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Tatyane Ferreira LUIS HENRIQUE - Química Industrial (UEPB) ORGÂNICA 1 Equilíbrio Químico, Energia Livre e Entropia de Mistura Produtos Reagentes Esquema – Equilíbrio Químico ▪ As quatro substâncias envolvidas (A, B, C, D) são líquidos ideais (isto quer dizer que não há calor de mistura, isto é, ∆Hmistura = 0), e são todas miscíveis umas com as outras. ▪ Não há solvente de reação. As misturas de que vamos tratar contêm apenas os reagentes (A e B) e/ou produtos (C e D). ▪ Vamos imaginar que misturamos 1 mol de A com 1 mol de B: conforme ocorre a reação, formam-se os produtos C (x mol) e D (x mol), sendo as quantidades dos reagentes diminuídas do mesmo valor x, ou seja, ficam 1–x mol de A e 1–x mol de B. Todas as misturas possíveis contêm um total de 2 mol de substâncias, e têm a composição apresentada na tabela abaixo, com x podendo variar de 0 a 1, incluindo os extremos. Observe que basta fornecer o valor de x para que as quantidades de todas as substâncias fiquem definidas: x define, sozinho, a composição da mistura. Substância Quantidade (mol) Fração molar A B C D 1 - x 1 - x x x (1 – x)/2 (1 – x)/2 x/2 x/2 0 ≤ x ≤ 1 ▪ Vamos dizer que G1 é a energia livre da mistura dos reagentes (A + B, 1 mol de cada) e G2 é a energia livre da mistura dos produtos (C + D, 1 mol de cada)74. A pergunta que queremos responder é: Qual é a energia livre das outras composições possíveis? Vamos examinar primeiro o caso particular em que G2 = G1 75. Se a energia livre de (A + B) é igual à energia livre de (C + D), temos a forte impressão de que todas as misturas que fizermos de A + B com C + D (mantendo a quantidade total sempre em 2 mol) terão também a mesma energia, não é mesmo? Chegamos a essa conclusão errada porque temos forte tendência para pensar em energia sem considerar a entropia. De fato, se não fosse pela entropia, a conclusão seria esse mesmo: como os líquidos são ideais, não há 2 calor de mistura, e se os dois líquidos têm a mesma energia (por 2 mol), a mistura dos dois também deveria ter a mesma energia (por 2 mol). Mas ocorre que a mistura dos dois líquidos, cada um contendo duas substâncias (A + B ou C + D) passa a conter quatro substâncias (A + B + C + D); esta é, então, uma mistura mais complexa (contém mais componentes) e, portanto, mais desorganizada. Tem, por isso, maior entropia e, consequentemente, menor energia livre (lembre-se: G = H − TS). A fórmula que nos dá a entropia de mistura de líquidos ideais é a seguinte: onde n é a quantidade total de substâncias (em moles) e Xi é a fração molar do componente i. R é, naturalmente, a constante dos gases (8,314 J/(mol×K)). Usando esta fórmula, vamos calcular a entropia correspondente a três misturas diferentes: 1. Mistura de A (1 mol) com B (1 mol); 2. Mistura de C (1 mol) com D (1 mol); 3. Mistura de A (0,5 mol) com B (0,5 mol) com C (0,5 mol) com D (0,5 mol). Observando bem a fórmula eq. 1 você já pode perceber que as misturas 1 e 2 vão dar o mesmo resultado. Mistura 1 (A + B): Mistura 2 (C + D): ∆𝑆𝑚𝑖𝑠𝑡𝑢𝑟𝑎 = −𝑛𝑅 ∑ 𝑋𝑖 𝑖 𝐼𝑛 𝑋𝑖 3 Mistura 3 (A + B + C + D): Valores calculados de entropia: Assim você pode compreender por que a curva da figura abaixo apresenta um poço com profundidade de 3,43 kJ/mol: apesar de (A + B) e (C + D) terem a mesma energia livre, a mistura que corresponde a x = 0,5 (a mesma “mistura 3” da tabela acima) tem uma entropia de 11,52 J/(mol×K) maior do que a entropia das misturas 1 e 2 (que são os extremos do gráfico), correspondendo a 3,43 kJ/mol de diferença (em G = H – TS) a 25 °C. Curva de energia livre para ∆G = 0 (a 25 °C) A equação dessa curva, que pode ser também utilizada para outros valores de ∆G (∆G = G2 – G1, que neste caso é zero), é a seguinte: Equação da curva 4 Note que a equação não pode ser usada para calcular os pontos extremos, porque aparece ln (0) nesses casos. Isto não tem importância, porque quando x = 0, Gm = G1 e quando x = 1, Gm = G2. Não vamos fazer aqui a dedução da equação da curva, pois ela é um pouco longa, envolvendo operações matemáticas relativamente simples, mas extensas. Se estiver interessado, você pode consultar a literatura original. Na equação, ∆G é o valor da energia livre da reação, e G1 é um valor que só pode ser atribuído arbitrariamente; esta atribuição arbitrária não tem importância, porque o valor de G1 apenas leva a curva para cima ou para baixo, sem alterar a sua forma (é como se apenas movêssemos a escala vertical). Por isso, os gráficos correspondentes mostram apenas as diferenças de energia (note que não há valores definidos para os pontos das escalas verticais, apenas diferenças). Tendo compreendido que a curva que aparece na figura 1.4.27 deve-se exclusivamente à entropia de mistura [de (A + B) com (C + D)], você pode agora olhar para a equação da figura 1.4.28 com outros olhos: se ∆G = 0 e G1 é irrelevante, o termo que determina a forma dessa curva é 2RT [(1 – x) ln(1 – x) + x ln x ], e este termo não depende da energia! Quando fazemos o gráfico para outros valores de ∆G, a parte da equação x∆G + G1 corresponde à linha reta entre G1 e G2, e o restante da equação corresponde à curva da figura 1.4.27, que tem profundidade do poço de 3,43 kJ/mol. Como a parte que corresponde à curva não depende de ∆G, quando o valor absoluto de ∆G é grande (por exemplo, 40 kJ/mol), o valor de 3,43 kJ/mol fica insignificante, e a curva final apresenta uma curvatura muito pequena. 5 Curva de energia livre para ∆G = – 40 kJ/mol (a 25 °C). Já quando ∆G, em valor absoluto, é menor do que 20 kJ/mol, a curvatura fica suficientemente pronunciada para que notemos claramente que, no equilíbrio, existem tanto reagentes como produtos. Observe a figura abaixo, que mostra a curva para ∆G = – 6 kJ/mol. O que é mais importante que você perceba aqui é que as reações químicas tenderiam a ir para o extremo de menor energia, se não fosse a influência da entropia de mistura, que “puxa” a reação para um ponto intermediário. O valor da entropia de mistura é, no entanto, pequeno (máximo valor de T∆S = 3,43 kJ/mol a 25 °C); assim, se o valor absoluto de ∆G da reação é grande, esse valor de entropia torna-se insignificante, e a reação parece prosseguir até o fim, transformando “todo” o material de partida em produto. O equilíbrio só é evidente para reações com ∆G < 20 kJ/mol.
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