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Democracia Deliberativa e Gestão Social

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ENSAIO SOBRE DEMOCRACIA DELIBERATIVA E GESTÃO SOCIAL 
 
Andressa Vieira Silva 
 
1. INTRODUÇÃO 
Este ensaio apresenta uma análise dos artigos “Teoria Crítica, Democracia e 
esfera Pública: Concepções e Usos na América Latina”, de Leonardo Avritzer e Sérgio 
Costa, “Gestão social e esfera pública: aproximações teórico-conceituações”, de Vânia 
Aparecida Rezende de Oliveira, Airton Cardoso Cançado e José Roberto Pereira, e da 
obra “Direito e democracia: entre facticidade e validade”, de Jürgen Habermas; 
evidenciando a teoria de Habermas da democracia deliberativa e sua relação com o 
conceito de gestão social, sua apresentação no Brasil e na América Latina. 
 
2. DEMOCRACIA DELIBERATIVA E GESTÃO SOCIAL 
Há um consenso entre diversos autores de que a Gestão Social tem se 
consolidado como prática, mas o seu conceito ainda se encontra em construção no 
Brasil. Sendo assim, de acordo com Oliveira, Cançado e Pereira (2010), a concepção de 
esfera pública, espaço público, ação pública e opinião pública podem auxiliar na 
elaboração desse conceito. Os autores demonstram a relação entre esses conceitos 
citando Zimmermann (2009 apud OLIVEIRA; CANÇADO; PEREIRA, 2010, p. 614), 
que considera importante a reflexão sobre as desigualdades socioeconômicas em uma 
sociedade heterogênea como o Brasil, pois elas influenciam os espaços públicos e a 
relação sociedade civil-Estado. Para os autores (2010), essa participação da sociedade 
brasileira vem sendo estudada por importantes pesquisadores que se baseiam na obra de 
Habermas para propor um novo modelo de esfera pública. 
Habermas (2003), de acordo com Oliveira, Cançado e Pereira (2010, p. 616), 
considera o final do século XVIII como o período em que ocorre a dissociação dos 
poderes feudais, da Igreja, da realeza e, então, a polarização em público e privado. 
Nesse contexto, a sociedade burguesa ocupa sua posição contrária ao Estado, ou seja, 
constitui um espaço público para pressionar o Estado influenciando suas tomadas de 
decisão com relação às políticas públicas existentes. Conforme os autores (2010, p. 
616), “a visão habermasiana sobre esfera pública burguesa a define como esfera de 
pessoas privadas reunidas em um espaço que discutem com os detentores do poder 
público e da autoridade local questões até então confinadas a uma elite dominadora”. 
Os avanços na economia e nas relações de mercado contribuem para o 
surgimento da esfera social e é essa socialização que destrói a base da esfera pública 
burguesa, pois o Estado se torna o provedor das garantias sociais. 
Oliveira, Cançado e Pereira (2010) continuam sua explanação da visão de 
Habermas que defende a democracia deliberativa ou discursiva onde a consolidação e a 
efetivação da esfera pública pela participação política estão associadas à qualificação e a 
institucionalização da opinião pública. Nessa teoria a verdadeira opinião pública surge 
quando há liberdade de expressão e há, também, a garantia do Estado ao acesso a esses 
direitos pelos cidadãos. Além disso, de acordo com análise feita pelos autores (2010, p. 
622), Habermas acredita que “em uma esfera pública são necessários espaços onde de 
fato a sociedade possa manifestar sua opinião e que seja transformada em decisão 
política por meio de ação coletiva”. 
Diante disso, Oliveira, Cançado e Pereira (2010) trazem as concepções de 
Tenório e de França Filho sobre Gestão Social. Para Tenório (2008a apud OLIVEIRA; 
CANÇADO; PEREIRA, 2010, p. 618), a Gestão Social é comumente associada a 
políticas sociais e ambientais e não a discussões democráticas e à participação da 
sociedade civil na formulação de políticas públicas. França Filho (2008 apud 
OLIVEIRA; CANÇADO; PEREIRA, 2010, p. 618-619) diz que, no nível macro, a 
Gestão Social se assemelha à Gestão Pública, pois ambas procuram atender às 
demandas e necessidades da sociedade. Esses posicionamentos demonstram a falta de 
consenso existente sobre o conceito de Gestão Social, por isso, os autores (2010) trazem 
características capazes de auxiliar nessa definição. Como primeira característica, 
baseada em Tenório (2008a; 2008b apud OLIVEIRA; CANÇADO; PEREIRA, 2010, p. 
622), é considerada a tomada de decisão coletiva, onde todos podem emitir sua opinião 
sem qualquer tipo de coerção. A segunda característica seria a transparência, ou seja, 
que as informações sejam claras e estejam disponíveis a todos. Como última 
característica, os autores (2010, p. 622) citam a emancipação como resultado da gestão 
social. 
Apesar dessas divergências acerca da concepção de Gestão Social é evidente que 
todas as características nos levam a ideias voltadas ao avanço da democracia e a uma 
participação ativa da sociedade civil na esfera pública. 
Essa participação e a mobilização da sociedade civil na consolidação de um 
Estado democrático é muito importante e, no Brasil, ela vem avançando através de 
espaços públicos como o orçamento participativo, conselhos gestores, organizações 
não-governamentais e movimentos sociais. Muitos desses mecanismos democráticos 
foram trazidos pela nossa Constituição Federal de 1988 (CF/88) que é considerada por 
Oliveira, Cançado e Pereira (2010) como uma conquista democrática recente na nossa 
história e viabilizam a ação pública. Todos esses avanços democráticos são avaliados 
pelos autores (2010) como avanços do Estado em direção a uma esfera pública mais 
próxima da teoria habermasiana. 
 
3. ESPAÇO PÚBLICO NA AMÉRICA LATINA 
De acordo com Avritzer e Costa (2004), inexistem na história dos países da 
América Latina a esfera pública política. Esses espaços comunicativos são ocupados 
pelos meios de comunicação em massa, ou seja, pela mídia baseada na televisão que não 
dá espaço para debates ideológicos, mas apenas as notícias que vendam mais. Nesse 
contexto, os autores (2004) ressalta que o conteúdo da política é esvaziado e, dessa 
forma, os agentes políticos priorizam a sua simpatia para conquistar seus eleitores 
deixando de lado sua experiência, liderança e competência, pois, geralmente, não são 
avaliadas pela sociedade latino-americana. 
Devido às peculiaridades da América Latina, os autores (2004) evidenciam a 
necessidade de adaptar o modelo da concepção deliberativa de espaço público quando 
aplicado aos países dessa região. 
 
4. CONCLUSÃO 
A teoria da democracia deliberativa ou discursiva criada por Habermas recebeu 
diversas críticas, mas é considerada, ainda hoje, como a concepção que possibilita a 
busca por modelos diferentes de esfera pública. Através da concepção de Habermas, é 
possível conciliar a participação social e a complexidade e pluralidade da vida moderna. 
Além disso, essa teoria diz que o voto não é o suficiente para legitimar a democracia, 
para isso é necessária a participação da sociedade civil na esfera pública e nas ações 
públicas. 
No Brasil, a participação da sociedade civil através de Organizações não 
governamentais (ONGs), movimentos sociais, entre outros, tem crescido, mas ainda não 
é o suficiente para impedir problemas herdados do patrimonialismo e paternalismo 
como o nepotismo, a corrupção e a falta de transparência em algumas decisões dos 
representantes do povo. Além disso, há o esforço de algumas instituições para criar 
ferramentas de transparência, como o Portal da Transparência, e Leis que controlam os 
gastos e obrigam o Governo a tornarem públicas informações e relatórios contábeis e 
financeiros. 
 
REFERÊNCIAS 
 
AVRITZER, Leonardo; COSTA, Sérgio. Teoria crítica, democracia e esfera pública: 
concepções e usos na América Latina. Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de 
Janeiro, v. 47, n. 4, p. 703-728, 2004. Disponível em 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-
52582004000400003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 15 set. 2019. 
 
HABERMAS, J. O papel da sociedade civil e da esfera pública e política. In: Direito e 
democracia: entre a facticidade e a validade. V. II Riode Janeiro: Tempo Brasileiro, 
1997. 
 
OLIVEIRA, Vânia Aparecida Rezende de; CANCADO, Airton Cardoso; PEREIRA, 
José Roberto. Gestão social e esfera pública: aproximações teórico-conceituais. Cad. 
EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 613-626, 2010. Disponível em 
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
39512010000400004&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 15 set. 2019.

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