisso, no direito sucessório. Exemplo: eu quero deixar um apartamento em testamento para o filho de Maria e ela sequer está grávida. 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Alguns embriões são inseridos no ventre materno e outros ficam congelados. Os defensores da teoria concepcionista defendem que mesmo o embrião congelado já é pessoa. Essa discussão veio à tona quando do julgamento da ADI n. 3510, do STF, que discutiu o art. 5º da Lei de Biossegurança, que mencionamos anteriormente. Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam em- briões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento Quando o embrião congelado é colocado (INSEMINADO) no ventre materno, passa a ser um nascituro e ali ele se desenvolve. Agora, quando ele é congelado, será chamado de embrião criogenizado. Retomo o tema pela importância – na citada ADI, pleiteou-se a declaração da inconsti- tucionalidade desse artigo da Lei de Biossegurança, sob o argumento de que permitir trata- mento com células-tronco embrionárias obtidas a partir de embriões congelados significaria matar uma pessoa,porque ali haveria uma pessoa. Várias entidades e médicos foram ouvidos como amici curiae – é muito utilizado como referência para tratar do amicus curiae, previsto no art. 138 do CPC. Também foram levados em consideração aspectos religiosos. Alguns defenderam que, naquele estágio, havia vida humana e, outros, o contrário. É um acórdão extenso, que vale a leitura a título de informação e esclarecimento. Nesse caso, o STF decidiu que o art. 5º da Lei de Biossegurança é constitucional, e que o embrião congelado, considerando a aplicabilidade do art. 2º do CC, é um objeto de direito, em virtude da teoria natalista. 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Já a capacidade de direito (ou capacidade de gozo) é prevista no art. 1º do CC, que diz que TODA PESSOA É CAPAZ DE DIREITOS E DEVERES. NÃO EXISTE NINGUÉM INCAPAZ DE DIREITO! Quando a pessoa completa 18 anos, adquire a capacidade de fato. No CC/1916, a capacidade de fato era adquirida aos 21 anos, que era a maioridade da- quela época. Por isso, vocês vão ver, na parte de emancipação, que algumas coisas foram copiadas do CC anterior. Capacidade de fato também é chamada de capacidade de exercício. É um momento em que você vai exercer, sozinho, os atos da vida civil. Exemplo: um menino de 10 anos de idade pode ter conta no Banco do Brasil? Sim, porque ele tem personalidade jurídica e capacidade de direito. Ele pode responder pelo prejuízo que causar? Sim, porque ele tem personalidade jurídica e capacidade de direito. Embora, conforme o art. 928, CC, a responsabilidade seja subsidiária, o menor de idade pode ser responsabilizado. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 28 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL O detentor de personalidade jurídica, capacidade de direito e capacidade de fato é consi- derado plenamente capaz. Mas, professora, quem é o incapaz? Então, é aquele que não tem capacidade de fato. Não tem capacidade de exercer, sozinho, os atos da vida civil. O menino de 10 anos pode ter conta no Banco do Brasil, mas não conseguirá abri-la sozinho. Necessitará de um repre- sentante para praticar o ato. Se na prova cair uma afirmativa dizendo que o incapaz é incapaz de direito e de fato, está ERRADO, pois NÃO existe incapacidade de direito! Se você tiver dificuldade de memorizar isso, é só lembrar da ordem alfabética: o D vem antes do F. Gente, aqui algo é extremamente importante: PESSOA COM DEFICIÊNCIA É CAPAZ! Pode se casar, ter filhos, tomar decisões a respeito da sua própria vida. O Estatuto da Pessoa com Deficiência foi promulgado e publicado em 2015, teve um pe- ríodo de vacatio legis de 180 dias, passou a ter vigência em janeiro de 2016 e trouxe uma re- volução no sistema de incapacidades do Código Civil, bem como em outros ramos do Direito. Olha só isso: REDAÇÃO ORIGINAL Artigo 3º do CC Artigo 4º do CC Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I – os menores de dezesseis anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discerni- mento para a prática desses atos; III – os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 29 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL REDAÇÃO APÓS ESTATUTO Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. Aliás, você não pode confundir capacidade com legitimidade! CAPACIDADE: é isso que nós estamos estudando. Observe que se trata de uma visão bem genérica, analisada junto com o fenômeno da personalidade. LEGITIMIDADE: é uma capacidade específica, para praticar um ato específico. Exemplo: alguém de 36 anos pode se casar, mas não com o seu irmão, por exemplo. Isso porque, para aquele ato, ela não tem legitimidade. Voltando à questão dos incapazes, observamos que: novo sistema de incapacidades que temos hoje tem por base o Estatuto da Pessoa com Deficiência – Lei n. 13.146/2015. Hoje, temos a valorização da dignidade-liberdade, em detrimento da dignidade-vulne- rabilidade. Como vimos, no Código Civil de 2002, em sua redação original, tínhamos um sistema de incapacidades totalmente diferente, vejamos: O Estatuto da Pessoa com Deficiência trouxe uma verdadeira revolução, alterando es- ses artigos. Hoje, se fala em um sistema de liberdade. A gente preconiza a dignidade da pessoa humana em relação à sua liberdade na vida, até mesmo como um aspecto de observância do conceito de felicidade. Esse aspecto de dignidade-vulnerabilidade ficou para trás, porque, quando a gente obser- vava as pessoas com deficiência à luz da redação original do CC/2002, elas eram vistas como seres incapazes. Hoje, com a modernização das técnicas de tratamento, há uma maior inserção dessas pessoas na vida em sociedade, no âmbito do trabalho e tudo o mais. 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Por outro lado, entendo que foi, um tanto quanto, reduzida a proteção que essas pessoas tinham no âmbito do Direito Civil, porque, se antes você se deparava com alguma situação de deficiência, especialmente mental, os atos praticados por essa pessoa seriam inválidos. Ago- ra, são válidos e, infelizmente, a gente nunca sabe o que se passa pela mente do outro sujeito. Mas isso é algo que deve ser objeto de ponderação quando você estiver exercendo sua profissão. O Estatuto da Pessoa com Deficiência não trata apenas da pessoa com deficiência men- tal, mas também sensorial e física. São vários aspectos que são trabalhados e que a gente deve ter muito cuidado. Interessante lembrar que falamos muito do Código Civil de 1916, e essa lei tratava dos “loucos de todo gênero”, expressão hoje tida como pejorativa e não mais utilizada. Dá só uma olhadinha nesse artigo do Estatuo da Pessoa com Deficiência: Art. 6º: A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I – casar-se e constituir união estável; II – exercer direitos sexuais e reprodutivos; III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV – conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V – exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Então, estamos diante de uma nova era, em que pessoas, mesmo que com algum grau de deficiência, possuem ampla liberdade para tomar as decisões que concernem à sua própria vida. Quando o Estatuto da Pessoa com Deficiência entrou em vigência, essas pessoas listadas no dispositivo legal “dormiram” sendo incapazes e “acordaram” sendo capazes de praticar os atos da vida civil. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 31 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Eu tinha um caso no meu escritório em que uma pessoa com deficiência precisou entrar com um processo judicial para poder se casar. Muito se discutia se era possível ou não. Com a entrada em vigor dessa legislação, o caso foi resolvido. Olhem a relevância disso! Às vezes, quando não temos ninguém próximo, nessa situação, não conseguimos com- preender como isso foi importante. Por isso, vocês devem ter muito cuidado ao aplicar a letra fria da lei, quando assumirem estiverem exercendo a profissão. Cada processo envolve a vida de alguém. Todos os que integram o processo devem ter olhos sensíveis para perceber as peculiari- dades de cada caso concreto. Olha só esse artigo aqui, também do Estatuto: Art. 84: A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. § 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada. (art. 1.783-A, CC) § 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. § 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apre- sentando o balanço do respectivo ano. A curatela, muito cobrada em prova, passou a ser medida excepcional. A tomada de decisão apoiada é feita mediante processo judicial, com todo o respaldo e cautela que devemos ter no processo de curatela. Também é possível, agora, a curatela compartilhada. Bom, voltando... Você se lembra que falamos que o incapaz é aquele que não possui capacidade de fato? Existem duas modalidades de incapacidade: ABSOLUTAMENTE INCAPAZ e RELATIVAMENTE INCAPAZ Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regu- lada por legislação especial. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 32 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Sendo assim, hoje, uma pessoa com deficiência é considerada CAPAZ. Se ela não conseguir manifestar sua vontade, seja por uma causa transitória (coma) ou por uma causa permanente (uma doença degenerativa), ela será, na pior das hipóteses, rela- tivamente incapaz – encaixada no inciso III do artigo 4º. As provas costumam colocar assim: “Fulano sofreu um acidente há 20 anos e, desde en- tão, está em coma, respira por aparelhos, não consegue manifestar sua vontade”. Na redação original do CC/2002, essa pessoa seria absolutamente incapaz. Porém, hoje, essa pessoa é relativamente incapaz. Hoje, podemos dizer que a incapacidade absoluta se confunde com a natural, que é, ex- clusivamente, pela idade. Nem todo naturalmente incapaz é absolutamente incapaz, mas todo absolutamente inca- paz é naturalmente incapaz, porque ele é menor de 16 anos. (ficou lindo isso, rsrsrs) Professora, e os menores? Ah sim, os menores são denominados menores impúberes ou púberes, respectivamente, absolutamente ou relativamente. Não confunda as idades do Código Civil com as idades do Estatuto da Criança e do Ado- lescente. O ECA trabalha com o conceito de criança até os 12 anos incompletos e o conceito de adolescente, dos 12 aos 18 anos incompletos. Aqui, a gente não fala de “criança” e “adolescente”. Falamos em “menor púbere” e “menor impúbere”, “absolutamente incapaz” e “relativamente incapaz”. Mas, professora, existe questão relevante acerca dessa questão de capacidade? Vixe, demais da conta... Olha só alguns aspectos relevantes sobre essa questão da capacidade: • Opinião de absolutamente incapazes: Enunciado 138 da JDC: a vontade dos absolu- tamente incapazes, na hipótese do inciso I do artigo 3º, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento suficiente. É por isso que, em alguns casos, uma criança pode ter sua O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 33 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL opinião levada em consideração. Exemplo disso é a fixação de guarda de menor. Po- rém, isso se dá de maneira relativa, e não absoluta, uma vez que pode acontecer, por exemplo, de um dos pretensos guardiões dar muitos presentes à criança e, portanto, a opinião desta estaria turvada pelas vantagens recebidas. A criança é um ser bastante interesseiro porque ainda não tem discernimento, mas o juiz pode levar sua opinião em consideração; •Índios – Lei n. 6.001/73 – Estatuto do Índio – Não se pode afirmar que o índio é con- siderado absoluta ou relativamente incapaz pelo Código Civil, porque eles possuem legislação específica. Já foram tratados como absolutamente incapazes, pelo CC/1916 (“Silvícolas”), mas, hoje, possuem legislação própria. Os índios inseridos em sociedade são capazes para praticar os atos da vida civil. Os não inseridos em sociedade, por sua vez, poderão ter seus atos invalidados; • Surdos: Não se fala em “surdo-mudo”, porque, na verdade, ele não consegue falar por- que não ouve. Então falamos somente “surdo”. O surdo é capaz. É uma espécie de de- ficiência tratada pelo EPD; • Ausentes são aquelas pessoas que desaparecem do domicílio sem deixar notícias. Eles já foram tidos como incapazes na legislação anterior. Hoje, onde quer que eles estejam vivendo, são capazes. Para a caracterização da ausência, é necessária a não presença e a não notícia; • Os incapazes podem praticar atos da vida civil, desde que sejam representados. A representação tem uma profundidade. A mais profunda é chamada de “representação” mesmo, em sentido estrito. Uma representação mais leve é chamada de “assistência”. A gente sabe que os absolutamente incapazes são representados e os relativamente in- capazes são assistidos. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 34 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Mas quem representa essas pessoas? Em relação aos menores, a representação virá dos genitores, em virtude do poder familiar, que é automático e inerente à condição de mãe e pai. Trata-se de um poder dos genitores em relação aos filhos menores. Ele pode chegar ao fim pela morte dos pais ou pela destituição do poder familiar (e, evi- dentemente, com a maioridade). Quando houver extinção do poder familiar pela morte dos pais, deverá ser designado um tutor a esse menor. O mesmo deve ocorrer quando há a sua destituição, com base no artigo 1.638 do CC. Não se esqueça que, hoje, temos uma novidade que foi inserida no parágrafo único do referido artigo, que é uma nova modalidade de perda do poder familiar – muito cobrada em prova, por sinal: Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que: I – castigar imoderadamente o filho; II – deixar o filho em abandono; III – praticar atos contrários à moral e aos bons costumes; IV – incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente. V – entregar de forma irregular o filho a terceiros para fins de adoção. Parágrafo único. Perderá também por ato judicial o poder familiar aquele que: I – praticar contra outrem igualmente titular do mesmo poder familiar: a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tra- tar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher; b) estupro ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão; II – praticar contra filho, filha ou outro descendente: a) homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se tra- tar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher; b) estupro, estupro de vulnerável ou outro crime contra a dignidade sexual sujeito à pena de reclusão. Outro ponto bem cobrado em prova também e é muito importante você saber, é que quem tem o direito de nomear o tutor são os pais, por meio de documento autêntico ou de testa- mento, conforme artigo: 1.729 do CC. Então, quando existe uma situação em que, por exemplo, o pai faleceu e a mãe está em estágio terminal de câncer, ela poderá deixar consignada, por meio de documento ou de tes- tamento, a indicação de quem ela deseja que seja o tutor do seu filho. O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 35 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Todavia, se os pais perderem o poder familiar, também perderão esse direito de nomear tutor para o filho – óbvio, Brasil! O instituto da tutela é estudado no direito das famílias e faz referência a um cuidado, zelo, guarda dos menores. Para os maiores que sejam relativamente incapazes (não existe nenhum maior absoluta- mente incapaz, lembre-se disso), será nomeado um curador. Sabemos que a medida da curatela é excepcional e que também há a possibilidade de se ter uma tomada de decisão apoiada. Será designado curador para os ébrios habituais, os toxicômanos, aqueles que, por causa transitória ou permanente, não podem ou não conseguem manifestar sua vontade, e os pró- digos. Cuidado, porque o pródigo tem um fenômeno de curatela restrita a aspectos patrimoniais. Lembra da parábola do filho pródigo? Pródigo é o que gasta demais, o que não se importa em preservar o patrimônio. Em relação ao casamento, o pródigo pode escolher com quem quer se casar, mas não pode escolher o regime de bens, por exemplo. Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração. Agora, quando esses incapazes praticam os atos representados, eles são válidos, porque temos um suprimento da incapacidade pela representação. No entanto, quando o absolutamente incapaz pratica o ato sem o representante, o ato é nulo, conforme artigo 166, I do CC. Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz; Já quando o relativamente incapaz pratica o ato sem o seu assistente, o ato é anulável conforme artigo 171, I do CC. Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I – por incapacidade relativa do agente; O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para Luara - , vedada, por quaisquer meios e a qualquer título, a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal. https://www.grancursosonline.com.br https://www.grancursosonline.com.br 36 de 79www.grancursosonline.com.br Roberta Queiroz Aspectos Introdutórios do Direito Civil, Pessoa Natural DIREITO CIVIL Porém, existem atos que o menor púbere pode praticar mesmo sem o seu assistente, que serão válidos: ser testemunha, aceitar contrato de mandato e fazer o próprio testamento. Professora, o que vem a ser o benefício do restituio in integrum? Ah sim, o benefício do Restitutio in Integrum estabelece que, quando alguém realizar con- trato com incapazes, poderá, o incapaz, reaver tudo que pagou. Esse benefício gera uma in- segurança jurídica muito grande, porque, mesmo que o incapaz fosse representado, a pessoa incapaz poderia reaver tudo que investiu, desfazendo o contrato. O CC/1916 vedava expressamente o benefício da restituição integral. Já o CC/2002 não menciona esse instituto. Porém, ele continua vedado. Isso porque nós temos, no CC/2002, pontos peculiares a respeito de quem realiza contrato com menores. Esse benefício da restituição integral passaria por cima, inclusive, de quem realizasse contrato com menores representados e, no Brasil, a gente sabe que, se o menor estiver representado, haverá suprimento da incapacidade e o ato estará perfeito. Levando em consideração que falamos de personalidade jurídica e capacidade, ainda,
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