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Talidomida A tragédia da talidomida, no início da década de 1960, foi um divisor de águas na regulação de medicamentos. marca o início de um tempo de reflexão e de especial atenção da prática médica sobre o uso de medicamentos na gestação. A talidomida foi descoberta em 1953 por Wilhelm Kunnz, na então Alemanha Ocidental. O fármaco foi lançado no mercado em 1956 como antigripal, com a marca registrada Grippex®. A talidomida foi comercializada com pelo menos 52 nomes comerciais no mundo. ESTRUTURA QUÍMICA Os isômeros da Talidomida provocam diferentes reações no organismo: (S) talidomida → teratogênica: provoca atrofiamento; (R) talidomida → efeito tranquilizante.Isômeros óticos da Talidomida: a diferença é identificada pela posição do N (nitrogênio) que liga as cadeias cíclicas. USO DA TALIDOMIDA NA GESTAÇÃO Inicialmente a talidomida foi comercializada como sedativo. Utilizado durante a gravidez pode provocar graves defeitos visuais, auditivos, da coluna vertebral e, em casos mais raros, do tubo digestivo e problemas cardíacos. A ingestão de um único comprimido nos três primeiros meses de gestação ocasiona a Focomelia, que é uma síndrome caracterizada pela aproximação ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto - tornando-os semelhantes aos de uma foca - devido a ultrapassar a barreira placentária e interferir na sua formação. Criança com Focomelia. Fonte: ANVISA (2016) As malformações de membros são as mais descritas dentre todas produzidas pelo efeito teratogênico da talidomida. Os defeitos são normalmente bilaterais e não necessariamente simétricos. Membros opostos são afetados de forma desigual: − Focomelia (membros curtos ou rudimentares) nos quatro membros; − Focomelia ou amelia (ausência total) de membros superiores com outros defeitos de membros inferiores; − Focomelia ou amelia de membros superiores com membros inferiores normais; − Defeitos de membros inferiores predominantes (hipoplasia femoral ou focomelia de extremidades inferiores). https://draft.blogger.com/blog/post/edit/5283645727711031930/2224392196530436936 História da Talidomida PATRICIA DIAS – CADERNODEFARMACIA.BLOGSPOT.COM MESTRANDA EM SAÚDE PÚBLICA – FIOCRUZ / RESIDÊNCIA EM FARMÁCIA HOSPITALAR - UFF OUTROS USOS Em 1965 foi descoberto o efeito benéfico da talidomida no tratamento de estados reacionais em Hanseníase (antigamente conhecida como lepra), e não para tratar a doença propriamente dita, o que gerou a sua reintrodução no mercado brasileiro com essa finalidade específica. A partir daí foram descobertas inúmeras utilizações para a droga no tratamento de AIDS, lúpus, doenças Crônico-degenerativas - Câncer e Transplante de Medula. Tratamento nas Mulheres: A Talidomida, por força da Portaria nº 354, de 15 de agosto de 1997, é proibida para mulheres em idade fértil em todo o território nacional. Apesar da proibição, em casos especiais, médicos receitam a talidomida. Entretanto são previstas sanções legais, cabendo observar que mesmo com a assinatura de Termo de Esclarecimento aos Pacientes e Termo de Responsabilidade Médica, ambos podem ser responsabilizados pelo mau uso do medicamento. A paciente deve abster-se sexualmente ou aderir a dois métodos contraceptivos concomitantemente: − de alta eficácia: pílula anticoncepcional, anticoncepcional injetável ou implantado pela via intradérmica, dispositivo intrauterino – DIU; − eficaz: preservativo masculino, preservativo feminino, diafragma; A prevenção da gravidez deve iniciar-se, pelo menos, 4 semanas antes do início do tratamento com o medicamento, durante toda a terapia e por mais 4 semanas após a interrupção da administração da Talidomida; A paciente, em idade fértil, deve fazer um teste de gravidez 24 horas antes de começar o tratamento com Talidomida. O teste deve ser realizado, ainda, uma vez por semana durante o primeiro mês do tratamento e a cada 2 a 4 semanas após o primeiro mês. Tratamento nos Homens: Conforme a Resolução n° RDC 140/2003 da ANVISA, a bula do medicamento informa que “os homens que utilizam a Talidomida e mantém vida sexual ativa com mulheres em idade fértil, mesmo tendo sido submetidos à vasectomia, devem ser orientados a adotar o uso de preservativo durante o tratamento” e ainda “sobre a importância de os usuários não doarem sangue ou esperma”. Pseudo-abdôme e neuropatia periférica são efeitos colaterais que os pacientes apresentam após o uso contínuo da Talidomida. Tais efeitos geram dores insuportáveis, só aliviadas com aplicações moleculares, que têm custo elevado e, até agora, não são fornecidas aos pacientes por parte do Estado. Notificação de Receita Especial para Talidomida. Para medicamentos da lista C3 (Imunossupressoras) da Portaria 344/98: ▪ Poderá conter somente 01 (um) produto farmacêutico; ▪ Validade de 15 (quinze) dias, a partir da sua emissão; ▪ Válida em todo o território nacional; ▪ Tratamento para 30 (trinta) dias. História da Talidomida PATRICIA DIAS – CADERNODEFARMACIA.BLOGSPOT.COM MESTRANDA EM SAÚDE PÚBLICA – FIOCRUZ / RESIDÊNCIA EM FARMÁCIA HOSPITALAR - UFF Histórico 1953: A talidomida foi descoberta por Wilhelm Kunnz, na então Alemanha Ocidental; 1954: foi sintetizada na Alemanha Ocidental pela German Company Chemie Grünenthal desenvolvido inicialmente como sedativo; 1956: a talidomida foi introduzida no mercado alemão com os nomes comerciais de Contergan® e Grippex®. Na época, foi indicada para o tratamento de diversas condições, tais como irritabilidade, baixa concentração, ansiedade, insônia, enjôos, hipertireiodismo, doenças infecciosas, entre outras indicações; − O primeiro caso conhecido de uma malformação congênita relacionada ao fármaco foi no final do ano de 1956, na Alemanha, no mesmo local da empresa de fabricação. 1957: o medicamento passa a ser comercializado em 46 países, contendo mais de 40 nomes comerciais; − Nos Estados Unidos (EUA) a talidomida não foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA). − popularizou-se como droga efetiva para combater enjoos matinais em mulheres grávidas. 1959: No Brasil, a primeira propaganda comercial da talidomida foi publicada em três jornais de grande circulação; 1960: descobertos os efeitos teratogênicos provocados pela talidomida quando consumida por gestantes: durante os 3 primeiros meses de gestação interfere na formação do feto, provocando a Focomelia; 1961: somente no final do ano, com um número cada vez maior de tais anormalidades, que Lenz sugeriu uma possível correlação entre as malformações congênitas e o uso de talidomida durante a gravidez. − A talidomida é retirada de circulação em todos os países, à exceção do Brasil. − Têm início processos indenizatórios em diversos países. 1962: a Assembleia Mundial de Saúde iniciou o Programa Internacional de Monitorização de Reações Adversas a Medicamentos, sob responsabilidade da OMS. 1965: No Brasil a talidomida é retirada de circulação, com pelo menos 4 anos de atraso. − Dr. Jacobo Sheskin, médico israelense, descobre efeitos benéficos da talidomida no tratamento da hanseníase. − Com isso, volta a ser comercializada, porém de forma indiscriminada em função da desinformação, descontrole na distribuição, omissão governamental, automedicação e poder econômico dos laboratórios. − Com a utilização da droga por gestantes portadoras de hanseníase, surge a segunda geração de vítimas da Talidomida. 1976: tem início os processos judiciais contra os laboratórios e a União. 1982: após várias manifestações que sensibilizaram a mídia, o governo brasileiro é obrigado a sancionar a Lei 7.070, de 20 de dezembro de 1982. Tal lei concede pensão alimentícia vitalícia, que varia de meio a 4 salários mínimos, de acordo com o grau de deformação, levando-se em consideração quatro itens de dificuldade: alimentação, higiene, deambulação e incapacidade para o trabalho.História da Talidomida PATRICIA DIAS – CADERNODEFARMACIA.BLOGSPOT.COM MESTRANDA EM SAÚDE PÚBLICA – FIOCRUZ / RESIDÊNCIA EM FARMÁCIA HOSPITALAR - UFF 1992: surge a ABPST - Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida para defender os direitos das vítimas da Talidomida, muitas das quais simplesmente nem recebiam as pensões a que tinham direito. 1994: é publicada a primeira Portaria 63, de 04 de julho de 1994, que proíbe o uso da Talidomida para mulheres em idade fértil. 1996: é formado o Grupo de trabalho para elaboração da 1º Portaria de Controle da Talidomida. 1997: é publicada a Portaria nº 354, de 15 de agosto de 1997, que regulamenta o registro, produção, fabricação, comercialização, prescrição e a dispensação dos produtos à base de Talidomida. Décadas 1990 e 2000: a diversificação e a continuidade do uso da droga no tratamento de Lupus, Câncer, Leucemia, Vitiligo, Aftas, Tuberculose, etc. geraram o nascimento de dezenas de novos casos de crianças vitimadas pela droga (2º e 3º Geração); principalmente em função da desinformação, inclusive de profissionais da área da saúde e pela AUTOMEDICAÇÃO, uma prática constante no Brasil. 2003: é sancionada a Lei nº 10.651, de 16 de abril de 2003, dispõe sobre o controle do uso da talidomida. 2005: é publicada a Consulta Pública nº 63 para proposta de novo regulamento técnico da Talidomida. 2005: a publicação da Resolução nº 356, de 10 de outubro de 2005, suspende a realização da Consulta Pública n° 63. 2006: é realizado Painel de Utilização Terapêutica da Talidomida, promovido pela ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. 2007: é realizada nova reunião na ANVISA – Agência Nacional de vigilância Sanitária visando a flexibilização do uso da Talidomida. 2009: participação em reunião promovida pelo Programa de Hanseníase para discussão de documento visando Orientação no uso Controlado da Talidomida, para profissionais em saúde. 2010: promulgação da Lei 12.190 que concede indenização por dano moral às pessoas portadoras da síndrome da talidomida; − Reuniões com ANVISA, MORHAN, UFRGS para aprimoramento da regulamentação legal da talidomida visando a edição de uma nova Resolução para aprovação do Conselho Nacional de Saúde; 2011: Com a Resolução nº 11, de 22 de março de 2011, que dispõe sobre o controle da substância Talidomida e do medicamento que a contenha, ficou proibido qualquer tipo de venda ao público da talidomida, assim como propaganda ou distribuição de amostras grátis. Também foi proibida a presença de mulheres nas linhas de produção e fabricação da droga; 2011 e 2019: 5 casos relatados de focomelia em nos estados de Piauí, Maranhão, Pernambuco, Goiás e Minas Gerais; 2000 a 2020: as vítimas conquistaram indenização por dano moral, aumento em suas pensões defasadas, maior controle da droga por Resolução da ANVISA; mas nada disso impediu que em 2019 nascesse mais uma vítima por omissão da área da saúde/paciente. O acesso à talidomida é extremamente restrito no Brasil e só ocorre pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em unidades públicas específicas. O controle é feito pelas vigilâncias sanitárias e somente médicos e farmacêuticos registrados podem prescrever e dispensar o medicamento. História da Talidomida PATRICIA DIAS – CADERNODEFARMACIA.BLOGSPOT.COM MESTRANDA EM SAÚDE PÚBLICA – FIOCRUZ / RESIDÊNCIA EM FARMÁCIA HOSPITALAR - UFF REFERÊNCIAS ▪ ABPST, Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida. O QUE É TALIDOMIDA. Disponível em: <http://www.talidomida.org.br/o-que- e-talidomida/>. Acesso em: 29 ago. 2021. ▪ Talidomida | Sistema de Informações sobre Agentes Teratogênicos - Bahia. Disponível em: <https://siat.ufba.br/talidomida>. Acesso em: 29 ago. 2021. ▪ OSORIO-DE-CASTRO, C. G. S.; PAUMGARTTEN, F. J. R.; SILVER, L. D. O uso de medicamentos na gravidez. Ciência & Saúde Coletiva, v. 9, n. 4, p. 987–996, dez. 2004. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413- 81232004000400019 ▪ MORO, Adriana; INVERNIZZI, Noela. A tragédia da talidomida e a luta por direitos e regulação. Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. vol.24, n.3. Rio de Janeiro: jul./set. 2017. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104- 59702017000300004>. Acesso em: 29 ago. 2021. ▪ RESOLUÇÃO - RDC Nº 60, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2010. http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568 070/res0060_17_12_2010.pdf/10bdf7c4-9533- 4e80-bbb7-3a4ff29ab7fa?version=1.0 ▪ ISMP Brasil – Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos. Uso seguro de medicamentos na gestação. Boletim ISMP. vol.8, núm.10, dez.2019. Disponível em: <https://www.ismp-brasil.org/site/wp- content/uploads/2020/02/boletim_ismp_dezembro. pdf>. ▪ ISMP Brasil – Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos. Desafio global de segurança do paciente: medicação sem danos. Boletim ISMP. vol.7, núm.1, fev.2018. Disponível em: < https://www.ismp-brasil.org/site/wp- content/uploads/2018/02/ISMP_Brasil_Desafio_Glo bal.pdf>. ▪ FDA, Food and Drug Administration. Department of Health and Human Services. RIN 0910- AF11 Content and Format of Labeling for Human Prescription Drug and Biological Products. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://s3.amazonaws.com/public- inspection.federalregister.gov/2014-28241.pdf>. ▪ ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. I ENCONTRO NACIONAL SOBRE O CONTROLE DA TALIDOMIDA. Uso Racional da Talidomida: Contribuições dos Profissionais de saúde para a segurança do paciente FARMACOVIGILÂNCIA. Brasília, 27 de setembro de 2016. Disponível em: <https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2 016/novembro/17/Uso-racional-da- talidomida_Marcia%20Gonalves%20de%20Oliveira.pd f>. Acesso em: 29 ago. 2021. ▪ CONSULTAREMEDIOS.COM.BR. Talidomida : Bula original, extraída manualmente da Anvisa | CR. Disponível em: <https://consultaremedios.com.br/talidomida/bula?_ _cf_chl_captcha_tk__=pmd_NVMCgJB8CWmcVtkj4Ef RUaTNa7urkHksHGpbqgFwyr0-1630282493-0- gqNtZGzNAvujcnBszQil>. Acesso em: 30 ago. 2021. ▪ BRASIL. Ministério da Saúde. RESOLUÇÃO Nº 11, DE 22 DE MARÇO DE 201. Dispõe sobre o controle da substância Talidomida e do medicamento que a contenha. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/an visa/2011/res0011_21_03_2011.html>. Acesso em: 30 ago. 2021.
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