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CLÍNICA DE PEQUENOS – P1 Mariana Guerreiro Pracz AFECÇÕES INTESTINAIS Os sinais clínicos mais comuns em doenças intestinais são melena, hematoquesia, tenesmo e disquezia (ineficiência ou esforço para defecação/dor para defecar, pode estar associado à doenças obstrutivas de cólon distal ou reto) e constipação. Os exames complementares de eleição são as análises fecais: coproparasitológico, testes de flutuação identificam nematódeos e giárdia, testes de sedimentação detectam trematódeos, exame direto detecta estrongiloidíase e Trichuris. Também pode ser feito citologia das fezes para analisar presença de células neoplásicas por exemplo. Estudo contrastado dos intestinos: se quer avaliar intestino delgado deve fazer o animal ingerir sulfato de bário, se quer avaliar intestino grosso faz enema de bário (animal anestesiado). Colonoscopia avalia principalmente intestino grosso e identifica doenças crônicas, feito em últimos casos porque não é muito acessível, faz avaliação da mucosa (não avalia função/motilidade), precisa de jejum prévio de 24hrs e é necessário enema para a realização do exame. ENTERITE AGUDA É a inflamação da mucosa intestinal e está normalmente associada à gastrite (gastroenterite). O primeiro local que geralmente é afetado é o intestino delgado. As causas de enterite podem ser parasitárias (Giardia sp., Ancylostoma caninum, Toxocara spp., Toxascaris leonina), enterite dietética (imprudência dietética, pela ingestão de lixo ou de carne em decomposição, material estranho abrasivo ou indigerível), ingestão excessiva, mudança repentina de dieta e intolerância alimentar), enterite tóxica (antibióticos, AINEs, ou toxinas como inseticidas), enterite infecciosa (bactérias, vírus, fungos), enterite obstrutiva (massas, corpo estranho, intussuscepção, aderências), doenças intestinais secundárias (doença renal, doença hepática, pancreatite, diabetes mellitus, hipoadrenocorticismo, insuficiência pancreática exócrina), doenças inflamatórias do ID (enterite linfocítico-plasmocitária, enterite eosinofílica, enterite granulomatosa), supercrescimento bacteriano no ID, hipertireoidismo (gatos) e neoplasias intestinais (linfoma, adenocarcinoma). Principal sinal clínico é a diarreia de início agudo, geralmente de caráter mucoide ou sanguinolenta. Se houver vômito é porque é um quadro de gastroenterite. Diagnóstico: anamnese, exame físico e alguns exames complementares podem ser feitos (hemograma com leucocitose e possível leucopenia, cultura e citologia fecal) geralmente faz-se exclusão de outras doenças que causam os mesmos sintomas. Tratamento: Tratamento é feito com fluidoterapia para corrigir desidratação perdida pela diarreia, suplementação com KCL (30- 40mEq); antibioticoterapia (enrofloxacina 5mg/kg BID/metronidazol 15-25mg/kg BID/amoxicilina com clavulanato 15-20mg/kg BID) e podem ser feitos antieméticos e antiácidos dependendo do quadro do animal. ENTERITE VIRAL: É causada principalmente por parvovirose canina tipo 2 e a contaminação é via orofecal, o vírus tem predileção por células de rápida divisão, ou seja, células intestinais, medula óssea, tecido linfoide. Os sinais clínicos aparecem de 2-5 semanas após a infecção e o animal elimina o vírus maciçamente, de 8-10 dias após a apresentação clínica. esses sinais clínicos são de uma gastroenterite, ou seja, atinge todo o trato gastrointestinal, pois as células de rápida divisão estão por todo ele e na grande maioria das vezes, além da diarreia (pode ter melena ou hematoquesia) apresenta vômito intenso. Ocorre em animais jovens e não vacinados, locais em que tem alta densidade populacional pode ocorrer surtos. A diarreia é sanguinolenta e de odor fétido característico, de início repentino. A coronavirose canina do tipo I e II também causa enterite, a transmissão é orofecal, principalmente naqueles lugares de alta população (canis). O vírus tem tropismo pelas vilosidades. Os sinais clínicos aparecem de 1 a 4 dias após a infecção e a eliminação do mesmo acontece após 2 dias do animal ter de infectado. Esses sinais são mais brandos que a parvo, as vezes pode evoluir para gastroenterite causando vômito. Diferentemente da parvovirose, a coronavirose acomete mais cães adultos e idosos. A coronavirose entérica felina é similar à canina, porém tem grande importância, pois se não tratada pode evoluir para PIF. Diagnóstico é feita pela anamnese, exame físico e o exame complementar é recomendado, nesse caso teste rápido de ELISA das fezes (cuidar com falso positivo dos vacinados), ainda pode solicitar hemograma, que vai apresentar neutropenia. É importante fazer o diferencial para detectar se é corona ou parvo. Após confirmação você deve manter o animal em isolamento, tratamento com fluidoterapia para corrigir desidratação com ringer lactato para repor eletrólitos e suplementação de KCl (30-40mEq), avaliar glicemia porque geralmente esse animal está em anorexia. Se animal estiver em glicemia muito baixa, faz sonda nasogástrica e fazer alimentação clínica. Se houver hipoalbuminemia grave (>2g/dL) faz transfusão de plasma ou solução coloidal. Se o animal tiver com neutropenia ou então para fins profiláticos entra com antibiótico (Cefalotina, Metronidazol, Ampicilina, Enrofloxacina) antieméticos normalmente são necessários (Ondansetrona ou Metroclopramida), pode fazer antiácido (Ranitidina). A alimentação deve ser feitas em pequenas CLÍNICA DE PEQUENOS – P1 quantidades para controlar o vômito. O parvovirus permanece por anos no ambiente, então é importante manter a limpeza em dia. ENTERITE PARASITÁRIA: geralmente acomete cães e gatos filhotes e a intensidade depende da carga parasitária. Causa diarreia, se for sanguinolenta pensamos em Ancylostoma e Strongyloides. Há perda de peso, liberação de parasitas nas fezes em alguns casos, irritação perineal pensamos em Dipilidium. Diagnostico é pela anamnese, exame físico e exames complementares (no hemograma visualiza anemia e hipoproteinemia) e coproparasitológico faz identificação do parasita. O tratamento para nematódeos é com Pirantel e Febendazol, sendo que gatos são mais sensíveis ao Febendazol. Para ancilóstomos usa Fembendazol, Pirantel, Ivermectina, Selamectina. Para tênias/Dipilidium Praziquantel (repetir em 21 dias). Importante fazer controle de pulgas por causa do dipylidium. Para estrongiloides usa Fembendazol (5 dias seguidos) ou Ivermectina. DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL É a enterite crônica, caracterizada por sinais GI crônicos ou recorrentes, pode ser idiopática, é imunologicamente mediada (resposta exagerada do sistema imune a antígenos bacterianos e/ou antígenos dietéticos por mudanças na dieta), agrupamento de diversos distúrbios caracterizados pela presença de células inflamatórias na lâmina própria intestinal é uma enteropatia crônica, frequente, não está tão bem caracterizada na veterinária como em humanos e se extrapola muito (tratamento de humanos em animais). Animais de meia idade (5 a 10 anos), há relatos em animais com menos de 2 anos, não há evidências genéticas e não há predisposição por gênero animal, acomete gatos com mais frequência. O curso dessa doença é imunomediada com reposta exagera a esses antígenos, então temos a doença inflamatória, hipersensibilidade alimentar e intolerância alimentar. Na doença intestinal inflamatória ocorre sensibilidade alimentar secundária a inflamação no intestino, então não sabemos se a inflamação é consequência da alimentação ou se a intolerância é secundária. Hipersensibilidade alimentar, reação de alérgica, desencadeamento do sistema imune, na intolerância alimentar a reação adversa aos ingredientes ou aditivos sem resposta imune. Quando o animal tem intolerância alimentar (apenas a intolerância não apresenta reação imune, pode ter reação em outros locais como pele, e quando alterações a dieta a resposta é duradoura, na doença intestinal a resposta a dieta é transitória ou incompleta, visto que o problema não será na alimentação. Sinais clínicos: bastante variáveis, e a gravidade depende da localização, é caracterizado por exacerbações e remissões e o vômito é o sinal mais comum, também diarreia (ID, IG ou mista), perda de peso pois apesar de haver ingestão de alimentos estes não são totalmente digeridos e absorvidos no intestino, podendo ter inclusive polifagia. O animal também pode apresentar apatia, polifagia ou hiporexia, efusões quando há enteropatia com perda de proteína quando em estadiamento avançado podendo levar a distensão abdominal, distrição respiratória e edema de membros. É uma doença caracterizada por má absorção por inflamação na lâmina própria. Falta de absorção de proteínas pode levar a distensão abdominal, edema de membros. Diagnostico: se dá pela associação de dados como histórico e sinais clínicos, principalmente sinais persistentes de vômito, diarreia e perda de peso (2-3 semanas), falha em responder a alteração de dieta, na resposta terapêutica sintomática, também falha no diagnóstico de outras causas, também associado a exames laboratoriais, exame de imagem e histopatologia. Diagnósticos diferenciais incluem enterite responsiva a antibiótico, enterite responsiva a alterações dietéticas, enterite parasitária, linfoma intestinal, insuficiência pancreática exógena. Nos Exames Complementares o exame fecal descarta causas parasitárias, o hemograma pode apresentar anemia, leucocitose/leucopenia, trombocitose/trombocitopenia ou ainda estar normal. Teste de imunorreatividade de tripsina ou teste de desafio de triglicerídeos para descartar IPE. Bioquímica sérica pode apresentar hipoproteinemia/hipoalbuminemia em casos graves, hipocolesterolemia. Radiografia sem informações relevantes. Na Ultrassonografia observa-se espessamento da parede intestinal, estriações na parede do intestino e efusão abdominal. Na Endoscopia, edema de parede, hiperemia, aumento da granularidade, friabilidade e pode ser identificada erosão. Na Histopatologia, a endoscopia é minimamente invasiva e rápida, tem-se acesso visual da lesão, coleta uma amostra pequena e visualiza o duodeno. Por laparotomia é mais invasivo, mas permite coleta todas as camadas intestinais e linfonodos se necessário e confere melhor resultado no histopatológico. Tratamento: amplamente empírico, animal ainda pode ter episódios de diarreia, diminui a quantidade de bactérias, células inflamatórias, mas não resolve, será vitalício (baseado na medicina humana). Os princípios incluem alteração dietética, antibioticoterapia e glicocorticoides/terapia citotóxica. A dieta deve ser constituída de poucos lipídeos (<15% gatos e <10% cães), pois a gordura requer uma digestão complexa e como o intestino está com má absorção a gordura atinge o ID distal e cólon e bactérias indesejáveis acabam aproveitando essa gordura formando AG pró-inflamatórios e pró secretórios levando a injúria da mucosa e diarreia osmótica. Não se pode retirar totalmente, pois causaria deficiência de ácidos graxos essenciais, além de ser uma fonte de energia e garante palatabilidade ao alimento. Os Carboidratos ruins são mal absorvidos e causam diarreia osmótica, aumentando a perda de água e eletrólitos, o que aumenta população de bactérias patogênicas e promove acidificação do cólon, favorecendo ácidos graxos inflamatórios. Usar arroz, batata, tapioca. Proteínas em contato com a mucosa lesada agravam a hipersensibilidade, aumentam produção de amônia pelas bactérias e alteram a população bacteriana. CLÍNICA DE PEQUENOS – P1 ► Dieta: deve ser de alta digestibilidade, incluindo uma nova proteína ou proteína hidrolisada pois esta atravessa o enterócito diretamente por ter baixo peso molecular e assim não precisa interagir evitando formação de imunocomplexo. Carboidratos de fácil digestão, livre de glúten, baixo teor de glicose, fibras aumentadas em casos de colite, altamente palatável, fornecida em pequenas porções e várias vezes ao dia. Fazendo um período de teste de ao menos 7 dias. Suplementação com Psyllium ou farelo de aveia ou benefiber para garantir suplementação de fibras principalmente para colites. Dietas hipoalergênicas também podem ser utilizadas ou ainda dietas caseiras com arroz, batata, tapioca, peru, tofu, ovo, coelho, acrescentar suplemento vitamínico e óleo vegetal. Ácidos graxos como ômega 3 ajudam diminuindo a inflamação, melhoram a função da mucosa e diminuem a dose de demais fármacos. ► Imunossupressores: prednisona 1 mg/kg BID e manter 21 dias e depois regredir a dose. Pode associar com azatioprina 2 mg/kg a cada 48h. ► Tratamento Citotóxico: Ciclosporina pode ser uma alternativa para animais que não podem utilizar corticoides. Ela inibe ativação de linfócitos T. ► Metronidazol apresenta sinergismo com prednisona e azatioprina 10-14mg/kg BID. 14-21 dias. Troca dieta se não responder em uma semana entrar com metronidazol e se não responder utilizar corticoide. INTUSSUSCEPÇÃO É a invaginação de um segmento com o adjacente, é a principal consequência das diarreias, pois haverá hipermotilidade da região inflamada do intestino, enquanto a parte que não está inflamada segue com a motilidade normalmente, isso vai causar a invaginação do segmento de diâmetro menor dentro do segmento de diâmetro maior. Isso ocorre geralmente na região ileocólica, que é a área de transição entre o intestino delgado (íleo) e grosso (cólon), com o tempo, a parte que é invaginada, o intussucepto, começa a ter sua motilidade diminuída, consequentemente as fezes ficam presas nessa região. É mias comum em animais jovens, pois o intestino é mais fino e é raro em gatos, esses animais tem histórico de enterite ativa, com diarreia líquida (pois a parte sólida está presa na intussuscepção), podem apresentar vômito quando o animal tem gastroenterite, dor abdominal de grau variável, essa for pode causar apatia e hiporexia. O diagnóstico é feito a partir da anamnese e exame físico, mas é importante solicitar exames complementares, na ultrassonografia é possível visualizar a área de intussuscepção. É importante identificar a causa base, para evitar que ocorra novamente. O tratamento clínico é a estabilização do paciente com fluidoterapia em casos de desidratação, reposição de eletrólitos, antibióticos e antieméticos. Se houver sinais de sepse é importante investigar, pois pode acontecer da alça intestinal se romper e vazar conteúdo para a cavidade abdominal. Após estabilizar o animal, ele é submetido a uma cirurgia de ressecção ou redução da região intestinal. SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL Causa a diarreia crônica do intestino grosso, não tem relação com as causas de enterite aguda e não apresenta infiltração celular. É uma alteração funcional do intestino grosso, que aumenta a motilidade e não permite que as fezes fiquem consistentes, pois não da tempo de absorver a parte líquida das fezes, geralmente esta alteração está relacionada com estresse. Os animais vão apresentar diarreia em intervalos espaçados, mas recorrente, é raro ocorrer hematoquezia e perda de peso. O diagnóstico é presuntivo, associando a anamnese e exame físico, fazendo exclusões , ainda pode fazer o diagnóstico terapêutico, amentando a concentração de fibras da dieta, anticolinérgicos (Propantelina 0,25 – 0,5mg/kg BID/TID) que diminui a motilidade do intestino grosso.
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