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Racismo e Anti-Racismo no Brasil Antonio Sérgio Alfredo Guimarães Antonio Sérgio Alfredo Guimarães 2 Possui graduação (1972) e mestrado (1982) em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia, e doutorado em Sociologia pela University of Wisconsin - Madison (1988). “Mas tanto a extrema transparência quanto a completa invisibilidade das raças se fundamentam, hoje em dia, numa mesma concepção realista de ciência e numa mesma atitude de repulsa , ao menos discursiva, ao racismo.” 3 “ 4 OPOSIÇÃO AO CONCEITO DE RAÇAS X UTILIZAÇÃO DO TERMO Teorias biológicas sobre raças são recentes; Datam do século XlX as teorias poligenistas nas quais a palavra “raça” passou a ser a ser usada no sentido de tipo, designando espécies de seres humanos distintas tanto fisicamente, tanto em termos de capacidade mental. (BANTON, 1994) 5 6 Pós Segunda Guerra Mundial Hiernaux (1965) “Raça” é um conceito taxonômico de limitado alcance, podendo ser substituído pela noção de “população”. Chamem-se de esses grupos de “raças” ou “populações”, a diversidade genética no interior dos mesmos não difere significamente, daquela encontrada em grupos distintos. Assim, nenhum padrão sistemático de traços humanos –exceção o grupo sanguíneo- pode ser atribuído a diferenças biológicas. 7 No pós guerra os cientistas sociais passaram a considerar raça um grupo de pessoas que, em uma sociedade, é socialmente definido como diferente de outros grupos em virtude de certas diferenças físicas reais ou putativas. 8 “Etnicidade é um aspecto das relações sociais entre agentes que se consideram culturalmente distintos dos membros de outros grupos com os quais eles mantem um mínimo de interação cultural regular. Ela é uma identidade social, caracterizada por parentesco metafórico ou fictício” THOMAS ERIKSEN(1993) 9 “ John Rex Campos das relações raciais “Uma situação de diferenciação, desigualdade e pluralismo entre grupos; a possibilidade de distinguir, de modo preciso, esses grupos pela sua aparência física, sua cultura ou, apenas pela sua ancestralidade; a justificativa e explicação de tal discriminação em termos de alguma teoria implícita ou explícita, muitas vezes, mas sempre, de tipo biológica” 10 PARA UMA DEFINIÇÃO MAIS PRECISA Racialismo Kwame Anthony Appiah: Doutrina segundo a qual “há características hereditárias, partilhadas por membros de nossa espécie, que nos permitem dividi-la num pequeno número de raças, de tal modo que todos os membros de uma raça partilhem entre si certos traços e tendências que não são partilhados com membros de nenhuma outra raça. 11 A NOÇÃO DE RACISMO E O PROCESSO DE NATURALIZAÇÃO 12 “ O racismo, no sentido moderno do termo, não começa necessariamente quando se fala da superioridade fisiológica ou cultural de uma raça sobre outra; ele começa quando se faz a (pretensa) superioridade cultural de um grupo (...) dependente da sua (pretensa) superioridade fisiológica.” -Christian Delacampagne, 1990 13 “ As hierarquias sociais justificadas pela ordem natural 14 Pobres: falta de virtudes, sentimentos e valores nobres Mulheres: característica do sexo feminino Negros: moral e intelectualmente incapazes para a civilização Características físicas são melhores para demarcar um “reino endodeterminado”, mas outras delimitações como vocabulário, sotaque e gramática podem ser igualmente eficazes. NATURALIZAÇÃO Relações de dominação 15 Racismo extrínseco: discriminação baseada na crença de que os membros de raças diferentes se distinguem em certos aspectos que autorizam um tratamento diferencial Racismo intrínseco: “racismo defensivo” ou “racismo anti-racista” 16 17 RETEORIZANDO O RACISMO 1970: Definição sociológica de raça era insuficiente para distinguir todas as formas de hierarquização social A ideia de raça encontra-se empiricamente ausente para se usar o termo “racismo” hoje. Designação de tais práticas discriminatórias por termos mais específicos, como “sexismo”, “etnicismo”, etc. 18 RACISMO NO BRASIL: A SUPERAÇÃO DE UM TABU Brasileiros se imaginam numa democracia racial “O Brasil pode ser descrito como uma sociedade em que a classe muitas vezes prevalece sobre a cor” - Pierre van der Berghe A MUTAÇÃO DO RACISMO NO BRASIL Racismo Brasileiro Três grandes processos históricos: Formação da nação brasileira; Ideia de “raça” e conceitos de hierarquia; Transformações socioeconômicas e seus efeitos regionais. 20 A origem da nacionalidade brasileira suprimiram sentimentos étnicos, raciais e comunitários. Nesse contexto nacional, o racismo brasileiro só poderia ser heterofóbico. 21 Século XIX : Pensamento racista brasileiro era explícito e tinha como base o chamado "racismo científico“ Essa doutrina baseava-se, segundo Thomas Skidmore no pressuposto da superioridade branca. 22 ! Segundo Skidmore, formulou-se uma solução própria para o “problema negro” O núcleo desse racialismo era a idéia de que o sangue branco purificava, para que os mestiços se elevassem ao estágio civilizado. 23 A ideia de "embranquecimento" foi elaborada por um orgulho nacional ferido, assaltado por dúvidas e desconfianças a respeito do seu gênio industrial, econômico e civilizatório. 24 . Gilberto Freyre e outros pesquisadores da antropologia social, decretaram a morte desse racismo explícito do final do século XIX. Examinaram suas ideias na perspectiva crítica da MUTAÇÃO DO RACISMO BRASILEIRO. 25 Observação das novas mudanças no sentimento de nacionalidade... Nova geração de brasileiros, descendentes de migrantes na região Sul e Sudeste; As tradicionais áreas culturais da Bahia, Pernambuco e Minas Gerais permaneciam quase que intocadas na sua composição racial; 26 Na verdade, a tese do embranquecimento foi apenas adaptada aos cânones da Antropologia Social, passando a significar a mobilidade ascensional dos mestiços na hierarquia social. 27 Embranquecimento" e "democracia racial" são pois conceitos de um novo discurso racialista . 28 O núcleo racista desses conceitos acredita que a cor das pessoas assim como seus costumes são portanto índices do valor positivo ou negativo dessas "raças". 29 O que é ser brasileiro? Escrevendo em 1955 acerca das "elites de cor na Bahia", cidade onde 80% da população tem algum ancestral negro, Thales de Azevedo diz que: A Bahia é a cidade mais europeia do Brasil. Uma das comunidades mais brasileiras de todo o país. Mais importante caldeirão étnico. 30 31 A nacionalidadetípica das elites nordestinas revelam também as tensões por que passa essa nacionalidade como resultado da onda de imigração européia do final do século 32 Os brancos se misturaram racialmente na classe média brasileira; A classe operária paulista já havia se transformado racialmente nos anos 50, através da absorção de imigrantes nordestinos, principalmente negros e mestiços (Andrews, 1991). REDEFINIÇÃO DO RACISMO BRASILEIRO As classes trabalhadoras e à "ralé" brasileira tradicional, marcadamente mestiça, como "baianos", "paraíbas", ou "nordestinos". passaram a ser nesse contexto uma codificação neutra para os "pretos", "mulatos" ou "pardos" das classes subalternas, transformados assim nos alvos principais do "novo racismo" brasileiro 33 34 35 36 Teorizando o racismo e o anti-racismo Teorizando o racismo e o anti-racismo 37 Sociedade brasileira: Nasceu como um projeto elitista e não como resultados de lutas populares, a nacionalidade não estendeu o imaginário da cidadania a todos os brasileiros. Os índios e os negros excluídos desde sempre da cidadania, pelo processo mesmo de sua emancipação que os transformou numa subclasse. Teorizando o racismo e o anti-racismo 38 O racismo heterofóbico tem sua origem pré-republicana. A palavra "africano" foi o primeiro termo a designar o outro racial, o diferente absoluto. Quando já não havia mais africanos, mas apenas crioulos, "crioulos" e "negros" e depois "pretos" passaram sucessivamente a designar a africanidade. 39 Foi como Florestan Fernandes (1965) chamou o processo racialista. Emprego dos termos "preto" ou "negro“ para significar uma subclasse marcada pela subalternidade. Metamorfose do escravo 40 Esse tipo de racismo se reproduz pelo jogo contraditório: 41 Uma cidadania definida de modo amplo e garantida por direitos formais, mas largamente ignorados, não cumpridos e estruturalmente limitados pela pobreza e pela violência policial cotidiana. São distâncias sociais criadas por diferenças enormes de renda, de educação e pelas desigualdades sociais que separam brancos de negros, ricos de pobres, nordestinos de sulistas, que o racismo se perpetua. Constituição cidadã? O racismo brasileiro: 42 Sem cara, travestido em roupas ilustradas, universalista, tratando-se a si mesmo como anti-racismo. Para esse racismo, o racista é aquele que separa, não o que nega ou diminui a humanidade de outrem. O ideal de democracia racial é um mito fundador da nacionalidade brasileira, ouve-se sempre o contra-argumento de que o racismo no Brasil é suave. Isso se deve à relativa conformidade da população negra e à ausência de mecanismos legais de desigualdade e discriminação. O desafio mais crítico para aqueles que lutam contra o racismo: 43 É convencer a opinião pública do caráter sistemático e não-casual dessas desigualdades. População carcerária; Saúde publica; Instituições educacionais O anti-racismo Percepção racializada de si mesmo e dos outros; Reconstrução da negritude a partir da rica herança Africana; Apropriar do legado cultural e político do "Atlântico negro“;; Reidentificação dos negros; “Racismo invertido" 44 A RETOMADA DO CONCEITO DE RAÇA 45 46 DEMOCRACIA RACIAL 47 Movimento anti-racialista dos anos 30 Desmoralizador do racismo Falta de políticas públicas Ideologia que negava a existência do racismo 48 Racismo como uma construção social “Ideia biológica errônea , porém eficaz para manter e reproduzir diferenças e privilégios”. 49 Satre – Orfeu Negro “Não se pode lutar contra o que achamos que não existe” 50 Raça e seu papel de classificar e identificar Discriminação sistemática , desigualdade de tratamento e de oportunidade entre grupos de cor 51 Final dos anos 70, Nelson do Valle Silva e Carlos Hasenbalg problematizaram o fenômeno das crescentes desigualdades sociais entre brancoas e negros nos EUA. Estudos das desigualdades raciais Preconceito e discriminação racial reforçam a situação de desvantagem dos negros Lugar do negro no mercado de trabalho Sistema educacional legitima a noção de mérito próprio 52 53 54 Racismo de “brincadeira” A MUDANÇA DE AGENDA DO ANTIRRACISMO OCIDENTAL Modelos sociais de racismo: BRASIL: EQUIDADE JURÍDICA E INDIFERENCIAÇÃO FORMAL EUA: JIM CROW 55 OPOSTOS? Programa antirracista ocidental X antirracismo popular Raça: caráter biológico X Social O racismo era encoberto pelo discurso classista e racial 56 PÓS-GUERRA Defesa da raça não cientificista, biologicista JIM CROW E ARPATHEID OBS: NÃO ATENTAVA PRA O SOCIAL 57 MOVIMENTO DOS DIREITOS CIVIS Desigualdades passam a ser percebidas pelo social Ex: imigração do “terceiro mundo” para a Europa 58 RAÇA E COR BRASIL: PRECONCEITO DE COR ( NÃO RACIAL) O SANGUE NÃO É FATOR RACISTA Para Florestan Fernandes: trata-se de discriminação em que a cor é vista como fato objetivo e a raça como conceito abstrato e científico 59 RACISMO NO PARAÍSO RACIAL A origem étnica e racial era esquecida – cidadania dependia da naturalidade e não da ancestralidade PORÉM... HÁ UMA ORDEM HIERÁRQUICA INFLUENCIADA PELA COR, STATUS, CLASSE, ORIGEM FAMILIAR preconceito racial 60 BRANCO E O NEGRO BRASILEIRO BRANCO Mestiços e mulatos claros Europeidade BRANCO 61 O não-europeu Graus de mestiçagem determinavam a posição social NEGRO
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