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CENTRO UNIVERSITÁRIO CESMAC CURSO DE PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL LUCIENE OLIVEIRA DA SILVA A INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM TEA: CONCEITOS E REFLEXÕES Maceió 2019 LUCIENE OLIVEIRA DA SILVA A INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM TEA: CONCEITOS E REFLEXÕES Artigo Científico apresentado ao Colegiado do Curso de Psicopedagogia Institucional do Centro Universitário - CESMAC como requisito parcial para obtenção da nota final do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Sob a orientação da: Prf. Dr. Valéria Campos Cavalcante. Maceió 2019 LUCIENE OLIVEIRA DA SILVA A INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM TEA: CONCEITOS E REFLEXÕES Artigo Científico apresentado ao Colegiado do Curso de Psicopedagogia Institucional do Centro Universitário – CESMAC como requisito parcial para obtenção da nota final do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Orientadora: Prof. Dr. Valéria Campos Cavalcante Aprovado em:____/____/____. ______________________________________ Orientadora Prof. Dr. Valéria Campos Cavalcante A INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM TEA: CONCEITOS E REFLEXÕES Luciene Oliveira da Silva Orientadora: Prof. Dr. Valéria Campos Cavalcante RESUMO Este trabalho traz como objetivo discutir sobre o processo de inclusão de estudantes diagnosticados com Transtorno do espectro Autismo (TEA) no âmbito escolar, da mesma forma busca-se analisar de que maneira ocorre a relação professor com os alunos autistas em sala de aula. Para tanto, buscamos a abordagem metodológica qualitativa, baseada em revisão bibliográfica, sobre as discussões a acerca do processo de Inclusão do estudante com TEA. Entendendo que o termo Inclusão tem sido bastante debatido na área da Educação, mas na prática educativa não se tem a experiência de incluir, porque poucos profissionais tem o conhecimento sobre as deficiências, e mais especificamente sobre o Autismo. Essa investigação demonstrou que há avanço legal para a inclusão do estudante autista nas escolas brasileiras nas últimas décadas, que permitiu e deu visibilidade a esses estudantes, todavia existem ainda muitas dificuldades por parte dos educadores de como lidar com esse espectro. Isso se deve, em grande parte, a ausência de formação de professores na área. PALAVRAS-CHAVE: Autismo. Direitos do autista. Estudante com TEA. Inclusão Escolar. ABSTRACT This work aims to discuss about the process of inclusion of students diagnosed with Autism Spectrum Disorder (ASD) in the school environment, similarly seeks to analyze how the teacher relationship with autistic students occurs in the classroom. Therefore, we seek the qualitative methodological approach, based on bibliographic review, about the discussions over the process of Inclusion of students with ASD. Understanding that the term Inclusion has been widely debated in the area of Education, but in educational practice does not have the experience of including, because few professionals have knowledge about disabilities, and more specifically about Autism. This investigation has shown that there has been a legal advance towards the inclusion of autistic students in Brazilian schools on recent decades, which has allowed and given visibility to these students, however there are still many difficulties of educators on how to deal with this spectrum. This is largely due to the lack of education for teachers in the area. KEYWORDS: Autism. Autism Person Rights. Student with ASD. School inclusion. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................0 6 2 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA INCLUSÃO NO BRASIL – REFLEXÕES............07 2.1 Legalidade e Direito a inclusão no Brasil.........................................................08 3 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): Características e definições........................................................14 4 INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM TEA – UM LONGO CAMINHO AINDA A SEGUIR...................................................................................................................... 18 5 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................26 6 REFERÊNCIAS .....................................................................................................27 12 1 INTRODUÇÃO O interesse pelo tema Inclusão do estudante com Transtorno do Espectro Autista (TEA) surgiu a partir das observações de nossa prática pedagógica em sala de aula. A escolha do tema veio ao encontro também das necessidades do aluno que acompanhamos, em relação a aceitação e inclusão por parte do professor e alunos em sala de aula. Bem como, necessidade de concluir o curso de Especialização em Psicopedagogia no CESMAC – Centro Universitário de Maceió, onde através da disciplina Modelagem da Aprendizagem nos fez refletir sobre como as tendências pedagógicas influenciam no processo ensino- aprendizagem. O termo Inclusão tem sido bastante debatido na área da Educação, mas na prática educativa não se tem a experiência de incluir, porque poucos profissionais tem o conhecimento sobre as deficiências, e mais especificamente sobre o Autismo. Isso deve-se a ausência de formação de professores que necessitam de formação tanto na educação inicial quanto na continuada, pois muitos se baseiam na pedagogia tradicional, onde assemelham Todos como se fossem iguais, relacionando sua prática pedagógica no ensino em vez de acertar na aprendizagem. Este trabalho traz como objetivo discutir sobre o processo de inclusão de estudantes diagnosticados com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) no âmbito escolar, da mesma forma busca-se analisar de que maneira ocorre a relação professor-aluno em sala de aula, entendendo que a proposta da educação inclusiva é remover barreiras, centrando na aprendizagem do estudante que é capaz de aprender. A literatura na área nos aponta que o Transtorno do Espectro Autista se apresenta de diversas maneiras em cada indivíduo, e requer que a escola, o professor possa reconhecê-los como iguais no que se concerne aos direitos da pessoa com deficiência, conforme está previsto nas Leis de nº 12,764 de 2012, Lei do Autismo, e Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência Lei nº 13146 de 2015, diretamente naquilo em que cada ser se diferencia. Segundo Léo Kanner, 1943 o TEA é um transtorno que se caracteriza por prejuízos na Interação social, atraso na aquisição da linguagem e Comportamentos estereotipados e repetitivos. Diversos estudos apontam que 13 fatores genéticos estão relacionados à causa do transtorno, mais não existe um diagnostico especifico do distúrbio, consequentemente existe o atraso para se identificar e realizar uma intervenção. Diante da ausência e atrasos nos diagnósticos há toda uma dificuldade em se incluir os estudantes com TEA nas escolas, sobretudo na escola pública, sendo assim, de maneira geral no âmbito educacional, ainda que esteja crescente a consciência para a necessidade da inclusão de alunos com deficiência a segregação, ou a exclusão, no Brasil ainda está acontecendo a passos lentos. Neste sentido, é essencial assegurar a entrada de estudantes com TEA na escola, mais ainda é, dar condições para que eles permaneçam (GALVÃO FILHO, 2009). Considerando essa realidade, a trajetória da inclusão do estudante autista no Brasil está em processo, pois muitos documentos já foram elaborados para garantir a inclusão, a iniciar pela Constituição Federal de 1988 que declara no Art.205: “A educação é um direito de todos (...)”, posteriormente a Lei nº 9.394/1996 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Lei nº 12.764/2012 Lei do Autismo; Lei nº 13.146/2015 Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (estatuto da Pessoa com Deficiência). A metodologia utilizada neste trabalho foi baseada na revisão bibliográfica de livros, artigos e publicações, na busca de ideias de autores que dissertaram sobre o assunto, portanto podem nos auxiliar a nortear a prática da inclusão do estudante autista. 2 TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA INCLUSÃO NO BRASIL – REFLEXÕES Ninguém dos teus descendentes, nas suas gerações, em quem houver algum defeito se chegará para oferecer o pão do seu Deus. Pois nenhum homem em que houver defeito se chegará: como homem cego, ou coxo, ou de rosto mutilado, ou desproporcionado...” (LEVÍTICO 21:17-18) A exclusão da pessoa com deficiência na história da humanidade é bem antes dos tempos de Moisés. Em sua época, aqueles que apresentassem uma deficiência eram vistos como impuros indignos de participar dos serviços, não somente no Santuário, mas, de toda a sociedade, por serem considerados inválidos, inúteis. 14 Segundo Galindo (2009, p.35): Na Idade Antiga, surgiram os homens denominados de Senhores, seguidores da filosofia da eugenia, baseada na perfeição individual. E, por isso, quando as pessoas portadoras de deficiências eram descobertas, recebiam rotulações, como seres degenerativos da raça humana, sendo assim, perseguidos e sacrificados, porque não teriam nenhuma utilidade para os familiares e a sociedade vigente.(2009) Essa visão de perfeição persiste na Idade Média e, aqueles que não se enquadrassem no perfil, de normalidade, eram temidos e vistos como “monstros” por contrariedade divina, (RESENDE apud GALINDO, 2009). A partir do século XVII houve avanços na área da Medicina e as pessoas passaram a serem tratadas a partir da perspectiva médica, a deficiência como processo natural. (ARANHA, 2005, p. 13). Somente no século XX, essa visão começa se modificar devido a movimentos sociais no mundo ocidental, porém todo esse período da história a pessoa com deficiência não tinham acesso à educação. (GALINDO, 2009, p. 37) Muitas concepções antigas perduram até os dias atuais, mas as leis visam garantir o direito para todos. A seguir haverá pontuações das leis, ainda que muitas conquistas não componham a realidade em sala de aula. No Brasil a inclusão escolar está regulamentada por um conjunto de documentos legais internacionais e nacionais, que a fundamentam esse processo, no entanto, para se chegar à conjuntura atual foram séculos, décadas, para serem reconhecidos os direitos da pessoa com deficiência. 2.1 Legalidade e Direito a inclusão no Brasil No Brasil, o atendimento a pessoas com deficiência teve início na época do Império, com a criação de duas instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro. No início do século XX é fundado o Instituto Pestalozzi (1926), instituição especializada no atendimento às pessoas com deficiência mental; em 1954, é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE; e, em 15 1945, é criado o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. A Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada e proclamada em Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, declara que “todas a pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”, considerando que o reconhecimento da dignidade humana e seus direitos sejam protegidos em todos os lugares, ressalta-se que este documento foi utilizado no Brasil. Em 1961, o atendimento educacional a pessoas com deficiência passa a ser fundamentado pelas disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito dos “excepcionais” à educação, preferencialmente dentro do sistema geral de ensino. A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN de 1961, ao definir “tratamento especial” para os estudantes com “deficiências físicas, mentais, aos que se encontram em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”, não promoveu a organização de um sistema de ensino capaz de atender aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação e acaba reforçando o encaminhamento dos estudantes para as classes e escolas especiais. Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação Especial – CENESP, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob a égide integracionista, impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas com deficiência e às pessoas com superdotação, mas ainda configuradas por campanhas assistenciais e iniciativas isoladas do Estado. A Constituição da República Federativa do Brasil (1988) aborda os direitos das pessoas com deficiência, proibindo toda e qualquer discriminação, afirmando que, “todos são iguais perante a lei” e, consta do inciso III do Art. 208 a recomendação que “o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”, e sendo o Ensino baseado na igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, assim, garantindo a Todos a participação efetiva na educação como cidadão Brasileiro. Assim, o referido documento traz alterações relevantes para a pessoa com deficiência quanto ao acesso à educação, pois anteriormente o atendimento era somente em clinicas especializadas, sendo tratados como “especiais”, assim era 16 reforçado o preconceito para com essas pessoas. E reivindicar o cumprimento do principio da igualdade, da maneira que é, constitucionalmente assegurada na nossa Carta Magna é dever de todos promover ações que valorizem os direitos humanos e combater toda e qualquer maneira de discriminação a pessoa que apresente alguma deficiência. A Politica Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Lei nº 7.853/1989 reforça assegurar os direitos individuais e sociais da pessoa com deficiência e a sua efetiva integração social. E, estabelece na área educação “a inclusão, no sistema educacional da Educação Especial como modalidade educativa” em todos os níveis, priorizando a atuação no ensino regular. Em 09 de março de 1990 em Jomtien na Tailândia, foi aprovada a Declaração Mundial de Educação para Todos, destacando a necessidade dos Estados tomarem medidas para garantir a igualdade de acesso à educação. Em seu Art. 3, inciso V, afirma que: “As necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deficiências requerem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte integrante do sistema educativo.” Entendendo que a educação é de importância fundamental para o desenvolvimento pessoal e social do ser humano. No Brasil em 1990 o Congresso Nacional sanciona a Lei nº 8.069, O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), onde define os direitos fundamentais às crianças e adolescentes assegurando-lhes todas as oportunidades para o seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Incluindo em seu Art. 54, inciso III o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”; Neste mesmo período, em uma Conferência Mundial realizada pela UNESCO na Espanha, no período de 07 a 10 de junho do ano 1994 foi discutido e reafirmado o compromisso para com a Educação para Todos.A Declaração de Salamanca resultou em um documento que propõe Regras Padrões sobre Equalização de Oportunidades para Pessoas com Deficiência. Trata-se da elaboração de princípios, politicas e práticas das necessidades educativas que estimulem ações governamentais para garantir a oferta de uma 17 educação de qualidade, dando condições de oportunidades de acesso e permanência no sistema regular de ensino, pois “toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem”, acrescentando ainda que “as características, interesses, habilidades e as necessidades de aprendizagens são únicas” em cada individuo. O documento de Salamanca é uma referência para inclusão das pessoas com deficiência na Educação, sendo a partir dessa declaração que surgiu o conceito educação inclusiva. (...) adotem o principio de educação inclusiva em forma de lei ou de politica, matriculando todas as crianças em escolas regulares(...) (Declaração de Salamanca). A declaração de Salamanca elaborou com solidez que as crianças com deficiência devem ser incluídas no contexto mais abrangente da Educação para Todos e que a escola deve seguir o conceito da educação inclusiva promovendo o convívio entre alunos ditos como normais e alunos que apresentam alguma deficiênciade maneira harmoniosa. As escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades; crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas (Declaração de Salamanca, 1994, p. 17-18). Conforme este documento aqueles que apresentarem alguma deficiência deverão frequentar escolas regulares, que possuam orientação inclusiva, devendo assumir a responsabilidade de combater atitudes discriminatórias, acomodando o aluno com deficiência numa pedagogia centrada na criança, e não na sua limitação, capaz de satisfazer a suas necessidades, oferecendo uma educação de qualidade e assim, alcançando a educação para todos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) – Lei nº 9.394/96 trata das normas gerais e condições mínimas do ensino em nosso país. E capitulo V nos artigos de 58 a 60 refere-se à Educação Especial, onde assegura e estabelece critérios no atendimento aos educandos com deficiência. No seu artigo 58 afirma que a “Educação Especial” é uma modalidade de ensino 18 e que deve ser oferecida de preferência na rede regular de ensino. Essa lei também compõe sobre a qualificação do professor que atua na Educação, sobre currículos e recursos específicos para atender aqueles que apresentem alguma deficiência conforme está descrito no seu artigo 59, quando afirma que: Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns. A inclusão de alunos com deficiência no sistema de ensino regular tem como pilar o desenvolvimento integral do educando, onde o currículo deve atender as suas necessidades de acordo com as suas especificidades, sendo necessário que a educação tenha mudanças nas práticas educacionais que muitas vezes são discriminatórias por tratar todos os alunos de maneira homogênea, esquecendo-se da diversidade do ser humano. Portanto, é fundamental que a escola, o professor busque adequar suas práticas educacionais conforme as premissas de uma sociedade plural. A LBD como os documentos até aqui elaborados na proposta da educação inclusiva busca romper as barreira e preconceitos dentro e fora da sala de aula preparando o aluno com ou sem deficiência para o pleno exercício da cidadania. Em 1999, mais um documento surge no cenário internacional, a Declaração de Guatemala, Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas com Deficiência, que posteriormente foi promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956 de 2001. Afirmando que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano. A Resolução CNE/CEB nº2/2001 institui Diretrizes Nacionais para a 19 Educação Especial na Educação Básica, e propõe para os sistemas de ensino a organização para incluir os estudantes nas suas peculiaridades educacionais, conforme está previsto no artigo 7º que: “O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica”. É de fundamental importância que o estudante com deficiências e matricule na escola desde a educação infantil para que o mesmo se desenvolva na construção do conhecimento fazendo usufruto dos seus direitos. Esta resolução acrescenta no artigo 8º que: As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: I – professores das classes comuns e da educação especial capacitados e especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos; II – distribuição dos alunos com necessidades educacionais especiais pelas várias classes do ano escolar em que forem classificados, de modo que essas classes comuns se beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as experiências de todos os alunos, dentro do princípio de educar para a diversidade; III – flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, É imprescindível para a inclusão escolar que a escola e aqueles que fazem parte dela, reconheçam e valorizem as diferenças do estudante com deficiência, para assim oferecer condições necessárias promover o desenvolvimento das suas habilidades e potencialidades. Essas diretrizes para Educação Especial vêm sendo um avanço na visão da universalização do ensino e um marco fundamental quanto à atenção a diversidade na educação brasileira, sendo mais um aparato legal para que se faça do espaço escolar um ambiente para Todos, sem segregação e assim possamos conviver em uma sociedade democrática que respeita as diferenças. Em 30 de março de 2007 foi promulgada a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo assinado em Nova York. Os países que participaram dessa convenção assumiram compromisso de assegurar e promover o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, sem 20 qualquer tipo de discriminação por causa de sua deficiência. O Brasil foi um deles, a promulgar por meio do Decreto 6.949 de 25 de agosto de 2009. Os Estados-Partes reconhecemo direito à educação das pessoas com deficiência. Para efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, as medidas de apoio individualizadas e efetivas precisam ser adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena. Sendo essa convenção um marco para os Direitos Humanos que surgiu para fomentar, resguardar e garantir condições de vida com dignidade para aqueles que apresentam alguma deficiência. A Lei nº12. 764, de 27 de dezembro de 2012 institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e estabelece diretrizes para sua obtenção. E declara no art. 1º que é considerada um pessoa com TEA aquela que apresenta características conforme está no descrito nos incisos I ou II: I – deficiência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação sociais, manifestada por deficiência marcada de comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; II – padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; excessiva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos e fixos. Sendo considerada deficiente a pessoa que apresente essas características, sabendo que ela se manifesta de maneiras diferentes em cada individuo. A legislação favorece ao estudante com TEA a inclusão nas salas comuns do ensino regular e o direito a um acompanhante especializado, assim, cabe à escola dar condições e prover adaptações pedagógicas para atender as necessidades educacionais deste publico. Seguindo esse caminho, houve mais uma conquista da sociedade através da lei 12.764 houve um crescimento considerável de crianças e jovens com TEA nas escolas comuns, e a necessidade de formação e capacitação dos profissionais no atendimento a pessoa com TEA, é de fundamental relevância 21 para se fazer valer o direito à pessoa com o transtorno. No seu artigo 2º, inciso VII diz:: “o incentivo à formação e à capacitação de profissionais especializados no atendimento à pessoa com transtorno do espectro autista, bem como a pais e responsáveis”; A inclusão escolar do estudante com TEA é possível, desde que os envolvidos tenham conhecimento das suas diferentes dificuldades e capacidades, para assim oferecer recursos alternativos e necessários para ensinar esses alunos, onde proporcione um trabalho que potencialize suas habilidades individuais. Esta lei é um ganho muito significativo para a inclusão do estudante com TEA, pois ela possibilita a participação no convívio social, escolar e busca eliminar toda e qualquer forma de discriminação protegendo os direitos de cidadania para a pessoa autista. A Lei Brasileira da Inclusão das Pessoas com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência) – Lei nº 13.146/2015 entrou em vigor 02 de janeiro de 2015, sendo destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. No Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurado sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem. É certo que a legislação no mundo e em especial no Brasil vem avançando em sua trajetória. O Estatuto da Pessoa com Deficiência engloba todas as leis, decretos, declarações que o antecedem, sendo uma conquista para inclusão da pessoa humana. Mas há muito a se fazer para assegurar o direito à inclusão escolar, pois as leis existem, mas falta fazer valer esse direito com dignidade, uma vez que muitas dessas legislações permanecem apenas no papel. 3 TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA): Características e definições 22 Ao longo de 76 anos, pós Léo Kanner, o Transtorno do Espectro Autista vem ganhando diversas nomenclaturas, definições e características. Observa-se que houve uma evolução sobre a definição do transtorno desde Kanner, aonde o mesmo tratou sobre o autismo como sendo “Disturbios Autísticos do Contato Afetivo”, descrevendo-o nas crianças observadas as seguintes características e comportamentos: a falta de capacidade de relacionar-se com o meio, solidão extrema, inábil na comunicação, comportamento repetitivo, não respondem ao ambiente, insistem no isolamento ou não desenvolvem relacionamento social e se dá ou se manifesta em crianças desde cedo.. Ganha destaque já em 1944 a figura de Hans Asperger, psiquiatra austríaco, que diferente de Kanner que fazia identificação da criança para entender o autismo, Asperger fazia suas observações baseadas no comportamento. De acordo com Temple Gardin (2018), Hans Asperger assim descrevia o comportamento do autista: ”falta de empatia, pouca capacidade de fazer amigos, conversas unilaterais, absorção intensa em um interesse em especial e movimentos desajeitados”. A obra de Asperger não fora muito conhecida, uma vez que fora publicada em alemão e aconteceu em meio à segunda guerra mundial. Somente em 1981 que a psiquiatra Lorna Wing traz a obra de Asperger para o cenário dos estudos sobre o autismo, passando a tratar o autismo como um espectro, denominando a Síndrome de Asperger. Uma das maiores contribuições da obra de Asperger é que ela não estava voltada apenas para a parte clínica mas contemplava a parte pedagógica da criança autista, notando ocorrências mesmo que em pequeno número em meninas. Destacamos também em meados do século passado a publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais DSM-1 de onde verificavam as nomenclaturas e critérios para diagnósticos à época dos transtornos mentais, embora englobasse nessa primeira edição a caracterização do autismo como esquizofrenia. Na segunda e terceira edições do DSM houve uma abrangência na denominação do autismo. Os mesmos passam a ter mais critérios para sua identificação: a) Ter se manifestado antes de dois anos e meio; 23 b) Ausência total de responsividade às pessoas; c) Déficits no desenvolvimento da linguagem; d) Ecolalia imediata e atrasada, e inversão pronominal; e) Resistência à mudança, apego a objetos. É importante destacar que em 1987 com a reedição do DSM III (DSM III- R) passa a contemplar 16 critérios de diagnostic do autismo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o autismo como um Transtorno do Espectro Autista (TEA) com a seguinte definição: (…) uma série de condições caracterizadas por algum grau de comprometimento no comportamento social, na comunicação e na linguagem, e por uma gama estreita de interesses e atividades que são únicas para o indivíduo e realizadas de forma repetitiva. Segundo Mello (2007, p. 16): Autismo é um distúrbio do desenvolvimento que se caracteriza por alterações presentes desde idade muito precoce, tipicamente antes dos três anos de idade, com impacto múltiplo e variável em áreas nobres do desenvolvimento humano como as áreas de comunicação, interação social, aprendizado e capacidade de adaptação. Notamos que alguns autores da área descrevem o autismo como uma “condição”, outros como um “distúrbio” ou ainda uma “desordem”, “inadequação”, “transtorno”, “anomalia”, dentre outros. Shwartzman (1994) define o autismo como uma síndrome marcada por alterações manifestas ainda cedo, em que há forte manifestação de desvios no comportamento interpessoal.É uma condição com prevalência em meninos, com presença de alterações nos cromossomos, molecular ou ainda quebra na cadeia cromossômica X, daí a limitação na aprendizagem pela criança autista. Para Bossa (2002) as crianças autistas são caracterizadas pela falta de habilidade em manter ou desenvolver relações ditas normais, o que decorre tanto da falta do desenvolvimento da linguagem, como da comunicação. Ela destaca que há um alto grau de desenvolvimento de memória, com aspecto físico normal e fisionomia de inteligente. Segundo Santos (2011, p. 10): Autismo ou Transtorno Autista é uma desordem que afeta a capacidade da pessoa comunicar-se, de estabelecer relacionamentos e de responder apropriadamente ao ambiente que a rodeia. O autismo, por ser uma perturbação global do desenvolvimento, evolui com a idade e se prolonga por toda vida. Para Tamanaha, Perissinoto & Chiari (2008, p.4): 24 [...] os Transtornos Globais do Desenvolvimento foram classificados como um grupo de alterações, caracterizadas por alterações qualitativas da interação social e modalidades de comunicação, e por um repertório de interesses e atividades restrito e estereotipado. Essas anomalias qualitativas constituem uma característica global do funcionamento do indivíduo. Diante dessas descrições, percebemos que há dificuldades da pessoa com TEA se relacionar com o meio externo, isolando-se do mesmo e vivendo no seu próprio “mundo”. Daí, retomamos o pensamento de Kanner, quando diz que o termo autismo significa: “(...) voltado para si mesmo” (Kanner, 1943). Lembrando que isso é uma condição do autista, não sendo algo permanente, variando de autista para autista. Contudo, o estudante autista pode alcançar um elevado nível de aprendizagem, sendo condicionado às condições do ambiente, do meio. Basta verificar a obra de Vigotsky (1993), quando relaciona o processo de desenvolvimento humano à origem nas relações sociais, devendo ser compreendido no contexto histórico-cultural. Isso, segundo o autor implica que tanto o desenvolvimento quanto a aprendizagem são métodos condicionados via interação. Ivan Ivic (2010) diz que: “O pensamento autístico deve sua origem ao desenvolvimento do pensamento realista e ao seu efeito fundamental...o pensamento por conceitos”. O pensamento da pessoa com TEA deve ser considerado através da ótica que não são visualizados pensamentos abstratos, simbolização ou ainda uso da imaginação diante de ideias figuradas. O pensamento autista é profundamente literal. Em outras palavras, significa dizer que, ao se contar uma piada para um autista ele não irá rir. Ele a absorverá na literalidade das palavras pronunciadas. Cunha (2017) aborda os aspectos a serem observados: 1. Capacidade sensorial: há uma hipersensibilidade aos estímulos do ambiente exterior. A audição, visão e o tato são sensíveis, pois diante de barulhos, ruídos, os autistas se sentem ameaçados. Na questão do tato, há um apego pelo objeto junto à pele, para senti-lo, sendo fator de descoberta. No campo da visão, os autistas são detalhistas no enxergar, conseguindo ver pequenos detalhes no ambiente; 2. Capacidade espacial: em virtude de enxergar os pequenos detalhes, sua 25 visão espacial é fracionada, tendo dificuldade de lateralidade e direção, sem coordenação motora e também percepção corporal; 3. Capacidade de simbolizar: há dificuldades do imaginário, do faz de conta, de simbolizar; 4. Subjetividade: há limitação de compreender sentimentos, expressões de tristeza ou amor. Não há aprendizagem por analogia, sendo uma compreensão extremamente literal; 5. Linguagem: há limitações na comunicação social, com dificuldades para dar sentido às palavras, construção do significado do que se fala (ecolalia); 6. Cognição: não há representação cognitiva, de interagir e de se comunicar, consequentemente há mais dificuldade na aprendizagem. Em virtude da dificuldade de interagir e de se comunicar, consequentemente há limitação no desenvolvimento e progresso cognitivo; 7. Hiperatividade: é uma característica a se observar no autista, porém nem todo autista tem manifestação implícita do TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade); 8. Estereotipias: são características presentes e visíveis no autista, ocasionadas por diversos impulsos (extemporâneos), em reposta a diversos estímulos. Essas estereotipias são mecanismos de expressão, representando alegria, emoções, ansiedades, frustrações e momentos de excitação; 9. Psicomotricidade: para Alves (2007) a motricidade é a resposta da ação do sistema nervoso sobre a musculatura, isso no autista pode ser comprometida. Devido a esse comprometimento, o autista tem prejuízos na coordenação motora fina, no equilíbrio corporal, na lateralidade; 10. Socialização: não há habilidades sociais; sem procura de contato com as pessoas, manifestando a fixação nos próprios movimentos e interesses; 11. Afeto: o autismo se assenta “em si mesmo”, onde há dificuldade afetiva de reconhecer sentimentos e afetos de outra pessoa. Portanto, deve-se considerar as características e desenvolvimento da pessoa com TEA que variam de uma pessoa para outra, sendo que esta vive em um mundo à parte. Para tanto, deve-se buscar estratégias que levem em conta as suas especificidades e peculiaridades. 26 4. INCLUSÃO DO ESTUDANTE COM TEA – UM LONGO CAMINHO AINDA A SEGUIR A inclusão escolar é um grande desafio, ao qual, não há uma receita pronta. Para que a inclusão aconteça se faz necessário romper com as barreiras da discriminação, do preconceito, da mudança de comportamento em relação às diferenças. Sendo através da família, da escola e daqueles que a compõem que se conseguirá minimizar a exclusão dos alunos com deficiência e, em especial, o estudante com TEA. Pois o ser humano é único com habilidades e talentos. É necessário mudar o olhar e, enxergar em cada ser, as suas capacidades. Mas para isso, precisamos conhecer a condição do aluno. Segundo Cunha (2017, p. 35) “em todo processo de aprendizagem, há interpretações diferentes, ainda que sejam em resposta a um mesmo estímulo.” Cada pessoa aprende a sua maneira e assim não é diferente com o estudante com TEA, por isso é necessário à formação do professor para que o mesmo aprenda a se relacionar com o aluno através de estratégias diferenciadas para um ensino que proporcione seu desenvolvimento social, afetivo e intelectual, pois cada um possui diferentes dificuldades e capacidades. O ambiente escolar deve ser um espaço de aprendizagem, que possibilite o pleno desenvolvimento das habilidades e a superação dos limites de todos que a compõe, porém, mesmo estando dentro dos muros da escola o estudante com TEA ainda continua com rótulos, por apresentar suas diferentes peculiaridades. Conforme Ramos (2010, p. 13), “já tendo sido rotulados com retardados, ‘doentinhos’, excepcionais, portadores de necessidades especiais, pessoas com deficiência...”. Nenhum desses termos é uma palavra justa para os alunos com TEA, pois não existe uma turma homogênea. Pacheco (2012, p. 26) acrescenta que as práticas escolares são deficientes por homogeneizar o que é diverso. Enfatiza que: “A ‘diferença’ é normal, não é deficiente. A sociedade é formada por identidades plurais, particularidades, especificidades. Anormal é pautar o trabalho escolar pela igualdade”. É imprescindível reconhecer as diferenças de cada individuo e romper com esse modelo de ensino, para que ocorra de fato a inclusão escolar. Pois: “A inclusão escolar é uma oportunidade que as pessoas têm de participar 27 plenamente nas atividades educacionais, em que são respeitadas as suas individualidades e capacidades” (GALINDO, 2009, p.51). Mantoan (2006, p. 20) acrescenta que é preciso “reconhecer a igualdade de aprender como ponto de partidae as diferenças no aprendizado como processo e ponto de chegada”, dessa maneira, todos poderão aprender juntos, sem separação. Pois, a inclusão escolar não se limita aos alunos com deficiência física ou cognitiva, mais sim aqueles que vivem a margem da sociedade. E, possivelmente, só irá acontecer plenamente, quando a sociedade entender que “todos” têm o que ensinar dentro da sua capacidade e assim aprender mutuamente. Quando a sala de aula se torna um espaço de oportunidades e de aprendizado. Segundo Stainback (1999) apud Galindo (2009, p.51): O ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos – independente de seu talento, deficiência, origem sócio-econômica ou origem cultural – em escolas e salas de aula provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas. Para Cunha (2017, p.57): “a prática escolar é uma grande oportunidade para profissionais (...) construírem um repertório de ações inclusivas para o aprendente com autismo”. As práticas pedagógicas não devem ser cumpridas com rigor seguindo um método imposto e sim atividades que inclua desafios e superação a fim de propiciar a autonomia do estudante com TEA. Cunha (2017) apud Piaget sobre o desenvolvimento do juízo moral se dá em três estágios: anomia, heteronomia e autonomia. No estágio da anomia a criança não segue regras coletivas; na heteronomia ela consegue identificar as regras coletivas e lida com elas, por imitação ou contato verbal; na autonomia as regras não são impostas, a decisão passa a ser livre. No contexto da autonomia, é permitir que o aluno realize as atividades por iniciativa própria, embora acompanhado e direcionado pelo professor, é necessário trabalhar a interação, a comunicação, os movimentos, a afetividade, e ainda que em escala mínima, que seja trabalhada a autonomia num todo. Nessa relação entre professor e aluno quem aprende primeiro é o professor, que é o mediador de possibilidades. O aluno é o sujeito nesse processo, onde o professor deve centrar, manter o foco nas habilidades do aluno e não nas dificuldades, conforme diz Cunha (2017, p. 53), “O caminho para a 28 educação está no aprendente.” A formação do professor nesse processo inclusivo é de fundamental importância, pois tanto na formação inicial quanto na continuada, o professor precisa ter conhecimento do TEA para estimular o desenvolvimento e aprendizado do aluno, fazendo necessárias mudanças no currículo, onde possa ultrapassar as concepções da deficiência e tornar as práticas pedagógicas rica em experiências educativas nas relações humanas. Silva e Moraes (2004), aponta que a formação de professores, as condições físicas e materiais e a organização de recursos e de apoio são fatores que devem ser considerados prioritários na discussão da proposta de inclusão escolar, possibilitando refletir sobre o papel da parceria com outros profissionais da saúde e da assistência, além da família e da comunidade. Nesta perspectiva, a Lei Federal nº 12.764 determina que toda criança com autismo tem o direito de frequentar escolas regulares. A lei prevê ainda uma punição para as escolas que recusarem matricular alunos com autismo e que em casos de comprovada a necessidade, a pessoa com transtorno do espectro autista incluída nas classes comuns de ensino regular terá direito a acompanhante especializado. Neste sentido, Mazzotta (2008), demonstra sua insatisfação com o processo de inclusão nas escolas pelo viés político, alertando que as políticas afirmativas para a inclusão escolar podem ser utilizadas como instrumento demagógico por autoridades sem que haja uma profunda avaliação, capaz de efetivar a inclusão escolar. Concordando com a autora acredita-se que continua acontecendo em muitas escolas são caminhos paralelos, onde a escola comum que atende a alunos especiais constitui-se como a escola dos diferentes, dividindo os mesmos em normais e especiais, estabelecendo uma cisão entre esses grupos que se isolam em ambientes educacionais excludentes. Aranha (2003, p. 12), ao discorrer sobre inclusão escolar, relata que para que esta ocorra é necessário um rearranjo no sistema educacional, pois “prevê intervenções decisivas e incisivas, em ambos os lados da equação: no processo de desenvolvimento do sujeito e no processo de reajuste da realidade social: [...]”. Assim, “além de se investir no processo de desenvolvimento do indivíduo, busca-se a criação imediata de condições que garantam o 29 acesso e a participação da pessoa na vida comunitária, através da provisão de suportes físicos, psicológicos, sociais e instrumentais.” De acordo com Bosa (2006), o planejamento do atendimento à criança com autismo deve ser estruturado de acordo com o desenvolvimento dela. Por exemplo, em crianças pequenas, as prioridades devem ser a fala, a interação social/linguagem e a educação, entre outros, que podem ser considerados ferramentas importantes para a promoção da inclusão da criança com autismo. Deve-se, portanto, no espaço escolar, promover uma mudança na representação social sobre a criança autista, sendo importante que a escola e o professor foque a prática escolar na compreensão dos diferentes aspectos relacionados a este tipo de transtorno, além de suas características e as consequências para o desenvolvimento dos estudantes. Vale ressaltar que a inclusão escolar é o principal instrumento de inserção social e o objetivo de todo e qualquer tratamento para o autista. 5 CONSIDERAÇÕES Este trabalho traz discussões a acerca do processo de Inclusão do estudante com Transtorno do Espectro Autista (TEA), entendendo que o termo Inclusão tem sido bastante debatido na área da Educação, mas na prática educativa não se tem a experiência de incluir, porque poucos profissionais tem o conhecimento sobre as deficiências, e mais especificamente sobre o Autismo. Há que se considerar que houve um avanço legal para a inclusão do autista na educação nas últimas décadas, que permitiu e deu visibilidade às pessoas com TEA. Todavia existe dificuldades por parte dos educadores de como lidar com esse espectro. Isso deve-se, em grande parte, a ausência de formação de professores que necessitam de formação tanto na educação inicial quanto na continuada, pois muitos se baseiam na pedagogia tradicional, onde assemelham Todos como se fossem iguais, relacionando sua prática pedagógica no ensino em vez de acertar na aprendizagem. 30 Nesse sentido, ainda há que se ressaltar a relevância de que se ofereça uma formação continuada para os educadores que lhes possibilite uma discussão ampla sobre os alunos com algum tipo de deficiência, ou seja, uma formação baseada numa perspectiva de redimensionamento de práticas pedagógicas, a fim de adequar as recentes demandas, por uma escola mais democrática e justa. Os profissionais da educação precisam ser preparados. Quando um aluno com TEA chega numa escola acontece de ser rotulado, ser colocado em algum local do ambiente, sem que a prática pedagógica propicie a verdadeira inclusão que seria o olhar do profissional. Para além da formação de professores entende-se como urgente que essa temática seja pesquisada, discutida, analisada ampliando o conhecimento e ação dos profissionais que trabalham diretamente com a educação. Entende-se que o acesso, portanto, a inclusão do estudante com TEA é apenas uma das etapas, precisando garantir também a permanência desse aluno na escola com uma aprendizagem que lhe proporcione um desenvolvimento significativo e transformador. 6 REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Salete Fábio. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na escola: necessidades educacionais especiais dos alunos. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação especial, 2005. BIBLIA. A.T. Levítico. In Bíblia da Mulher: leituradevocional, estudo. 2 ed. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. BITTENCOURT, Claudia. O que é autismo? Disponível em: <https://unasus.gov.br/noticia/o-que-e-autismo-0>. Acesso em: 23/07/2019. BRASIL. Constituição (1988). 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