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A persistência do trabalho escravo no Brasil atual A história do trabalho escravo está presente no Brasil desde os primórdios da sua civilização. Em 13 de maio de 1888, a afamada Lei Áurea que, em tese, aboliu a escravatura, pôs fim em um regime de trabalho violador dos direitos humanos. No entanto, apesar de assegurar o rompimento desse regime escravocrata, o trabalho escravo e as suas péssimas condições trabalhistas continuaram a assolar uma parcela da população brasileira clandestinamente. No cenário atual, muitos trabalhadores exercem suas funções em péssimas condições e recebem baixos salários – que, muitas vezes, não conseguem nem garantir o necessário à sobrevivência. Dessa forma, cabe pontuar dois fatores que contribuem para a persistência desse modo de trabalho no Brasil: a desigualdade social e a ineficácia estatal. Nesse contexto, é válido ressaltar que as minorias brasileiras são as que mais sofrem e são atingidas com essa forma de produção. Ana Maria Gonçalves, escritora brasileira, retratou, em seu livro “Um defeito de cor”, as complicações, as más condições de trabalho e a situação escassa em que vivia a sociedade escravista brasileira. À vista disso, é perceptível o esquecimento das experiências daqueles que não ficaram marcados na memória do corpo social, as dolorosas trajetórias individuais e de pequenos grupos que, ao não deixarem seus próprios registros ou por terem tido suas vozes caladas pela elite do país, transformaram-se em um mero campo dos estudos historiográficos, fato que pode ser comprovado a partir da existência de indivíduos que, atualmente, trabalham em condições humilhantes, difíceis e desiguais socialmente e que, muitas vezes, não possuem o que comer, beber e, até mesmo, um local para morar. Assim, pode-se afirmar que, devido à desigualdade social, a classe mais pobre da sociedade, até hoje, é a parcela da população mais afetada pelas consequências políticas, sociais e econômicas ocasionadas pelos efeitos de mais de três séculos de escravidão e dominação do país. Além disso, é preciso salientar que o Estado é negligente e não atua na fiscalização das condições trabalhistas. Em janeiro de 2019, o Ministério do Trabalho (MT) foi extinto do governo brasileiro, o que revela que a despreocupação estatal com a legislação trabalhista, com as relações de trabalho e com os empregados é gigantesca. Diante disso, é notório que o Estado, apesar de, teoricamente, garantir inúmeros direitos aos trabalhadores por meio da Consolidação das Leis Trabalhistas e a partir da recriação do MT em julho de 2021, não efetua a fiscalização das condições de trabalho e não proporciona os direitos básicos de qualquer trabalhador, como, por exemplo, a garantia de saúde, segurança, bem- estar, higiene, respeito e alimentação. Logo, tendo em vista que o trabalho escravo não pode ser visto como um sistema já superado, faz-se necessário que o governo federal se atente em relação à existência da exploração dos trabalhadores, para que, desse modo, não haja a violação da dignidade humana e, também, graves consequências na contemporaneidade. Portanto, para que as questões negativas que envolvem essa problemática não persistam e para que se encontrem caminhos para resolvê-las, o Ministério da Educação deve, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais, inserir, na grade curricular do Ensino Fundamental ao Médio, aulas sobre a realidade trabalhista do passado e do século XXI – a partir de profissionais especializados na área, a exemplo dos professores de história –, a fim de contribuir com a diminuição da exploração trabalhista e de destacar a importância do trabalho harmônico e saudável. Concomitantemente, o Ministério Público, por meio de verbas governamentais, deve fiscalizar as empresas que fazem uso de repressões escravistas com os seus funcionários e, com o intuito de garantir os direitos trabalhistas, criar canais de atendimento e denúncias. Somente assim, casos como os que foram retratados no livro “Um defeito de cor” serão reduzidos e esse cenário deixará de persistir no Brasil atual. Redação escrita por Maria Cecília Ricardo Ramalho Nunes
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