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Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V É importante que se faça uma breve contextualização de alguns conceitos relacionados ao sistema urinário (SU) antes da abordagem das patologias propriamente ditas. Desse modo, sabe-se que o SU é composto por dois rins, dois ureteres, bexiga e uretra. FUNÇÕES DO SISTEMA URINÁRIO: 1. Filtrar o sangue 2. Reabsorver substâncias boas para o organismo 3. Excretar substâncias nocivas ao organismo Além dessas funções, os rins desempenham outros importantes papéis, tais como: - Controle da pressão arterial, através da ativação do sistema renina- angiotensina-aldosterona. - Manutenção do pH sanguíneo, ao passo que realizam a excreção de radicais ácidos e fazem uma tentativa de conservação dos componentes básicos, desse modo, nos túbulos renais há uma secreção tubular aumentada de hidrogênio e amônia, o que leva a uma tentativa de reabsorção do bicarbonato. - Regulação do balanço hidroeletrolítico, situação na qual os rins poderão reabsorver mais ou menos água de acordo com as necessidades do indivíduo, ou seja, se o indivíduo estiver desidratado, os rins irão reabsorver mais na tentativa de não perder mais líquido, já no caso de hiper- hidratação, os rins irão eliminar muito mais líquido do que eliminariam em condições normais. - Papel endócrino, por meio da síntese de hormônios e substâncias vasoativas (como a renina, que ajuda no controle da pressão arterial, prostaglandinas, cininas, e da eritropoietina que irá auxiliar na produção das hemácias). Caso os rins percam sua função excretória por algum motivo, como uma falência, o paciente não consegue sobreviver a um período superior a 4-5 semanas. Esse período é tão curto pois, cada vez mais, haverá uma retenção no organismo de substâncias tóxicas que deveriam ser eliminadas pelos filtros do corpo, ou seja, os rins. Quando o papel endócrino e metabólico dos rins é comprometido, mas há uma manutenção no papel excretório desses órgãos, o paciente pode viver por muitos anos com a realização do processo de diálise. ESTRUTURA DO RIM: Apenas para título de revisão, tem-se que anatomicamente, o rim é um órgão capsular, sendo que logo abaixo da cápsula há a região cortical chamada de córtex, na qual encontram-se as estruturas filtrantes do rim (glomérulos e túbulos contorcidos). Existem também as pirâmides renais que configuram agrupamentos de ductos que coletam a urina formada nos néfrons, essa urina irá passar para os cálices menores que desembocarão na região da pelve renal. Uma vez que a pelve renal coleta essa urina irá fluir para o ureter, cair na bexiga e ser expelida para o meio externo através da uretra. Na imagem em sequência, pode-se observar um aumento da região entre córtex e medula. Na região de córtex representada pela cor laranja podem ser visualizados os néfrons corticais, sendo que na região de medula que compreende as pirâmides renais, há um agrupamento de ductos coletores. e litíase Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V Os néfrons que estão localizados na região entre córtex e medula são chamados de justaglomerulares, enquanto que aqueles presentes apenas no córtex são chamados de corticais. Existem inúmeras patologias que podem acometer o sistema renal, dentre elas, existem aquelas que acometem componentes do rim, tais quais o glomérulo, os túbulos, interstício ou os vasos sanguíneos relacionados à irrigação local ou ao transporte de sangue que será filtrado para a formação da urina. De acordo com o exposto no esquema acima, tem-se que quando os glomérulos são afetados, normalmente, irá ocorrer uma patogênese imunologicamente mediada. São exemplos, nesse caso, as glomerulonefrites, a síndrome nefrítica (maior presença de hemácias na urina) e a síndrome nefrótica (maior presença de proteínas na urina). Já as lesões observadas nos túbulos e no interstício costumam aparecer em conjunto, motivo pelo qual algumas referências utilizam o termo “tubulointersticial” descrevendo as patologias que acometem a essas estruturas como distúrbios tubulointersticiais. Os principais agentes causadores de danos nessa região do rim são os agentes tóxicos ou infecciosos, os quais podem levar ao desenvolvimento de quadros como lesão tubular isquêmica ou tóxica e nefrites tubulointersticiais. Há também, em algumas situações, o comprometimento dos vasos sanguíneos, como em casos de nefrosclerose, estenose de artéria renal (o “estrangulamento” da artéria renal, além de causar um processo isquêmico no órgão, também afetará a filtração, sendo esta diminuída e podendo acarretar em outras patologias renais de caráter secundário a esse processo) e microangiopatias trombóticas (a formação de trombos pode levar a obstrução total ou parcial de determinados locais, o que por sua vez também pode comprometer a função renal). Além do acometimento dessas estruturas renais, podem ocorrer anomalias congênitas que atingem cerca de 10% da população e normalmente são anomalias estruturais, como agenesia do rim (o indivíduo nasce sem um dos rins, sendo o outro capaz de manter a vida por muito tempo, ele terá uma hipertrofia compensatória em decorrência de uma questão de adaptação desse órgão para filtrar uma grande quantidade de sangue), hipoplasia (ocorre quando no processo embrionário o rim não consegue se desenvolver no tamanho ideal, logo, fica menor, o que acaba interferindo na filtração, prejudicando a função renal, sendo que, em casos de hipoplasia bilateral, há uma evolução do quadro para uma insuficiência renal ainda na infância, em contrapartida, uma hipoplasia unilateral não apresenta risco a sobrevivência do paciente), rins ectópicos e rim em ferradura. Ademais, existem as doenças císticas renais e a obstrução do trato urinário (uropatia obstrutiva), temas que configuram o enfoque dessa aula – parte 01 e 02. Além dessas patologias supracitadas, deve-se lembrar que, pensando em doenças ligadas ao SU, também pode haver a incidência de neoplasias que acometam os rins. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V As doenças císticas são caracterizadas como distúrbios heterogêneos, já que compreendem tanto as formas hereditárias, quanto desenvolvimentais e adquiridas. Sendo importantes objeto de estudo ao passo que são muito comuns e, algumas dessas doenças císticas, podem acarretar em doença renal crônica, que por sua vez, pode levar a um quadro de falência do órgão que põe em risco a vida do indivíduo. Uma vez que esses cistos surgem nos rins, devem ser investigados, pois podem ser confundidos com tumores. Do ponto de vista anatomopatológico, as doenças císticas são consideradas DISPLASIAS, porém, do ponto de vista prático, elas podem ter DIAGNÓSTICO, TERAPIA e PROGNÓSTICOS variados. Por que? Dependendo do cisto e do agente causal para a sua respectiva formação, existem diferentes manifestações e complicações, e isso leva a necessidade de tratamentos diferentes que sejam adequados a cada caso. Além disso, o prognóstico também varia, já que, por exemplo, em quadros de cistos simples, o indivíduo não terá repercussões sérias, já em casos hereditários que podem acometer uma criança ou um neonato, dependendo da doença, a gravidade clínica é tamanha que pode ser fatal. Em suma, pode-se destacar as doenças císticas sendo comuns, apresentando problemas diagnósticos (clínicos, radiologistas e patologistas), também o fato de algumas formas causarem doença renal crônica e a possibilidade de serem, ocasionalmente, confundidas com tumores malignos. Dentre as doenças definidas como císticas podem ser englobados casos de cistos renais simples, cistos renais, complexos, doença renal policística (tem um carátergenético, pois é hereditária, podendo ser encontrada tanto em adultos, quanto em crianças, apesar dos genes desencadeantes serem distintos em cada caso), no adulto pode ser chamada de doença policística autonômica dominante (DRPAD) e na criança, doença policística autonômica recessiva. É importante enfatizar que apesar de ambas as doenças possuírem a característica de causar cistos múltiplos, essa diferenciação é necessária em vista de que seus agentes causais são divergentes, o que impacta em diagnósticos, tratamentos e prognósticos também variáveis. Ainda dentro desse contexto, encontram-se as doenças císticas medulares, classificadas em rim em esponja medular e nefronoftise, e a displasia renal multicística que possui um envolvimento congênito. Dito isso, dentre as doenças citadas buscou-se abordar os cistos renais simples, a doença renal policística em sua forma adulta e infantil e a displasia renal multicística. Contemplando assim, respectivamente, uma doença comum que não gera grandes problemas para o indivíduo, doenças císticas de envolvimento genético e, portanto, um caráter hereditário, e uma doença envolvida ao processo de desenvolvimento e consequentemente cursa com anomalias congênitas. - Cistos Renais Simples - Cistos Renais Complexos - Doença Renal Policística Adulto (Policística Autossômica Dominante) Infantil (Policística Autossômica Recessiva) - Doença cística medular Rim em esponja medular Nefronoftise - Displasia Renal Multicística TABELA SUMÁRIO DE DOENÇAS CÍSTICAS ANEXADA AO FIM DO RESUMO! Visualizar no quadro as doenças com envolvimento genético ou não, observando que as várias doenças classificadas como císticas possuem manifestações clinicas distintas, portanto, os sinais e sintomas observados e a forma com a qual o rim se apresenta em indivíduos com cada patologia em questão também irá diferir. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V Dito isso, o indivíduo com doença renal policística do adulto, que é autossômica dominante, normalmente apresentarão rins grandes, multicísticos (os cistos aparecem em todas as regiões do rim, inclusive com protuberâncias na cápsula, comprometendo a morfologia externa do órgão), com associação de cistos extra-renais (mais comumente encontrados no fígado, mas também mais raramente no sistema nervoso). As principais complicações nessa patologia são a hematúria (eliminação de hemácias na urina), dor no flanco, infecção no trato urinário, cálculos renais e hipertensão. Vale ressaltar ainda que essa doença possui alta penetrância, ou seja, conforme há um avanço na idade, a probabilidade da evolução da doença também cresce. Logo, por volta da quarta, quinta e sexta década de vida, os indivíduos tendem a evoluir para uma insuficiência renal crônica. Desse modo, apesar da doença ser hereditária e o paciente já nascer com esse defeito genético dominante, ele pode sobreviver por muito tempo, sendo que apenas no fim da vida pode evoluir para insuficiência renal. Na doença renal policística infantil, ou autossômica recessiva, o indivíduo tem um rim aumentado com a possível presença de cistos desde o nascimento, com a diferença, quando comparado a forma adulta, de que não há comprometimento da morfologia externa do rim, pois os cistos se manifestam de forma enfileirada, acometendo tanto a região cortical, quanto a medular. No quadro do rim em esponja medular os cistos apresentam-se, predominantemente, na região da medula, o que pode comprometer a função excretora. Já na nefronoftíase serão vistos cistos tanto no córtex, quanto na medula, e diferentes dos quadros expostos anteriormente, o rim se apresenta diminuído, caracterizando altas chances de desenvolvimento de uma insuficiência renal ainda na infância. Pensando na doença cística no adulto, o rim pode ter alterações de tamanho pequenas (pode estar normal, um pouco aumentado, ou um pouco diminuído), porem, ao comprometer a parte medular que é excretória, também pode levar a um quadro de insuficiência renal. A displasia renal multicística, por sua vez, apresenta um rim disforme, que quando manifestado unilateralmente pode ser compatível com a vida, mas ao passo que a doença acomete os dois rins, ou seja, é bilateral, tende a cursar com óbito. Comumente, há o cisto simples, que deve ser investigado a título de diferenciação com tumores, podendo ser encontrado um cisto isolado, ou diversos, sendo estes cistos de caráter proeminente. Lembrando que essa patologia não tem uma relevância clínica significante já que não causa danos ao indivíduo. Dito isso, pode-se observar na representação abaixo o que foi dito acerca da forma com a qual algumas dessas doenças afetam os rins. As doenças renais policísticas incluem cinco anomalias renais com segmentos cheios de líquidos, que se originam das estruturas tubulares do rim. (fonte: Rubin R., Strayer D.S., 2011). Acerca dos cistos renais, tem-se que eles podem ser divididos em simples ou complexos. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V Os simples podem aparecer em qualquer região dos rins, podem ser solitários (únicos) ou múltiplos, grandes ou pequenos e ter uma parede grossa ou fina, dependendo da quantidade de líquido acumulada nesses cistos. Normalmente possuem 1-5cm de diâmetro (os cistos grandes podem chegar a ter até +10cm de diâmetro) e, mesmo podendo acometer qualquer parte dos rins, costumam envolver o córtex com mais recorrência. Os cistos têm uma parede lisa com uma membrana brilhante (mais fina que a cápsula). Essa membrana, por sua vez, é preenchida por um fluido claro, o qual seria o conteúdo da formação da urina. Possuem importância clínica visto que é preciso diferenciá-los de tumores renais. Quando o conteúdo do cisto é um líquido claro, ele é caracterizado como simples. No entanto, quando há um conteúdo interno que vai além do líquido claro que corresponderia a urina, podendo ser: sangue ou coágulos, septações e vegetações, classifica-se o cisto como complexo. CLASSIFICAÇÃO DE BOSNIAK Na análise de imagem encontram-se importantes informações para diferenciar os cistos dos tumores. Ao ver um cisto simples, por exemplo, haverá apenas líquido em seu interior. Contudo, a partir do momento em que se observam calcificações, septações, etc., há um indicativo de malignidade. Pela classificação de Bosniak, sabe-se que dentro das possíveis alterações, poucas septações e microcalcificações, possuem um risco de malignidade baixo. À medida que o número de microcalcificações e septações aumenta, a chance de malignidade também cresce. Então, no caso III segundo essa classificação, existe um risco de 30% a 50% de ser um tumor maligno. Já em casos que se pode observar estruturas sólidas na composição do cisto, o risco de malignidade chega a 90%. A doença policística é importante pois pode levar a um quadro de insuficiência renal crônica, principalmente em adultos. Essa doença pode acometer crianças ou adultos, sendo que nas crianças é mais rara e incompatível com a vida, levando à morte ainda no primeiro mês de vida. No entanto, variantes que acometem juvenis permitem um período de sobrevivência maior. Nos adultos ela é muito mais comum e manifesta vários cistos de diferentes tamanhos, sendo seu tratamento realizado conforme o aparecimento dos sintomas. Infantil: rara, hereditária e provoca morte no primeiro mês de vida; Adulto: mais comum, hereditária, apresenta cistos de diferentes tamanhos e o tratamento é feito à medida que os sintomas aparecem. A doença policística renal dominante, também chamada de doença policística autossômica dominante. Essa doença é autossômica pois envolve cromossomos que não são responsáveis pela determinaçãodo sexo da criança, logo, fala-se de cromossomos que desenvolverão a parte somática do indivíduo. O termo policístico deve-se ao fato de a doença produzir muitos cistos no rim. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V Apesar da denominação de dominante, o indivíduo com essa doença recebe um alelo mutado, enquanto que o outro alelo irá se mutando ao longo da vida do paciente, o que explica o fato dos cistos aparecerem, por vezes, em forma difusa. Ademais, se diz que essa doença tem alta penetrância devido ao aumento da probabilidade de manifestação da doença ocorrer conforme o indivíduo envelhece. Nesses quadros, são encontrados múltiplos cistos expandidos acometendo ambos os rins, o que se deve ao caráter hereditário da doença, já que os dois rins irão conter o alelo mutado. Com o decorrer do tempo, o surgimento de múltiplos cistos expansivos nos rins pode levar à destruição do parênquima renal (parte funcional do órgão) e, consequentemente, cursar com um quadro de insuficiência renal. Ela acomete cerca de 5 a 10% dos casos de doenças renais e, normalmente, leva à necessidade de transplante ou diálise, para combater a insuficiência renal que pode ser desenvolvida em estágios mais avançados de acometimento da patologia. MÚLTIPLOS CISTOS EXPANSIVOS EM AMBOS OS RINS DESTRUIÇÃO PARÊNQUIMA RENAL -> INSUFICIÊNCIA RENAL Quando se fala do alelo mutado na doença policística renal dominante, remete-se ao gene PKD1 ou o gene PKD2, localizados respectivamente no cromossomo 16 e no cromossomo 4. O gene PKD1 produz uma proteína chamada de policistina- 1 (representada em verde na imagem). Já o gene PKD2 codifica uma proteína chamada de policistina-2 (representada em cinza na imagem). Essa policistina-2 influencia no funcionamento de um canal de cálcio e, portanto, no influxo desse íon na célula. É IMPORTANTE LEMBRAR QUE: o indivíduo com traço hereditário da Doença Policística Renal Dominante não terá alteração em ambos os genes. Ele possuirá mutação no gene PKD1 OU no gene PKD2. Dentre esses genes, o PDK1 é o mais comum e o mais grave. Observa-se, como na figura anterior, que a policistina-1 e a policistina-2 são encontradas lado a lado na membrana, dessa forma, essas proteínas em conjunto formam o que se denomina de complexo policistina1-policistina2 (PC1/PC2). É necessário que ambas estejam funcionando para evitar a formação de cistos. A partir do momento em que há mutação em uma delas, a formação do cisto acaba por ser evidente. A título de contextualização, tem-se a policistina-1 expressa em todas as células epiteliais tubulares, já a policistina-2 além dos túbulos renais, possui expressões em tecidos extra-renais, o que significa que a mutação dessa policistina-2 leva à formação de cistos em outros tecidos além do renal. Ademais, prova da maior gravidade do acometimento da forma da doença com modificações na expressão do gene PKD1, é que indivíduos acometidos possuem cerca de mais de 70% de chance de ter uma insuficiência renal crônica aos 60 anos de idade, e aos 70 anos, essa probabilidade sobe para mais de 95%, em contraponto, as doenças decorrentes de mutações no gene PKD2 possuem um fator de 45% de chance de desenvolver insuficiência renal aos 70 anos. Atualmente ainda não é reconhecido o papel específico da policistina-1, contundo, acredita-se que sua funcionalidade esteja ligada a um envolvimento nas interações célula- célula ou célula-matriz. Quanto a função da policistina-2, há uma influência dessa proteína nos canais de cálcio. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V O complexo PC1/PC2 está localizado nos cílios apicais das células tubulares (cada célula tubular possui um único cílio imóvel projetado em direção ao lúmen tubular, ou seja, voltado para a passagem do ultrafiltrado/urina). Esses cílios são importantes em decorrência da sua atuação como mecanosensores. Essa característica se deve à mudança de posição desses cílios que naturalmente são imóveis para um movimento de flexão que ocorre em direção ao fluxo. Ao fazer isso, há a ativação do complexo PC1/PC2, o que leva à abertura dos canais de cálcio e a um maior influxo de cálcio para o interior da célula tubular. Esse íon, uma vez no interior celular, irá garantir o controle das vias de proliferação celular (por esse motivo, quando há uma mutação esse mecanismo de controle da proliferação é perdido, acarretando na formação dos cistos). Já no indivíduo com DRPAD e mutação em algum desses genes, haverá uma redução da quantidade desses complexos, ou se eles existirem, não serão completamente funcionais (sem PC1 ou PC2 o mecanismo não funciona adequadamente, é preciso que as duas proteínas estejam atuantes no complexo para que o canal de cálcio funcione adequadamente). Uma vez que a entrada de cálcio é prejudicada, há um desequilíbrio homeostático no interior da célula tubular, pois com a redução do aporte desse íon há uma desregulação das vias de controle proliferativo, o que acaba afetando a dinâmica celular. Isso ocorre, pois, esse desequilíbrio de cálcio faz com que haja um aumento de alguns mensageiros químicos dentro do túbulo, como o AMPc. O aumento do AMPc estimula alguns fatores de transcrição, e isso faz com que haja a indução de proliferação celular. Em outras palavras, o fato de haver mutação leva a perda do controle proliferativo das células tubulares renais. Na imagem em sequência, pode-se observar o esquema do que acontece no interior de uma célula tubular renal, ficando claro a imensidão de funções as quais o cálcio regula e desencadeia no meio intracelular. Quando não há um influxo de cálcio adequando, essa quantidade de cálcio intracelular, que chega através da atuação do complexo PC1/PC2, acaba sendo insuficiente e, por esse motivo, há uma retirada do cálcio de reservas de organelas, como o REL. Nesse sentido, o fato de o cálcio intracelular ser insuficiente para controlar as vias de sinalização leva ao aumento do AMPc. Esse AMPc irá estimular várias vias celulares, resultando em mais secreção pelo transepitelial do fluido por cloreto, o que vai contribuir para o início da formação e crescimento do cisto. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V Além disso, no caso de o indivíduo que já possuí alelo mutado, acabar sofrendo mutação do remanescente, essa célula renal não conseguirá funcionar adequadamente, acarretando em um prejuízo de todas os processos citados anteriormente. Haverá, também, certas estimulações que levarão a um estímulo maior ainda de proliferação, assim, essa célula danificada vai se multiplicar cada vez mais e acabará se depositando em direção ao lúmen. Simplificando, o fato de haver o desbalanço de todas essas vias de sinalização afeta o canal de cloreto que controla a saída e entrada de cloreto. Então, na DRPAD, esse PKA é uma das vias que está aumentada e faz com que haja a perda de cloreto para o lúmen, o que irá contribuir para a formação do cisto. Na imagem a seguir há uma representação dos túbulos renais em diferentes indivíduos. Em A, tem-se o túbulo renal de um indivíduo normal, sem mutação de PKD1 ou 2, portanto, a proliferação celular, a secreção, o fluxo de líquido e os demais processos fisiológicos dessa região estarão funcionando normalmente. Já no paciente com DRPAD, a mutação germinativa em um dos alelos PKD, faz com que o túbulo renal esteja como na imagem B. Ou seja, se esse indivíduo receber o alelo PKD e o outro estiver normal ele irá produzir policistina-1 e policistina-2 e por esse motivo, o complexo PC1/PC2 também irá funcionar por vários anos, permitindo a sobrevivência por um tempo. Com o passar do tempo, esse indivíduo com DRPAD pode, a partir de processosque ocorrem durante a vida e características do estilo de vida próprio do paciente, tais quais exposição à radiação, hábitos alimentares com muitos industrializados, doença de base que estimule a mutação, etc., ter uma mutação somática no alelo anteriormente normal de algumas células tubulares. Logo, nesses casos, o alelo que antes estava funcionante e compensava a mutação herdada passa a não exercer mais esse papel, por esse motivo o complexo PC1/PC2 não irá funcionar adequadamente como antes, levando a um descontrole das vias de proliferação celular. Por exemplo, eu tenho uma célula tubular que sofreu esse processo de mutação e ela não foi corrigida, logo, essa célula está incapacitada de fazer a regulação da sua proliferação, por esse motivo ela passa a sofrer diversas divisões e a formar várias cópias dela mesma. Com esse processo há uma concentração de células que se “amontoam” na região. Esse concentrado de células, conforme recebe secreção em seu interior forma um cisto. Mas, de onde vem essa secreção? Como já foi dito, o distúrbio de cálcio prejudica as vias intracelulares, uma delas é a via da PKA que está estimula diretamente o canal de cloreto, ou seja, ela promove a sua abertura e consequentemente a saída do cloreto. Com a grande saída do cloreto para o lúmen, inicia-se um acúmulo, gerando a secreção transepitelial de fluido. Logicamente, todo esse processo demora anos para ocorrer, então, no início não há tanta significância clínica, mas a partir do momento em que há um crescimento em número e tamanho de cistos, há um comprometimento do parênquima renal. Lembrando que os cistos aparecem de forma difusa devido ao fato de as células mutadas não possuírem um padrão Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V específico, ou seja, a mutação no segundo alelo, antes normal, acontece de forma aleatória. Em algum momento, esse crescimento celular será tão grande que o cisto irá se desprender do túbulo de origem, já com o conteúdo de fluido retido em seu interior, bem como pode ser visualizado na imagem acima. Quanto as células que restaram e não tiveram seu funcionamento afetado haverá a tentativa da manutenção da função do complexo PC1/PC2. Existe uma teoria, na qual em algumas situações as quais o indivíduo pode ser exposto, como por exemplo, a hipertensão e a isquemia, que culminam na aceleração do processo de formação dos cistos no parênquima renal. A explicação de como isso acontece ainda não é definida, porém, isso foi observado em modelos experimentais in- vitro e in-vivo que mostraram que a isquemia, por exemplo, acelera o processo de expansão cística, gerando uma variabilidade clínica com diferenças de tamanhos entre os cistos, já que são fatores que variam conforme o contexto/ambiente no qual ocorreu a cistogênese. Lembrando que, além do rim com cistos ficar maior em questão de tamanho, o seu peso também aumenta, em decorrência do acúmulo de líquido no interior dos cistos. Nesse contexto, já foram diagnosticados pacientes portadores da DRPAD com rins de até 4 kg. O esquema acima representa um resumo da patogênese da DRPADC. Nesse sentido, a patogênese se baseia em mutações na policistina1,2, o que faz com que a sensibilidade dos rins referente a mecanossensação, feita através da flexão dos cílios tubulares e que atua como sinalizador das vias intracelulares, seja modificada, alterando, por consequência, o fluxo de cálcio fica alterado, pois a sensibilidade do complexo PC1/PC2 fica comprometida. Isso, por sua vez, acarreta na diferenciação e crescimento epiteliais tubulares alterados (lembrando que esse processo se dá apenas nas células que apresentam mutação do segundo alelo, ou seja, isso não ocorre em todas as células do epitélio de uma só vez, o processo tem um desenrolar difuso e que acontece conforme ocorrem as mutações no alelo), como resultado disso há maior proliferação celular, matriz extracelular anormal e secreção de fluido que culminam na formação do cisto. Lembrando que, essa é apenas uma hipótese de patogênese que, apesar de fazer muito sentido, ainda não foi comprovada, visto que existem muitos mecanismos dessa doença que ainda são desconhecidos. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V Na imagem acima é possível observar a representação do rim de um indivíduo que possui a DRPAD, no qual os cistos formados acabam sendo bem visíveis na superfície do órgão que, vale ressaltar, encontra-se aumentado. Além disso, pode-se ver no esquema A a formação do lúmen de forma controlada (tubulogênense) devido a policistina funcionante. Já quando há cistogênese (formação do lúmen descontrolada) isso se deve ao fato de que em algumas das células desse epitélio haverá mutação em ambos os alelos responsáveis pela expressão de policistina. Destaca-se também que a DRPAD é caracterizada pela formação extrarrenal de cistos, portanto, esses cistos podem estar presentes fígado (mais comum), pâncreas, coração, ovários, pulmão, baço, cérebro (principalmente em aneurismas) e em divertículos. Clinicamente, essa informação é muito importante, visto que um indivíduo que apresente DRPAD com cisto extrarrenal, por exemplo, no coração, pode vir a óbito em decorrência do desenvolvimento de uma doença coronariana cardíaca e não necessariamente do cisto. Pois, pensando nos cistos formados nos rins, a insuficiência renal irá se estabelecer em meados da sexta ou sétima década de vida, e por meio da diálise, esse paciente conseguirá prolongar a sua sobrevivência, enquanto que o acometimento grave de outros órgãos por vezes não possuem tratamentos que permitam prolongar a vida do paciente. Lembrando que, muitos pacientes só descobrirão que tem a DRPAD quando houver uma insuficiência renal, já que os cistos, de modo geral, não geram um processo doloroso, por exemplo. Obviamente, com o avanço da doença há um comprometimento da filtração glomerular e a manifestação de alguns sinais e sintomas. Ou seja, pacientes acometidos pela DRPAD costumam ser assintomáticos até o momento em que o parênquima renal se encontra muito comprometido, caracterizando o início de um quadro de insuficiência renal. Os sintomas inicias que podem anunciar essa doença são hematúria, proteinúria e azotemia. Na imagem anterior podem ser observados exemplos de imagens de órgãos acometidos em indivíduos com DRPAD, sendo A uma vista superficial que evidencia a presença de cistos visíveis exteriormente, em B vista corte que mostra a formação de cistos tanto na região cortical, quanto medular do rim, comprometendo de forma progressiva a função renal, em C há uma DRPAD recessiva jovem (cistos são menores e os canais são dilatados em ângulo reto em relação à superfície cortical) – essa doença será explicada posteriormente, e, por último, cistos no fígado da DRPAD em um adulto. Abaixo pode-se ter uma noção do tamanho que o rim de um indivíduo com DRPAD pode atingir, sendo, inclusive, comparado à dimensão de uma bola de futebol americano. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V Partindo para a doença policística renal recessiva, tem-se que ela depende muito da época a qual acomete a criança. Lembrando que essa doença, assim como a DRPAD, possui caráter hereditário. Pode acometer crianças tanto no período perinatal, quanto neonatal, infantil e até mesmo juvenil. A perinatal configura-se por uma manifestação que ocorre, aproximadamente, a partir 22 semana de gestação até a primeira semana pós-parto. Quando a doença se manifesta até os 28 dias de vida extra- uterina, ou seja, 28 dias após o nascimento, ela será classificada como doença policística renal recessiva neonatal. Já nos casos nos quais a doença é manifestadamais tardiamente, configuram-se quadros infantis ou juvenis, nos quais a criança consegue sobreviver por mais tempo. Lembrando que, felizmente, essa doença é rara, mas quando manifestada, geralmente engloba as formas perinatal e neonatal, aparecendo muito cedo, na gestação ou logo que o bebê nasce. As manifestações costumam ser muito graves, tanto que a criança chega a ter insuficiência renal rapidamente e, por esse motivo, logo acaba sucumbindo. O gene envolvido nessa doença é diferente do autossômico dominante policistina 1 e 2, observado na DRPAD, nesse caso, o gene é autossômico recessivo e corresponde ao gene PKHD1. O gene PKHD1 é o responsável pela formação de uma proteína denominada de fibrocistina, que se encontra lado a lado do complexo PC1/PC2. Ou seja, no que compete os cílios tubulares, há a presença tanto de policistina 1 e 2 quanto da fibrocistina. Essa fibrocistina não apresenta uma função clara determinada, só é de conhecimento que é parte integrante da membrana tubular, bem como a policistina 1 e 2, e que está localizada no cílio primário das células tubulares. A literatura acredita que a fibrocistina possa ter um papel na diferenciação dos ductos coletores e biliares, isto é, se o seu funcionamento é comprometido, não haverá formação dos ductos coletores e biliares, o que por sua vez, faz com que a urina formada não tenha para onde ir, acarretando assim em um quadro de insuficiência renal. O gene PKHD1 está no cromossomo 6 e é expressa tanto no rim, quanto no fígado e no pâncreas. Em outras palavras, se esse gene está expresso em outros órgãos além dos renais, quando existir a formação de cistos renais, haverá grande probabilidade de serem encontrados cistos no fígado e no pâncreas também, o que aumenta a gravidade da patologia e pode explicar o fato da existência da doença ser incompatível com a vida, pois há um comprometimento na eliminação de substâncias tóxicas ao organismo. Tanto é, que os portadores da doença apresentam tamanha baixa produção de urina, que durante a gestação pode-se observar o oligodrâmnio (sabe-se que o líquido amniótico é importante na aspiração e desenvolvimento dos pulmões, com a formação de urina reduzida por conta da inexistência ou mal funcionamento dos ductos coletores, prejudicando o desenvolvimento do feto e afetando a viabilidade de vida do bebê). Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V A displasia renal multicística é uma doença esporádica, isto é, não possui uma causa específica e ocorre eventualmente. É chamada de displasia porque causa um desenvolvimento anormal de alguns órgãos e tecidos corporais (nesse caso são os rins), levando à formação de múltiplos cistos. Essa doença pode ser unilateral ou bilateral, sendo as primeiras mais comuns, o que configura um melhor prognóstico, já que o rim saudável consegue compensar o déficit gerado pelo rim que não funciona adequadamente devido a displasia renal multicística, sendo a bilateral incompatível com a vida. Os rins apresentam-se morfologicamente irregulares (imagem anterior) e estão, normalmente, aumentados. No corte histológico em sequência, é possível visualizar muitos túbulos dilatados, estroma primitivo no parênquima que indica uma formação inadequada. Haverá também, vários cistos, remetendo a denominação multicística da doença, sendo que estes variam de tamanho e quantidade. - Doença esporádica - Uni ou Bilateral - Rim aumentado normalmente - Rim irregular - Rim multicístico - Cistos variam em tamanho - Patogênese: parada de ramificação das ampolas dos ramos ureterais -> falta desenvolvimento nos néfrons -> formação cistos - Forma e superfície irregulares - Mantém forma renal -> DISPLASIA RENAL CÍSTICA DIFUSA CORTE HISTOLÓGICO - Arquitetura desorganizada - Túbulos dilatados - Massas de estroma primitivo - Ilha de cartilagem A hipótese da patogênese dessa doença é congênita, envolvida com a ramificação dos ramos ureterais que é importante para a formação dos néfrons. Portanto, no momento de formação dos rins do indivíduo, há o broto uretérico e o blastema metanefrogênico (importantes pata a formação dos rins). Ocorre uma fusão desses componentes, e os brotos uretéricos darão origem aos ureteres, o blastema metanefrogênico, por sua vez, é responsável pela formação da parte parenquimatosa do rim, ou seja, é preciso que ocorra essa fusão adequada para que ao final haja um rim funcional. Em decorrência de algum motivo que faz com que não haja essa fusão de blastema metanefrogênico com o broto uretérico, a partir da 5 semana de desenvolvimento embrionário, não haverá a formação dos néfrons e surgirão cistos. Isso se deve ao fato de que, sem essa fusão, há a parada da ramificação das ampolas e, em decorrência disso, não há a formação dos ductos responsáveis pela coleta de urina. Nesse sentido, se não há a formação de néfrons e das ampolas de forma adequada, essa malformação congênita faz com que o indivíduo não tenha um rim funcionante. Por esse motivo, se esse defeito for bilateral há incompatibilidade com a vida. No caso de acometimento unilateral, como dito anteriormente, o outro rim que funciona adequadamente pode suprir a necessidade de filtração gerada pela deficiência do outro. Na imagem abaixo, pode-se observar a foto de um bebê conservado em formol, mostrando o tamanho do rim do indivíduo. O abdômen encontra-se dilatado e aumentado, justamente, devido ao aumento do rim decorrente dos cistos formados (no local em que deveria ocorrer a filtração não há para onde jogar o líquido, e o organismo tenta enviar Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V mais sangue para suprir o rim em formação, e sem a adequada coleta desse sangue para a formação de urina e, consequentemente, de líquido amniótico, esse fluido se acumula no rim em formação e faz com que ele aumente de tamanho). Pode ser observado também algumas características do indivíduo com essa doença, como as pernas mais curtas e os pés curvados, enfatizando o fato de ser fatal quando a anomalia é bilateral. Gabriela Bordignon – UFMS CPTL (T5) PATOLOGIA, Prof. Julie – BBPM V DOENÇA HERANÇA CARACTERÍSTICAS PATOLÓGICAS ASPECTOS CLÍNICOS OU COMPLICAÇÕES EVOLUÇÃO TÍPICA REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA Doença renal policística do adulto Autossômica dominante Rins multicísticos grandes, cistos no fígado, aneurismas saculares Hematúria, dor no flanco, infecção do trato urinário, cálculos renais, hipertensão Insuficiência renal crônica com início na idade de 40- 60 anos Doença renal policística infantil Autossômica recessiva Rins aumentados, cistícos no nascimento Fibrose hepática Variável, morte na infância ou na adolescência Rim em esponja medular Nenhum Cistos medulares na urografoa excretora Hematúria, infecção do trato urinário, cálculos renais recorrentes Benigno Nefronoftise juvenil familiar Autossômica recessiva Cistos corticomedulares, rins contraídos Perda de sal, poliuria, retardo do crescimento, anemia Insuficiência renal progressiva começando na infância Doença cística medular na idade adulta Autossômica dominante Cistos corticomedulares, rins contraídos Displasia renal multicística Nenhum Rins irregulares com cistos de tamanho variável Doença cística renal adquirida Nenhum Degeneracao cística na doenca renal em estágio terminal Cistos simples Nenhum Cistos simples ou múltiplos em rins de tamanho normal Doenças renais císticas Adaptado de Robbins patologia básica. 9ª Edição.
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