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Administração dos estoques APRESENTAÇÃO Administrar os estoques nas organizações é uma tarefa complicada e exige muitos cuidados de todos os profissionais responsáveis. Empresas que acabam imobilizando muitos recursos, com o objetivo de ter grande volume de estoques, acabam gerando mais custos do que benefícios para a manutenção destes. É importante ressaltar que organizações que trabalham com níveis baixos de estoques também podem enfrentar problemas, tão ou mais graves do que as organizações que têm grande volume, pois, nesse caso, em momentos em que as vendas apresentem números melhores, é possível que a empresa não consiga atender aos anseios de seus clientes adequadamente. Nesta Unidade de Aprendizagem, você verá como a gestão de estoques pode ser realizada nas organizações. Considerando que há diferentes tipos de estoques, você vai conhecer os principais e suas características. Ainda, você vai identificar os principais custos na manutenção dos estoques e os principais pontos que devem ser avaliados pelas organizações no momento de administrar esses estoques. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os tipos de estoque utilizados.• Correlacionar a necessidade de estoques com os custos associados à sua aquisição. • Apresentar as técnicas de administração de estoques.• INFOGRÁFICO O estoque constitui-se como um elemento essencial para o sucesso de um negócio. Se bem administrado, ele se articula com a demanda do consumidor, fazendo com que a organização cresça de maneira saudável e rentável. Nesse sentido, a identificação dos tipos de estoques de insumos dentro da estrutura organizacional é fundamental para que se realize uma boa administração. Esta é uma tarefa básica para todos os gestores. Neste Infográfico, aproveite para conhecer os quatro principais tipos de estoques que existem nos negócios. CONTEÚDO DO LIVRO Os gestores financeiros, apesar de não serem os responsáveis pela gestão direta dos estoques, têm grande responsabilidade em relação a eles, pois auxiliam a alta administração no processo de mensuração e evidenciação dos custos dos estoques que as organizações apresentam. Tendo em vista que esses profissionais são os principais geradores dos indicadores financeiros das empresas, eles também ajudam na criação de políticas de estoques que as organizações devem implementar, contribuindo, dessa forma, para a administração correta do índices de estoques, bem como para o gerenciamento dos custos. Leia o capítulo Administração dos estoques, da obra Administração do capital de giro, para entender como os gestores podem realizar a administração de seus estoques e quais os impactos financeiros que as principais decisões podem gerar. Veja também as especificidades dos tipos de estoques e os principais custos gerados ao negócio. Boa leitura. ADMINISTRAÇÃO DO CAPITAL DE GIRO Johny Henrique Magalhães Casado Administração dos estoques Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar os tipos de estoque utilizados. Correlacionar a necessidade de estoques com os custos associados à sua aquisição. Apresentar as técnicas de administração de estoques. Introdução A administração de estoques possui uma enorme importância na estraté- gia das organizações. É por meio dessa gestão que é possível buscar uma redução de custos com a imobilização de recursos, bem como tornar a gestão mais eficiente e eficaz. A função de gerir os estoques é compar- tilhada por diversos setores da empresa. Se ao marketing cabe a função de planejar o processo de vendas e garantir uma certa previsibilidade, ao departamento de produção cabe a função de planejar a compra dos insumos e das matérias-primas. Na busca por minimizar custos e oferecer produtos e serviços a preços competitivos em um mercado de alta concorrência, a gestão possui nos estoques um campo para buscar melhoria em seus índices e indicado- res de eficiência. Portanto, para os gestores, a função de administrar os estoques possui grande importância, pois, com estoques bem geridos, as organizações podem se apresentar melhor diante da concorrência. São inúmeras as tecnologias que têm permitido às organizações gerirem melhor seus estoques, como a implantação de dispositivos eletrô- nicos, o uso de robôs para manuseio dos estoques, bem como aplicações baseadas em business intelligence. Essas tecnologias têm possibilitado às organizações uma maior eficiência no controle dos seus estoques, além de proporcionarem uma redução nos custos de manutenção desses estoques e a diminuição dos valores imobilizados em mercadorias. As organizações devem realizar uma administração global dos seus estoques, abrangendo desde o momento da compra das mercadorias, o momento da estocagem e todos os processos que devem fazer parte da manipulação das mercadorias até o seu consumo. Neste capítulo, você vai estudar os principais tipos de estoques com que as organizações têm de lidar em sua política de estoques, uma vez que as especificidades de cada tipo demandam ações específicas dos profissionais responsáveis. Você também vai verificar técnicas de gestão de estoques que podem ser aplicadas pelas mais diferentes organizações. 1 Tipos de estoque Um dos primeiros itens que deve ser analisado pelo administrador fi nanceiro é o ciclo de conversão de caixa, buscando-se conhecer e mensurar a idade média dos estoques da organização. De posse das informações do estoque, o administrador poderá calcular em quanto tempo a organização receberá o valor pela venda das suas mercadorias. Segundo Gitman (2010, p. 552), “[…] o administrador fi nanceiro tende a agir como assessor ou ‘vigia’ no que se refere aos estoques; não tem controle direto sobre eles, mas fornece dados ao processo de sua gestão”. Setores como compras, produção e marketing possuem maior autoridade para realizar todo tipo de tomada de decisão dentro da organização que diz respeito aos estoques. Ao administrador financeiro, cabe a função de gerar informações e indicadores que possibilitem uma gestão de estoques eficiente na organização. Atualmente, pode-se afirmar que a “[…] gestão de estoques tem se tornado cada vez mais uma área especializada com características próprias, e é comum que a administração financeira apenas contribua para a decisão” (ROSS et al., 2015, p. 721). Existem diversas formas de se classificar os estoques. Para Borges, Cam- pos e Borges (2010, documento on-line), “[…] uma delas, e frequentemente utilizada, se relaciona ao fluxo de material que entra em uma organização industrial, passa por ela e dela sai”. Em uma indústria, é possível observar os três tipos de estoques mostrados na Figura 1. Administração dos estoques2 Figura 1. Tipos de estoques. Fonte: Adaptada de Ross et al. (2015). O estoque de matéria-prima é composto por todos os itens que são compra- dos e recebidos pela organização, mas que ainda não entraram no processo de produção. É possível afirmar que todos os materiais comprados, as peças, os componentes e os subconjuntos de que a organização faz uso em seu processo produtivo fazem parte das matérias-primas (PIMENTA, 2003). O estoque de produtos em processo é composto por todas as matérias-primas que já estraram ou, ainda, que estão em processo produtivo, mas que ainda não se transformaram em um produto finalizado. Já o estoque de bens acabados compreende todos os produtos que estão prontos para serem comercializados. Portanto, eles já podem ser retirados da fábrica ou do depósito da organização e ser remetidos aos clientes para uso. Ao considerarmos os tipos de estoques, devemos nos atentar a três fatores principais. O primeiro é a nomenclatura utilizada pelas organizações, que pode influenciar muito na forma como uma mercadoria é classificada entre os tipos de estoque. Isso ocorre porque, para uma empresa,uma determinada mercadoria é uma matéria-prima, enquanto, para outra organização, essa mesma mercadoria pode ser um bem acabado e compor o estoque desse tipo de produto. O segundo fator que deve ser considerado no momento de tipificar os estoques se refere à sua liquidez. Isso porque as matérias-primas, em tese, são formadas por commodities ou produtos padronizados; esses, por sua vez, aca- bam possuindo maior facilidade de ser convertidos em caixa, o que demonstra uma liquidez maior. Já quando abordamos um estoque de produtos em processo, ele apresenta uma menor liquidez, já que, por não ser um produto pronto, o produto em processo possui uma pequena chance de ser comercializado no 3Administração dos estoques estado em que se encontra. Em relação à liquidez dos produtos acabados, podemos considerar que ela possui forte relação com a natureza dos produtos. O terceiro fator que deve ser analisado diz respeito à distinção entre os bens acabados e os outros tipos de estoques. A demanda do item “ […] de estoque que se torna parte de outro item, em geral, é chamada de demanda derivada ou dependente, pois a necessidade da empresa por esses tipos de estoque depende de sua necessidade de ter itens acabados” (ROSS et al., 2015, p. 721, grifo nosso). Em relação à demanda por bens acabados, devemos considerar que ela não é derivada da demanda por outros itens de estoque, portanto, podemos denominá-la independente. Em relação aos tipos de estoques, é possível observar que alguns autores utilizam tipificações mais específicas e que acarretam uma maior quantidade de tipos de estoques. Abaixo é apresentada outra classificação que uma orga- nização pode apresentar. Matéria-prima para transformação: são os materiais básicos e que são necessários para o processo produtivo da organização e a conse- quente obtenção do produto acabado. Uma característica desse tipo de estoque é que a sua quantidade é proporcional ao volume de produção que a organização possui. Componentes manufaturados: são as peças e os componentes manu- faturados que a organização utiliza em seu processo produtivo. Componentes comprados: esse tipo de estoque é composto pelas peças que a organização adquire e de que faz uso diretamente em seu processo produtivo. Esse tipo de estoque possibilita ao produto que ele tenha valor agregado. Produto em processo: esse tipo de estoque é formado pelos produtos que se encontram ao longo do processo produtivo. Segundo Paoles- chi (2013, p. 55), “ […] é considerado produto em processo qualquer peça ou componente que já foi de alguma forma processada, mas que adquire outras características no fim do processo produtivo”. Outra característica desse tipo de estoque é que todo produto em processo, para ser considerado como tal, deverá ter recebido baixa do estoque geral da organização. Produtos acabados: esse tipo de estoque é composto pelos itens fina- lizados, que já passaram por todas as fases do processo produtivo da organização e que se encontram disponibilizados para serem comprados e consumidos pelos seus clientes. Administração dos estoques4 Estoque em consignação: esse tipo de estoque é composto por todos os produtos que a organização enviou a outra organização, para que passem por alguma fase do seu processo produtivo ou, ainda, para que recebam o devido acabamento. Embalagens: “[…] embalagens de movimentação de materiais que são utilizadas pela fábrica devem ser controladas para estabelecer o estoque disponível para uso a qualquer momento” (PAOLESCHI, 2013, p. 55). Materiais não produtivos: composto pelos materiais usados exclusi- vamente para que a organização possa funcionar. Dentre eles, podemos citar os produtos que são utilizados para a manutenção e também para a produção dos itens que a organização produz. Como exemplo de materiais não produtivos, podemos citar óleos lubrificantes, lâmpadas e interruptores (PAOLESCHI, 2013). Materiais de manutenção: são os itens que são de uso exclusivo do setor de manutenção da organização. Esse tipo de estoque não deve ser confundido com os demais estoques existentes. Materiais indiretos: compreendem todos os produtos que são uti- lizados, mas que não agregam nenhum tipo de valor ao produto da organização. Materiais de terceiros: esse tipo de estoque engloba os produtos que são utilizados pela organização, mas que não são de propriedade dela. Os profissionais que lidam com esse tipo de estoque devem saber que, em algum momento, esses itens deverão ser enviados aos seus pro- prietários de fato. Materiais de segurança do trabalho: composto pelos itens de segu- rança de trabalho, que devem ser controlados seguindo as especificidades dos equipamentos de proteção individual da organização. Esses estoques, segundo Paoleschi (2013, p. 57), “[…] devem ser controlados por ficha individual para todos os funcionários. Os materiais de segurança, higiene e medicina do trabalho são controlados pelo setor de medicina, higiene e segurança do trabalho”. A classificação do tipo de estoque pode ser feita de forma mais simples, conforme apresentado na Figura 1, ou de forma mais descritiva, como apre- sentado acima. Independentemente da forma como a organização tipificará o seu estoque, é importante que ela realize o controle de todos os seus itens e o levantamento dos custos para manutenção desses estoques na organização. 5Administração dos estoques 2 Estoques e custos associados Os administradores fi nanceiros, ao lidarem com os estoques, buscam levantar informações e indicadores que possibilitem às organizações formularem suas políticas de gestão de estoques. Dentre os indicadores mais importantes, podemos destacar os relacionados aos custos dos estoques. Existem diversas abordagens a respeito dos custos dos estoques. Algumas correlacionam os custos apenas aos valores que de fato são atribuídos aos itens que compõem os estoques. Outras contabilizam como custo todos os gastos necessários para o transporte e a armazenagem necessários para manter o item à disposição da organização (PADOVEZE, 2016). Na Figura 2, constam três características que devem ser levadas em con- sideração no momento de se levantar os custos com estoques na organização, independentemente do seu tipo. Figura 2. Especificidades dos custos de estoques. Fonte: Adaptada de Ching (2010). Custo de pedir Custos de manter estoque Custo total Incluem os custos fixos administrativos associados ao processo de aquisição das quantidades requeridas para reposição do estoque. Estão associados a todos os custos necessários para manter certa quantidade de mercadorias por um período. São geralmente definidos em termos monetários por unidade, por período. É definido como a soma dos custos de aquisição e de manter estoque. Os custos totais são importantes no modelo do lote econômico, cujo objetivo é determinar a quantidade do pedido que minimiza esses custos. O custo de carregamento é costumeiramente associado aos estoques no ambiente organizacional. Ele tem por definição representar todos os custos diretos e de oportunidade que estejam relacionados à manutenção de um nível de estoque definido pela política de estoque da organização (ROSS et al., 2015). Dentre os componentes do custo de carregamento dos estoques, podemos destacar os seguintes: custos de armazenagem e controle; custos com seguros e impostos; Administração dos estoques6 prejuízos relacionados a obsolescência, roubos, perdas e deterioração dos estoques; custos de oportunidade do capital que a organização investiu para a compra dos estoques. Ainda sobre os custos dos estoques, é possível apontar o custo da falta como de grande importância em todo o processo de gestão de custos de estoque nas organizações. O custo da falta pode ser definido como o custo que a empresa tem por não possuir uma disponibilidade adequada de estoque dos produtos que utiliza. Ele pode ser entendido comoo somatório de dois outros custos, apresentados na Figura 3. Figura 3. Componentes do custo de falta. Fonte: Adaptada de Ross et al. (2015). Segundo Gitman (2010, p. 552), “[…] a inclinação geral do administrador financeiro ante o nível de estoque é mantê-lo baixo para garantir que o dinheiro da empresa não seja desnecessariamente investido em recursos excessivos”. Portanto, algumas considerações são necessárias a respeito dos custos com carregamento, pois o objetivo da administração de estoques e dos adminis- tradores financeiros é buscar minimizar os custos de falta e de renovação dos estoques. Segundo Ross et al. (2015, p. 722): Para você ter uma ideia da importância de equilibrar os custos de carrega- mento com os custos de falta, pense no caso do Nintendo Wii. Em dezembro 7Administração dos estoques de 2007, analistas estimaram que a empresa venderia o dobro das 1,8 milhão de unidades em produção naquele momento. A falta de componentes nos fornecedores, a gestão do estoque just in time da Nintendo e a má gestão da cadeia de suprimentos por parte da empresa teriam sido os responsáveis pela produção mais baixa. Como consequência, a empresa perdeu aproximadamente $1,3 bilhão em vendas adicionais no Natal de 2007. A gestão dos custos dos estoques deve contribuir para melhorar a eficiência e a eficácia de toda a organização. Portanto, todos os setores devem colaborar para a melhoria dos indicadores relacionados aos estoques, bem como buscar trabalhar de forma sincronizada com as demais áreas. 3 Técnicas de administração de estoques As organizações devem buscar administrar seus estoques de forma a garantir uma maior rentabilidade aos seus negócios, impedindo, assim, que os estoques acabem por absorver capital desnecessariamente da organização (PADOVEZE, 2010). Ao buscar uma maior rotatividade dos seus estoques, as organizações aumentam os seus ativos e acabam por economizar com custos de manutenção e armazenamento. Há uma necessidade crescente para que as organizações gerenciem seus estoques de maneira integrada. Segundo Ching (2010, p. 21): […] a gestão de estoque era vista como um meio de reduzir os custos totais associados com a aquisição e a gestão de materiais. Quando a gestão de estoque não é colocada como um conceito integrado, esses diferentes estágios são gerenciados geralmente por departamentos diferentes. Um diretor de produção provavelmente será responsável pela fábrica, um diretor de compras o será́ pelas compras e o diretor de vendas contratará a função de distribuição física. A literatura a respeito da administração dos estoques apresenta diversas técnicas e ferramentas que permitem aos gestores gerirem os seus estoques. A seguir, apresentaremos quatro dessas técnicas, que podem ser observadas na Figura 4. Administração dos estoques8 Figura 4. Principais técnicas de administração de estoques. Fonte: Adaptada de Gitman (2010). O sistema ABC, também conhecido como curva ABC, é um dos métodos mais antigos e consolidados para a gestão eficiente de estoques nas organiza- ções industriais. Esse sistema se utiliza do raciocínio do diagrama de Pareto, em que nem todos os itens possuem a mesma importância e demandam a mesma atenção dos gestores da organização. Portanto, ao se analisar os estoques de uma organização por meio do sistema ABC, deve-se considerar que: […] 20% em quantidade (de qualquer item) é responsável por 80% do valor (deste item). Assim, 20% dos clientes da empresa representam 80% das ven- das realizadas; 20% dos produtos são responsáveis por 80% das vendas de todos os produtos. Para a política de estoque, dizemos que 20% dos itens em estoque são responsáveis por 80% do valor em estoque. A linha completa de itens em estoque pode ser classificada desde o item de maior valor até o de menor valor. (CHING, 2010, p. 31). 9Administração dos estoques O grupo A compreende os produtos em estoque que devem ser controlados com maior atenção, pois são os produtos que demandam maior investimento monetário, representando, assim, maiores custos (HIGGINS, 2014). Os produtos do grupo B devem ser periodicamente controlados, pois eles possuem custos medianos, o que faz com que a gestão dos estoques deva acompanhar ao menos semanalmente o comportamento desses itens. Já os produtos pertencentes ao grupo C representam um custo pequeno e são pouco utilizados; assim, não há uma grande necessidade de acompanhá-los. Deve-se garantir apenas que esse tipo de produto não falte para a organização. O modelo econômico de compra, conhecido pela sua sigla EOQ (do inglês economic order quantity), apresentou grande adesão por parte das organizações nos últimos anos. Essa técnica permite que “[…] os custos relevantes de estoque possam ser divididos em custos de pedido e custos de carregamento — o modelo exclui o custo do item propriamente dito” (GITMAN, 2010, p. 553). O EOQ é muito utilizado pelas organizações para estabelecer na política de estoques um nível ótimo de estoque, também conhecido como estoque de segurança. Os estoques de segurança podem ser definidos como “[…] o nível mínimo de estoque que uma empresa mantém. Os estoques são renovados sempre que o nível cai até o nível de estoque de segurança” (ROSS et al., 2015, p. 727). Ao calcular os níveis de estoques de segurança que uma organização deve possuir, os gestores dos estoques garantem que ela não tenha falta de insumos ou matérias-primas em seu processo produtivo, ou, ainda, que não faltem produtos acabados para atender às necessidades de seus clientes e parceiros. O sistema just in time, conhecido pela sua sigla JIT, é utilizado para mini- mizar o investimento que a organização realiza em estoques. A ideia central dessa técnica é que os produtos cheguem na organização no exato momento em que ela os utilizará em seus processos produtivos; com isso, elimina-se a necessidade de se manterem volumosas quantidades de estoques. Ao utilizar o sistema JIT, a organização deverá considerar alguns princípios, descritos por Ching (2010) e apresentados a seguir. Princípio da qualidade: a organização deve buscar a máxima qualidade, para que não ocorra nenhum tipo de parada no processo produtivo derivada de problemas de qualidade. Com isso, ela preservará o fluxo de estoque ideal para seus negócios. Princípio da velocidade: esse princípio é essencial, pois garante que as necessidades de produtos que a organização eventualmente possua serão providas de forma rápida e eficaz. Administração dos estoques10 Princípio da confiabilidade: estabelece que a organização possua um vínculo de confiança com seus fornecedores, para que eles busquem suprir as suas necessidades de acordo com o fluxo de produção pre- viamente estabelecido. Princípio da flexibilidade: esse princípio permite à organização produzir pequenos lotes de mercadorias. Com isso, ela poderá atingir um fluxo mais rápido em todos os seus processos internos. Princípio do compromisso: segundo esse princípio, compradores e fornecedores se comprometem a atender aos anseios dos clientes finais em relação aos prazos e locais previamente estabelecidos. Busca-se, assim, que os clientes tenham suas necessidades atendidas sem nenhum problema de atraso em sua entrega. A última técnica que apresentaremos neste capítulo é o sistema de plane- jamento de necessidades de materiais, também conhecido pela sigla MRP (do inglês manufacturing resource planning). Essa técnica auxilia as organizações a definirem quais materiais pedir e quando efetuar o pedido. Em suma, o MRP é uma “[…] técnica de gestão de estoques que aplica os conceitos do lote econômico de compra (EOQ) para determinar quais materiais comprar e quando comprar; simula cada pedido, a situação dos estoques e o processo de fabricação” (GITMAN, 2010, p. 556). Uma organização somente conseguirá utilizar o MRP caso ela possua um sofisticado sistema computacional, que integre as áreas de produção, finanças, marketing e produção.Em suma, a organização deverá ter um conjunto de dados que possibilite utilizar o MRP e todas as suas funcionalidades. A gestão de estoques se torna cada vez mais importante na administração do capital de giro das organizações. Considerando o volume de capital que é imobilizado para a manutenção dos estoques, pode-se afirmar, com segurança, que uma gestão eficaz dos estoques poderá liberar recursos da organização para que ela realize novos investimentos. Aos gestores responsáveis por gerir os estoques nas organizações, cabe a função de encontrar um equilíbrio do volume de estoque necessário para que a empresa possa funcionar com tran- quilidade e sem gastos desnecessários. 11Administração dos estoques BORGES, T. C.; CAMPOS, M. S.; BORGES, E. C. Implantação de um sistema para o controle de estoques em uma gráfica/editora de uma universidade. Revista Eletrônica Produção & Engenharia, [s. l.], v. 3, n. 1, p. 236–247, jul./dez. 2010. Disponível em: http://www. revistaproducaoengenharia.org/arearestrita/arquivos_internos/artigos/03__Forma- tacao_COD_205.pdf. Acesso em: 4 maio 2020. CHING, H. Y. Gestão de estoques na cadeia de logística integrada: supply chain. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. GITMAN, L. J. Princípios da administração financeira. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. HIGGINS, R. C. Análise para administração financeira. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. PADOVEZE, C. L. Administração financeira: uma abordagem global. São Paulo: Saraiva, 2016. PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação con- tábil. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. PAOLESCHI, B. Almoxarifado e gestão de estoques. 2. ed. São Paulo: É rica, 2013. PIMENTA, R. F. Implantação de controle de estoque em uma clínica odontológica: o caso da Sorriso & Cia. Ltda. 2003. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia de Produção) - Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2003. ROSS, S. A. et al. Administração financeira: versão brasileira de corporate finance. 10. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Administração dos estoques12 DICA DO PROFESSOR O conhecimento a respeito da gestão dos estoques e de suas especificidades é de suma importância para todos os gestores das organizações. A administração dos estoques deve priorizar o menor custo possível, sem que seja preciso lidar com a falta de material. Assim, é imprescindível ter em mente alguns conceitos e termos que devem ser aplicados no dia a dia das empresas, na busca de maior eficiência. Assista à Dica do Professor para conhecer três conceitos que estão relacionados ao planejamento e à administração de estoques. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) Segundo Ross et al. (2015), os estoques se caracterizam como um investimento significativo para as empresas. Para uma operação industrial normal, eles quase sempre excedem 15% do ativo; já para um varejista, representariam mais de 25% do ativo. Portanto, reconhecer as especificidades de cada tipo de estoque é importante para que o gestor possa tomar a melhor decisão. Pensando em uma indústria, como é composto o estoque de produtos em processo? A) O estoque de produtos em processo é composto por todas as matérias-primas que já entraram ou que estão em processo produtivo, mas que ainda não se transformaram em um produto finalizado. B) O estoque de produtos em processo é composto por todos os insumos classificados como insumos diretos, indiretos, voltados à saúde ocupacional do trabalhador e administrativos. C) O estoque de produtos em processo é composto por todos os itens que são comprados e recebidos pela organização, mas que ainda não entraram no seu processo de produção. D) O estoque de produtos em processo é composto por todos os produtos que estão prontos para serem comercializados e que já podem ser retirados da fábrica ou ser remetidos aos clientes para uso. E) O estoque de produtos em processo é composto por todos os produtos que são de uso exclusivo do setor administrativo da organização, como, por exemplo, os produtos para escritório e limpeza de ambientes. 2) Gitman (2010, p. 552) define que “o administrador financeiro tende a agir como assessor ou ‘vigia’ no que se refere aos estoques; não tem controle direto sobre eles, mas fornece dados ao processo de sua gestão”. Assim, cabe ao administrador utilizar algumas ferramentas para compreender a situação econômica e financeira da organização. Das ferramentas elencadas a seguir, qual é a única que apresenta estreita relação com a gestão dos estoques? A) Ferramenta voltada ao marketing e à divulgação dos produtos e serviços da organização. B) Ferramenta de recursos humanos utilizada pela organização com o intuito de melhorar o clima organizacional. C) Ferramenta financeira que define a política de vendas da organização, como definição do prazo de pagamento ofertado aos clientes. D) Ferramenta voltada para o cálculo do ciclo de conversão de caixa e que tem grande impacto na gestão financeira da organização. Ferramenta financeira que é utilizada pela organização para controlar a concessão de E) crédito aos clientes. 3) Em relação aos tipos de estoques, observa-se que existem muitas tipificações, umas mais abrangentes que outras, mas que possibilitam descrever todas as especificidades dos estoques. Um desses tipos de estoque é o composto por todos os produtos que a organização enviou a outra organização, a fim de que eles passem por alguma fase do seu processo produtivo e depois sejam remetidos de volta. Que tipo de estoque é esse? A) Estoque de produtos manufaturados. B) Estoque de componentes comprados. C) Estoque de embalagens. D) Estoque de produtos não produtivos. E) Estoque de produtos em consignação. 4) Entre as diversas abordagens possíveis para a gestão de estoques, estão aquelas que relacionam apenas os custos que, de fato, são atribuídos aos itens dos estoques; já outras abordagens contabilizam como custos todos os gastos necessários para transporte e armazenagem que são requeridos para manter o item à disposição da organização. Em relação à abordagem de identificar os custos com estoques, quais são as três principais características desses custos? A) Custos de pedir, custos de manter os estoques e custo total. B) Custos de produção, custos de marketing e custo administrativo. C) Custos de manter os estoques, custos financeiros e custos gerais. D) Custos de produção, custos de marketing e custo total. E) Custos de produção, custos financeiros e custos administrativos. 5) O método de controle de estoques just in time é, de acordo com Ching (2010, p. 23), "uma derivação do sistema japonês Kanban. Os cartões Kanban de processo de produção especificam quanto será feito (a quantidade de reabastecimento) e quando será necessário (o momento da necessidade do reabastecimento)". Para que a organização possa utilizar esse método de forma eficaz, são pressupostos alguns princípios. Em um deles, compradores e fornecedores se comprometem a atender aos anseios dos clientes finais em relação aos prazos e aos locais previamente estabelecidos. Que princípio é esse? A) Princípio da qualidade. B) Princípio da flexibilidade. C) Princípio do compromisso. D) Princípio da confiabilidade. E) Princípio da velocidade. NA PRÁTICA As empresas do setor do comércio têm grande necessidade de lidar com estoques, pois há entradas e saídas de mercadorias diariamente. Nesse cenário, uma das formas de compreender como os estoques se comportam dentroda organização é identificando o conceito de giro de estoque. Esse conceito é importante para que o gestor de estoque possa ter ciência dos custos e, principalmente, possa proporcionar a movimentação do estoque no dia a dia da organização. Neste Na Prática, veja como uma empresa pode se apropriar do conceito de giro de estoque para obter mais eficácia em suas operações. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: A importância da gestão de estoque na obtenção de êxito na administração organizacional A partir de uma abordagem qualitativa, este artigo objetivou apresentar a importância da gestão de estoque dentro de uma organização, trazendo contribuições que evidenciam o fato de que somente as organizações que conseguem gerir eficientemente seu estoque terão lugar no mercado atual. Confira. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Aplicação de ferramentas da gestão da qualidade no setor de corte de uma indústria de calçados A qualidade é de grande importância na melhora dos índices organizacionais e também se faz presente na gestão de estoques. Com a leitura deste artigo, entenda como os conceitos de qualidade estão relacionados à gestão de estoque dentro da organização. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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