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Resenha - A teoria do Romance de Lukács

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LUKÁCS, Georg. A Teoria do Romance: um ensaio histórico-filosófico sobre as
formas da grande épica. Coleção Espírito Crítico. Duas Cidades. Editora 34. São
Paulo, 2000.
Resenha
No livro “A Teoria do Romance”, Georg Lukács apresenta a época em que a
epopeia se manifesta e faz uma análise contrastiva com o contexto em que o
romance aparece, examinando os dois momentos e como refletem no indivíduo
de suas respectivas épocas e, por sua vez, nas obras literárias. O livro inicia
analisando a sociedade em que a epopeia é apresentada, uma sociedade fechada,
não em uma conotação negativa mas fechada na medida que do feliz encontro do
impulso e da instituição, das vontade e desejos pessoais e lugares na cidade
destinadas a isso. Desse modo as instituições não se apresentam como
obstáculos, não causando no indivíduo estranhamento com o mundo alheio mas
acolhimento. Nesse contexto de sociedade fechada, o herói da epopeia se
concretiza verbalmente em que os obstáculos das epopeias entram em cena para
o herói se reafirmar, como reiteração dele próprio. No universo épico não há
intransparência, tornando as dificuldades não alheias ao indivíduo mas
domésticas e, uma vez que não há estranhamento, não há transcendência,
imanência.
Ao contrário do que Lukács aponta como culturas problemáticas que é a
cultura moderna. A mentalidade moderna rompe o indivíduo com o mundo,
criando uma cisão em que é representada no romance, cisão essa que o mundo
não é mais uma continuidade do herói. Essa noção é apresentada como
abstração, ideia de que os obstáculos do romance entram em confronto de forma
alheia, logo o herói não se reconhece no mundo nem tira seus valores de lá, pelo
contrário, vê seus valores sempre em contraposição com a sociedade. Desse
modo as instituições não são mais portadoras de valores. A narrativa não é uma
reafirmação do herói mas se trata de todo o processo do romance que a cada
experiência fragmenta o protagonista em que a ação do herói é vista de um modo
por si próprio e de outro modo pelo mundo. Assim o romance é um insanável
confronto com as instituições da sociedade, em que não há superação,
concretizando a atitude romanesca que reconhece a melancolia de ser adulto,
não reconhecendo a puerilidade normativa da epopeia. O exemplo usado por
Lukács é a obra de Cervantes “Dom Quixote” que é um herói que ao longo de sua
jornada é fixado em uma ideia que não reconhece no mundo alheio,
apresentando a matriz do romance que é a ironia em que o mundo ri do
protagonista e ele de si próprio, sendo a mentalidade moderna prismática. A
ironia romanesca não se estabiliza, não depura um sentido final mas apenas bate
e rebate e que não se definem.
O romance caracteriza-se pela constante busca que é apresentada como
uma perseguição infindável. Na epopeia, em cada momento da narrativa, tudo é
posto em jogo, não havendo portanto desdobramento. No romance por sua vez
um fato prepara o outro, desenvolvendo os personagens que nunca se
completam. Desse modo Lukács apresenta a ideia do estreitamento da alma que
pode ser observada nessa mesma obra do “Dom Quixote”. É a adesão da alma a
um certo ideal, no caso o ideal do cavaleiro andante, o qual não tem vigência no
mundo. Romances desse tipo exploram esse não encaixamento do herói na
sociedade. Outo caráter apresentado pelo autor é o romantismo da desilusão que
a obra de Gustave Flaubert “Madame Bovary” é um bom exemplo. Nessa obra a
heroína é dotada de valores grandiosos mas adere à eles de modo cego,
tornando-se impossível um diálogo entre ela e o mundo. Essas duas obras de
pensamento estreito diferem da alma mais ampla que Lukács usa de exemplo a
obra “Educação Sentimental” em que o protagonista abarca tantos ideais que
julga a alma autossuficiente, acreditando poder descartar o mundo. Nessa
vertente a alma repousa sobre si mesma, vivendo em devaneio, não se dobrando
em nada real, no mundo. Desse modo as ações se desfarelam e o herói não se
lança ao mundo, em que o devaneio de grandeza, desejo, aventura se torna maior
que o mundo e o substitui, não entrando em confronto com o mesmo. Logo o
conflito é o esvaziamento do tempo. Por ultimo Lukács fala sobre o romance de
informação em que o protagonista reconhece a estranheza e inicia um processo
de diálogo com a sociedade, aprendendo as vias do mundo. No entanto essa
categoria é vista como rasa e utópica. O livro de Georg Lukács A Teoria do
Romance” é um elogio ao romance mas uma crítica também em que o indivíduo
está constantemente à procura do próximo, uma marca da melancolia.

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