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Questões raciais associadas à histórias infantis - Janinne S

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QUESTÕES RACIAIS ASSOCIADAS À HISTÓRIAS INFANTIS 
 
 
 
 
RESUMO: 
 
O presente trabalho analisa, a partir de questões norteadoras sobre raça/etnia, quatro 
personagens negros da literatura infantil brasileira sob a ótica dos estereótipos raciais bem como 
o poder de influência da literatura na construção de um pensamento racista desde a infância. 
Aponta, ainda, como tal tema deveria ser abordado e a importância de tratar sobre o racismo na 
literatura. Trata-se de uma pesquisa qualitativa com investigação bibliográfica que busca 
fundamentação na literatura para obter um entendimento mais concreto e trazer à tona as 
representações construídas sob a perspectiva das relações de poder sobre raça/etnia. Ademais, esta 
pesquisa apresenta-se como um recurso pedagógico que pode contribuir para desmistificar os 
preconceitos, historicamente, enraizados em nossa sociedade. Baseado em uma leitura crítica, com 
o objetivo de demonstrar como uma narrativa aparentemente inocente, divulga e reproduz 
comportamentos preconceituosos e racistas. Nesse sentido, são apontadas reflexões para os 
leitores repensarem os conceitos que estão presentes nas histórias infantis as quais influenciam o 
imaginário das crianças, futuros adultos, constituintes da esfera social. 
 
Palavras chave: Literatura infantil; Racismo; Infância; Etnia; Preconceito. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………... 
2 DESENVOLVIMENTO…………………………………………………………………...... 
 2.1 TIA NASTÁCIA ………………………………..………………………………………………………….. 
 2.2 O SACI………………………………………………………………………………………………………. 
 2.3 NEGRINHA…………………………………………………………………………………………………. 
 2.4 A PRINCESA E O SAPO…………………………………………………………....................................... 
 2.5 A REPRESENTATIVIDADE NA LITERATURA INFANTIL ……………………………………….... 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………………..... 
4 REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………...... 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
A literatura infantil, sobretudo os livros infantis de contos de fadas e lendas, fazem parte 
da construção de identidade das crianças pois impõem padrões comportamentais, regras sociais e 
morais que são socialmente valorizados. Desse modo, a partir das questões de raça-cor, tem-se 
que “o racismo consiste na discriminação de pessoas, baseado em características fenotípicas, 
justificando a superioridade de uma raça sobre a outra” (SILVA; PALUDO, p. 7107, 2011). 
A partir disso, o racismo e educação somados, ressaltam a importância da função social 
da escola bem como da diversidade cultural. Sabe-se que os materiais utilizados na escolarização 
infantil são responsáveis para a construção da identidade da criança. Pode-se dizer que, o primeiro 
contato do indivíduo com questões raciais, é feito dentro da sala de aula. Logo, surge a necessidade 
de analisar como tem sido retratada a figura do negro na literatura infantil e como isso se reverbera 
no imaginário da criança, na sua construção de percepção de mundo, na agregação de valores e do 
seu papel social. 
O que tem ocorrido na literatura infantil é o “racismo implícito”. A discriminação 
implícita é a mais comum, pois aparece sutilmente de maneira subjetiva, sendo mais difícil seu 
combate por ser muitas vezes imperceptível. Ao apresentar as crianças obras literárias em que o 
personagem negro é sempre relacionado à inferioridade ou à incapacidade de forma suavizada faz 
com que o preconceito racial seja naturalizado desde a infância. Tal situação permite que a criança 
perpetue e reproduza ações e pensamentos discriminatórios. 
Sob essa perspectiva, faz-se necessária a desconstrução de comportamentos racistas por 
meio de uma reformulação da literatura infantil apresentando, dessa maneira, obras que abordem 
a discriminação racial da maneira correta. Ensinando às crianças a importância do tema e as 
instruindo sobre a igualdade racial ao passo em que também corre a integração sociocultural e leva 
a representatividade a criança negra. Portanto, a literatura infantil é uma grande ferramenta na 
busca pela compreensão da desigualdade racial, proveniente das relações de poder estabelecidas 
historicamente, além de promover uma reflexão sobre as diversas violências raciais presentes na 
sociedade. E assim, fomentar uma mudança de atitude e pensamento desde a infância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2. DESENVOLVIMENTO 
 
De acordo com Gouvêa (2005), no Brasil, desde as décadas de 20 e 30 do século XX que 
a produção literária destinada a criança foi afirmada, em paralelo com o processo de modernização 
social. Segundo a mesma autora (2005), nas obras produzidas até a década de 1920 os personagens 
negros eram invisibilizados ou relacionados ao recente passado escravocrata, ou seja, mudos e 
desprovidos de uma caracterização que fosse além da referência racial. 
A partir daí, os personagens negros tornam-se frequentes, descritos de maneira a 
caracterizar uma suposta integração racial, hierarquicamente definida (GOUVÊA, 2005). Nesse 
sentido, os negros aparecem como personagens estereotipados, descritos a partir de referências 
culturais marcadamente etnocêntricas que, se buscam construir uma imagem de integração, o 
fazem a partir do embranquecimento de tais personagens (GOUVÊA, 2005). O que aponta que a 
libertação dos negros escravizadas não resolveu o problema do preconceito alimentado por séculos 
de escravidão. 
 Em contraposição às ideias de eugenia (manutenção da pureza racial) e degenerescência 
racial (baseava-se numa concepção de que o contato sexual-afetivo entre os povos negros e 
brancos era visto de forma degenerativa), na década de 30, Gilberto Freyre, em seu livro intitulado 
Casa-grande & senzala, ressignificou os estudos sobre as relações raciais brasileiras, apontando a 
positividade da cultura negra (GOUVÊA, 2005). O que Freyre fez foi resgatar a importância do 
negro para a construção de nossa identidade nacional a construção de nossa cultura, do nosso jeito 
de pensar, de agir e de falar. Ele enalteceu a figura do negro dando a ela sua real dimensão, sua 
real importância (TRINDADE M.S.F., 2007). 
 Portanto, conforme afirma Araujo (2018), houve um avanço na representação de 
personagens negras, por reconhecerem que nos primórdios dessa produção literária não havia 
sequer tais representações, porém não foi o suficiente. Assim, a literatura endereçada ao público 
infantil e juvenil estaria marcadamente, desde seus primórdios, comprometida com a perpetuação 
de relações de dominação racial, tendo a população negra como coadjuvante da história desse 
gênero literário (ARAUJO, 2018). 
Tendo em vista que o racismo promove desigualdade de oportunidades, compromete a 
qualidade de vida do indivíduo e apresenta uma série de consequências simbólicas e materiais, há 
no Brasil uma lei instituída que condena atos de discriminação racial, Lei nº 7.716 do ano de 1989. 
Segundo Camino e colaboradores (2001), supõe-se que o preconceito racial deveria se extinguir 
diante das leis anti-racistas atribuídas na sociedade. Entretanto, o que tem acontecido são 
“mudança nas formas de expressão e no conteúdo do preconceito”. Dessa forma, Camino aponta 
 
 
 
que onde antes aconteciam expressões discriminatórias abertas e agressivas passou a acontecer 
uma suavização, ou seja, formas menos evidentes de praticar o racismo. Assim, a população pode 
continuar praticando essas ações sem serem punidas. 
[...] Estas conceitualizações pressupõem que nos últimos 30 ou 40 anos as 
sociedades modernas vêm desenvolvendo um conjunto de restrições institucionais 
às práticas discriminatórias baseadas nas diferenças de raça. Pressupõem também 
que em conseqüência destas práticas institucionais as pessoas vêm se adaptando a 
essas pressões (CAMINO et. al., 2001). 
 
 Sob essa perspectiva, alguns contos infantis se tornaram instrumentos suavizadoresdo 
preconceito motivado pela raça ou cor. Sendo assim, é importante apresentar, levando em 
consideração o tema deste trabalho, determinados contos que trazem personagens negros 
estereotipados e inferiorizados para a realização de análise do impacto dessa abordagem sob a 
formação das crianças quanto indivíduos e participantes da sociedade. Além de demonstrar, 
também, como o racismo pode ser apresentado para esse público, por meio de obras literárias, de 
forma educacional e empoderadora. Portanto, tais obras não irão preservar pensamentos e ações 
discriminatórias na formação identitária e no papel social destas crianças. 
 
2. 1 TIA NASTÁCIA 
De acordo com Lajolo (1998), Tia Nastácia, uma das personagens do autor Monteiro 
Lobato, era considerada uma negra de estimação. Apesar de aproveitar a afetividade da matriarcal 
família branca, trabalha na cozinha, limitando a curtas incursões pela sala e varanda, reiterando 
seu emblema de seu confinamento e de desqualificação social. No decorrer da obra infantil 
lobatiana, Emília em momentos de discussão e desentendimento desrespeita a “velha cozinheira”, 
como descrito em diversas passagens de “Histórias de Tia Nastácia”: 
 
“Pois cá comigo - disse Emília - só aturo estas histórias como estudos da 
ignorância e burrice do povo. Prazer não sinto nenhum. Não são 
engraçadas, não têm humorismo. Parecem-me muito grosseiras e até 
bárbaras - coisa mesmo de negra beiçuda, como Tia Nastácia. Não gosto, 
não gosto, e não gosto! - Bem se vê que é preta e beiçuda ! Não tem a menor 
filosofia, esta diaba. Sina é o seu nariz, sabe ? Todos os viventes têm o 
mesmo direito à vida, e para mim matar um carneirinho é crime ainda maior 
do que matar um homem. Facínora! - Emília , Emília! - ralhou Dona Benta. 
A boneca botou-lhe a língua” (LOBATO, 1937). 
Segundo Gouvêia (2005), a suposta inferioridade estética, presente nas histórias de Lobato, 
corresponde uma desqualificação cognitiva. No livro, Tia Nastácia conta histórias para os 
moradores do sítio que comentam o que ouvem. No entanto, ao passo que o livro continua, cresce 
a insatisfação da platéia com as histórias narradas, às quais ninguém poupa críticas (LAJOLO, 
 
 
 
1998): “Eu (...) acho muito ingênua esta história de rei e princesa e botas encantadas, disse 
Narizinho. Depois que li Peter Pan, fiquei exigente” (LOBATO, 1937). Portanto, Tia Nastácia 
transfere para o lugar de contadora de histórias a inferioridade sócio cultural da posição (de 
doméstica) que ocupa no grupo e além disso, por contar histórias que vêm da tradição oral não 
desempenha função de mediadora da cultura escrita, ficando sua posição subalterna à de seus 
ouvintes, consumidores exigentes da cultura escrita (LAJOLO, 1988). 
Ainda assim, todas as vezes que Tia Nastácia acompanha os picapauzinhos nas aventuras 
que se passam além da porteira do sítio, ela cumpre, nos novos espaços, o mesmo papel que 
cumpria dentro do sítio: fazendo bolinhos para o Minotauro ou fritando batatas para o príncipe 
Codadad é a velha Nastácia que se encontra sempre, numa imobilidade ficcional que parece 
combinar bem com a representação da imobilidade social a que estão confinados os segmentos 
dos quais ela pode ser o emblema (LAJOLO, 1988). 
Nesse sentido, entende-se que o conjunto da obra infantil lobatiana colabora para a 
marginalidade da cultura popular representada por Tia Nastácia. E ainda representa uma 
contradição entre o projeto de resgate da tradição oral e sua inadequação ao presente, na medida 
em que era associada à ignorância e à falta de criatividade (GOUVÊIA, 2005). Logo, Monteiro 
Lobato apresenta traços preconceituosos em suas obras, como no livro “Caçadas de Pedrinho” 
(1933), termos como “macaca de carvão” e “carne preta” são usados pela personagem e pelo 
próprio autor para falar sobre Tia Nastácia. Em “Reinações de Narizinho”, originado do conto 
“Narizinho arrebitado” (1921), é possível destacar outro trecho em que os personagens tratam Tia 
Nastácia usando expressões racistas. Narizinho afirma: 
“Tia Nastácia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta. - Que não 
seja boba e venha – disse Narizinho – eu dou uma explicação ao respeitável 
público. (...) - Respeitável público, tenho a honra de apresentar vovó, Dona Benta 
de Oliveira, sobrinha do famoso Cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira, que 
já morreu. Também apresento a princesa Anastácia. Não reparem ser preta. É preta 
só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-
a a ficar assim até que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então, 
o encanto se quebrará e ela virará uma linda princesa loura”. 
Do mesmo modo, nesse trecho há o reforço dos estereótipos raciais disfarçado pelo afeto 
que os demais habitantes do Sítio do Pica Pau Amarelo sentem por Tia Nastácia. Percebe-se assim 
a visão racista e etnocêntrica do conto, atribuindo à natureza do negro um sentimento de 
inferioridade racial e um desejo de embranquecimento, que estariam presentes na própria cultura 
africana e não seriam fonte da desqualificação vivida no contato com a cultura branca. Assim, o 
negro seria naturalmente inferior, almejando sempre embranquecer-se para aprimorar-se 
(GOUVÊIA, 2005). Após essa breve análise, fica a pergunta: qual é o lugar do negro construído 
por Monteiro Lobato? 
 
 
 
 
2. 2 O SACI 
 
“O pioneirismo de Monteiro Lobato o fez privilegiar o Saci-Pererê como símbolo 
do espírito nacional, uma espécie de produto da fantasia imaginativa das três 
raças formadoras do povo brasileiro, importante mito da Cultura Popular e do 
Folclore. O Saci inscreve-se num tema que pertence às raízes e ao patrimônio 
cultural do Brasil. Sua função é, principalmente, contribuir para a preservação da 
cultura brasileira. Ao resgatar o mito do Saci-Pererê, Monteiro Lobato o cerca de 
características brasileiras, utilizando não apenas suas próprias pesquisas, mas os 
depoimentos que obteve por ocasião do inquérito realizado através do jornal O 
Estado de São Paulo. Nesse momento, preocupado com o nosso desenraizamento 
cultural, resgata para o povo urbano a sua consciência original, que se encontrava 
enfraquecida em decorrência da grande infiltração das ideias europeias” 
(BLONSKI, p. 164, 2004). 
 
O Saci possui características e interpretações diferentes a depender da região do Brasil; 
porém, esse personagem é reconhecido em todo território nacional como sendo um garoto negro, 
de uma perna só e que usa um cachimbo na boca. Monteiro Lobato foi o primeiro escritor brasileiro 
a se interessar pelo Saci-Pererê. 
“Realizou (Lobato) uma pesquisa entre os leitores do jornal O Estado de São 
Paulo, intitulada de Mitologia Brasílica - Inquérito sobre o Saci-Pererê, no ano 
de 1917, Lobato colheu respostas dos leitores do jornal através de uma coletânea 
de cartas que recebia dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo e 
que narravam depoimentos com versões do mito. Esse trabalho resultou na 
publicação de seu primeiro livro, Saci-Pererê: resultado de um inquérito, no ano 
seguinte” (BONIFÁCIO, p. 97, 2017). 
 
A partir disso, Saci passou a estrelar diversas obras de Monteiro Lobato; nas histórias do 
“Sítio do Pica Pau Amarelo”, por exemplo, o Saci aparece repetidas vezes. O Saci surge com 
chifres na cabeça e um porrete na mão, na ilustração da capa do livro “Saci-Pererê: Resultado de 
um Inquérito”. Pode-se supor, então, como início às questões raciais que tangem a história do Saci 
que, o intuito de Lobato, era promover a desqualificação do negro associando-o a um “demônio”: 
demonização do mito. 
Ademais, a própria representação do Saci-Pererê pode ser considerada pejorativa no que 
diz respeito à inferiorização da imagem do homem negro no território brasileiro. Acerca disso, 
tem-se Queiroz (1987) que afirma que o Saci é sempre negro e suas características físicas detém: 
 "(...) elementos cristalizados nas representaçõescoletivas, deformadas e 
preconceituosas, definidoras do negro brasileiro como ser inferior, próximo à 
animalidade, portador de atributos maléficos (...)" (QUEIROZ, p. 58, 1987). 
 
A exemplo disso, diversos trechos do livro “Saci-Pererê: Resultado de um Inquérito” 
estabelecem uma relação pejorativa e depreciativa ao Saci e ao fenótipo negro. No depoimento de 
número dois, tem-se: 
 
 
 
"Ele (o Saci) era um negrinho muito magro, muito esperto, de uma perna só, do 
tamanho de um menino de 12 anos, muito feio, banguela, olhos vivos, rindo 
sempre um riso velhaco de corretor de praça, carapinha grande, a saltar e a saltar 
e a fazer peraltagens ruins" (LOBATO, p. 45, 2008). 
 
Já o depoimento do senhor Miguel Milano traz que: 
 
"[...] o Saci não passava de um miúdo negrinho – cara de macaco, muito 
delambido –, filho do diabo, dotado de uma perna só, com calda regular e que 
desenvolvia a velocidade superior a de um cavalo" (LOBATO, p.82, 2008). 
 
Por outro lado, o senhor João Corisco aponta o seguinte: 
 
"[...] era um pretinho de um metro de altura, uma perna só, vestido com um calção 
de baeta vermelha, [...] nariz adunco, barbinha de bode preto, e as unhas das mãos 
muito compridas. Foi assim que comecei a conhecer o 'capeta' o Saci dos tempos 
idos" (LOBATO, p. 105, 2008). 
 
O senhor Fabrício Junior alega em sua fala que o Saci tem: 
 
"Meio metro de altura, a barba como a de um bode, negro como um urubu, uma 
perna única apoiando o pé caprino, olhos grandes e vermelhos, boca aberta 
sempre num sorriso sarcástico e mau (...) dentes alvos e pontiagudos" (LOBATO, 
p. 169, 2008). 
 
Para César, em seu depoimento, Saci era: 
 
“(...) um moleque de tamanho de um menino de 12 anos, muito preto, de cabelo 
pixaim, olhos vivos – pequeninos e vermelhos; era esguio, tinha uma perna só 
(...)" (LOBATO, p. 247, 2008). 
 
Por fim, no depoimento do senhor Fonseca Sobrinho salienta-se que: 
 
"De resto é bonito o Saci? É horrível! A cara quadrada é de preto velho que já 
ultrapassou os cem janeiros; no meio do fasto carão, lá está implantado o nariz 
formidável que, de tão chato, até parecer ter sido amassado por uma valente 
punhada (...)" (LOBATO, p. 300, 2008). 
 
Em contrapartida, há um momento em que o próprio Saci-Pererê rebate as críticas que 
foram feitas a ele no livro de Monteiro Lobato. Saci faz o seguinte argumento: 
“Gostei um pouco do que ela dizia (folha do Estadinho) no primeiro número, mas 
enquizilei com o retrato. Não está nada parecido (...). Li depois os outros 
Estadinhos, que falavam da minha pessoa e mais 'danado' fiquei porque era só 
xingação contra mim. Chamam-me negro 'uniperne', malvado, feioso (...)” 
(LOBATO, p. 157, 2008). 
 
Contudo, Saci é mais reconhecido por suas aparições no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, 
como dito anteriormente, no qual nota-se uma estrutura racializada na hierarquia das personagens. 
Os negros aparecem em posições subalternas como Tia Nastácia que é a cozinheira e Tio Barnabé, 
 
 
 
o zelador do sítio. Queiroz (1987) traz, a partir do pensamento de Florestan Fernandes uma ideia 
acerca da hierarquização das representações étnicas no Brasil: 
“Segundo esse autor, o Saci seria, em grande parte, o produto da "africanização" 
de um duende ameríndio. Tal processo de "africanização" nos faria observar as 
consequências advindas da reação do negro sobre os elementos dos folclores 
ibéricos e indígenas e mostram que relativamente ao folclore do branco, há uma 
transferência das piores situações para o negro, que passa para um plano que 
poderíamos considerar inferior" (FERNANDES, 1960 apud QUEIROZ 1987, p. 
42). 
 
Ao dar enfoque a uma literatura voltada para crianças e jovens, Monteiro Lobato buscou 
uma nova percepção em favor do nacionalismo brasileiro, pois visava promover o 
desenvolvimento de uma educação que preconizava por elementos que compunham as culturas 
nacionais. Para isso, a estratégia adotada por Lobato consistiu em recriar a imagem do Saci de 
forma mais agradável, principalmente, aos olhos dos interlocutores - sobretudo no que se refere 
ao comportamento e a personalidade. 
“Monteiro Lobato, no livro O Saci, publicado pela primeira vez em 1921, recria 
a personagem, suavizando-a. O nosso herói aparece, agora, com estatura de 
criança e atitudes brincalhonas, travessas. Suas peripécias são vividas no Sítio do 
Pica-Pau Amarelo. (...) Todos os episódios são mesclados pelo surgir de outros 
mitos folclóricos, acompanhados da respectiva explicação, muitas vezes 
pormenorizada pelo próprio Saci, que ocupa o papel de regente principal dos 
acontecimentos. Este papel o coloca na posição de herói, de certa forma 
reabilitando-o de ações maléficas que os depoimentos do Inquérito lhe atribuíam, 
e mesmo das pequenas diabruras que fazia. Monteiro Lobato, desta forma, 
lembra-nos a dualidade bem/mal existente nas criaturas, bem como a 
possibilidade da retratação do mal através dos atos generosos, das boas ações. 
Coloca o Saci, inclusive, numa categoria privilegiada entre os mitos no Brasil. 
Justifica-se, assim, não apenas sua curiosidade ligada às memórias da infância, 
mas também o interesse do adulto estudioso e pesquisador” (BLONSKI, P. 168, 
2004). 
 
Desse modo, a aparência física do Saci-Pererê se torna mais agradável pois é 
reproduzida sem as características ditas “demoníacas” no antigo livro de Lobato, “Inquérito”. A 
partir do exposto, nota-se, portanto, a necessidade de desconstrução de estereótipos raciais na 
mentalidade das crianças. A presença de personagens negros nas histórias infantis fomenta a 
valorização da identidade nacional ou potencializa estereótipos raciais preconceituosos contra 
indivíduos negros? 
 
2. 3 NEGRINHA 
No ano de 1920, o escritor José Bento Renato Monteiro Lobato, publica um livro de 
contos, em que o próprio título carrega o nome da personagem Negrinha. Esse conto é uma 
 
 
 
denúncia e uma dura crítica à sociedade do século XIX e início do século XX, que estava 
representando a continuidade escravocrata no Brasil. 
Apesar da abolição no dia 13 de maio de 1888, quase cento e vinte anos depois, a sociedade 
ainda carrega as marcas dolorosa da escravidão. Partindo dessa premissa, a personagem principal 
do conto é Negrinha, uma menina, filha de escravos, órfã, sem nome, com vários adjetivos 
pejorativos, tais como: “Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto 
gorado, mosca-morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa-ruim, lixo”. 
De corpinho miúdo, é criada feito um animal nos cantos da casa. A menina é a 
representação do negro e a herança da escravidão que deixaram marcas profundas. Com isso, a 
situação cruel do racismo no Brasil é descrito com detalhes por meio dessa personagem. De forma, 
o conto denuncia toda essa maldade contra o negro que apanhava, que teve seu grito de liberdade 
abafado, que mesmo com voz, calou-se em um silêncio amargo, doloroso, oprimido e muitas vezes 
fatal. E todo esse sofrimento, esse grito abafado, está presente nesta passagem do conto: “Negrinha 
abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água 
“pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos 
amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse (LOBATO, 1968). 
Um pequeno movimento que desagradasse sua patroa era logo repreendido com muita 
tortura. E como a escravidão serviu por séculos tendo o negro como mão de obra gratuita, 
comércio, poder, objeto de alívio do estresse para os atos de maldade de seus donos, a personagem 
Negrinha representa o retrato social com uma carga emotiva pesada. A tortura e o sofrimento da 
personagem são descritos de uma forma próxima da realidade, além disso, muito dolorosa. Dessa 
maneira, a personagem mistura-se a todos os escravos que tiveram suas vidas dilaceradas pelo 
sofrimento da escravidão (ALBUQUERQUE, 2006). 
O mesmo fato aconteceu com Negrinha,que morreu ainda criança, sem infância, sem 
brincadeiras. A pequena menina miúda não teve tempo para sonhar. Por fim, a menina “morreu 
na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono”. Estava liberta após tanto 
sofrimento. Finalmente a paz chega para essa menina. “A terra papou com indiferença aquela 
carnezinha de terceira — uma miséria, trinta quilos mal pesados...” (LOBATO, 1968). 
De um lado Negrinha, que sofria toda a opressão, do outro a senhora dos escravos, diferente 
da menina que nem nome tinha. Essa senhora é Dona Inácia, branca, gorda, que é o espelho da 
hipocrisia social e religiosa. Não aceitava o fim da escravidão. “Nunca se afizera ao regime novo- 
essa indecência de negros iguais a brancos, ou qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha” 
(LOBATO, 1968). 
 
 
 
Dona Inácia queria passar uma imagem, mesmo falsa, de uma pessoa boa, caridosa. Por 
ser rica, colaborava com a igreja e era amiga do padre. Mas esse retrato da boa senhora e dos bons 
costumes católicos ficaram completamente nus no momento em que as cortinas de sua casa eram 
fechadas. Dona Inácia é a representação de todo o preconceito social de uma forma geral e de uma 
sociedade pós abolição que se viu incapaz de retirar das raízes sociais o que já está impregnado na 
nossa cultura. Até mesmo pelo fato de o Brasil ter sido um dos últimos países a abolir a escravidão. 
 
2.4 A PRINCESA E O SAPO 
 
Os contos de fadas são importantes marcos principalmente na primeira infância, onde as 
personalidades estão sendo construídas. A partir do primeiro contato com essas histórias as 
crianças interpretam as mensagens e aplicam em seus comportamentos no mundo real. Nessa 
perspectiva as princesas da Disney desempenham um papel importante para a formação do 
imaginário de meninas e futuras mulheres. 
Tiana é a protagonista do filme de animação A Princesa e o Sapo, lançado em 2009 pela 
Walt Disney Studios. E ao compararmos com algumas princesas clássicas que sempre foram 
brancas ao longo das histórias, Tiana aparece como primeira princesa negra. 
A protagonista é uma garota pobre, negra que vive na cidade de Nova Orleans, o berço do 
jazz, na década de 1920, seu maior sonho é ter um restaurante e para isso, seguindo os conselhos 
do seu pai, trabalha incansavelmente para conseguir seu objetivo. Paulo Pachá (2013), faz uma 
crítica ao processo de trabalho nas histórias de princesas da Walt Disney, que segundo ele, faz 
apologia à subalternidade da mulher, ou seja, a maioria das personagens desses contos desempenha 
alguma atividade doméstica nas histórias reproduzindo, dessa forma, o papel que a mulher deve 
desempenhar na sociedade. 
No caso da princesa negra, Tiana no desenrolar da história ela é pobre e desempenha vários 
trabalhos, dentre esses, o de empregada doméstica em uma casa de família branca e rica o que 
traduz uma ideia de sociedade hierarquizada e o negro mais uma vez associado às atividades de 
menor prestígio social inferiorizado em relação ao branco. 
O seu príncipe não aparece como o grande salvador pois logo no início ele é transformado 
em sapo por um mago. Porém, ao finalmente beijar o príncipe transformado em sapo, por ela não 
ser uma princesa, também se transforma em rã e os dois juntos têm que encontrar o antídoto para 
quebrar o feitiço. No final, para grande surpresa ela se casa com o príncipe e consegue ter o seu 
restaurante. Ou seja, mais uma vez a felicidade da mulher é associada ao casamento. 
 
 
 
É relevante ressaltar que, pelo fato dessa protagonista permanecer como rã em muitos 
minutos no filme, impede com que as meninas adquiram um reconhecimento com a personagem, 
que diferentemente das heroínas tradicionais dos desenhos Disney são sempre lindas, mesmo que 
trabalhando na cozinha ou escondida na floresta, Tiana tem sua aparência trocada por um animal 
que não é tido como algo gracioso como deve ser uma princesa. 
2.5 A REPRESENTATIVIDADE NA LITERATURA INFANTIL 
 
 Diante das representações estereotipadas de personagens negros em contos clássicos da 
literatura brasileira percebemos o quanto essa imagem transmitida reverbera no imaginário 
infantil. Além de ser uma ferramenta que contribui na perpetuação do racismo e na exclusão de 
crianças negras nas escolas. Segundo MARIOSA & REIS (2011): 
“A construção da identidade da criança é algo que vai passar inevitavelmente pelos 
referenciais que forem a ela apresentados. Neste aspecto, destacamos 
principalmente, os brinquedos, os personagens de desenho animado e as histórias 
infantis. Há duas formas de as crianças entrarem em contato com estas histórias: 
uma, é através da oralidade e a outra através dos livros. Tanto em uma como em 
outra a criança vai deparar com os personagens principais, os heróis, as mocinhas, 
os animaizinhos, os príncipes e as princesas, as fadas, dentre outros. O que 
encontramos nestas histórias são personagens de origem europeia, mocinhas 
brancas e frágeis esperando por príncipes, também brancos, que irão salvá-las. As 
crianças crescem com a sensação de que os padrões do belo e do bom são aqueles 
com os quais se depararam nos livros infantis. As crianças brancas vão se 
identificar e pensar serem superiores às demais, vão estar em posição privilegiada 
em relação às outras etnias. As crianças negras alimentarão a imagem de que são 
inferiores e inadequadas. Crescerão com essa ideia de branqueamento introjetada, 
achando que só serão aceitas se aproximarem-se dos referenciais estabelecidos 
pelos brancos. Rejeitando tudo aquilo que as assemelhe com o universo do negro”. 
 
Sendo assim, há de se pensar a importância da utilização da literatura infantil na construção 
da identidade da criança negra ao abordar aspectos da cultura africana e ao incitar o 
empoderamento por meio da representatividade nos livros. E, com isso, incentivar a reflexão 
dentro das escolas acerca da igualdade racial. Com esse intuito, estabeleceremos a análise de três 
obras voltadas para o público infantil que tratam sobre a negritude e apresenta personagens negros 
sob a perspectiva da igualdade. 
A Cor da Vida é um livro escrito por Semiramis Paterno e publicado pela editora Lê. A 
obra retrata, através de ilustrações, a amizade de duas crianças vencendo a barreira da 
discriminação. Duas mães com seus respectivos filhos saem para passear e não notam quando as 
respectivas crianças desaparecem. Bravas e culpabilizando uma a outra, passam a procurar seus 
filhos. Ao acharem as crianças, se deparam com a amizade de ambas, que possuem cor de pele 
diferente, assim como suas mães. É importante salientar que ao final do livro quando as mulheres 
 
 
 
vão de encontro aos seus filhos, nós leitores esperamos que a mulher branca seja mãe da criança 
branca e que a mulher negra seja a mãe da criança negra. Mas o surpreendente é que ocorre 
justamente o contrário. Explanar esse tipo de situação através da literatura incita o questionamento 
no público infantil sobre o porquê do tratamento diferente com pessoas de pele preta e ensina a 
importância da igualdade. Sendo isso um fator importante na formação de opinião dessas crianças. 
É necessário, ainda, falar sobre a autoestima das crianças negras e a representatividade em 
papéis de destaque. Segundo Rodhes et al (2017): 
 
[...] Quando uma criança negra ouve ou lê um conto infantil e não se vê, ou se vê 
representada por subalternos, nunca como protagonista, ela se sente 
menosprezada, e, consequentemente, insegura de si mesma e ao seu futuro, já que 
seu passado a remete à escravidão, exploração, humilhação e uma predestinação 
ao fracasso. Veem tanto estereótipos europeus, definindo os personagens bons 
(bonitos) dos maus (feios) como se o padrão estético vigente imposto tivesse 
relação direta com quem é bom ou mau (RHODES et al, 2017). 
 
Por isso surge a importância de utilizar nas escolas o livro Menina Bonita do Laço de Fita, 
escrito por Ana MariaMachado e publicado pela editora Ática. A obra retrata a história de um 
coelho que tenciona casar-se com a personagem principal, que é representada por uma menina 
negra, buscando de várias maneiras conquistar o coração da amada. Histórias que trazem 
personagens negros em destaque ajudam na recuperação da autoestima das crianças negras por 
exaltar a beleza dos traços negróides. As crianças se sentem representadas e ver uma personagem 
com suas características contribui no exercício do amor próprio que é importante ser construído 
desde a infância, tendo em vista que as crianças negras são forçadas a detestar sua fisionomia e 
cor e isso se reverbera na vida adulta. 
Há ainda o livro Obax, da autoria de André Neves e publicado pela editora Brinque-Book, 
que apresenta o personagem Obax explorando a África. Assim, a história repleta de ilustrações 
mostra a cultura africana, buscando atribuir ao imaginário da criança que a África tem diversas 
riquezas e, dessa forma, substituir o pensamento ligado a pobreza e inferioridade. Demonstrando 
também a diversidade e pluralidade do continente. 
Existem muitos contos e histórias infantis que trabalham na construção da identidade da 
criança negra e que buscam exercitar a reflexão dos demais colegas acerca da igualdade e 
discriminação racial. Tais livros são: Bruna e a Galinha d’Angola; Todas as Cores do Negro; O 
Filho do Vento e etc. Todos são obras que incentivam a busca pelo conhecimento da cultura negra 
 
 
 
e agregam na construção de valores, da personalidade da criança e da identidade do público 
infantil. Portanto, de acordo com Rhodes et al (2017), a omissão da cultura Africana, no contexto 
da formação da nossa nação, constitui num desrespeito aos afro-brasileiros. 
 
 
 
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 Entende-se que, para que haja mudança das desigualdades e preconceitos estabelecidos, 
faz-se necessário a valorização da negritude, não pelo que eles sofreram, mas por sua efetiva 
contribuição, mesmo que compulsória. A população deve eliminar o racismo dissimulado, as 
desigualdades estabelecidas, visto que a população negra, em sua maioria, é pobre e está mais 
vulnerável a violência e outras mazelas, por exemplo. 
De acordo com Trindade M.S.F. (2007), o racismo mascarado desempenha papel 
importante na manutenção das desigualdades na sociedade brasileira. O problema, portanto, é de 
toda a sociedade. Negros e mulatos deveriam ser protagonistas de uma transformação que contesta 
os obstáculos à sua integração social e os valores impostos pela dominação branca. Além disso, 
afirma que há um problema sócio-econômico e não racial, embora os aspectos inerentes à 
introdução dos afrodescendentes no país contribua para dificuldades na sua ascensão social. Desse 
modo, a possível solução é a educação de base. 
Nesse sentido, a literatura infantil, colabora para a mudança do paradigma racista e 
preconceituoso embutido em nossa sociedade, pois o imaginário é parte inseparável de nossa 
existência e ajuda a construir nossa visão de mundo. É fundamental o desenvolvimento de práticas 
de leitura com temáticas da diversidade étnico-racial com a finalidade de buscar reflexões sobre 
as culturas africanas. Os educadores devem, também, problematizar e questionar os livros 
estudados que trazem conteúdo racista e preconceituoso. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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