Buscar

Princípios Mecânicos Ortodontia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

374 ORTODONTIA· DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO CLíNICO
PARTE 11
PRINCíPIOS BIOMECÂNICOS
o sistema de força empregado nos aparelhos
ortodônticos deve respeitar alguns fundamentos
mecânicos, válidos para o movimento de todos
os corpos do universo. Estes fundamentos foram
enunciados por Newton (1642 - 1727) a partir
da observação de fenômenos da natureza e fo-
ram denominados Leis da Dinâmica.
A primeira lei afirma que os corpos tendem
a se manter imóveis ou em movimento retilí-
neo uniforme, se não houver uma força agindo
sobre eles. Em ortodontia, podemos afirmar
que os dentes tendem a permanecer em repou-
so, a menos que sobre eles incida uma força.
A segunda lei de Newton postula que o deslo-
camento de um corpo ocorre no sentido da força
aplicada e que é proporcional a ela e inversamen-
te proporcional à massa do corpo. Adaptada à
ortodontia, podemos afirmar que o dente se mo-
vimenta no sentido da força sobre ele aplicada e,
quanto maior o volume radicular do elemento
dental, maior deverá ser a força utilizada para
produzir sua movimentação fisiológica.
A terceira e mais conhecida lei da dinâmica
dos corpos, observa que para toda ação existe
uma reação equivalente em sentido oposto. Na
prática clínica esta talvez seja a característica
que inspire mais cuidado, pois mostra que cor-
respondendo a toda ação ortodôntica existe
um efeito colateral.
I -CONCEITOS BÁSICOS
Por empregar uma série de termos não utili-
zados no dia a dia do ortodontista, apresentare-
mos cada um, juntamente com sua definição e
aplicabilidade clínica.
A- FORÇA
A força pode ser definida como a ação de
um corpo sobre o outro, em nosso caso, a ação
de um dispositivo mecânico (fio, mola, elástico,
etc.) sobre dentes ou ossos faciais.
Diferentemente de outras grandezas, como
o peso, a distância e a temperatura, que são
medidas em escalas e, portanto conhecidas
como grandezas escalares, a força é classificada
como uma grandeza vetorial, tendo sua repre-
sentação feita por vetores.
O vetor é definido graficamente por uma seta
(Fig. 18.12), na qual o corpo indica a direção da
força (vestibulolingual, mesiodistal, ete.) , assim
como sua linha de ação, isto é, por onde a força
se prolonga. O sentido da força (de vestibular
para lingual, de mesial para distal, de distal para
mesial, ete.) é definido pela cabeça da seta. Ele
também nos mostra a magnitude da força, que é
proporcional ao comprimento do corpo da seta,
e o ponto de aplicação da força, que é indicado
pela origem ou cauda da seta (Fig. 18.12).
Ponto de
aplicaçãor--------~
Direção I
I
Sentido
MAGNITUDE
Fig. /8. /2 - O vetar é a maneira de se representar graficamente uma
força. A direção da força é definida pelo corpo do vetar; seu sentido pela
cabeça da seta; o ponto de aplicação da força é determinado pela
origem do vetar e sua magnitude pelo comprimento do corpo da seta.
A unidade de mensuração da força é o
ewton (massa X aceleração), mas, de forma
usual, empregamos o Grama (g).
Nem sempre trabalhamos ortodôntica-
mente com uma força única, somando fre-
qüentemente dois ou mais elementos. Nestes
casos podemos utilizar a Lei dos Paralelogra-
mos, de modo a determinar a resultante de
duas forças aplicadas sobre o mesmo ponto.
A Fig. 18.13 mostra um incisivo central supe-
rior submetido simultaneamente à força de
retração e à ação de um elástico intermaxilar.
Retração
Fig. /8./3 - A lei do paraleogramo é utilizada para encontrar o vetor
resultante de duas forças ortodônticas aplicadas simultaneamente
sobre um incisivo (força de retração + força de um elástico intermaxilar
de Classe li).
BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO DENTAL
As duas forças formarão os lados do paralelo-
gramo, e a diagonal representará a resultante
das forças aplicadas. -
Caso desejemos encontrar a resultante de
três ou mais forças, sucessivos paralelogramos
serão construídos até a obtenção de um só ve-
tor. É importante realçar que esta regra só é
válida quando as diversas forças são aplicadas
sobre o mesmo ponto.
Caso o ponto de aplicação das forças não
seja o mesmo, nos guiamos pelo princípio de
transmissibilidade em corpos rígidos, que afir-
ma que o efeito da força aplicada sobre um
corpo rígido independe do seu ponto de apli-
cação, desde que esteja sobre a sua linha de
ação (corpo do vetor).
Como o dente e o osso podem ser conside-
rados corpos rígidos - não se deformam sob a
ação da carga aplicada - podemos empregar
este princípio para a maioria das análises veto-
riais ortodônticas, deslocando o vetor sobre sua
linha de ação.
Os paralelogramos permitem também de-
compor uma força em seus componentes verti-
cal e horizontal. Este recurso é de grande utili-
dade para a definição de quanto há de tendên-
cia à distalização e quanto há de tendência à
extrusão em uma força oblíqua.
A Fig. 18.14 mostra a decomposição de uma
força aplicada por um aparelho extrabucal tipo
KIoehn em um primeiro molar superior, reve-
lando os componentes de extrusão e de distali-
zação.
B - CORPO
Todo corpo tem um ponto conhecido
como Centro de Massa. Este ponto, como diz
o próprio nome, é o ponto central da massa
deste objeto, quando livre de qualquer influ-
Distalização
Extrusão
Fig. /8./4 - Podemos decompor uma (orça, como aquela produzida
por um aparelho extra bucal do tipo Kloehn, em seus componentes
vertical e horizontal. Isto permite detectar o quanto há de (orça de
distalização e quanto há de extrusão.
ência (por exemplo se estivesse livre da ação
da gravidade).
Pordefinicão, sempre que a linha de ação de
uma força passar pelo centro de massa de um
corpo livre no espaço, este corpo sofrerá transla-
ção. Um exemplo disto seria uma bola chutada
exatamente em seu centro (Fig. 18.15). A bola
sofreria t:ranslação, movendo-se em linha reta
sobre a linha de ação da força.
1IID8t--D•.
Fig. 18. /5 - A translação é obtida sempre que a linha de ação de uma
(orça "F" (corpo do vetar) passa sobre o Centro de Resistência de um
corpo. Na ilustração, uma bola é chutada exatamente em seu centro,
o que resulta em um deslocamento reti!íneo (D).
Quando o corpo a ser movido, no caso o den-
te, não está livre no espaço e sim rigidamente
fixado em sua porção radicular pelo periodonto,
um ponto correspondente ao centro de massa é
utilizado: O Centro de Resistência. De forma aná-
loga ao centro de massa, podemos afirmar que a
força cuja linha de ação passar sobre o centro de
resistência resultará em translação do dente.
Com o auxílio de imagens holográgficas ge-
radas por raio laser, Burstone e Pryputniewicz
afirmam que nos dentes unirradiculares o cen-
tro de resistência (CR) encontra-se entre o ter-
ço oclusal e o terço médio da raiz, enquanto
nos dentes multirradiculares o CR estaria 1 a 2
mm apicalmente à furca (Fig. 18.16).
C-MOMENTO
Como vimos anteriormente, sempre que a
linha de ação de uma força passar sobre o CR
de um corpo, este sofrerá movimento paralelo,
ou translação.
Fig. /8. 16 - Localização do Centro de Resistência em dentes
unirradiculares - entre o terço oe/usal e o terço médio da raiz - e em
dentes multirradiculares - I a 2 mm apicalmente à (urca.
375
-<
,:: .:.j~
;:~i- .-.:........=-;
.. _~
-. -.:"
376 ORTODONTIA· DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO CLíNICO
Entretanto, em muitas situações, a linha de
ação da força passa distante do centro de resis-
tência. Um exemplo deste fato seria um chute
no qual a ponta da chuteira incidisse no canto
da bola, conseqüentemente distante do CR
(Fig. 18.17). Seria então gerada uma tendência
de rotação (popularmente conhecida como
"efeito"), o que faria com que seu movimento
fosse uma combinação de translação e rotação.
Esta tendência de rotação é denominada tecni-
camente de Momento.
Fig. 18.1 7 - Quando a linha de ação da força passa distante do centro
de resitência, gera-se uma tendência de rotação no corpo, denominada
Momento (M). O corpo desloca-se com uma combinação de rotação e
translação (O).
Podemos então afirmar que, sempre que a
linha de ação de uma força passar distante do
centro de resistencia, será gerada uma tendên-
cia de rotação do corpo(ou momento). A mag-
nitude do momento de rotação é tanto maior
quanto maior for a intensidade da força e
quanto mais distante do CR passar a linha de
ação da força.
Esta afirmação pode ser representada pela
equação:
/--./'
/
I
I
I
I
\
\
\
"' •...-~--""""----l
/
/'
I
I
I
I
I
\
\
\ -,,....•
c
M=FXd
onde M = Momento
F = Magnitude da força aplicada
d ~ Distância perpendicular entre a li-
nha de ação da força e o CR.
A unidade para a grandeza Momento é g-
mm (grama - milímetro) e sua represen tação
gráfica é feita por uma seta curva que, em
diagramas bidimensionais, pode ser desenha-
da no sentido horário ou no sentido anti-ho-
rário. Definiremos se o momento é em um
sentido ou no outro prolongando o vetor da
força em torno do CR. Momentos de maior
magnitude terão setas curvas com raio maior
(Fig. 18.18).
Dois ou mais momentos podem ser soma-
dos ou subtraídos para se obter um único mo-
mento resultante, seja ele horário ou anti-horá-
rio. A Fig. 18.19 mostra forças com diferentes
magnitudes e direções, assim como os momen-
tos resultantes (Fig. 18.19).
D - BINÁRIO
Tendências de rotação também podem ser
obtidas quando se aplica, sobre um corpo, um
binário. Definimos binário como duas forças
paralelas (não coincidentes), de igual magnitu-
de e sentido oposto. Este é o único sistema de
forças capaz de produzir a rotação pura de um
corpo, entendendo-a como a rotação do corpo
em torno de seu CR.
A Fig. 18.20A mostra forças paralelas de
igual magnitude e sentido oposto sendo aplica-
das sobre um corpo. Cada uma das forças gera
/---\:--:~~( C
I
I
I
I
\
\
\
"<, •..._-.
Fig.18.IS - A representação gráfica do momento é uma seta curva, que pode ser desenhada no sentido horário ou anti-horário. Para a definição do
sentido, prolonga-se (com a linha pontilhada) o vetor da força em torno do centro de resistência.
BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO DENTAL 377
A B
c
500g/mm 500g/mm
c
c
500g/mm 1000g/mm
Fig. /8./9 - As figuras A e B mostram forças com igual magnitude e com igual distância "d". Porém, pelo fato de apresentarem direções diferentes
gerarão momentos com sentidos opostos (anti·horário em A e horário em B). Ao compararmos as figuras B e C notamos que, opesor de C ter sofrido
metade da força sofrida por B, pelo fato de apresentar a distância "d" dobrada, o valor do momento é idêntico. Finalmente, se compararmos C e
D que apresentam o mesmo valor "d", mas forças com magnitude distinta (50g para C e I OOg para D), notaremos que a magnitude do momento
é o dobro do observado em C.
um momento de 1000g-mm, que se somam for-
mando um binário de 2000 g-mm no sentido
horário. Em Ortodontia, esta situação seria
comparável ao profissional empurrar o ápice
radicular com um dedo, enquanto puxa a bor-
da incisal com outro dedo.
A situação apresentada na Fig. 18.20B in-
dica que mesmo quando as forças compo-
nentes do binário forem deslocadas para ou-
tra região do corpo, seu efeito continuará
sendo de uma rotação pura no sentido horá-
rio. Este fato permite que, nos aparelhos or-
todônticos fixos, produzam-se binários na
coroa dental, cujo resultado seja uma rota-
ção em torno do CR. Em outras palavras,
graças ao aparelho fixo, o ortodontista tem
um "ponto de apoio" para girar o dente no
sentido vestibulolingual.
a Fig. 18.21 evidenciam-se duas maneiras
de se produzir um binário com aparelhos orto-
dônticos. No caso A o binário se dará no plano
oclusal, através do uso de dois alastics: um traci-
onando a face vestibular de um premolar para
distal e o outro tracionando a face lingual para
mesial. O movimento resultante será uma rota-
ção em torno do CR do dente. No exemplo B,
vemos o binário no plano sagital sendo realiza-
do por um fio retangular de um aparelho fixo
no interior do canal de encaixe do braquete.
Este binário é transmitido ao dente, geran-
do nele uma tendência de rotação. O binário
vestibulolingual produzido no interior do bra-
quete por um fio retangular é denominado
TORQUE. O torque será, como veremos a se-
guir, imprescidível para a realização de alguns
tipos de movimentos, pois dará ao profissional
a sensação de estar trabalhando com "dois de-
dos" sobre o dente.
E - FULCRO
Como havíamos mencionado na Fig. 18.17,
o "chute com efeito" - força que, por ter sua
linha de ação distante do CR, gera um momen-
to - provoca uma combinação de translação e
rotação.
Pode-se observar na Fig. 18.22 o resultado
da força F sobre o incisivo central superior,
gerando a retração e inclinação para lingual
do elemento dental. Se traçarmos linhas cor-
respondentes ao longo eixo do dente na si-
tuação original e na sua posição após a movi-
mentação, teremos um ponto onde as linhas
se cruzarão. Este ponto é denominado FUL-
CRO e representa o centro de rotação do
movimento dental. O fulcro pode, como ve-
remos a seguir, ser controlado pelo ortodon-
tista, e é ele que define o tipo do movimento
dental.
378 ORTODONTIA • DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO CLÍNICO
A
100g_____~º~_~ J
I
I ~
r---1Õ~~-----
100g
1000g/mm
o
1000g/mm
B
100g
_____ ~Qf!1~ J
I
o
--5~~--t
100g
,----- 500g/mm "r----,
o
500g/mm
Fig. /8.20 - A ilustração apresenta dois tipos de binário sendo aplicados em um mesmo corpo. No caso A, as (orças estão eqüidistantes do CR, o que
gera dois momentos horários de 1000 glmm. Os momentos se somam, criando uma grande tendência de rotação de 2000 glmm. O exemplo B mostra
que, ao se deslocar o binário para uma das extremidades do corpo, perde-se eftciência, mas, ainda assim, haverá uma rotação pura em torno do CR.
BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO DENTAL 379
.21A 18.21B
Fig. /8.2/ - Os binários são freqüentemente utilizados na clínica ortodôntica. Na figura A, ele se dá pelo ação de dois oiastics que tracionam um
segundo premolar com forças paralelas de igual magnitude, mas com pontos de aplicação distintos e sentido oposto. O exemplo B mostra outra forma
de se produzir um binário. Um fio retangular torqueado (torcido) é colocado de forma justa no interior do canal de encaixe de um braquete. A torção
do fio faz com que ele pressione simultaneamente a porção anterosuperior e posteroinferior do braquete, gerando um binário no sentido sagital. O
correto uso desta modalidade de binário (torque) será essencial na escolha do tipo de movimento dental.
2 - TIPOS DE MOVIMENTO DENTAL
Controlando a localização do fulcro, a par-
tir da correta utilização das forças, momentos e
binários, o ortodontista pode definir o tipo de
movimento dental a ser realizado.
Para maior clareza, dividiremos os movi-
mentos ortodônticos em quatro tipos:
A - INCLINAÇÃO DESCONTROLADA
É o tipo de movimento dental mais facil-
mente obtido pelo profissional. Também pode
ser denominado movimento pendular e origi-
na-se da somatória da ação de uma força sim-
ples ("um só dedo" na coroa dental) aplicada
distante do CR, e do momento de rotação re-
sultante desta força. Neste caso, o fulcro se lo-
caliza bastante próximo do centro de resistên-
Fig. 18.22 - O fulcro do movimento é definido no cruzamento do longo
eixo do dente antes e depois de seu deslocamento.
cia (segundo Stephens, ligeiramente mais para
apical que oCR).
A inclinação descontrolada ocorre sempre
que uma força simples (sem torque) é aplicada
na coroa de um dente. Podemos citar como
exemplos clínicos as diversas molas de apare-
lhos removíveis (molas recuperadoras de espa-
ço, redutoras de diastemas, verticalizadoras de
canino, molas digitais para vestibularização,
etc.). Também produzem movimento pendular
os aparelhos expansores e planos inclinados; o
arco vestibular da placa de Hawley, quando uti-
lizado na lingualização de dentes anteriores,
assim como os aparelhos fixos com fios redon-
dos, na realização de movimentos vestibulolin-
guais (Fig. 18.23A)
A reabsorção óssea se dará do mesmo lado
que a força, na região alveolar situada apical-
mente ao fulcro, e do lado oposto à aplicação
380 ORTODONTIA· DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO CLÍNICO
Fig. /8.23A·A inclinação descontrolada é o tiPo de movimento dental
realizado pelos aparelhos removíveis (em todas as situações)ou pelos
aparelhos fixos com fios redondos (em deslocamentos no sentido
vestibulolingual). Neste caso o dente tem o fulcro próximo ao centro de
resistência, o que faz com que o ápice radicuar movimente-se para o
lado oposto ao deslocamento da coroa. Na figura acima, uma força
simples (sem torque) levou a coroa do incisivo para lingual, enquanto
o ápice migrou para vestibular.
da carga ortodôntica, na porção alveolar volta-
da para oclusal (Fig. 18.23 B).
Este fato merece especial atenção do orto-
dontista, principalmente na área de incisivos,
onde o movimento no sentido vestibulolingual
poderá jogar o ápice radicular contra a cortical
FULCRO PRÓXIMO AO CR.
TORQUE PRÓXIMO DE ZERO
FORÇA INDEPENDE DE SUA
MAGNITUDE
TIPO DE APARELHO REMOvíVEL OU FIXO
MAIS INDICADO
óssea, provocando reabsorção radicular. As in-
clinações descontroladas na direção mesiodis-
tal podem acarretar o pressionamento do ápice
radicular em dentes vizinhos, o que também
provocaria reabsorção de raiz (Fig. 18.23A e
Fig. 18.23B).
Fig. /8.238 - A radiografia periapical mostra claramente o padrão de reabsorção óssea decorrente de um movimento de inclinação descontrolada.
Como o fulcro está próximo do centro de resistência, quando a coroa desloca-se para a direita, estiram-se os ligamentos periodontais apicais ao fulcro
do lado direito e comprimem-se os do lado esquerdo. No segmento radicuar oclusal ao fulcro, há estiramento ligamentardo lado esquerdo e compressão
do lado direito. Nas regiões onde os ligamentos são distendidos, há deposição óssea e naquelas onde os ligamentos são comprimidos, há reabsorção
alveolar.
BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO DENTAL 381
o caso clínico apresentado na figura 18.24,
mostra claramente como as coroas dos incisivos
centrais superiores migram para mesial, impul-
18.24A
18.24C
sionadas por um aparelho removível redutor
de diastemas, alterando seu longo eixo até fica-
rem quase paralelas (Fig. 18.24).
18.24B
18.240
Fig. 18:24 - Paciente portador de diastema interincisal, com grande divergência das coroas dentais. Indicou-se um aparelho removível que, com
movimento pendular (inclinação descontrolada), reduziu o espaço e melhorou o posicionamento radicular.
B - INCLINAÇÃO CONTROLADA
Na inclinação controlada o ortodontista
move todo o dente, mantendo o ápice radicu-
lar imóvel. Portanto o fulcro do movimento
dental coincide com o final da raiz.
É o tipo de movimento necessário quando a
coroa está má posicionada, mas o mesmo não
ocorre com a região apical. Um exemplo clássi-
co deste tipo de movimento é a retração da
bateria anterior em pacientes com protusão
dental e que foram submetidos à extração de
quatro premolares. Empregando-se a inclina-
ção controlada não há risco de vestibularização
do ápice radicular.
A inclinação controlada no sentido vetibulo-
lingual somente é possível quando parte da
tendência de rotação do dente (momento),
decorrente da aplicação da força ortodôntica
de retração, é anulada por um binário. Apesar
de alguns outros métodos poderem ser utiliza-
dos para a aplicação deste binário, na moderna
ortodontia ele é produzido por um fio de sec-
ção retangular torqueado e amarrado de forma
justa ao braquete.
Na Fig. 18.25 observamos que a leve força
de retração do incisivo induz à formação de
um momento de rotação no sentido horário.
Quando encaixamos no braquete um fio retan-
gular suavemente torqueado (torcido sobre o
seu eixo), este produzirá um binário no inte-
rior do canal de encaixe do braquete que, por
ter sentido anti-horário, anulará em parte a
tendência do incisivo rotacionar em torno do
seu C.R. O resultado é a mudança na posição
do fulcro para o ápice dental.
Clinicamente constatamos a utilidade deste
tipo de movimento dental. O paciente da Fig.
18.26 apresentava, no início do tratamento
uma grande vestibularização dos incisivos, so-
r rI
.. ' -
.> tI'
-. ?
r - ;~
C ' ..
::..J (o"..•. ,
382 ORTODONTIA· DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO CLíNICO
Fig. , 8.25 -Movimento de inclinação controlada, onde o fulcro está no
ápice radicular. Sua indicação reside nos casos em que a inclinação é
desejada, porém não se necessita mover a extremidade apical. Obtém-
se inclinação controlada conferindo-se ao fio retangular um leve torque,
que contrabalançará parte do momento de rotação causado pela força
de retração.
freu extrações de quatro premolares e, graças
ao preciso controle da relação entre a força
de retração e torque, teve o longo eixo de seus
incisivos verticalizado sem projeção dos ápices
radiculares. Este movimento é possível somen-
18.26A
FULCRO NO ÁPICE
TORQUE SUAVE
FORÇA LEVE
TIPO DE APARELHO FIXO COM FIO
MAIS INDICADO RETANGULAR
te quando se utiliza aparelho fixo com fio re-
tangular, pois é necessário um torque suave
que anule parte da tendência de rotação de-
corrente da força de retração (Fig. 18.25 e
Fig. 18.26).
Fig. , 8.26 - Cefalogramas inicial e final de um paciente submetido à correção ortodôntica com extração de quatro premolares. Os incisivos, inicialmente
protuídos, faram reposicionados predominantemente com inclinação controlada.
c -TRANSLAÇÃO
Translação, ou movimento de corpo, é aque-
le deslocamento em que o dente não sofre alte-
ração de seu longo eixo. Na translação dizemos
que o fulcro está no infinito, pois os prolonga-
mentos do longo eixo do dente antes e depois
do movimento são paralelos ou coincidentes.
Serão coincidentes quando o dente se mover
no sentido de intrusão ou extrusão e serão para-
lelos nos deslocamentos horizontais ou oblíquos.
Dos movimentos verticais, a extrusão é a
de mais fácil obtenção, pois produz poucas
áreas de compressão do ligamento periodon-
tal. Assim há pouco risco de hialinização, e o
organismo necessita apenas depositar tecido
ósseo para preservar a implantação dental.
Na prática clínica, é muito difícil obter so-
mente a extrusão, sem uma ligeira rotação.
Na intrusão ortodôntica, comprime-se gran-
de parte dos ligamentos periodontais, assim
como o feixe vasculonervoso que atinge a pol-
18.
18.27A
BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO DENTAL 383
pa. A reabsorção óssea ocorrerá em torno do
ápice. Destes fatos deduz-se que a intrusão deve
ser lenta e produzida por forças de baixa inten-
sidade, para que não provoque danos teciduais
(Fig. 18.29).
A translação propriamente dita - movimen-
to horizontal ou oblíquo que preserva a incli-
nação do longo eixo do dente - é um dos movi-
mentos ortodônticos mais complexos. Sua ob-
tenção é possível sempre que a linha de ação
da força cruzar o centro de resistência, ou
quando a tendência de rotação decorrente de
uma força distante do CR for totalmente anula-
da por um binário (torque).
No primeiro caso, podemos citar como
exemplo os braços de alavanca (ganchos presos
aos braquetes) que permitem que a linha de
ação da força passe sobre o centro de resistên-
cia. Haverá translação dental na direção mesio-
distal (Fig. 18.27A).
Para obtenção de translação vestibulolingual
necessitamos um binário que anule por comple-
to o momento provocado pela força de retração.
Mais uma vez este binário seria possível através
do torque em um fio retangular. A magnitude
do torque deverá ser de 8 a 10 vezes a força de
retração (por exemplo, para uma retração com
100g de força, um torque de 800 a 1000 g-mm).
Clinicamente estas grandezas não são mensu-
ráveis, mas vale o conceito que a retração incisal
com movimento de corpo só ocorrerá com fios
ortodônticos de secção retangular e aplicando-
se forças leves e torque acentuado (Fig. 18.27B).
Na translação, propriamente dita, o liga-
mento periodontal do lado oposto à força será
comprimido em toda sua extensão (Fig. 18.28 A),
gerando uma grande área de estresse e alto ris-
co de hialinização. Este é mais um motivo para
se produzir retração com forças de baixa inten-
sidade (Fig. !8.29 B).
18.27B
Fig. , 8.27 - A - O braço de alavanca fixo ao braquete permite que a linha de ação da força passe sobre o CR. Com isto o dente se deslocará sem
inclinação de seu longo eixo. O movimento pode ser paralelo (como o da figura) ou oblíquo. B - Oesquema demonstra como podemos transladar
um incisivo de vestibular para lingual. Aplica·se simultaneamente: força de retração suave e torque acentuado. Este tipo de movimento só ocorrerá
mediante um bom controle mecânico do aparelho fixo com fio retangular.
FULCRO NO INFINITO
TORQUE . ACENTUADO
FORÇA LEVE
TIPO DE APARELHO MAIS INDICADO FIXO COM FIO RETANGULAR
18.28A
.'-~
18.28B
384 ORTODONTIA· DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO CLÍNICO
Fig. I8.28A - Radiogra(ta periapical demonstrando o posicionamento da raiz no interior do alvéolo necessário para a obtenção de trans/ação. Notar
que os ligamentos periodontais são comprimidos em uma face e distendidos em toda extensão da face oposta .
Fig. 18.288 -Imagens clínicas que ilustram a translação dos dentes anteriores após a remoção de quatro premolares. Somente o preciso controle
de força e torque no (to retangular possibilitam tal movimento.
BIOMECÂNICA DO MOVIMENTO DENTAL 385
D - CORREÇÃO RADICULAR
É O movimento de eleição para promover a
mudança do longo eixo do dente, sem alterar a
posição da borda incisal. O fulcro estará, por-
tanto, na porção mais oclusal da coroa.
Indica-se a correção radicular no sentido
vestibulolingual para os casos de classe II divi-
são 2', onde os incisivos superiores têm sua
porção incisal bem posicionada e a raiz vesti-
bularizada, assim como após a retração incisal
que incidentalmente, lingualizou excessiva-
mente a coroa dos dentes anteriores (Fig.
18.30). O movimento é obtido com a execu-
ção de um binário acentuado na coroa (tor-
que) e força de retração igualou próxima de
zero. O torque· vai sendo aumentado progres-
sivamente até que o dente atinja o posiciona-
mento normal.
Fig. /8.30 - Método biomecônico de se obter o movimento de correção
radicular (movimento de raiz sem o deslocamento da borda incisal) no
sentido vestibulolingual. Produz-se um severo binário, através do torque
com pouca ou nenhuma força de retração. Este tipo de movimento é
praticamente impossível sem o auxílio do fio retangular encaixado de
forma justa no canal de encaixe de um braquete.
Fig. /8.29 - Atenção especial deve ser tomada nos movimentos de
extrusão e intrusão: o primeiro por sua facilidade e velocidade; o
segundo por promover a compressão de quase todo o ligamento
periodontal, assim como do feixe vásculo nervoso que nutre o canal
radicular, devendo também ser executada com o mínimo de força.
Mesmo assim há risco de perda de vitalidade pulpar ou reabsorção
radicular. Os movimentos de intrusão e de extrusão também são
considerados movimentos de corpo, pois não há alteração do longo eixo
do dente.
Existe a possibilidade de se executar o movi-
mento de correção radicular no sentido mesio-
distal. Este se dará com aparelhos fixos, utilizan-
do-se tanto fios redondos como fios retangula-
res. A Fig. 18.31 A mostra a formação do binário
quando o fio pressiona a aleta distogengival de
um braquete para cima e a aleta mesioclusal
para baixo, gerando um movimento de correção
radicular. Movimento similar a este é executado
na técnica de Tweed, quando das dobras artísti-
cas ou na confecção de DDs (dobras distais).
Quando acompanhamos a migração de um
dente durante o tratamento ortodôntico, nota-
mos que raramente ele se move de acordo com
apenas um dos quatro tipos de movimentos
descritos acima (inclinação descontrolada, in-
clinação controlada, translação e correção radi-
cular). Em geral combinam-se duas ou até três
modalidades de movimento dental, até a com-
pleta correção ortodôntica (Fig. 18.31B).
FULCRO NA BORDA INCISAL
TORQUE SEVERO E
PROGRESSIVO
FORÇA PRÓXIMA DE ZERO
OU ZERO
TIPO DE APARELHO FIXO COM FIO
MAIS INDICADO RETANGULAR
386 ORTODONTIA· DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTO CLíNICO
Fig. /8.3/ A - Os movimentos de correção radicular no sentido
mesiodistal são factíveis tanto empregando·se fios redondos, como os
fios retangulares. No exemplo, o fio empurra para cima a aleta superior
direita e para baixo a inferior esquerda de um braquete gerando o
binário.
Voltamos a frisar que os aparelhos acrílicos
removíveis realizam apenas a inclinação des-
controlada, ou movimento pendular. Os apare-
lhos fixos são capazes de produzir, quando
com fios redondos, o movimento pendular (in-
clinação descontrolada) e, apenas no sentido
mesiodistal, correção radicular.
Já os aparelhos fixos, com fios retangulares
ou quadrados, por sua atuação de dupla força
no interior do braquete, podem satisfazer ple-
namente o ortodontista, executando qualquer
um dos quatro tipos de movimento, tanto no
sentido mesiodistal como no sentido vestibulo-
lingual. Estes motivos justificam o emprego de
fios retangulares ou quadrados nas mais sofisti-
cadas técnicas ortodônticas atuais.
PARTE 111
PROPRIEDADES MECÂNICAS
DOS FIOS ORTODÔNTICOS
Até o início dos anos 30, os ortodontistas em-
pregavam unicamente os metais nobres - ouro,
platina e paládio - na confecção dos fios ortodôn-
ticos. A partir desta época, com a recessão econô-
mica e os elevados custos destes metais, a classe se
viu obrigada a buscar materiais alternativos. O
aço inoxidável, por seu baixo custo e alta tolerân-
cia tecidual, foi rapidamente aceito e adotado.
Desde então, outras ligas metálicas desen-
volveram-se, na procura de resultados clínicos
mais fisiológicos e previsíveis.
Objetivamos aqui descrever as principais ca-
racterísticas físicas dos fios metálicos e quais os
A ~B c
Fig. /8.3/ B -A migração dental, em geral, resulta dasomatória de dois
ou mais tipos de movimento. Nesta figura o dente, a partir de sua
posição original (A), sofre simultaneamente movimento de translação
e movimento de inclinação descontrolada (B), o que determina a nova
posição dental (C).
fatores queinterferem em seu comportamento
mecânico.
I -CARACTERíSTICAS FíSICAS DOS
FIOS METÁLICOS
Podemos definir metal como aquele ele-
mento químico que, em solução, forma Íons
positivos. Em geral os metais apresentam cons-
tituição sólida em temperatura ambiente, su-
perfície lisa e polida, conduzindo bem o calor
e a eletricidade.
A camada de elétrons mais externa do
átomo metálico é chamada camada de valên-
cia, pela facilidade com que são liberados
do átomo.
Os átomos dos metais organizam-se em for-
ma de uma grade cristalina, ou seja, um arran-
jo espacial, de forma que todo átomo esteja se-
melhantemente localizado em relação a todos
os demais. A grade cristalina da maioria dos
metais empregados em Ortodontia tem a for-
ma de um cubo, podendo apresentar caracte-
rísticas de cubo simples, cubo de corpo centra-
do (quando um átomo posiciona-se no centro
do cubo) ou cubo de face centrada (um átomo
rio centro de cada face).
Estes átomos da grade cristalina são uni-
dos entre si graças à força de atração pro-
porcionada pela nuvem de elétrons que cir-
cunda os íons positivos. Esta ligação é co-
nhecida por ligação metálica. Gradientes
térmicos, ou campos elétricos, fazem com
que a nuvem de elétrons se desloque das
áreas de maior para as de menor energia,

Outros materiais