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AMENORREIA PRIMÁRIA INTRODUÇÃO AMENORREIAS ▪ Definição: ausência de menstruação por um período de 90 dias − Primária: paciente que nunca menstruou − Secundária: já teve menstruação e não menstrua mais por algum problema ▪ Fisiológica: − Infância: não tem ativação do eixo hipotálamo-hipófise-ovário − Gravidez: descidualização do endométrio − Lactação: prolactina alta − Menopausa: falência dos folículos ovarianos/sem resposta adequada dos ovários ao estímulo hipotalâmico ▪ Patológica: distúrbio da cadeia neuroendócrina ou do sistema canalicular que origina e exterioriza a menstruação ▪ Idade média da menarca: 9 a 14 anos − Aguarda até os 16 anos, se a menina tem a presença dos caracteres sexuais secundários ▪ Amenorreia é um sintoma DEFINIÇÃO ▪ Primária: ausência de menstruação aos 14 anos, associada a falta de desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários ou 16 anos (período máximo) independente da presença ou não desses caracteres − Caracteres sexuais secundários: pilificação (pubarca), crescimento das mamas (telarca) ▪ Secundária: ausência de menstruação em período igual ou superior a 3 ciclos consecutivos, em mulheres que já tiveram anteriormente pelo menos 1 ciclo espontâneo ETIOLOGIA CONTROLE HIPOFISÁRIO E HIPOTALÂMICO NA FUNÇÃO OVARIANA Hipotálamo → libera GnRH → atua na hipófise liberando FHS → estimula células da granulosa → inibição da liberação do FSH + produção e liberação do LH → LH estimula células da teca → produção de estrogênios + feedback negativo sobre a produção do LH. Interação de LH e FSH na hipófise → efeito inibitório sobre o hipotálamo AMENORREIA PRIMÁRIA OU MENARCA ATRASADA? ▪ Observar se tem presença dos caracteres sexuais secundários → se sim, possivelmente é menarca atrasada EPIDEMIOLOGIA ▪ Incidência: 0,3-0,5% CAUSAS EXTRA-GENITAIS ▪ Iatrogênicas: interações medicamentosas, procedimentos cirúrgicos que podem eventualmente levar a alterações na gônada, uso de medicamentos (quimio/radioterapia) ▪ Metabólicas: diabetes, intolerância parcial a glicose ▪ Endócrinas: tireoide, suprarrenal ▪ Doenças sistêmicas: IRC, doenças reumatológicas, doenças autoimunes ▪ Neurológicas: tumores cerebrais, comprometimento hipofisário ou hipotalâmico CAUSAS GENITAIS ▪ Vaginal ▪ Canalicular ▪ Ovariana-gonadal ▪ Hipofisária ▪ Hipotalâmica CAUSA VAGINAL ▪ Alterações: − Agenesia de vagina ou de colo uterino: não formou − Septo vaginal transverso: tecido anômalo que represa o sangue, impedindo saída e exteriorização através da vulva − Estenose/atrofia genital congênita − Hímen imperfurado ▪ Definição: é uma falsa amenorreia, criptomenorreia: falta de exteriorização do sangue menstrual ▪ Funcionamento ovariano normal ▪ Caracteres sexuais secundários presentes ▪ Cariótipo normal: XX/ovários normais ▪ Distúrbio do trato de saída vaginal ▪ Quadro clínico: − Dores pélvicas cíclicas − Sintomas de obstrução: aumento do volume abdominal, dificuldade de evacuar, dor abdominal − Mucocolpo (produção de muco que ficou parado dentro da vagina)/hematocolpo (sangue dentro da vagina) − Falta de canalização do terço distal da vagina CAUSA CANALICULAR ▪ Definição: dificuldade de exteriorização, com relação a passagem do sangue do endométrio para a camada vaginal ▪ Síndrome de Rokitansky-Kuster-Hauser ▪ Tuberculose/esquistossomose genital: muito pouco frequente ▪ Endométrio genital ▪ Endométrio refratário: não responde aos hormônios ovarianos ▪ Útero infantil ▪ Útero rudimentar ▪ Funcionamento ovariano normal SÍNDROME DE ROKITANSKY-KUSTER-HAUSER: AGENESIA MULLERIANA (ESTRUTURAS QUE SE ORIGINAM DO DUCTO DE MULLER NÃO FORAM DESENVOLVIDAS) ▪ Distúrbio do trato de saída ▪ Genitália externa feminina ▪ Vagina com terço inferior: vaginometria curta (5cm) – os dois terços superiores advém do ducto de Muller, o terço inferior é derivado do seio urogenital ▪ Útero e tubas ausentes ou muito rudimentares: sem conduto ao introito vaginal ▪ 1/3 cursam com anormalidades do trato urinário: rim ectópico, agenesia renal ▪ Rim em ferradura, ductos coletores anormais ▪ Cariótipo 46XX e função ovariana normal ▪ Pacientes conseguem ter relações sexuais: com a penetração seguida e frequente o terço inferior vai se alongando CAUSAS GONADAIS ▪ Disgenesias − Gonadal-somática: síndrome de Turner − Gonadal Pura XY: síndrome de Swyer − Gonadal Pura XX − Gonadal Mista ▪ Pseudo-hermafroditismo masculino − Síndrome de Morris − Síndromes incompletas ▪ Hermafroditismo verdadeiro O QUE É UMA DISGENESIA GONADAL? ▪ Gônada em fita (streak)/indeterminada/indiferenciada: não é nem ovário e nem testículo ▪ Distúrbio no desenvolvimento sexual ▪ Prevalência: 1:2500 nascimentos femininos ▪ Gônada disgenética (ou em fita ou streak) é aquela constituída somente de tecido fibroso, sem função hormonal nem capacidade de produção de gametas e sem estruturas que permitam caracterizá-la como ovário ou como testículo − Alto potencial de malignização DISGENESIAS GONADAIS SÍNDROME DE TURNER ▪ Fenótipo feminino infantil, órgãos genitais hipoplásicos e gônadas em fitas ▪ Cariótipo: 45X0 ▪ Baixa estatura ▪ Pescoço alado ▪ Tórax em escudo ▪ Aumento do ângulo do cotovelo ▪ Desenvolvimento secundário retardado ▪ Hipogonadismo hipergonadotrófico: as gônadas por serem indiferenciadas não respondem ao estímulo do hipotálamo e da hipófise → gonadotrofinas aumentadas, mas sem produção hormonal ovariana ▪ Gônadas indiferenciadas DISGENESIA GONADAL PURA XY: SÍNDROME DE SWYER ▪ Fenótipo feminino ▪ Estatura normal ▪ Desenvolvimento mamário ausente ou escasso ▪ Gônadas disgenéticas com risco elevado para gonadoblastoma ▪ Cariótipo 46XY ▪ Dutos genitais internos femininos (útero, tuba e porção superior da vagina): podem ter as dimensões um pouco reduzidas ou infantis ▪ Falha no desenvolvimento ou uma eliminação dos testículos (regressão testicular) antes da diferenciação genital interna ou externa – mutações no SRY ▪ 70-80% etiologia desconhecida ▪ Gonadotrofinas elevadas: hipogonadismo hipergonadotrófico DISGENESIA GONADAL PURA XX ▪ Autossômica recessiva ▪ Estatura normal ▪ Fenótipo feminino ▪ Comum surdez neurossensorial: ajuda no diagnóstico ▪ Presença de dutos genitais internos femininos (útero, tubas e porção superior da vagina): podem ser um pouco hipoplásicos ou infantis pela falta de estímulo hormonal ▪ Mamas pouco desenvolvidas ▪ Alteração no gene receptor de FSH ▪ Gônadas em fita ▪ Gônadas disgenéticas não respondem ao FHS e LH: hipogonadismo hipergonadotrófico DISGENESIA GONADAL MISTA ▪ Cariótio 46,XY/45,X ▪ Muito rara: mosaicismo ▪ Fenótipo genital externo varia de feminino a masculino praticamente normais ▪ Diferentes graus de ambiguidade genital ▪ Algum desenvolvimento de derivados Mullerianos ▪ Presença de uma gônada disgenética e um testículo disgenético contra-lateral, ou ainda de testículos disgenéticos bilateralmente → risco elevado para neoplasia ▪ Produção de testosterona comprometida SÍNDROME DA INSENSIBILIDADE A ANDRÓGENOS (AIS) OU SÍNDROME DE MORRIS ▪ Cariótipo 46,XY/gônadas masculinas ▪ Pseudo hermafroditismo masculino ▪ 10% das amenorreias primárias ▪ Insensibilidade/defeito da função testicular ▪ Anormalidades na síntese e/ou ação do fator inibidor dos ductos de Muller ▪ Células somáticas não reconhecem ou não respondem a testosterona ▪ Ausência de um gene no cromossomo X que codifica a proteína receptora de testosterona ▪ Crescimento e desenvolvimento normais, indivíduos mais altos ▪ Genitália externa feminina, fenótipo feminino ▪ Vagina com terço inferior → vagina em fundo cego ▪ Pequenos lábios subdesenvolvidos ▪ Mamas desenvolvidas com mamilos imaturos ▪ Testosterona normal, masbiologicamente inativa → não há masculinização ▪ Há produção de HAM → Agenesia Mulleriana ▪ 50% hérnia inguinal: testículos parcialmente descidos → gônadas palpáveis no canal inguinal HERMAFRODITISMO VERDADEIRO ▪ Maioria 46XX ▪ Ambas as gônadas no mesmo individuo ▪ Unilateral: ovário e testículo ▪ Bilateral: ovotestis (gônada com aspecto ovariano e testicular) ▪ Alternante: ovotestis unilateral com ovário ou testículo do outro lado ▪ Fenótipo e genital interno: masculino, feminino ou ambíguo ▪ Masculinização externa depende da quantidade de tecido testicular funcionante ▪ Correção da genitália externa, extirpação das gônadas CAUSAS OVARIANAS ▪ Síndrome da insensibilidade ovariana, ovários resistentes (Síndrome de Savage) ▪ Hipoplasia ovariana ▪ Infecções bacterianas ou virais (parotidite) ▪ Falência ovariana auto-imune → síndrome de Blizzard ▪ Neoplasias funcionantes: − Disgerminoma − Gonadoblastoma − Androblastoma − Hipernefroma SÍNDROME DOS OVÁRIOS RESISTENTES (SAVAGE) ▪ Refratariedade às gonadotrofinas: ovário não responde adequadamente ▪ Desenvolvimento sexual deficiente ▪ Folículos ovarianas aparentemente normais ▪ Hipogonadismo hipergonadotrófico ▪ Cariótipo 46XX CAUSAS HIPOFISÁRIAS ▪ Síndrome da Sela Turca vazia ▪ Tumores funcionantes, não funcionantes ou secretores de hormônios: GH, ACTH, Prolactina e TSH ▪ Traumatismos cranianos ▪ Craniofaringeomas ▪ Processos inflamatórios: sífilis, tuberculose, doenças auto-imunes ▪ Infecções: encefalite ▪ Hipogonadismo hipogonadotrófico: hipófise não libera LH e FSH; estradiol é um hormônio também praticamente ausente CAUSAS HIPOTALÂMICAS ▪ Causas hipotalâmicas levam a deficiência na secreção de GnRH, levando a um hipogonadismo hipogonadotrófico ▪ Traumas/processos degenerativos ▪ Acidentes vaculares – encefalites ▪ Síndrome de Kallmann: anosmia por sulcos olfatórios hipoplásicos ou ausentes ▪ Anorexia nervosa ▪ Iatrogênicas: cirurgias, irradiação e medicamentos DIAGNÓSTICO ANAMNESE: DESENVOLVIMENTO DE MAMAS E CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS? ▪ Ausência: indica falta de função ovariana (hipogonadismo) ▪ Aparecimento de pelos pubianos e axilares ▪ Nódulos na região inguinal – gônadas ectópicas – Síndrome de Morris? ▪ Desenvolvimento pôndero-estatural ▪ Antecedentes de traumas, cirurgias, quimioterapia e radioterapia ▪ Distúrbios nutricionais e alimentares: anorexias EXAME FÍSICO ▪ Fenótipo ▪ Caracteres sexuais secundários (mamas/pelos pubianos) ▪ Estágios de Tanner ▪ Sinais de hiperandrogenismo ▪ Exame dos órgãos genitais: anomalias, nódulos inguino-crurais ▪ Estatura e envergadura ▪ Estigmas Turnerianos: cúbito valgo, implantação baixa das orelhas, tórax em escudo ▪ Hímen imperfurado Estágios de Tanner Normalmente a menstruação acontece entre os estágios III e IV EXAMES COMPLEMENTARES ▪ Dosagem de gonadotrofinas hipofisárias: FSH/LH (permite diferenciar se a causa é hipotalâmica- hipofisária ou ovariana) − Hipogonadismo hipogonadotrófico (FSH↓): disfunção hipotalâmica ou hipofisária − Hipogonadismo hipergonadotrófico (FSH↑): Gonadal: com ou sem cromossomo Y Ovariano: com ou sem desenvolvimento sexual secundário; com genital interno ou não ▪ Dosagem de prolactina ▪ Hormônios tireoideanos: TSH e T4 livre ▪ Hiperandrogenismo: testosterona total e livre, SDHEA, 17-Hidroxiprogesterona (hiperplasia congênita da suprarrenal) ▪ RX de punho: idade óssea (índice de Pyle) ▪ Exames de imagem: ultrassonografia, ressonância magnética nuclear de pelve e SNC ▪ Cariótipo (suspeita de anormalidades na diferenciação sexual: disgenesia gonadal e pseudo- hermafroditismo) TRATAMENTO ▪ Depende da causa ▪ Disgenesia gonadal: sempre tratamento cirúrgico, pois é uma gônada indiferenciada que pode evoluir para tumor ▪ Tratamento clínico da doença ▪ Aconselhamento psicológico → fenótipo ▪ Tratamento hormonal: uso de estrógenos conjugados equinos ou valerato de estradiol para desenvolver caracteres sexuais secundários por 3- 6 meses − A partir do momento em que já se tem um desenvolvimento mamário e aparecimento de pilificação: acrescentar progesterona para promover um “ciclo menstrual”. Se paciente não tem útero precisa analisar caso a caso ▪ Tratamento cirúrgico: gonadectomia bilateral TRATAMENTO DAS CAUSAS VAGINAIS ▪ Hímen imperfurado: abertura ▪ Septos vaginais transversos: remoção do septo ▪ Agenesia de vagina: neovagina FLUXOGRAMA QUADRO RESUMO
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