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Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 ARTIGO ORIGINAL Correspondência: Fabrício Cieslak, Dr.. Colegiado de Educação Física, Universidade Federal do Vale do São Francisco Avenida José de Sá Maniçoba, s/n – Centro CEP: 56304-205 - Petrolina, Pernambuco, Brasil E-mail: facieslak@gmail.com Artigo recebido em 31/01/2013 Aprovado para publicação em 19/11/2013 Adiponectinemia e indicadorAdiponectinemia e indicadorAdiponectinemia e indicadorAdiponectinemia e indicadorAdiponectinemia e indicadores fes fes fes fes fisio-isio-isio-isio-isio- lógicos em adolescentes obesoslógicos em adolescentes obesoslógicos em adolescentes obesoslógicos em adolescentes obesoslógicos em adolescentes obesos asmáticos e não-asmáticosasmáticos e não-asmáticosasmáticos e não-asmáticosasmáticos e não-asmáticosasmáticos e não-asmáticos Adiponectinemia and physiological indicators in obese asthmatics and non-asthmatics adolescents Fabrício Cieslak1,3, Nelson Augusto Rosário Filho2, Ana Claudia Kapp Titski3, Luciana da Silva Timossi3, Rodrigo Dias4, Antonio Ramos Calixto5, Bruno Geloneze Neto5, Neiva Leite3 RESUMO Introdução: Considerada um problema de saúde pública, a obesidade tem sido referida como fator de risco para o desenvolvimento da asma. Assim, o excesso de peso apresenta influencia sobre a função da musculatura lisa e induz a inflamação sistêmica das vias aéreas por intermédio das adipocitocinas. Embora a adiponectina seja considerada uma citocina de caráter anti-inflamatório, uma vez que, suas concentrações decrescem na obesidade. A literatura tem demonstrado mínimas evidências do compor- tamento dessa adipocitocina perante os fatores envolvidos na relação de obesidade e asma. Desse modo, o presente estudo visou analisar o comportamento das respostas de adiponectinemia e parâ- metros fisiológicos em adolescentes obesos asmáticos e não-asmáticos. Métodos: Participaram 15 adolescentes obesos (seis asmáticos e nove não-asmáticos), submetidos a avaliação antropométrica, cardiorrespiratória, espirométrica e laboratorial. O diagnóstico de asma foi através de histórico clínico e questionário ISAAC, e a obesidade pelo IMC acima do percentil 95th. Utilizou-se o teste de broncoprovo- cação com exercício físico para avaliação do broncoespasmo induzido pelo exercício (BIE). Resultados: Verificou-se diferença do % Queda VEF1 (p=0,034) entre os obesos asmáticos e não-asmáticos. Para o obesos asmáticos, o coeficiente de determinação (R2) demonstrou efeito da adiponectina com a PAS (r=-0,512;R2=0,105); HDL (r=+0,659;R2=0,292), glicemia (r=-0,599;R2=0,199), glicemia120 (r=- 0,686;R2=0,338), insulina120 (r=-0,614;R2=0,221), VO2máx Absoluto (r=+0,518;R 2=0,086), VO2máx Relativo MLG (r=+0,585;R2=0,178) e %VEF1 (r=+0,580;R 2=0,171). Nos obesos não-asmáticos houveram efeitos da adiponectina com a insulina (r=-0,731;R2=0,525), HOMA-IR (r=-0,684;R2=0,469), QUICKI (r=+0,683;R2=0,535) e VO2máx Relativo MLG (r=+0,654;R 2=0,346). Conclusão: Verificaram-se prováveis efeitos das respostas de adiponectinemia com os parâmetros fisiológicos associados ao excesso de peso e o baixo nível de aptidão cardiorrespiratória em obesos asmáticos e não-asmáticos. Além disso, para os obesos asmáticos a adiponectinemia demonstrou um possível efeito de relação com o %VEF1. Palavras-chave: Adiponectina. Asma. Obesidade. 1 Doutor do Colegiado de Educação Física, Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, Pernambuco, Brasil. 2 Doutor da Unidade de Pneumologia Pediátrica do Hospital de Clínicas de Curitiba, UFP / Curitiba, Paraná, Brasil. 3 Mestranda do Departamento de Educação Física, Universidade Federal do Paraná (UFP), Curitiba, Paraná, Brasil. 4 Doutoras do Núcleo de Pesquisa em Qualidade de Vida, Depar- tamento de Educação Física, UFP/ Curitiba, Paraná, Brasil. 5 Doutorando do Departamento de Educação Física, Universida- de Metodista de Piracicaba, Piracicaba, São Paulo, Brasil. 6 Doutorando em Clínica Médica, Departamento de Medicina In- terna, Escola de Ciências Médicas, Unicamp 7 Doutor em Clínica Médica, Departamento de Medicina Interna, Escola de Ciências Médicas, Unicamp. 405 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução A obesidade aumentou em todas as faixas etárias, sendo considerada uma doença crônica e epi- dêmica.1 Na população pediátrica o excesso de peso está relacionado ao estilo de vida dos adolescentes1, demonstrando uma tendência para o aumento de doen- ças cardiovasculares2 e possível fator de risco para os sintomas de asma.3,4 Na presença da obesidade, as propriedades do sistema respiratório são profundamente alteradas com possíveis aumentos da hiperresponsividade aérea5, suge- rindo que o excesso de peso contribui para desenvolvi- mento de broncoespasmo induzido pelo exercício físi- co (BIE).6 Existem relatos de que a obesidade tam- bém está relacionada ao desencadeamento de crises de asma ao provocar alterações na mecânica respira- tória e na resposta inflamatória das vias aéreas causa- das pelo excesso de tecido adiposo no organismo.4-7 O aumento do tecido adiposo induz ao desequi- líbrio na secreção de adipocitocinas, tendo papel cha- ve no surgimento de doenças relacionadas ao estilo de vida.8 As adipocitocinas possuem numerosas fun- ções, que incluem a regulação da saciedade, carboi- dratos, metabolismo lipídico e sensibilidade à insuli- na.9 Desse modo, há um crescente número de infor- mações desses hormônios e, com o aumento da pre- valência de obesidade e doenças associadas, a fun- ção desses peptídeos tornou-se de vital importância.10 O peptídio adiponectina tem sido identificado como uma das proteínas de secreção, referidas como adipocitocinas.11 Ela é secretada de forma abundante possui função anti-aterogênica, facilita a oxidação lipídica e estimula a ação da insulina, além de ser im- portante fator para controle central da homeostase energética.10,11,12 Em crianças e adultos, as concen- trações plasmáticas de adiponectina apresentam cor- relação negativa com o tecido adiposo e a resistência insulínica.13-17 Possíveis mecanismos têm sido sugeridos para a relação das adipocitocinas e asma, incluindo altera- ções relacionadas com a obesidade nos volumes pul- monares, inflamação sistêmica e fatores derivados dos adipócitos, que incluem a adiponectina.4 Evidências demonstram que os hormônios do tecido adiposo po- dem induzir alterações inflamatórias específicas e apre- sentar efeitos modificadores da doença em obesos asmáticos.7,15,17 As relações de adiponectina com variáveis como a massa gorda e aptidão física, não tem sido muito estudadas em crianças e adolescentes.13 Nesse contexto, o presente estudo objetivou analisar as rela- ções comportamentais entre as respostas de adiponectina e os indicadores fisiológicos em adoles- centes obesos asmáticos e não-asmáticos. A hipótese do presente estudo preconiza que os fatores associa- dos ao excesso de peso, baixo grau de aptidão cardi- orrespiratória e função pulmonar alterada estão inver- samente correlacionados com a adiponectina. Materiais e MétodosMateriais e MétodosMateriais e MétodosMateriais e MétodosMateriais e Métodos Desenho e sujeitos da pesquisa O delineamento do estudo é transversal e ana- lítico. A coleta de dados foi realizada com adolescen- tes da Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Hos- pital de Clínicas (HC de Curitiba). O estudo foi composto por 15 adolescentes obe- sos (seis com a presença de asma e nove sem pre- sença de asma), de ambos os gêneros. O número de sujeitos foi calculado com base no nível de significân- cia de 0,05, poder estatístico de 70% e magnitude de efeito em 0,50, conforme classificação estabelecida na literatura18, seguido do método de recrutamento por conveniência do número de seis participantes para cada célula. O protocolo de pesquisa foi fundamentadoem conformidade com as diretrizes propostas na Resolu- ção 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, sobre pesquisas envolvendo seres humanos. O estudo foi aprovado no comitê de ética do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. (Protocolo nú- mero: 1818.235/2008-11). Os critérios de inclusão foram: (a) condição de participação em todas as avaliações; (b) apresenta- ção dos termos de assentimento (adolescentes) e con- sentimento (pais ou responsáveis) assinados; (c) indi- víduos obesos; (d) auto-relato de nenhuma infecção respiratória nas quatro semanas anteriores ao teste, baseado em exames médicos realizados anteceden- tes ao início das avaliações; (e) auto-relato de nenhum tratamento medicamentoso e histórico de distúrbios cardiovascular, respiratório, músculo-esquelético e/ou metabólico; (e) auto-relato de não uso de alimentos ou medicamentos com cafeína nas 12 horas prece- dentes a execução dos testes. Foram excluídos os in- divíduos que: (a) apresentassem T4 e TSH alterados; (b) fossem classificados como pré-púberes e pós- púberes na avaliação de maturação sexual. 406 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ Medidas Antropométricas, Pressão Arterial e Maturação Sexual Na obtenção da estatura corporal (cm) utilizou- se um estadiômetro (Ayrton Corporation, resolução de 0,1 cm) fixado a parede, com o indivíduo em posi- ção ortostática, pés unidos, descalços e com a cabeça no plano horizontal de Frankfort. A massa corporal (MC) (kg) foi mensurada em balança (Filizola, resolução de 0,1 kg) tipo plataforma, com o avaliado permanecendo em posição ortostática e descalço. Calculou-se o índice de massa corporal (IMC) mediante a utilização do índice de Quetelet, em kg/cm2: IMC=massa corporal/estatura2, sendo classificados segundo os critérios definidos por Kuczmarski et al.19 Classificaram-se os indivíduos com o IMC entre o percentil 850 e 950 com sobrepeso, e acima do percentil 950 com obesidade. O IMC foi con- vertido para IMC-escore Z, utilizando-se o IMC de cada indivíduo subtraído do valor correspondente ao 500 percentil, dividido pelo desvio-padrão populacio- nal, conforme valores disponibilizados pelo Center for Disease Control and Prevention (CDC), para cada faixa etária e sexo.19 Na determinação da circunferência abdominal (CA) foi utilizada uma fita antropométrica inelástica (resolução de 0,1 cm), aplicada no ponto médio entre a crista ilíaca e a face externa da última costela, para- lela ao solo, com o sujeito em pé, abdômen relaxado, braços ao longo do corpo e pés unidos. A pressão arterial foi aferida no braço direito apoiado em nível cardíaco, utilizando-se esfigmoma- nômetro do tipo aneróide, previamente calibrado con- forme o INMETRO. O manguito foi inflado rapida- mente até 30 mmHg acima do desaparecimento do pulso radial e desinflado a uma velocidade de 2- 4mmHg/segundo. A pressão arterial sistólica (PAS) foi identificada pelo aparecimento dos sons e a pres- são arterial diastólica (PAD) pelo seu desaparecimento (fase V de Korotkoff). Foram realizadas três medi- das e consideraram-se a média das duas últimas me- didas como a pressão arterial do indivíduo.20 A avaliação puberal dos indivíduos foi realizada pela auto-avaliação através de gravuras conforme os estágios maturacionais propostos por Tanner21, sendo que, as meninas foram avaliadas quanto ao desenvol- vimento mamário e a pilificação pubiana e os meninos foram mensurados quanto ao tamanho testicular e a pilificação pubiana. Os indivíduos foram analisados conforme a classificação do estágios maturacionais (“Pré-púberes” – Estágio 1, “Púberes” – Estágios 2, 3 e 4 e “Pós-púberes” – Estágio 5), sendo que, foram selecionados apenas os alunos púberes. A auto-avali- ação em adolescentes obesos apresenta concordân- cia com a avaliação médica.22 Composição Corporal A composição corporal foi avaliada pelo méto- do da impedância bioelétrica (BIA), com o aparelho Biodynamics tetrapolar®. Os indivíduos estavam em jejum de 10 a 12 horas, no período da manhã, em de- cúbito dorsal, após o esvaziamento vesical. Os eletro- dos foram posicionados na superfície dorsal das mãos e dos pés, respectivamente próximos as articulações metacarpo-falangeanas e metatarso-falangeanas e medialmente entre as proeminências distais do rádio e da ulna, entre os maléolos tibial e fibular. Foram obti- dos os valores de resistência e calculadas a massa livre de gordura e massa gorda por intermédio das equações validadas por Houtkooper et al.23 Avaliação da Aptidão Cardiorrespiratória A aptidão cardiorrespiratória foi realizada em esteira ergométrica (marca Ecafix 700X®, USA). Utilizou-se o protocolo com intensidade progressiva de acordo com a faixa etária.24 Determinou-se o consumo de oxigênio (O2) atra- vés de um sistema de espirometria computadorizado de circuito aberto (modelo TrueOne® 2400, Parvome- dics, EUA). O sistema foi calibrado para O2 e CO2 usando uma concentração gasosa certificada para O2 e CO2 e para ventilação usando uma seringa de 3L (modelo 5530 marca Hans Rudolph®, EUA). O limiar ventilatório (LV) foi calculado individualmente e os parâmetros ventilatórios foram medidos sobre o inter- valo de 15 segundos. O LV foi determinado através da combinação do método do equivalente ventilatório.25 O consumo máximo de oxigênio (VO2máx) foi representando por três unidades: 1) valores absolutos (l.min-1), representando por VO2máx l.(min) -1; 2) relati- vo a massa corporal (ml.kg.min-1), representado por VO2máx ml.(kg.min) -1; 3) relativo a massa livre de gor- dura (ml.Kg.MLG.min-1), representado por VO2máx ml.(kg. MLG. min)-1. A freqüência cardíaca (FC) (em bpm) foi mensurada continuamente durante a realização do tes- te, através da utilização de cardiofrequencímetro (mar- ca Polar®, modelo S625X, Kempele, Finlândia). Teste de Função Pulmonar Os participantes foram orientados para não in- gerir café, chá ou refrigerante com cafeína duas ho- 407 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ ras antes da avaliação, a suspender o uso de broncodi- latadores de ação curta e longa 12 horas antes e os anti-histamínicos de ação curta e longa, respectiva- mente, 48 horas e cinco dias antes da avaliação. Os avaliados não poderiam apresentar sintomas de infec- ção viral de vias aéreas superiores nas últimas quatro semanas e não estar em crise de asma. Aplicou-se o questionário International Study of Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC)6 para identificação dos fatores históricos e atuais do desenvolvimento de asma e alergia. Posteriormente, efetuou-se a prova de função pulmonar para confirmação do diagnóstico de asma.26 A função pulmonar foi mensurada por espirô- metro (marca Microlab 2000®), em posição sentada e com o uso de clipe nasal. As variáveis pulmonares mensuradas foram a Capacidade Vital Forçada (CVF) e o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1), em litros. Realizaram-se até oito manobras espi- rométricas, seleci- onando-se as três manobras aceitáveis e reprodutíveis, com diferença máxima de 5%. Em seguida, após análise das três cur- vas, foi escolhida aquela com maiores valores do VEF1 e CVF. Calcularam-se os percentuais dos valores pre- ditos do VEF1 e CVF para a idade e sexo, conforme Polgar; Promodhat27 e a relação VEF1/CVF. Os protocolos de função pulmonar foram reali- zados em dias de avaliações programadas aos pacien- tes, sempre no período da tarde (14:00 as 17:00 horas) e com ambiente controlado (temperatura entre 200 a 250 Celsius e umidade menor que 50%). Antes dos testes foram explicadas as técnicas de manobras ne- cessárias a realização do teste de função pulmonar, para ter resultados reprodutivos, seguindoas diretri- zes para teste de função pulmonar28 e não apresen- tando VEF1 menor que 75% no dia do teste. A prova de exercício físico foi realizada em esteira ergométrica (marca Ecafix 700X®, USA) uti- lizando o protocolo proposto pela American Thoracic Society28 que consistia em caminhar/correr durante oito minutos, numa intensidade superior a 85% da freqüência cardíaca máxima (FCmáx). Para atingir a intensidade prevista a velocidade e a inclinação da esteira foram ajustadas. A inclina- ção ficou estabelecida em 10% e a velocidade esti- mada, conforme estudo anterior.6 A freqüência cardíaca foi monitorada por mo- nitor cardíaco (marca Polar®, modelo S625X, Kempele, Finlândia). Os testes foram realizados no período da tarde, das 14 às 17 horas e o ambiente de execução foi controlado em 20 a 25°C de temperatura e a umi- dade do ar abaixo de 50%. O volume expiratório forçado no primeiro se- gundo (VEF1) foi mensurado, em litros, nos 3, 5, 10, 15 e 30 minutos após o exercício físico. O BIE foi considerado positivo para uma redução do VEF1 igual ou superior a 10% ao valor pré-exercício.6 Além das mensurações dos volumes expirató- rios forçados no primeiro segundo (VEF1) nos testes de broncoprovocação, após o exercício físico, foram calculados em ambos os testes a queda percentual máxima do VEF1 (% QuedamáxVEF1), utilizando o cálculo da diminuição percentual do VEF1 pós-exer- cício em relação ao valor pré-exercício pela seguinte equação: Exames Laboratoriais As amostras sanguíneas foram coletadas no período da manhã, após 12 horas de jejum, para reali- zação de hemograma e dosagens de glicose, insulina, colesterol total (CT), lipoproteína de alta densidade (HDL-C), lipoproteína de baixa densidade (LDL-C) e triglicérides (TG). Em seguida, os adolescentes inge- riram uma solução contendo 1,75 gramas de glicose/ kg, sendo que, após 120 minutos foram coletadas amos- tras para dosagem da Glicemia120 e Insulina120. As mensurações foram realizadas nas sessões de Bio- química, Hematologia e Dosagens Hormonais do Ser- viço de Análises Clínicas do HC da Universidade Fe- deral do Paraná (UFPR). As concentrações plasmáticas de CT, TG e de HDL-C foram determinadas em mg/dl, através de tes- te colorimétrico enzimático (CHOD-PAP) (Labora- tório Merck, Darmstadt, Alemanha; Laboratório Roche, Indianápolis, IN, EUA). O LDL-C foi calcu- lado pela equação de Friedwald et al. (29), em mg/dl: LDL = CT - (HDL + TG/5). Foram considerados como referência os valores para lipídios apresentados na I Diretriz de Prevenção da Aterosclerose na Infância e Adolescência.30 Os níveis de glicemia foram determinados com o método enzimático (Glicose Oxidase – Labtest) e % QuedamáxVEF1 = ((VEF1pós-exercício mais baixo - VEF1pré-exercício) x 100)/ VEF1pré-exercício. 408 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ foram baseados na American Diabetes Association.30 A insulina foi dosada pela técnica de quimiluminescência por imunoensaio imunométrico em uu/ml, utilizando como referência o ponto de corte re- comendado na I Diretriz de Prevenção da Ateroscle- rose na Infância e Adolescência.31 Para o cálculo da resistência a insulina utilizou-se a Homeostasis Model Assessment (HOMA-IR) descrito por Matthews et al. 32 Para avaliação da sensibilidade a insulina foi uti- lizada o Quantitative Insulin Sensivity Check Index (QUICKI) descrito por Katz et al.33 A adiponectina foi dosada utilizando-se do kit ELISA da B-Bridge International, Inc (Sunnyvale, CA, EUA). A variabili- dade intraensaio e interensaio da adiponectina foi de 1,92 e 8,1%, respectivamente. Análise Estatística Utilizaram-se medidas descritivas para carac- terização dos participantes e testes apropriados con- forme a literatura.19 A normalidade dos dados foi rea- lizada pelo teste de Shapiro-Wilk. Os dados que não apresentaram distribuição normal foram transforma- dos em valores de logaritmo natural (logn) para nor- malização. Após este procedimento aplicou-se o teste T para amostras independentes na comparação das variáveis entre os grupos. Para comparação das va- riáveis espirométricas (VEF1 basal (% pred), CVF basal (% pred), VEF1/CVF basal e % QuedamáxVEF1) que apresentavam características percentuais utilizou- se o teste Z de Kolmogorov-Smirnov. Para analisar as possíveis relações da adiponectina com os parâ- metros fisiológicos utilizou-se a correlação de Pearson. Em seguida, para as análises correlacionais de tama- nho de efeito grande18 foi aplicada a regressão linear para predizer, através do coeficiente de regressão (â) e do coeficiente de determinação (R2), o comporta- mento de variação da adiponectina em relação a va- riáveis fisiológicas. Esses procedimentos foram reali- zados dividindo-se os participantes em dois grupos, pois o intuito do estudo foi verificar o comportamento da adiponectina sobre as outras variáveis em obesos as- máticos e não-asmáticos. Para verificar a magnitude das análises dos testes comparativos foram calcula- dos os tamanhos de efeito “d”, enquanto para os tes- tes correlacionais utilizou-se o tamanho de efeito “r”, conforme propostos pela literatura.18 Para os testes de correlações, o tamanho de efeito é referido como o grau em que o fenômeno de relação está presente na amostra elevando o poder da análise, ou seja, pode-se considerar como efeito pequeno (r=0,10), efeito mo- derado (r=0,30) ou efeito grande (r=0,50).18 Os pro- cedimentos estatísticos foram realizados mediante a utilização do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS, versão 20.0) for Windows, com ní- vel de significância fixado em p<0,05. ResultadosResultadosResultadosResultadosResultados Foram estudados 15 adolescentes (nove meni- nas e seis meninos), cujas características antropomé- tricas e os parâmetros laboratoriais das avaliações ini- ciais são apresentadas na Tabela 1, conforme a pre- sença ou não de asma. Na avaliação dos 15 adoles- centes, verificou-se que nove não apresentam o diag- nóstico de asma e seis demonstram a presença. As médias das variáveis antropométricas estão acima dos valores recomendados para adolescentes eutróficos. Não foram encontradas diferenças significativas en- tre os grupos para as variáveis antropométricas e pa- râmetros laboratoriais, porém alguns indivíduos não estão dentro dos valores recomendáveis para adoles- centes, na glicemia (20%), insulinemia (73%), CT (13%), HDL-C (40% dos sujeitos), LDL-C (7%), tri- glicérides (47%), glicemia (20%), insulina (73,3%), HOMA-IR (66,7%) e QUICKI (53,3). A adiponectina apresentou valores de baixas concentrações para ambos os grupos e não foram verificadas diferenças significativas. Os valores das variáveis cardiorrespiratórias e espirométricas dos indivíduos avaliados constam na Tabela 2. Não foram identificadas diferenças para as variáveis cardiorrespiratórias entre os indivíduos as- máticos e não-asmáticos. Para as variáveis espiro- métricas, foram encontradas diferenças significativas (p = 0,034) com magnitude de efeito moderado (d = 0,55) para % Queda VEF1 entre os indivíduos asmáti- cos e não-asmáticos. A broncoprovocação por exer- cício físico foi positiva em 40% dos sujeitos (66,7% em asmáticos e 23,3% em não-asmáticos). As correlações com tamanho de efeito grande das características antropométricas, cardiorrespirató- rias, espirométricas e parâmetros laboratoriais com adiponectina dos adolescentes obesos asmáticos são apresentadas na Figura 1. Para os adolescentes obe- sos asmáticos não foram verificadas correlações sig- nificativas. Porém, constataram-se tendências de re- lações para tamanho de efeito grande da adiponectina com a PAS (r=-0,512; p=0,299), HDL (r=+0,659; p=0,155); glicemia (r=-0,599; p=0,209); glicemia120 (r=-0,686; p=0,132); insulina 120 (r=-0,614; p=0,195); 409 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B,Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ Tabela 1 Variáveis antropométricas e parâmetros laboratoriais dos adolescentes. Obeso Obeso Tamanho Asmático Não-asmático Total de Efeito Variáveis (n=6) (n=9) (n=15) (d) Idade (meses) 150,3 + 27,0 166,8 + 21,4 160,2 + 24,3 0,33 Idade (anos) 12,5 + 2,2 13,9 + 1,7 13,3 + 2,0 0,33 MC (kg) 81,7 + 17,5 80,7 + 11,9 81,1 + 13,8 0,03 Estatura (cm) 159,7 + 9,9 163,3 + 7,5 161,9 + 8,4 0,16 IMC (kg/m2) 31,8 + 5,3 30,1 + 3,4 30,8 + 4,2 0,12 IMC escore-Z 4,1 + 1,7 3,1 + 1,1 3,5 + 1,4 0,27 CA (cm) 103,3 + 14,2 98,5 + 8,5 100,5 + 10,9 0,18 % de Gordura 38,4 + 4,8 36,5 + 5,1 37,3 + 4,9 0,15 MG (kg) 31,7 + 9,5 29,4 + 6,9 30,3 + 7,8 0,09 MLG (kg) 50,2 + 10,1 50,7 + 7,2 50,5 + 8,2 0,06 PAS (mmHg) 110,3 + 16,2 100,2 + 13,1 104,2 + 14,7 0,35 PAD (mmHg) 72,3 + 14,3 68,6 + 10,3 70,1 + 11,7 0,18 CT (mg/dL) 147,1 + 12,3 152,4 + 29,5 150,3 + 23,6 0,12 HDL-C (mg/dL) 41,5 + 6,8 42,6 + 8,0 42,2 + 7,3 0,04 LDL-C (mg/dL) 81,3 + 7,0 85,7 + 21,9 84,0 + 17,2 0,23 Triglicérides(mg/dL) 122,3 + 47,5 119,8 + 61,1 120,8 + 54,2 0,12 Glicemia (mg/dL) 94,5 + 6,7 95,4 + 7,4 95,0 + 6,9 0,15 Glicemia120(mg/dL) 95,6 + 21,0 99,8 + 10,7 98,2 + 15,1 0,12 Insulina (µUI/mL) 23,3 + 14,9 18,8 + 7,4 20,6 + 10,7 0,09 Insulina120(µUI/mL) 55,8 + 43,0 42,8 + 27,1 48,0 + 33,5 0,12 HOMA-IR 5,57 + 3,81 4,40 + 1,66 4,87 + 2,67 0,06 QUICKI 0,31 + 0,03 0,31 + 0,02 0,31 + 0,02 0,06 Adiponectina(µg/mL) 5,86 + 1,58 4,56 + 1,78 5,08 + 1,77 0,34 * p<0,05 410 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ VO2máx Absoluto (r=+0,518; p=0,292);VO2máx Relati- vo MLG (r=+0,585; p=0,223) e % VEF1 Predito (r=+0,580; p=0,227). A correlação de efeito modera- do da adiponectina ocorreu perante as seguintes va- riáveis: PAD (r=-0,370; p=0,470), FCrep (r=-0,306; p=0,555); VO2máx Relativo (r=+0,464; p=0,353), VEF1 (r=+0,473; p=0,343) e CVF (r=+0,344; p=0,504). O coeficiente de determinação da regressão demonstrou que o efeito da adiponectina em adoles- centes obesos asmáticos, sobre as variáveis fisiológi- cas com tamanho de efeito grande, pode ser repre- sentando da seguinte forma: PAS (10%), HDL (29%), glicemia (19,9%), glicemia 120 (33,8%), insulina 120 (22,1%), VO2máx Absoluto (8,6%); VO2máx Relativo MLG (17,8%) e % VEF1 Predito (17,1%). As análises correlacionais dos adolescentes obesos não-asmáticos com tamanho de efeito grande, das variáveis antropométricas, cardiorrespiratórias, espirométricas e parâmetros laboratoriais com adiponectina são apresentadas na Figura 2. Os ado- lescentes obesos não-asmáticos demonstraram cor- relações significativas e com tamanho de efeito gran- de da adiponectina com a insulina (r=-0,731; p=0,025), HOMA-IR (r=-0,684; p=0,042) e QUICKI (r=+0,683; p=0,043). Verificou-se ainda, tendência de relação para tamanho de efeito grande da adiponectina com a VO2máx Relativo MLG (r=+0,654; p=0,056). As rela- ções de efeito moderado da adiponectina foram verificadas com a: MG (r=-0,402; p=0,284); PAD (r=- 0,316; p=0,408), Glicemia (r=-0,312; p=0,414); Glice- mia 120 (r=-0,489; p=0,182), VO2máx Relativo (r=+0,455; p=0,218), VEF1 (r=+0,310; p=0,417) e CVF (r=+0,396; p=0,291). Para análise do coeficiente de determi- nação verificou-se que o efeito da adiponectina em adolescentes obesos não-asmáticos, sobre componen- tes fisiológicos com tamanho de efeito grande, pode ser descrito do seguinte modo: insulina (52,5%), HOMA-IR (46,9%), QUICKI (53,5%) e VO2máx Re- lativo MLG (34,6%). Tabela 2 Variáveis cardiorrespiratórias e espirométricas dos adolescentes Obeso Obeso Tamanho Asmático Não-asmático Total de Efeito Variáveis (n=6) (n=9) (n=15) (d) FCrep (bpm) 85,3 + 12,5 76,8 + 7,1 80,2 + 10,1 0,37 FCmáx (bpm) 192,6 + 11,1 196,5 + 8,4 195,0 + 9,4 0,20 O2máx Absoluto l. (min) -1 2,82 + 0,69 3,07 + 0,46 2,97 + 0,55 0,43 O2máx Relativo ml . (kg.min) -1 32,7 + 7,0 37,0 + 6,9 35,3 + 7,0 0,33 O2máx Relativo MLG ml.(kg.MLG.min) -1 52,6 + 7,1 58,5 + 7,8 56,2 + 7,9 0,37 VEF1 basal (L/min) 2,80 + 0,74 3,11 + 0,51 2,99 + 0,60 0,37 VEF1 basal (% pred) 90,5 + 9,9 95,2 + 14,0 91,0 + 12,4 0,06 CVF basal (L/min) 3,42 + 1,04 3,63 + 0,60 3,55 + 0,78 0,18 CVF basal (% pred) 103,4 + 13,9 104,1 + 13,2 103,8 + 13,0 0,02 VEF1/CVF basal 82,9 + 7,1 86,1 + 7,6 84,6 + 7,4 0,18 VEF1 Quedamáx (L/min) 2,29 + 0,83 2,84 + 0,52 2,67 + 0,70 0,43 % QuedamáxVEF1 - 11,21* - 7,51 - 8,28 0,55 * p<0,05 411 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ Figura 1: Correlações da adiponectina e variáveis dos adolescentes obesos asmáticos. *p<0,05 412 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ DiscussãoDiscussãoDiscussãoDiscussãoDiscussão A relação entre asma e obesidade tem sido ob- jeto de vários estudos (4, 5, 6, 16), principalmente por- que as duas situações clínicas estão atingindo propor- ções epidêmicas, indicando que as mudanças ambien- tais e sociais do mundo moderno estão envolvidas na gênese, além das interações entre ambas as doenças.3 A literatura tem indicado que a prevalência de asma é maior em obesos quando comparados a indivíduos eutróficos.4 Os mecanismos de obesidade e asma ainda não estão bem estabelecidos, as possíveis relações podem ser influenciadas pelo efeito da obesidade sobre a mecânica ventilatória, inflamação sistêmica, hormôni- os de regulação do metabolismo energético, comorbi- dades e etiologias comuns.4 A presente pesquisa indi- cou que os adolescentes obesos asmáticos e não-as- máticos não apresentam diferenças significativas en- tre as variáveis antropométricas, cardiorrespiratórias e laboratoriais. Entretanto, apesar de nossos resulta- dos, as pesquisas em crianças e adultos têm demons- trado que a obesidade antecede a asma, e que o risco relativo de incidência da asma aumenta com o exces- sivo índice de massa corporal.4,16 Na análise das variáveis espirométricas, os va- lores do nosso estudo indicaram maior ocorrência de % QuedamáxVEF1 em obesos asmáticos comparados aos obesos não-asmáticos. Em estudo realizado por Cieslak et al.6 avaliou-se o broncoespasmo induzido pelo exercício em adolescentes, que incluíam obesos asmáticos e obesos não-asmáticos, com valores de- monstrando maior severidade dos indicadores em ado- lescentes obesos asmáticos comparados aos obesos que não apresentam diagnóstico de asma. Esses re- sultados sugerem que o asmático obeso permaneça mais tempo de quadro de broncoconstrição por broncoespasmo induzido pelo exercício que os não- obesos.3 Considerada uma molécula chave de proteção inflamatória, a adiponectina é a única em que a con- centração plasmática decresce na obesidade.11 Os Figura 2: Correlações da adiponectina e variáveis dos adolescentes obesos não-asmáticos. 413 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ mecanismos que estão relacionados ao tecido adiposo com processos patológicos, como a adiponectina, têm sido pouco mensurados em estudos com populações pediátricas.13 Em nossa pesquisa, apesar dos obesos asmáticos demonstrarem valores médios superiores aos obesos não-asmáticos, não foram verificadas di- ferenças significativas para os valores de adiponecti- na entre os grupos. Esses resultados corroboram com outra pesquisa que avaliou as adipocitocinase mani- festações de asma em crianças e não verificaram di- ferenças significativas entre os grupos para a adipo- nectinemia.7 Embora ambas pesquisas indiquem que os obesos asmáticos e não-asmáticos não apresen- tam diferenças significativas para os valores de adi- ponectina, novas pesquisas são necessárias para veri- ficar o real comportamento em obesos e asmáticos, já que a literatura relata que as concentrações séricas dessa variável no obeso podem induzir ao desenvolvi- mento de hiperresponsividade das vias aéreas.15 Na presente pesquisa, não houveram relações significativas das variáveis fisiológicas com a adipo- nectina em adolescentes obesos asmáticos. Entretan- to, as análises do coeficiente de determinação podem exemplificar o comportamento de determinadas va- riáveis, como o efeito negativo de 10% da adiponecti- na com a PAS. Uma resposta plausível para esse acha- do refere-se ao fato de que, o aumento da pressão arterial está relacionado a níveis elevados de endote- lina, um potente broncoconstritor. A literatura aborda ainda que, o aumento da pressão arterial pode causar insuficiência cardíaca seguida de congestão pulmo- nar, que poderia amplificar o edema brônquico perifé- rico e, consequentemente, ocasionar um agrave mai- or do desacoplamento das vias respiratórias.4 A literatura tem demonstrado a influência da adiponectinemia sobre variáveis metabólicas em ado- lescentes obesos.7,8,11,13,15,16 Nesse sentido, essas evi- dências corroboram com nossos achados que apre- sentaram relações significativas da adiponectinemia com as variáveis de insulinemia nos adolescentes obe- sos não-asmáticos, além de possíveis efeitos de HDL, glicemia, glicemia 120 e insulina 120 em obesos asmá- ticos. Desse modo, o reverso da hipoadiponectinemia em obesos asmáticos e não-asmáticos pode ser fator de proteção para doenças da síndrome metabólica.11 Além disso, as respostas das variáveis de glicemia com adiponectinemia em adolescentes obesos asmáticos verificados podem fornecer subsídios para explicar a relação da obesidade com a asma, uma vez que, o diabe- tes tipo 2 é um complicador comum da obesidade.4 Os achados referentes as correlações de adi- ponectinemia e variáveis cardiorrespiratórias detec- tados neste estudo foram verificadas em outras evi- dências.13,34 Para a pesquisa de Nemet et al13, que avaliou o efeito das concentrações de adiponectina com o consumo de oxigênio em 30 adolescentes sau- dáveis houve relação moderada e significativa entre as variáveis. Outra análise com homens acima de 35 anos revelou que a adiponectina está positivamente correlacionada ao consumo de oxigênio.34 Na presen- te pesquisa, as correlações das variáveis cardiorres- piratórias com a adiponectina demonstraram tamanho de efeito grande sem valores significativos. Desse modo, os indicadores sugerem que um condicionamen- to cardiorrespiratório adequado pode elevar as con- centrações de adiponectinemia. É importante ressal- tar que, a ausência de significância das análises esta- tísticas desse estudo podem ser explicadas pelo nú- mero amostral reduzido dos adolescentes obesos as- máticos e não asmáticos, ou seja, um número maior de participantes poderia demonstrar um efeito signifi- cativo dessas variáveis nos adolescentes. Nesse sen- tido, o estudo do comportamento das adipocitocinas com as variáveis cardiorrespiratórias e fatores relaci- onados a obesidade e asma em adolescentes são ne- cessários para fornecer subsídios válidos ao avanço do conhecimento clínico em novas estratégias tera- pêuticas para o tratamento nessa população.4 As evidências da literatura apresentam lacunas no comportamento da adiponectinemia com as variá- veis espirométricas. Na presente pesquisa, verificou- se um possível efeito da adiponectina sobre o % VEF1 em adolescentes obesos asmáticos, para as outras variáveis de função pulmonar não foram encontradas relações significativas da adiponectina em adolescen- tes obesos asmáticos e não-asmáticos. Embora algu- mas evidências prévias8,15 não tenham demonstrado relação da adiponectina com a função pulmonar, um estudo revelou que a obesidade está associada a infla- mação sistêmica, causando alterações hormonais do tecido adiposo que podem induzir a mudanças infla- matórias específicas em obesos asmáticos.17 O presente estudo deve ser interpretado com cautela diante de alguns fatores limitantes. O delinea- mento amostral de seleção não-aleatória dos sujeitos com características étnicas próprias pode ter ocasio- nado um viés de seleção. O baixo número de partici- pantes pode ter influenciado nos resultados das corre- lações, principalmente em variáveis com valores de magnitude de efeito moderado que poderiam apresen- 414 Cieslak F, , Rosário Filho NA, , Titski ACK, Timossi LS, Dias R, Calixto A, Geloneze Neto B, Leite N. Adiponectinemia em adolescentes obesos asmático e não-asmáticos Medicina (Ribeirão Preto) 2013;46(4): 404-15 http://revista.fmrp.usp.br/ tar resultados mais consistentes na explanação dos efeitos da relação obesidade e asma, além de elevar o poder estatístico do cálculo amostral. Embora o estu- do tenha explorado apenas algumas variáveis pulmo- nares, a presente pesquisa corrobora com os subsídi- os da literatura em relação a associação de determi- nadas variáveis. A ausência da medida de fluxo expi- ratório forçado entre 25 e 75% (FEF25%-75%), apesar de limitante, justifica-se pelo fato de que essa medida não apresenta grau significativo de influência em es- tudos com obesos.35,36 ConclusãoConclusãoConclusãoConclusãoConclusão Verificou-se que os adolescentes obesos asmá- ticos demonstraram maior índice de % QuedamáxVEF1 em comparação aos obesos não-asmáticos. Houve efeito considerado grande das respostas de adiponec- tinemia com os indicadores fisiológicos associados a obesidade em asmáticos e não-asmáticos, evidenci- ando que os parâmetros de síndrome metabólica e o baixo nível de aptidão cardiorrespiratória possivelmen- te estão envolvidos no processo inflamatório. Além disso, a adiponectinemia demonstrou um provável efeito de associação com o %VEF1 nos obesos asmáticos. Agradecimentos Os autores da pesquisa agradecem a Coorde- nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su- perior (CAPES) pelo auxílio financeiro e a equipe do Laboratório de Investigação em Diabetes e Metabo- lismo pela colaboração nas análises laboratoriais. ABSTRACT Background: Considered a public health problem, obesity has been cited as a risk factor for the develop- ment of asthma. Thus, the overweight has influence on the smooth muscle function and induce systemic inflammation of the airways through the adipocytokines. Although adiponectin is considered an anti- inflammatory cytokine, since their concentrations decrease in obesity. The literature has show minimal evidence of this behavior before adipocytokine factors involved in the relationship of obesity and asthma. Thus, the present study aimed to analyze the behavior of adiponectinemia responses and physiological parameters in obese asthmatics and non-asthmatics. Methods: Participated 15 obese adolescents (six asthmatics and nine non-asthmatics), submitted anthropometric measurements, cardiorrespiratory, spirometric and laboratory. The diagnosis of asthma has been through clinical history and ISAAC ques- tionnaire, and obesity as BMI above the 95th percentile. We used the bronchoprovocation test with exer- cise for assessing exercise-induced bronchospasm (EIB). Results: There was difference in % Fall FEV1 (P=0.034) among obese asthmatics and non-asthmatics. For obese asthmatics, the coefficient of deter- mination (R2) demonstrated effect of adiponectin with SBP (r=-0.512, R2=0.105), HDL (r=+0.659, R2=0.292), glucose (r=-0.599; R2=0.199), glucose120 (r=-0.686, R2=0.338), insulin120 (r=-0.614, R2=0.221), Abso- lute VO2max (r=+0.518, R 2=0.086), VO2max Relative FFM (r=+0.585; R 2=0.178) and % FEV1 (r=+0.580, R2=0.171). In obese non-asthmatics were effects of adiponectin with insulin (r=-0.731, R2 =0.525), HOMA- IR (r=-0.684, R2=0.469),QUICKI (r=+0.683, R2=0.535) and VO2max Relative FFM (r=+0.654, R 2=0.346). Conclusion: There were likely effects of adiponectinemia responses with physiological indicators asso- ciated with overweight and low cardiorespiratory fitness in obese asthmatics and non-asthmatics. Fur- thermore, for the obese asthmatic adiponectinemia demonstrated a possible effect relationship with % FEV1. Key words: Adiponectin. Asthma. Obesity. 3. Oliveira MAB, Leite N. 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