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1 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 LAPAROTOMIA ➢ Cirurgia que consiste em abrir a cavidade abdominal ou peritoneal. Também chamada de Celiotomia. Indicações de laparotomia Podemos precisar de uma laparotomia em diversas situações. • Tratar lesão intra-abdominal já diagnosticada. Posso precisar para fazer um tratamento de alguma condição ou lesão já diagnosticada – exemplo, apendicite, colescistite. Faço o procedimento já sabendo o que é. • Tratar lesão intra-abdominal desconhecida.Posso precisar uma laparotomia para tratar uma condição que não sei exatamente o que vou encontrar, por exemplo, traumas. Ferimento por arma de fogo, cirurgias de urgência, abdome agudo obstrutivo ou perfurativo. • Procedimentos que envolvem órgãos abdominais. Ex gastrostomia, jejunostomia. Posso precisar de mais de um procedimento na mesma cirurgia, por exemplo, em oncologia – fazer uma cirurgia do intestino + ressecção de uma metástase de fígado. Então, planeja-se o acesso de acordo com o que sei que vou fazer ou com o que eu posso precisar em uma situação desconhecida. Ver se estou fazendo a cirurgia em caráter de emergência ou não. Por exemplo, um trauma fechado com sangramento intra-abdominal, com choque hemorrágico – preciso fazer uma laparotomia de forma rápida e segura para estancar o sangramento, emergência. Princípios cirúrgicos da Laparotomia • Incisão que permita satisfatório acesso ao órgão escolhido; • Incisão com tamanho adequado; • Reduzir ao indispensável a exposição da cavidade e de seu conteúdo; • Hemostasia perfeita – ligadura ou cauterização de vasos- evitando a formação de hematomas; quanto mais for possível preservar a inervação da parede melhor, quanto menos secção melhor; • Somente secção imprescindível dos nervos; • Cicatriz tão estética quanto possível. Cavidade abdominal, pelve e pequena pelve. A pequena pelve tem uma restrição pela estrutura óssea em que é formada, então, tenho alguns cuidados para acesso pois nem toda laparotomia consigo ampliar para chegar até a pelve. 2 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Andar superior do abdome, acima do estômago e do grande omento – fígado, parede anterior do estômago, baço, pâncreas posterior. Tudo o que está abaixo, no andar infra-mesocólico – intestino delgado. Áreas que devo levar em consideração. Ter em mente topograficamente os principais órgãos. Formação da parede anterolateral do abdome. 3 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 - PAREDE ABDOMINAL ANTERIOR - PAREDE ABDOMINAL ANTERO-LATERAL Músculo reto do abdome direito e esquerdo. Músculos da parede lateral. O músculo obliquo externo do abdome faz um trajeto em que a origem é nas últimas costelas, direcionando-se para a linha alba até a sínfise púbica, tem uma porção muscular e uma porção aponeurótica. A porção mais caudal do músculo oblíquo externo é o que vai formar o ligamento inguinal, é seu limite inferior. O músculo oblíquo interno tem um sentido oposto, as fibras se originam na fáscia tóraco-lombar e em grande parte da crista ilíaca, segue em direção cranial para se inserir na linha alba, nas últimas costelas e, embaixo, uma parte dele vai para o púbis. O músculo transverso do abdome tem fibras mais altas que vão até as costelas na linha alba e embaixo até a sínfise púbica também, formando o tendão conjunto, junto com o músculo oblíquo interno. 4 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Os músculos laterais do abdome – grande parte das fibras vão até a linha média, alba; mas para chegar à linha alba, devem passar pelo músculo reto do abdome que está no sentido oposto, longitudinal. → O músculo oblíquo externo, a parte aponeurótica, passa na frente do músculo reto do abdome até chegar na linha alba. → O músculo transverso, a parte aponeurótica, passa por trás do músculo reto do abdome até chegar na linha alba. → O músculo oblíquo interno se divide – parte passa pela frente e parte por trás e se juntam na linha alba. Isso forma um envelope que envolve o músculo reto do abdome. Então, essa parte aponeurótica que envolve o reto do abdome não é fáscia do músculo reto, mas sim tecido dos músculos laterais que estão passando pela frente do reto. Loja do músculo reto; a parte que está na frente é bainha anterior e a parte que está na frente é bainha posterior do reto. Essa disposição das fibras acontece na maior parte da parede do abdome (superior)m Mas na parte mais caudal, as fibras do músculo transverso que estavam passando por trás e parte das fibras do oblíquo interno, resolvem todas passar pela frente, então terei todas as fibras passando anteriormente ao músculo reto do abdome, não tenho mais um envelope completo para o músculo reto, pois atrás vou ter apenas as outras estruturas como o peritônio e então já é a cavidade abdominal. Na transição, forma uma estrutura que, olhando a parede abdominal de dentro para fora, a parte inferior da parede abdominal, enxerga-se o músculo reto do abdome por transparência, pois só tenho o peritônio e fáscia transversalis. Da metade para cima já não vejo por transparência, pois na parte posterior há fibras por trás e pela frente. A transição dessas fibras da parte superior para a inferior forma o ligamento arqueado/linha semilunar – final da camada aponeurótica dos músculos que estavam passando por trás do reto e começam a passar pela frente. Esse ligamento é uma área considerada de fragilidade da parede pois, em cima, tenho uma proteção, mas do ligamento para baixo tenho o músculo sem proteção de aponeurose, então, pode acontecer, talvez por aumento de pressão abdominal, de empurrar uma alça do intestino por dentro do ligamento e a alça ficar na bainha do reto, junto com o músculo reto – chama-se Hérnia de Spiegel, um dos raros exemplos de hérnia inter-parietal, pois não é externa (não chega até o subcutâneo), nem interna. É difícil fazer o diagnóstico pois externamente não consigo palpar um orifício hernário, devido à proteção da parede anterior do reto na frente. 5 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Todas as camadas. As aponeuroses se fusionam na linha alba. Um corte coronal passando em cima do músculo reto do abdome. O corte está paramediano. Os vasos que estão subindo, que são ramos da ilíaca externa que irrigam a parede anterior do abdome, sobem nesse sentido e correm a parede anterior do abdome posteriormente ao músculo reto do abdome, mas dentro da bainha, ou seja, sai da artéria ilíaca externa e vai passar por trás do músculo reto do abdome, entre as camadas aponeuróticas. Há outra artéria que vem de cima, a artéria epigástrica superior, ramo da torácica interna que vem da subclávia e a epigástrica inferior, ramo da ilíaca externa. Então, para irrigar a parede anterior, há origem em dois sistemas diferentes. Essas artérias vão se dividindo e formando anastomoses, então as superiores e inferiores se encontram. Se eu fizer uma secção, mesmo que seja embaixo, uma laparotomia transversa e seccionar a epigástrica inferior, o fluxo sanguíneo que vem pela epigástrica superior vai passar pelas anastomoses entre os dois sistemas e o fluxo vai ficar para baixo até onde foi a linha de secção, então posso seccionar uma das artérias e não ter isquemia. Mas, se fizer uma laparotomia transversa embaixo e precisar reoperar o paciente e fazer uma em cima, corremos o risco de ter uma isquemia. 6 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 7 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Incisões abdominais. Posso fazer laparotomias longitudinais, transversas e oblíquas. As longitudinais podem ser medianas (na linhamédia) ou paramediana (em cima do músculo reto do abdome). Em um lado do abdome, as artérias e os nervos. Tenho que escolher – dependendo da incisão que eu fizer, vou lesar mais músculo, ou lesar algum nervo, ou desvascularizar mais... então, dependendo da extensão da laparotomia consigo escolher qual é melhor. Se eu fizer uma incisão no meio, na linha alba, não vou pegar nenhum ramo arterial importante, não tem músculo (só aponeurose), a inervação é lateral... então, a laparotomia mediana seria a menos traumática, que produz menos lesões. Quando eu fizer o fechamento, terei um plano de sustentação – linha alba –, enquanto em outro local do abdome vou ter mais um plano de sustentação, podendo diminuir o risco de hérnia. Classificação das laparotomias • LONGITUDINAIS o Medianas: ▪ supra-umbilical (A) ▪ infra-umbilical (F) o Paramedianas ▪ Pararretal interna (B) (Lennander): supra- umbilical, infra-umbilical (G), paraumbilical, xifopúbica ▪ Transrretal (C,G) ▪ Pararretal externa: supra-umbilical, infra- umbilical (D) (Jalaguier) A mediana pode ser supra-umbilical ou infra-umbilical ou xifo-púbica. Quando for longitudinal mas lateral à linha média, é uma incisão paramediana – quando faço uma incisão paramediana, abro pele subcutâneo e me deparo com a bainha anterior do reto, aponeurose do obliquo externo e parte do obliquo interno, então continuo a incisão, abrindo a bainha anterior do reto – terei o músculo reto com as suas fibras; posso seccionar o músculo, entrar no meio ou posso empurrar o músculo, as fibras 8 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 musculares para o lado e, então, acessar à bainha posterior, continuando a laparotomia, ou também pode empurrar o músculo para a linha média. • TRANSVERSAIS o Supra-umbilical ▪ parcial (E, F, H) (Sprengel - A) ▪ total o Infra-umbilical ▪ parcial (I) (Pfannenstiel - C) ▪ total (Gurd - B) Vários níveis. Utilizada para apendicectomia – posso fazer obliqua em cima do ponto de Mc Burney ou transversa em cima do ponto de Mc Burney (incisão de davis). • OBLÍQUAS o subcostal (Kocher - I) o diagonal epigástrica o estrelada supra-umbilical (L) o estrelada infra-umbilical o (Mc Burney - K) o lombo-abdominais Laparotomia Mediana Supra-Umbilical Pele subcutânea e a linha alba. 9 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Incisão oblíqua na parede lateral. Incisão de Mc Burney para uma apendicite. Quando abrir a pele subcutânea, a primeira camada aponeurótica vai ser a aponeurose do oblíquo externo, não preciso seccionar as fibras, apenas separar, pois já estão nesse sentido. Embaixo, aparece as fibras do obliquo interno e transverso que tenho que seccionar dependendo do tamanho da incisão, pois estão no sentido oposto. Depois, aproxima as fibras do oblíquo externo de novo e fecha a pele. Pfannenstiel Incisão bem interessante que se usa muito para região pélvica. Os obstetras e ginecologistas usam bastante pois é a incisão que se faz para cesariana e para cirurgias ginecológicas. É feita uma incisão alguns centímetros acima do púbis e, nessa incisão, encontro a bainha anterior do reto abdominal, que, embaixo, só tem bainha anterior, pois todas as fibras estão passando pela frente, não tenho bainha posterior. Abre a camada aponeurótica no mesmo sentido transversal, mas não secciono o músculo, apenas descolo a camada aponeurótica do músculo. Essa aponeurose não é do músculo reto abdominal, mas sim dos músculos laterais que estão passando na frente do reto, então posso descolar elas do reto do abdome, chegando a uma exposição dos músculos reto do abdome, daí faço um afastamento dos músculos e completo minha incisão no sentido longitudinal, abrindo a fáscia transversalis e o peritônio nesse sentido. É interessante pois tenho duas linhas de incisão, uma transversal e outra longitudinal. Então, não vão ficar todas as incisões sobre a mesma linha. Isso, à princípio, diminui a tensão e o risco de hérnias. Escolha da Incisão • longitudinais, transversais, oblíquas ou combinadas • acesso fácil ao órgão visado • espaço suficiente para que as manobras cirúrgicas sejam executadas com segurança • reconstituição da parede de maneira perfeita, sob o aspecto anatômico, funcional e estético • ampliação rápida e pouco traumatizante Levar em conta o órgão, o que preciso acessar, quanto menos traumática for, melhor, desde que consigo expor tudo o que preciso. 10 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Fechamento da cavidade abdominal, plano por plano • Peritônio – pontos contínuos com fio espesso e de longo período de absorção • Músculos – sutura-se apenas os epimísio, com pontos contínuos, em chuleio • Aponeuroses – pontos contínuos com fio absorvível e longo período de absorção e de resistência • Pele – pontos separados, de acordo com as técnicas de sutura de pele O peritônio normalmente não se fecha, não se faz uma camada específica pois quando aproximo os músculos, o peritônio acaba vindo junto. Não tem função de sustentação, serve mais como um mecanismo para isolar o meio externo do interno, pois rapidamente cicatriza em 24-48h já tenho um isolamento entre o meio externo e a cavidade peritoneal, não preciso fazer uma sutura específica. Complicações das laparotomias • Hemorragia • Hematoma • Infecção e abcesso • Granuloma de corpo estranho • Quelóide • Deiscência da parede, que pode ser Parcial (deiscência “bloqueada”) ou Total (evisceração); • Hérnia Incisional Hematoma - Má técnica; - Coagulopatia; - Reabsorção e fibrose – febre; - Meio de cultura – infecção FO; - Hérnia incisional; - Compressão de estruturas (cervicotomias); - Comprometimento de enxertos; - Manifestações – aumento de volume e secreção sanguinolenta. Tratamento para hematoma - Volumosos – até 48h; - Drenagem; - Pequenos sem contaminação - Conservador – calor. Seroma - Acúmulo de soro e linfa no subcutâneo - Dissecção de linfonodos – grandes espaços mortos - Sem sinais flogísticos - Tratamento com punção e curativos compressivos - Prevenção - Drenos fechados em aspiração em casos de risco; 11 Laís Kist de Almeida – ATM 2024/2 Hérnia Incisional • A incidência é de cerca de 11% após cirurgia abdominal. • Cerca de 150.000 pacientes por ano nos EUA irão desenvolver esta complicação. • Risco de encarceramento (6 a 15%) e estrangulamento (2%). • Comprometimento estético para o paciente. • Recidiva de aproximadamente 45%. • Seu reparo cirúrgico requer: o Material caro (tela), com risco de infecção, o Internação hospitalar prolongada, o Drenagem do tecido subcutâneo nas hérnias grandes Fatores de risco da hérnia • Interferem com a cicatrização: o Síntese da aponeurose com fios absorvíveis o Erro na técnica de fechamento o Tabagismo → aumenta em 4 vezes o risco o Desnutrição o Uso de corticóides o Infecção de ferida operatória o Defeitos genéticos na síntese do colágeno. • Aumentam a pressão intra-abdominal: o Obesidade o Prostatismo o Constipação intestinal Quando faço uma laparotomia mediana supra e infra-umbilical, posso desviar a cicatriz umbilical ou, dependendo da conformação da cicatriz, posso passar trans-umbilical. A maioria dos vasos do subcutâneo é superficial. Normalmente, onde tenho que cauterizar são as camadas mais superficiais. Vai abrindo a subcutânea, até chegar na linha alba. O tecido adiposo é bem pouco vascularizado, próximo à pele tenho mais vasos pois preciso da vascularização da pele – começa a aparecer então, aponeuroses que, bem na linha média, será a linha alba. Quando se faz a tração de um lado para outro, fica fácil de identificar pois o tecido subcutâneoé flexível, mole e, quando chega na camada aponeurótica, só se afasta na medida que é feita a incisão. O peritônio, na linha alba, em geral fica aderido à aponeurose. Quando abre a aponeurose, já abre o peritônio junto. Só tenho pele subcutânea e a camada aponeurose e peritônio. É rápido e fácil de fazer a laparotomia.
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