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ENG06632-Metalurgia Extrativa dos Metais Não-Ferrosos II-A Nestor Cezar Heck - DEMET / UFRGS 1 1 SECAGEM 1.1 INTRODUÇÃO A secagem é o tratamento de remoção da água ‘livre’ (ligada ‘físicamente’, ‘fracamente’) a uma substância (não estão compreendidos na secagem os processos de remoção da água por meios mecânicos do tipo centrifugação ou prensagem; estes são melhor descritos pela expressão deságue). A secagem é utilizada para facilitar o manuseio (carregamento, descarregamento, transporte pneumático) de substâncias pulverulentas; para baixar o custo de transporte de matérias-primas (sem ignorar o custo da secagem!); para aumentar o valor de uma commodity ou para cumprir especificações a respeito da matéria prima ou de um produto (naturalmente, ao se cumprir uma dessas metas, outras podem ser atingidas simultaneamente). 1.2 TERMODINÂMICA DA SECAGEM A secagem pode ser compreendida com a ajuda de um diagrama de equilíbrio de um único componente, a água1. Segundo a regra das fases de Gibbs: P + F = C + 2 ; onde P é o número de fases, F é o número de graus de liberdade e C é o número de componentes. Neste caso, a substância H2O é tomada como sendo o (único) componente do sistema, então C = 1. As fases estáveis desse sistema podem ser vistas em um diagrama que as apresenta em função da pressão e da temperatura, Figura 1.1. Com as três fases em equilíbrio – o ‘ponto tríplice’ da água (ponto O, Fig. 1.1) – tanto a pressão quanto a temperatura ficam previamente determinadas e fogem, portanto, do livre arbítrio. Com duas fases em equilíbrio – por exemplo: água e vapor – pode-se escolher ou a temperatura ou a pressão; quando uma dessas variáveis tem um valor finito, o valor da outra fica automaticamente definido. O valor da pressão parcial do vapor d’água, em função da temperatura T, para o equilíbrio: H2O(l) = H2O(g) , é a variável termodinâmica mais importante da secagem, e pode ser determinado com a ajuda da seguinte expressão: ⎥⎦ ⎤⎢⎣ ⎡ +−= 16,273 54227316,14expOH2 T p , com pH2O dado em [atmosferas] e T em [graus Celcius]; esse valor corresponde à linha O-A, Fig. 1.1. Ela nos diz que é vantajoso secar uma substância em uma temperatura acima daquela do ambiente, pois, nas condições de equilíbrio, a fase gasosa admite uma pressão parcial de vapor d’água mais elevada. A água contida na substância úmida, ao tentar estabelecer essa pressão, se evapora, e a substância, por consequência, seca! Como o ar da atmosfera não é seco (isento de água), essa condição desse ser considerada. Assim, a expressão do quociente entre a pressão parcial da água existente na atmosfera (de secagem) e a pressão parcial do equilíbrio água-vapor d’água, a uma mesma temperatura, dada em termos percentuais, é conhecida pelo nome de umidade relativa. Sua importância está na capacidade de revelar o quanto o sistema está afastado do seu estado de 1 Este modelo, embora simples, não é óbvio; vale lembrar que componentes de sistemas termodinâmicos são normalmente espécies atômicas como: carbono, oxigênio, etc. Usando-se H2O, nesta análise, desconsidera-se a existência das espécies químicas H2 e O2; esta aproximação, para temperaturas ‘baixas’, contudo, pode ser considerada razoável. ENG06632-Metalurgia Extrativa dos Metais Não-Ferrosos II-A Nestor Cezar Heck - DEMET / UFRGS 2 equilíbrio. Ela é um fator importante não somente na determinação da quantia de água que pode ser absorvida pela atmosfera, quanto na avaliação da cinética da secagem – pois representa a força motriz do processo. A secagem é um processo endotérmico; o valor da entalpia da evaporação pode ser apresentado como uma função da temperatura T, segundo: ∆HºT [J / mol] = 22.136,8 - 45,47⋅T + 5,36E-3⋅T 2 + 3,349E 4⋅T -1 . Esta equação mostra, curiosamente, que ela é maior à 25°C do que à 95°C! Ao calor latente necessário para a vaporização da água deve-se adicionar o calor sensível, necessário para elevá-la à temperatura de vaporização (ou de ebulição). Quando a energia é muito cara em relação ao valor da mercadoria ou o tempo necessário para a secagem não é um fator importante, faz-se a secagem do material pela sua exposição ao ar, à temperatura ambiente. Senão, são necessários métodos mais eficientes. Fig.1.1: Diagrama esquemático P-T das fases estáveis da água (sistema unário) 1.3 CINÉTICA DA SECAGEM Sempre que a pressão parcial da água em equilíbrio no sistema superar a pressão do ambiente (do reator, ou total), a taxa de transferência da água, do estado líquido para o gasoso, aumenta consideravelmente, tornando-se violenta; diz-se, neste caso, que a água entra em ebulição. À temperatura de 100ºC, o valor da pressão do vapor d’água é de 1 atmosfera; por esta razão, 105ºC é uma temperatura muito empregada na secagem. Pode-se ver – com a ajuda da Figura 1.1 – que é possível fazer a água entrar em ebulição em qualquer temperatura – basta mantê-la num reator cuja pressão total seja menor do que aquela preconizada pelo equilíbrio água–vapor d’água na temperatura da secagem; ENG06632-Metalurgia Extrativa dos Metais Não-Ferrosos II-A Nestor Cezar Heck - DEMET / UFRGS 3 tecnicamente, no entanto, essa técnica exige a utilização de bombas de vácuo. Conforme foi sugerido, a força motriz da secagem depende do gradiente de concentração da água na atmosfera: entre aquela que envolve o material a ser secado e a atmosfera do ambiente (trata-se, na realidade, de uma diferença no potencial químico da água entre os dois pontos). A secagem, portanto, para ser eficiente, exige o uso de gases com baixa pressão parcial de água (gases secos) ou gases quentes (onde o valor da pressão parcial da água no equilíbrio é elevada). Isto sugere um cuidado especial na escolha do combustível; gases quentes gerados pela combustão de hidrocarbonetos, por exemplo, contêm água! A fase gasosa normalmente é responsável tanto pelo transporte do calor até o ponto onde está o material, quanto pelo arraste do vapor d’água desprendido por ele durante a secagem. Logo, a taxa de renovação da atmosfera pode ser de vital importância na secagem (é importante lembrar, contudo, que o arraste de substâncias pulverulentas pode ser um grande empecilho na otimização dessa variável). Como as taxas de transferência são proporcionais à área de troca, é importante contar com uma grande área de contato entre a substância úmida e a fase gasosa. 1.4 PROBLEMAS Possíveis complicações durante a secagem estão relacionadas com o aparecimento de reações químicas indesejadas – que podem produzir gases, calor (com o perigo de incêndio) e até provocar a transformação da substância original em outra – e com o arraste pneumático de material em processamento – no caso de substâncias pulverulentas. Os mecanismos associados ao transporte de massa e de calor podem apresentar resistências significativas, capazes de controlar a taxa da secagem. A resistência à passagem de calor nas camadas superficiais, já secas, da substância, por exemplo, pode ser muito maior do que aquela da substância úmida. A condensação da água em partes mais frias do material (ou equipamento) também podem limitar a eficiência do processo. 1.5 REATORES A secagem é realizada em reatores de leito fixo, leito fluidizado e em forno rotativo.
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