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MEDCURSO: Hepatologia 24/06/2020 Aula 2: Cirrose e suas causas 1. Introdução a) Arquitetura hepática e Fisiopatologia · Espaço porta: por onde chega o sangue, proveniente da artéria hepática e veia porta e direcionam-se para a veia centrolobular através de capilares hepáticos = sinusoides hepáticos. · Espaço virtual entre sinusoide hepático e os hepatócitos = espaço de Disse – na fisiopatologia da cirrose hepática, a origem da construção da cirrose no fígado se inicia nesse local. O sangue proveniente da artéria hepática e veia porta, precisa ter uma íntima relação com os hepatócitos, ou seja, ele precisa ser detoxificado. Os sinusoides hepáticos possuem várias “crateras”/fenestras em sua estrutura de parede, o que é algo extremamente vantajoso = interação do sangue com hepatócitos. Quando existe uma agressão crônica ao fígado, essa pode induzir a uma modificação funcional de uma célula chamada de estrelada, que fica dentro do espaço de Disse. Em pessoas normais, ela é quiescente (não faz nada), mas quando houver uma agressão continuada, ela é ativada. Ao ser ativada, a célula estrelada começa a realizar um processo de depósito de matriz de colágeno, sendo semelhante a um processo cicatricial –as fenestras dos sinusoides são tapadas e isso justifica as manifestações da cirrose hepática, pois há perda da interação entre sangue e hepatócito = insuficiência hepática. Há retração tecidual, levando ao aumento da pressão no interior do fígado e que consequentemente será transmitida retrogradamente para o território da veia-porta (por isso que o paciente com cirrose hepática desenvolve hipertensão porta). Dentro do hepatócito começam a aparecer traves de fibrose e no meio dela temos hepatócitos disfuncionantes. Esses, começam uma tentativa de regeneração, que será obviamente frustrada, principalmente pela ausência de sangue na quantidade adequada. A tentativa de regeneração hepática é representada pelos nódulos de regeneração – ilhas de hepatócitos no meio da fibrose. Nas tentativas regeneradoras, podem ocorrer falhas na regeneração já que há várias tentativas de multiplicação celular = risco de desenvolvimento de hepatocarcinoma (o cirrótico faz rastreio). Fígado cirrótico = fibrose + nódulos de regeneração b) Manifestações · Hipertensão porta: varizes, ascite, esplenomegalia, circulação colateral (cabeça de medusa) · Insuficiência hepática: icterícia (BD), redução da albumina/coagulopatia, encefalopatia, ginecomastia/telangiectasia/eritma palmar = hiperestrogenismo 1- Transaminases Para as transaminases estarem aumentadas, é necessário ter muito hepatócitos viáveis, como é o caso das hepatites agudas. · Boa parte dos hepatócitos foram morrendo: lesão crônica · Normais ou discretamente elevadas c) Avaliação de gravidade Há 2 escores principais que fazem isso: Child-Pugh e Meld. 1- Classificação de Child-Pugh 1 2 3 Bilirrubina (mg/dL) < 2 2-3 >3 Encefalopatia Ausente Grau I e II Grau III e IV Albumina (g/dL) >3,5 2,8-3,5 < 2,8 TAP (INR) < 1,7 1,7-2,3 >2,3 Ascite Ausente Leve Moderada · Grau A: 5-6 pontos · Grau B: 7-9 pontos · Grau C: ≥ 10 2- Classificação de Meld · É feito a partir de uma conta · Itens avaliados: bilirrubina, INR e creatinina · Muito utilizado para organizar a fila de transplante hepático 2. Causas Fígado é “vida”. V: vírus B/C I: infiltração gordurosa – álcool ou não-álcool D: depósito – cobre (Wilson), ferro (hemocromatose) A: autoimune – colangite biliar primária, hepatite 2.1 Doença Hepática Gordurosa Alcóolica a) Limites seguros do consumo etílico e abuso de álcool · Homem: 21 U/semana · Mulher: 14 U/semana · Questionários para abuso de álcool: CAGE e AUDIT · Laboratório: parâmetros que se modificam com o abuso de álcool = aumento expressivo da GGT e aumento do VCM 1 lata = 1,7 U b) Tipos de lesão hepática 1- Esteatose alcóolica: pode acontecer com qualquer libação 2- Hepatite alcóolica: libação no bebedor crônico – esse paciente tem enzimas extremamente competentes, mas quando houver libação elas fazem a metabolização rapidamente e intensa, levando a rápida fabricação de acetaldeído – tóxico para o fígado. · Hepatite: febre, icterícia, dor, TGO > TGP (AST > ALT) – não costuma passar de 400 · Leucocitose: reação leucemoide – o acetaldeído faz uma quimiotaxia neutrofílica · Tratamento: abstinência (pilar central) e se caso grave (índice de Maddrey ≥ 32) corticoide por 4 semanas com prednisolona (para que ela tenha sua ação efetiva anti-inflamatória, ela precisa ser convertida de prednisona em prednisolona. Então, é recomendado já dar a prednisolona ao paciente). 3- Cirrose alcóolica: bebedor crônico 2.2 Doença Hepática Gordurosa Não-Alcóolica Esteatose esteato-hepatite (NASH) cirrose a) Aspectos gerais · Prevalência: 20% da população – a maioria desconhece que tem · Grande associação com síndrome metabólica: grandes obesos com resistência insulínica triglicerídeos acumulados no fígado pela dificuldade de utilizar a glicose como fonte de energia, utilizando alternativamente a gordura b) Manifestações clínicas · Maioria é assintomático · Dor em alguns casos · Aumento das transaminases: TGP > TGO c) Diagnóstico · Excluir outras etiologias de hepatopatia: é um diagnóstico de exclusão · Imagem: em geral USG – só detecta esteatose (não é específico) · Indício de cirrose hepática: biópsia d) Tratamento · Adequação do estilo de vida é obrigatório: dieta + exercício / glitazona / vitamina E · Glitazonas: pode ser utilizada para reduzir a resistência insulínica · Vitamina E: para pacientes não diabéticos, há redução de radicais livres 2.3 Doença de Wilson a) Fisiopatologia · Mutação genética que se expressa no fígado e que atrapalha a excreção hepática de cobre · Há acúmulo de cobre no organismo = deposição de cobre nos tecidos · Consequentemente há: aumento do cobre e redução da ceruloplasmina Se há uma dificuldade na excreção do cobre, há dificuldade de fabricação de ceruloplasmina. b) Manifestações clínicas · Doença hepática: aguda / crônica / cirrose · Neurológicas: deposição de cobre em gânglios da base, levando a alterações de movimento – pessoas com dificuldade de aprendizado/concentração · Anel de Kayser-Fleisher: depósito de cobre na parte mais periférica da íris – lâmpada de fenda c) Diagnóstico · Dosagem cobre urinário ou cobre do parênquima hepático (biópsia) d) Tratamento · Quelante: trientina · Transplante: cura – fígado novo sem a mutação genética 2.4 Hemocromatose a) Fisiopatologia · Mutação no gene HFE: esse gene é responsável pela organização da absorção intestinal de ferro · A mutação faz com que o indivíduo absorva muito mais ferro do que o necessário = acúmulo e depósito de ferro corporal b) Manifestações clínicas · Laboratório: saturação de transferrina e ferritina aumentados · 6H: hepatopatia / hiperglicemia (depósito de ferro no pâncreas) / hiperpigmentação / heart (IC) / hipogonadismo / hartrite · “Diabetes bronzeado” c) Diagnóstico · Teste genético: mutação C282Y d) Tratamento · Flebotomia: sessões de sangrias = retirada de sangue buscando atingir ferritina em torno de 50 ng/mL · Se houver hepatopatia mais grave: transplante (não cura) – a alteração genética se expressa no intestino!!! Então, se trocar o fígado não acaba com a doença 2.5 Colangite Biliar Primária · 90-85% são mulheres entre 40-60 anos · Fisiopatologia: anticorpos IgM que atacam o ducto biliar do espaço porta, levando a inflamação da via biliar e consequente acúmulo de bile no fígado – um dos componentes da bile é o sal biliar, que é tóxico para o hepatócito, levando a uma agressão crônica = cirrose (desfecho tardio) a) Manifestações clínicas · Muitas pacientes são assintomáticas · Prurido pelo acúmulo de sal biliar (típica) · Xantelasma: acúmulos cutâneos de partículas de gordura · Icterícia · Associação com Sjögren e tireoiditede Hashimoto b) Diagnóstico · Aumento da fosfatase alcalina · Anticorpo antimitocôndria (AMA) c) Tratamento · Ácido ursodesoxicólico: sal biliar não-tóxico – esse sal biliar chega ao fígado e o mesmo para de produzir o sal biliar tóxico para o organismo, postergando a evolução da doença / ação anti-inflamatória · Transplante hepático 2.6 Hepatite Autoimune · Fisiopatologia: agressão autoimune ao fígado com anticorpos IgG · Tipo 1: FAN, antimúsculo liso · Tipo 2: anti-LKM1 a) Manifestações clínicas · O paciente pode ser assintomático · Doença hepática: aguda / crônica / cirrose b) Tratamento · Prednisona + azatioprina
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