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FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 1 Filtração glomerular e Fluxo Sanguíneo renal A primeira etapa para a formação da urina é a filtração glomerular (FG), ou seja, a filtração de grandes quantidades de líquidos através dos capilares glomerulares para dentro da cápsula de Bowman (180 L ao dia). Composição do filtrado glomerular Os capilares glomerulares são relativamente impermeáveis às proteínas, assim, o filtrado glomerular é livre dessas macromoléculas. A maior parte dos sais e moléculas orgânicas são similares às concentrações plasmáticas. Algumas exceções são: cálcio e ácidos graxos, pois estão geralmente ligados às proteínas plasmáticas e, portanto, não são filtrados com efetividade. A tabela a seguir demonstra a capacidade de filtrabilidade de alguns componentes sanguíneos, que vai de 1 à 0. Note que as proteínas de maior peso molecular são as menos filtradas. Membrana capilar glomerular ou barreira de filtração A membrana capilar glomerular, ou também chamada de barreira de filtração, é a estrutura que filtra o plasma sanguíneo. Essa barreira é formada por: • Endotélio capilar → é fenestrado, mas as proteínas das células endoteliais são dotadas de cargas negativas, repelindo proteínas plasmáticas de carga negativa e macromoléculas • Membrana basal do endotélio e dos podócitos → trata-se da fusão da membrana endotelial com a membrana basal dos podócitos; consiste em uma trama de colágeno e fibrilas proteoglicanas (cargas negativas) com grande espaços, pelos quais grande quantidade de água e de pequenos solutos podem ser filtrados, além de impedir a passagem de macromoléculas. • Camada de células epiteliais (podócitos) → emitem prolongamento primários e secundários que envolvem o capilar sanguíneo; entre os prolongamento 2ª existem espaços, chamados de fendas de filtração, por onde o filtrado glomerular se desloca. As células epiteliais também apresentam cargas negativas que repelem proteínas. Portanto, apesar de ser mais espessa que a maioria dos outros capilares, a membrana capilar glomerular é muito mais porosa, filtrando líquidos com mais intensidade. Todavia, essa filtragem é feita de maneira seletiva, com base no seu tamanho e em sua carga elétrica. OBS! Substâncias de mesmo peso molecular, mas com carga elétricas diferentes, apresentam diferentes taxas de filtração; por exemplo, substâncias com cargas elétricas negativas vão ser muito menos filtradas do que cargas elétricas positivas, devido à trama de proteoglicanos da membrana basal e de substâncias negativas do endotélio vascular. Deterinantes da FG A filtração glomerular é determinada pelo seguintes processos: • Balanço de forças hidrostáticas e coloidosmótica → pressão efetiva de filtração. As pressões existentes são: o PG → Pressão hidrostática nos capilares glomerulares, que promovem filtração (60 mmHg) o PB → pressão hidrostática na cápsula de Bowman, se opõe a filtração (18 mmHg) FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 2 o πG → pressão coloidosmótica das proteínas plasmáticas, se opõe à filtração (32 mmHg). Essa pressão é tida pela média entre a pressão coloidosmótica das Aa. aferentes (28 mmHG) e a pressão coloidosmótica das Aa. eferentes (36 mmHg); essa diferença de pressão entre as artérias se deve pela diminuição do plasma sanguíneo que ocorre entre elas e a maior concentração proteica consequente, já que o conteúdo das Aa. eferentes é as Aa. aferentes menos o plasma sanguíneo filtrado na cápsula. o πB → pressão coloidosmótica das proteínas na cápsula de Bowman, promove a filtração; a concentração de proteínas na cápsula é tão baixa, que essa pressão é considerada nula (0 mmHg) • Coeficiente de filtração capilar (Kf) → é o produto da permeabilidade e da área de superfície de filtração capilar Portanto, os capilares glomerulares apresentam alta taxa de filtração devido à pressão hidrostática aliado ao Kf. Então, cerca de 20% de todo o plasma que flui pelos rins é filtrado. Assim, tem-se o conceito de fração de filtração (FF), que consiste no tanto de fluxo plasmático que chega à cápsula de Bowman em relação ao tanto que é efetivamente filtrado, tendo como fórmula: FF = FG/Fluxo plasmático renal total; essa relação, como já demonstrado, tem valor de 0,2, ou seja, 20%. Dessa forma, a FG = Kf x Pressão efetiva de filtração.; de maneira mais completa, é tido pela seguinte expressão: FG = Kf x (PG – PB – πG + πB) Já o Kf é tido pela expressão inversa dá analisada: Kf = FG (125 ml/min)/Pressão efetiva de filtração (10mmHg) Logo, o Kf é igual 12,5 mL/mim/mmHg de pressão de filtração. Se comparado com o peso renal de 100 gramas, o Kf fica igual a 4,2 mL/min/ mmHg, o Kf de outros tecidos é de cerca de 0,1 por 100 gramas, o que demonstra a permeabilidade e área de superfície para filtração dos rins, devido aos glomérulos. OBS! Dessa forma, sabendo os componentes que fazem parte do cálculo da FG, temos a fisiopatologia de diversas condições que atuam nos rins que alteram a FG; ex: • Hipertensão crônica e DM reduzem o Kf pelo aumento da espessura da barreira de filtração, a FG • Cálculos que se alojam no trato urinário e impedem a passagem da urina a pressão na cápsula de Bowman, a FG • O da fração de filtração (pela do fluxo plasmático renal) causa hipertonicidade proteica no sangue glomerular, isso causa da pressão coloidosmótica glomerular e, logo, FG • Já a da fração de filtração (pelo do fluxo plasmático renal), causa o efeito inverso do citado e, assim, FG FPR --> Fluxo Plasmático Renal total; FG --> filtrado glomerular; REAB -- > Reabsorção Tubular. Note que o FG é cerca de 20% do FPR. FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 3 • A pressão hidrostática glomerular é determinada por 3 variáveis: pressão arterial, resistência arteriolar aferente e resistência arteriolar eferente o Aumento da pressão arterial tende a a pressão hidrostática glomerular e a FG, mas existem mecanismos autorregulatórios que mantêm esse nível constante o O da resistência das arteríolas aferentes a pressão hidrostática, a FG; o oposto também é verdadeiro o O da resistência das arteríolas eferentes pressão hidrostática glomerular, a FG; o oposto também é verdadeiro. Todavia, com o aumento da constrição das arteríolas eferentes, a filtração vai aumentando, o que também causa uma maior concentração de proteínas no plasma sanguíneo, levando a um da pressão coloidosmótica glomerular; assim, o da pressão coloidosmótica glomerular excede o aumento da pressão hidrostática, o que FG. Ou seja, uma constrição arteriolar eferente mais leve causa um da FG, já uma contrição forte, causa da FG. FLUXO SANGUÍNEO RENAL O fluxo sanguíneo renal e muito elevado comparado a outros órgãos (cerca de 22% do débito cardíaco); esse grande fluxo é importante para permitir, além da nutrição e remoção de resíduos metabólicos dos rins, a efetiva filtração do plasma sanguíneo com altos volumes de plasma. Consumo de Oxigênio Aumento na pressão coloidosmótica no plasma que flui através dos capilares glomerulares. Normalmente, cerca de um quinto do líquido dos capilares glomerulares filtra para o interior da cápsula de Bowman, dessa forma, concentrando as proteínas plasmáticas que não são filtradas. Aumentos na fração de filtração (taxa de filtração glomerular/fluxo plasmático renal → linha azul) elevam a taxa com a qual a pressão coloidosmótica do plasma sobe ao longo dos capilares glomerulares; diminuições na fração de filtração têm o efeito oposto (linha verde) No gráfico demonstra-se os diferentes efeitos do aumento da resistência das arteríolas eferentes ou aferentes. No primeiro gráfico, temos que o da resistência arteriolar eferente vai causar, em um primeiro momento, o aumento da taxa de filtração glomerular (linha vermelha), devido ao consequente aumento da pressão hidrostáticaglomerular; em um segundo momento, o aumento dessa resistência começa a diminuir a taxa de filtração, pois o sangue das arteríolas eferentes torna-se muito hipertônico, o que eleva drasticamente a pressão coloidosmótica glomerular. No segundo gráfico o efeito é mais simples, em que o da resistência arteriolar aferente vai somente a FG pela da pressão hidrostática glomerular. FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 4 O oxigênio fornecido aos rins excede em muito as suas necessidades metabólicas e a extração arteriovenosa de oxigênio é relativamente baixa. A maior parte do consumo de oxigênio feito pelos rins é devido à reabsorção ativa do sódio pelos túbulos renais; ou seja, o consumo de O2 renal vai variar de acordo com a reabsorção de sódio, que, por sua vez, está intimamente relacionada à FG e à intensidade do sódio filtrado. Determinantes do fluxo sanguíneo renal Os determinantes do fluxo sanguíneo renal são tidos pela fórmula: Pressão ao longo da vasculatura renal/Resistência vascular renal total ou (Pressão na artéria renal – pressão na veia renal) / Resistência vascular renal total A pressão na artéria renal é igual a pressão arterial sistêmica; já a da veia renal é, em média, de 3 a 4 mm Hg. A resistência vascular renal é tida pela soma das resistência nos segmentos vasculares renais individuais, principalmente as Aa. interlobulares, arteríolas aferentes e arteríolas eferentes; a resistência desses vasos é controlado pelo SNA simpático, hormônios e outros mecanismos renais (autorregulação). CONTROLE FISIOLÓGICO DA FILTRAÇÃO GLOMERULAR E DO FLUXO SANGUÍNEO RENAL Os determinantes da FG mais variáveis e sujeitos ao controle fisiológico são a pressão hidrostática glomerular e a pressão coloidosmótica das proteínas nos capilares. Ativação do SNA simpático Todos os vasos sanguíneos renais são ricamente inervados pelas fibras nervosas simpáticas; essa ativação simpática pode diminuir o fluxo sanguíneo renal e FG. No indivíduo saudável em repouso, o tônus simpático parece ter pouca influência sobre o fluxo sanguíneo renal, além também dos reflexos barorreceptores ou dos receptores cardiopulmonares. Controle hormonal e autacoide da circulação renal Os hormônios que provocam constrição dos vaso sanguíneos renais são: • Norepinefrina e epinefrina: liberadas pela medula da adrenal; esses hormônios têm pouca influência sobre a hemodinâmica renal, exceto em situações extremas como hemorragia grave • Endotelina: liberado pelas células endoteliais vasculares lesionadas dos rins, fazendo uma vasoconstrição potente, principalmente das arteríolas aferentes; serve para minimizar a perda sanguínea • Angiotensina II: produzido pela ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona; quase todos os vasos sanguíneos dos rins apresentam receptores para a angiotensina II (principalmente as arteríolas eferentes), com exceção das arteríolas aferentes, que apesar de apesar receptor, ela libera vasodilatadores (óxido nítrico e prostaglandinas) para neutralizar o efeito vasoconstritor da angiotensina. Vale lembrar que os níveis de angiotensina II se aumentam com dietas hipossódicas ou com depleção do volume sanguíneo. Já alguns hormônios ou substâncias que promovem a dilatação dos vasos sanguíneos renais são: • Óxido nítrico derivado do endotélio: é liberado pelo endotélio vascular de todos os capilares do corpo e causa uma elevada dilatação dos vasos; esse composto apresenta um nível basal de produção nos rins, que é importante para a FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 5 manutenção da excreção em quantidades normais de sódio e água. • Prostaglandinas e bradicininas: são substâncias autacoides que, em condições normais, parecem amenizar os efeitos vasoconstritores renais dos nervos simpáticos ou da angiotensina II. AUTORREGULAÇÃO DA FILTRAÇÃ GLOMERULAR E FLUXO SANGUÍNEO RENAL Os rins, por meio de feedbacks intrínsecos, conseguem manter até certo ponto o fluxo sanguíneo renal e a FG constantes. Esse processo é chamado de autorregulação. A principal função da autorregulação nos rins é manter a FG relativamente constante e permitir o controle preciso da excreção renal de água e solutos, pois pequenos aumentos da pressão sanguínea causam aumentos catastróficos de urina, o que levaria à depleção do volume sanguíneo. Em geral, o fluxo sanguíneo renal é autorregulado em paralelo com a FG, mas a FG é mais eficientemente autorregulada em certas condições. As variações cotidianas de pressão arterial costumam exercer pouco efeito sobre o volume da urina devido à: • Autorregulação renal (evita grandes alterações da FG) • Mecanismos adaptativos adicionais nos túbulos renais → balanço glomerulotubular. Feedback tubuloglomerular e autorregulação da FG O mecanismo de feedback tubuloglomerular tem 2 componentes que agem para controlar a FG: • Mecanismo de feedback arteriolar aferente • Mecanismo de feedback arteriolar eferente O mecanismo de feedback se dá, portanto, pelas seguintes etapas: 1. Células da mácula densa detectam alterações de volume que chega ao túbulo distal; não se sabe muito como, mas, provavelmente, ocorre, pois, a da FG torna mais lento o fluxo pela alça de Henle, causando reabsorção aumentada da porcentagem de íons sódio e cloreto fornecidos no ramo ascendente, reduzindo por meio disso a concentração de cloreto de sódio nas células da mácula densa. 2. Esse processo causa dois efeitos principais: a. Reduz a resistência do fluxo sanguíneo nas arteríolas aferentes (mecanismo de feedback arteriolar aferente), ou seja, ocorre sua dilatação, que o FG b. Aumenta a liberação de renina pelas células justaglomerulares; a renina é convertida em angiotensina I, por conseguinte, forma-se a angiotensina II, a qual contrai as arteríolas eferentes (mecanismo de feedback arteriolar eferente), que eleva a pressão hidrostática glomerular e auxilia no retorno da FG ao normal 3. Quando ambos os mecanismos estão funcionando em conjunto, a FG se altera apenas por poucos pontos percentuais, até mesmo com grandes flutuações da pressão arterial entre os limites de 75 e 160 mmHg. FISIOLOGIA: SISTEMA URINÁRIO 6 Autorregulação miogênica do fluxo sanguíneo renal e FG Outro mecanismo que contribui para a manutenção do fluxo sanguíneo renal e a FG constantes é a capacidade dos vasos sanguíneos individuais de resistirem ao estiramento, durante o aumento da pressão arterial (mecanismo miogênico). Esse mecanismo ocorre pois o estiramento da parede vascular permite movimento aumentado de íons cálcio do líquido extracelular para as células, causando sua contração, que evita a distensão excessiva do vaso e ajuda a prevenir o aumento excessivo do fluxo sanguíneo renal e da FG quando ocorre aumento da pressão arterial.
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