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MEDCURSO: Reumatologia 18/03/2020 Aula 1: Introdução a Reumatologia e Artrites idiopáticas 1. Introdução As artrites idiopáticas são condições sistêmicas idiopáticas com MARCO articular, sendo essas a artrite reumatoide, espondilite anquilosante, artrite reativa e artrite psoriásica. 2. Artrite Reumatoide · Doença incomum na prática médica · Mais comum em mulheres de meia-idade (35-55 anos) portadoras de HLA-DR4 2.1 Fisiopatologia É uma patologia idiopática, que “surge porque surge”. Há uma participação imunológica, mas isso não justifica a fisiopatologia em sua totalidade. a) Participação imunológica Existem 2 anticorpos muito importantes na artrite reumatoide, o fator reumatoide e o anti-CCP (é muito específico para a AR) que frequentemente estão presentes nessa patologia. Sabe-se hoje que certamente existem fatores genéticos e imunológicos, mas não se sabe o gatilho para que a doença se inicie. Existem também especulações de que existam fatores ambientais. · Fator reumatoide: positivo em 70-80% dos pacientes e é um anticorpo do tipo IgM contra IgG “self” – ou seja, é um anticorpo que tem como alvo de ataque um anticorpo IgG da própria paciente. Pesquisa pelos métodos de Látex e Waaler-Rose. · Anti-CCP (peptídeo citrulinado cíclico): alta especificidade (98-99%). b) Sinóvia (ossos longos) O local da articulação que encontra-se envolvido na AR é a sinóvia, que é o revestimento interno das articulações, principalmente daquelas formadas por ossos longos. As interfalangianas, por exemplo, são exemplos. A AR é uma sinovite crônica, no entanto, é um processo inflamatório completamente único e que não para de acontecer. A sinovite crônica leva à destruição óssea e cartilaginosa, levando a uma deformidade articular. esse processo é mais marcante nas pequenas articulações periféricas – “mão, pé, punho e pronto”. 2.2 Padrão articular · Evolução: insidiosa (ao longo de semanas a meses), aditiva (continua na articulação inicial e surge em outras) e bilateral · Final: Poliartrite simétrica periférica · Detalhe clássico: rigidez matinal > 1 hora – com o passar da manhã, as articulações voltam a ganhar mobilidade (caracteristicamente essa rigidez dura muito tempo). As deformidades da AR Nas mãos Desvio ulnar dos dedos, pescoço de cisne e dedo em abotoadura Nos pés Joelho: cisto de Baker – não é exclusivo de AR (pode se romper e dissecar musculatura de panturrilha, simulando uma TVP) No punho Mão em dorso de camelo (risco de síndrome do túnel do carpo) É muito característico na artrite reumatoide se poupar a interfalangiana distal da artrite – pode deformar, mas não apresenta os sinais da artrite (edema, vermelhidão, calor). · Exceção central: Pescoço – muito raro e grave · C1 x C2: subluxação atlanto-axial · Quadro que começa com dor cervical, que pode evoluir com a subluxação atlanto-axial – a C1 começa a deslizar sobre C2 · MUITO grave: a pessoa pode complicar com compressão alta da medula 2.3 Quadro clínico · Doença sistêmica com marco articular · Manifestações articulares + extra-articulares Síndrome de Felty: artrite reumatoide + neutropenia + esplenomegalia – alguns casos também cursam com anemia e plaquetopenia, febre, hepatomegalia e/ou adenomegalia. O surgimento das manifestações extra-articulares estão relacionadas aos altos títulos de FR e anti-CCP. Peguei nojo de vascaíno Pe: pericardite (uma das manifestações EA mais comuns) No: nódulos reumatoides (podem surgir em diversos locais) Jo: síndrome de Sjögren (síndrome seca) De: derrame pleural Vas: vasculite (pode ser em qualquer local do corpo) Ca: síndrome de Caplan (AR + pneumoconiose) 2.4 Critérios diagnósticos · Diagnóstico: ≥ 6 pontos O mais importante é saber que dentro dos critérios inclui duração (pontua se ≥ 6 semanas), inflamação (VHS / PCR aumentados), articulações e sorologia (FR / anti-CCP: altos títulos pontua 3 pontos). 2.5 Tratamento a) Drogas sintomáticas Drogas capazes de aliviar rapidamente queixas de artrite, aliviando sintomas mais agudos. · AINE · Corticoide em doses baixas b) Drogas que alteram a evolução da doença Postergam o aparecimento de deformidades articulares, são drogas de altíssima importância, mas demoram de semanas a meses para fazer efeito. Ainda são organizadas de acordo com seu mecanismo de ação. 1- DARMDs: drogas antirreumáticas modificadoras de doença As principais DARMDs são metotrexato, sulfassalazina, cloroquina, leflunomida. O metotrexato é a droga de escolha para o início de tratamento, sendo mais explorada nas questões de prova. · Cuidados a serem tomados: hepatotoxicidade, carência de ácido fólico (anemia megaloblástica) · Atualmente a prescrição do metotrexato é feita juntamente com ácido fólico 2- Drogas biológicas Podem ser separadas de acordo com o seu mecanismo de ação. · Inibidor de TNF-alfa: infliximab, etanercept – TNF-alfa é uma citocina inflamatória · Não-inibidor de TNF-alfa: rituximab (anti-CD20) Essas drogas não chegam a ser absolutamente imunossupressoras, mas são imunomodularas. Elas inibem alguma característica imune do indivíduo. Um grande cuidado que se deve ter ANTES de prescrever um inibidor de TNF-alfa é pesquisar um foco latente de tuberculose (PPD), pois esses medicamentos são capazes de causar reativação de tuberculose latente pelo seu mecanismo imunomodulador. 3. Artrite idiopática juvenil 3.1 Aspectos importantes · < 16 anos com artrite ≥ 6 semanas · Há 3 formas principais: pauciartricular (≤ 4 articulações), doença de Still (forma sistêmica) e forma poliarticular (> 4 articulações) a) Forma pauciarticular É uma patologia que envolve mais o sexo feminino e nesse caso as de pouca idade. · Forma mais frequente · Meninas ≤ 4 anos · FR costuma ser negativo · Se FAN (+): risco aumentado de uveíte anterior – encaminhar criança com AIJ com FAN positivo para o oftalmo b) Forma poliarticular · FR pode ser positivo ou negativo – quando positivo se assemelha a artrite reumatoide do adulto · Se FAN (+): risco aumentado de uveíte anterior c) Doença de Still É comum que crianças e adolescentes que apresentem essa forma tenham febre alta diária, o que é muito característica. · Adenomegalia generalizada · Rash salmão · Artrite · Hepatoesplenomegalia Existe a doença de Still do adulto, só que nesse caso o paciente terá > 16 anos. 4. Artropatias soronegativas São chamadas de artropatias soronagativas porque o fator reumatoide é negativo. Dentro deste grupo temos 3 doenças, que incluem espondilite anquilosante, artrite reativa e artrite psoriásica. Essas doenças possuem algumas características em comum: · Ausência do fator reumatoide · Presença do HLA-B27 · Lesão nas ênteses – local do osso onde se inserem ligamentos e tendões 4.1 Espondilite anquilosante a) Aspectos gerais É uma doença de fisiopatologia não muito bem conhecida, sendo idiopática. O território mais acometido no organismo é o esqueleto axial – quadril (sacroilíaca) e coluna. É uma entenesite calcificante crônica ascendente com marco inicial de lesão sacroilíaca. · Idiopática · Acometimento mais frequente de quadril e coluna · Há uma calcificação ascendente do esqueleto axial: sempre começa na base do esqueleto axial, sobe para coluna lombar, para coluna torácica e cervical – é como se houvesse uma fusão do esqueleto axial · Formação de pontes ósseas, chamadas de sindesmófitos Depois que a doença se estabelece completamente, a coluna como um todo se assemelha a um fêmur, pois parece um único osso – chamamos de coluna em bambu. b) Quadro clínico · Geralmente quem tem essa doença são homens jovens · Homem jovem (<45 anos) com lombalgia: · Insidiosa · Crônica (> 3 meses) · Inflamatória: piora com repouso (rigidez matinal) e melhora com exercício / uso da articulação – característica mais importante Com o passar do tempo, com a calcificação ascendente, o paciente assume a postura do esquiador:há redução da lordose lombar e acentuação da cifose cervical. Exames diante um paciente com caso suspeito: solicitar VHS, PCR e RM de sacroilíacas. Manifestações extra-articulares · Uveíte anterior: é a mais comum · Insuficiência aórtica c) Tratamento 1- Fisioterapia 2- Drogas · AINEs · Refratário: inibidor TNF-alfa 4.2 Artrite reativa a) Fisiopatologia Os pacientes que desenvolvem a artrite reativa tem uma infecção bacteriana que não está na articulação. · Intestinal: Shigella, Salmonella... · Genital (uretrite / cervicite): Chlamydia trachomatis – quando a artrite é proveniente de uma infecção do trato genital, é chamada de Síndrome de Reiter A pessoa monta uma resposta imune contra a bactéria e de uma forma desconhecida, essa mesma resposta também reage contra a articulação. b) Padrão articular · Oligoartrite periférica de grandes articulações: tornozelo e joelho são as mais comuns · É assimétrica c) Síndrome de Reiter · Tríade: artrite, uretrite e conjuntivite · Outros sinais associados: dactilite (dedo em salsicha), ceratoderma blenorrágico (lesões queratinizadas em palmas e plantas), balanite circinada (inflamação da glande peniana) e uveíte anterior · Diagnóstico: clínico · Tratamento: sintomático (AINE) e a bactéria (ATB)!! · Prognóstico: geralmente bom 4.3 Artrite psoriásica Classicamente apresentada em pacientes com psoríase, sejam eles com lesões (eritemato-descamativa), sejam com lesões apenas ungueais (depressões puntiformes, por exemplo). a) Formas clínicas Não podemos esquecer que em todos esses casos haverá alguma manifestação de psoríase. · Poliartrite simétrica: lembra AR · Artrite axial: lembra espondilite anquilosante · Oligoartrite assimétrica: lembra Reiter · Artrite das interfalangianas distais: isso acontece com frequência na artrite psoriásica · Artrite mutilante: destruição funcional estética grave – “dedo em telescópio” b) Tratamento · 1º passo: AINE · 2º passo: se AINE não adiantar, DARMD · 3º passo: se nenhum funcionar, anti-TNF alfa
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