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1
Sexta-feira efim de-semana 10, lle 12 de'aqóstode 2012 Valot
mpl IIIIINsae
i QDC 5- V~1L _~GO,)~e,tv\\'~ 1-v~~1.~~~~ 2..d-l.
-IChetou anofa de mudar
i
-1------------
: ;iFelipe Salto
comum ouvir os econo-
mistas tecerem críticas à
qualidade da política fis-
cal e, em particular, à
composição das despesas públi-
cas. Com razão, o que os críticos
têm constatado é que a despesa
com pessoal do governo federal
vem se mantendo, nos últimos
15 anos, ao redor de 4,5% do PIB,
enquanto os investimentos per-
manecem, hoje, no nível de 1%
do PIB.Épreciso, entretanto, pas-
sar da crítica à proposta e mos-
trar como seria possível promo-
ver alterações justas, social e eco-
nomicamente, para a questão.
A política fiscal não é simples-
mente mais um eixo da política
macroeconômica, isto é, um me-
ro instrumento para injetar ou
reduzir pressões sobre a econo-
mia, através do gasto, ou auxiliar
o Banco Central na tarefa de pro-
mover o controle inflacionário.
Essas são funções cruciais, mas o
lado fiscal de uma economia vai
além disso. Em verdade, pode ser
visto como o esteio de todo o
conjunto de decisões políticas,
sociais e econômicas em uma so-
ciedade democrática. Trata-se de
algo muito maior do queo "aper-
tar botões" empreendido por bu-
rocratas e políticos de dentro de
seus gabinetes em Brasília.
Em verdade, a política fiscal é a
parte da economia que trata do
gasto público, isto é, dos benefí-
cios que a boa utilização do di-
nheiro arrecadado da sociedade
pode proporcionar à nação. Des-
sa forma, a grande beleza das fi-
nanças públicas está justamente
neste ponto: a arte de equacionar
receitas e despesas em prol da
execução eficiente e plena dos
objetivos definidos pela socieda-
de, por meio de seus represen-
tantes eleitos, responsáveis por
elaborar novas regras e por exe-
cutar as já consolidadas.
Nas palavras do professor Luiz
Carlos Bresser-Pereira: "o Estado
é a ordem jurídica ou o sistema
constitucional-legal e a organi-
zação que o garante". De outra
forma, o Estado é o conjunto de
regras definidas socialmente so-
madas aos políticos e burocratas,
que, juntos, são responsáveis pe~
10 planejamento, elaboração e
execução das políticas públicas.
A saúde, a educação, os transpor-
tes, a segurança, o meio ambien-
, te, a garantia dos direitos civis,
políticos e sociais, a preservação
da ordem e tantos outros temas
que ,poderiam ser registrados,
aqui, são os objetivos de umEsta-
do republicano e democrático.
ideia é fixar limites
anuais para o aumento
real da despesa com
pessoal, tendo em vista
a previsão para o PIB
É nesse contexto que se insere a
proposta de controle do cresci-
mento dos gastos com o funciona-
lismo público. Na contramão das
medidas que o Congresso vem de-
fendendo, como a extinção do teto
para o salário do funcionalismo, a
proposta visa ampliar o potencial
de crescimento do país ao longo
dos próximos anos.
A sugestão é simples de expli-
car, mas difícil de ser aprovada,
porque depende do esforço que
o Executivo estaria disposto a
empenhar para convencer o Le-
gislativo de sua importância. Isto
é, depende da posição que uma
proposta como esta ocupa no
ranking de prioridades do gover-
no. Hoje, sabemos que ela não fi-
gura no topo desta lista.
Vamos, entretanto, a ela. Atual-
mente, a despesa com pessoal eu-
. contra-se estacionada em 4,5%do
Plls,enquanto os investimentos se-
guem em 1%do Pffi.A sugestão é
de que se fixem limites anuais para
o crescimento da despesa com pes-
soal, em termos reais, tendo em
vista a dinâmica prevista para o
pm. Na prática, o governo teria de
colocar, no Plano Plurianual (o
PPA),elaborado sempre para qua-
tro anos, contados a partir do se-
gundo ano do mandato do presi-
dente da'República, e na Leide Di-
retrizes Orçamentárias (a IDO),
uma regra fixando um limite má-
ximo para o crescimento da referi-
da despesa. Isto é, se o governo pre-
visse um crescimento médio de 3%
para os próximos quatro anos, fi-
caria a despesa com pessoal limita -
da a um crescimento de 1,5%ao
ano. Esta regra simples traria enor-
mes benefícios para o investimen-
to e para o crescimento potencial.
Salário do funcionali!
Sobre o artigo "Radiografia
lários do funcionalismo pül
publicado em 7/8, é oportu:
lembrar que em dezembro
____________ ~ .2009 o Instituto de Pesquis:
..nômica Aplicada (Ipea)já h
alertado que esse tipo dean
salários do setor do público
salários no setor privado-
ser feito com cuidado. Asra
para a cautela seriam, denn
tras: nlU~'C1tJP ~.ç ;n.cHt:n;cíipc,~
Haveria maior espaço, ano
após ano, no orçamento federal,
para a execução de despesas
com infraestrutura, que acelera-
riam e teriam seu patamar (em
relação ao PIB) aumentado. De
outro lado, a despesa com pes-
soal continuaria a crescer, em
termos nominais e reais. Este
crescimento, no entanto, seria
inferior ao da economia.' Have-
ria, assim, um arcabouço institu-
cional mais eficiente, baseado
no estímulo ao investimento e
na contenção do.crescimento da
máquina pública, com limites
efetivos à concessão de reajustes
salariais e benesses semelhantes.
Na época do ministro Paulo
Bernardo (atual Ministro das Co-
municações), ainda no governo
Lula, chegou-se a cogitar a possi-
bilidade de implementar uma re-
gra parecida com esta. Contudo,
a ideia perdeu força, rapidamen-
te, e hoje sequer é considerada
nos vários anúncios dos inócuos
pacotes governamentais. Che-
gou a hora de mudar.
Felipe Salto é professor do Master in
Business Economics da Escola de
Economia da FGV-SP e analista na área
de macrceconornia da Tendências
Consultoria
Frase do dia
"Se apenas
enfocarmost
déficit, não
chegaremos.
lugar alqurn'
JOsé~hStiglitz, No~1de
Economia,diz que o problen
fun~entaJ não éo .
endividamentodo governo
ameritallo: Nos últimos ano:
déficit orçamentário foi Cé1Il
pelo crescimento baixo. Se f
crescimento haverácrescin
e o déficit se reduzirá.
Cartas de
Leitores
Quarta-feira, 22 de-
~.Ot\-~- .).5&~lD~0-- 226\~/~
No limiar e novo ciclo
Thomás Tosta de Sã
crise econômica mun-
dial, que se agravou a
partir da crise finan-
ceira de 2008, está afe-
tando a economia brasileira com
uma intensidade maior do que se
imaginava inicialmente.
A resposta do governo brasi-
leiro adotando medidas de estí-
mulo ao consumo com o aumen-
to do crédito e redução de im-
postos, com o aumento dos gas-
tos do governo e financiamento
de longo prazo das empresas,
com aportes do Tesouro para ca-
pitalização do BNDES,surtiu um
efeito positivo de curto prazo fa-
zendo com que a economia bra-
sileira apresentasse em 2010,
ano de eleições presidenciais, seu
mais elevado crescimento do PIB,
7,5%,nos últimos 20 anos.
O modelo se esgotou e novos
rumos deverão ser traçados para
corrigir o ritmo de crescimento
do PIBde 2,7%em 2011 e prova-
velmente menos de 2%em 2012.
O crescimento econômico das
nações só é sustentável com o au-
mento da produtividade dos fa-
tores de produção.
Ocapital intelectual sóaumenta
sua produtividade por meio da
educação aplicada à inovação. O
capital.6.nanceiro,com a alocação
eficienteda poupança por meio do
mercado M' capitais e os recursos
naturais com seu uso inteligente,
embenefício do serhumano.
Se durante o século passado o
crescimento da economia mun-
dial foi liderado pelas economias
desenvolvidas, acredita-se que
nas próximas décadas o cresci-
mento será impulsionado pelos
países emergentes.
Para que o Brasil tenha um pa-
pel relevante nesse processo, será
necessáriorever seumodelo calca-
do em consumo egastos de gover-
no.Investimentos sociaisterão que
substituir gastos sociais como
prioridade da política governa-
mental. Hoje,a carga tributária de
quase 40%do PIBé usada para fi-
nanciar gastos correntes dos quais
os benefícios previdenciários re-
presentam quase 12%do PIB.
Mas os investimentos do go-
verno federal são inferiores a 2%
do PIB num país que tem uma
enorme demanda por investi-
mentos em estradas, ferrovias,
portos, aeroportos, energia, sa-
neamento sem contar os investi-
mentos sociais nas áreas de edu-
cação, saúde e segurança.
Medidas recentes para corre-
ção dessedesequílíbrio estão
sendo tomadas e a aprovação do
fundo de previdência comple-
mentar do servidor público é um
exemplo da conscientização do
governo sobre o risco do Brasil
não enfrentar o problema previ-
denciârio. Outras reformas na
área da previdência são espera-
das apesar do comportamento
iriesponsável do Congresso que,
em ano eleitoral, acena commais
benefícios sociais.
Naárea de investimentos em in-
fraestrura, o anúncio de uma nova
política de concessõesque abran-
gerá todos ossetores anteriormen-
te mencionados transferindo para
o setor privado a gestão e, princi-
palmente, a captação de recursos,
é um renovado programa de par-
ceria público privada. Nessecená-
rio omercado de capitaispode vol-
tar a desempenhar o papel de
maior .6.nanciadorde longo prazo
das empresas brasileiras.
Em 2007 tivemos 67 IPO's e o
valor de mercado das empresas
cotadas em bolsa atingiu 97%do
PIBeo mercado de capitais con-
tribuiu com cerca de R$ 115 bi-
lhões para o financiamento des-
sas empresas. O BNDES,histori-
camente o maior financiador de
longo prazo no Brasil, aplicou
nesse ano cerca de R$66bilhões.
Desde 2008 modificou-se esse
quadro, com o BNDES,à falta de
outra alternativa, assumindo no-
vamente o papel de grande fi-
nanciador das empresas com to-
das as desvantagens decorrentes.
O resultado é que tivemos ape-
nas quatro, seis e 11 IPO'srespec-
tivamente em 2008, 2009 e 2010.
Omercado de capitais brasileiro,
um dos mais bem regulados do
mundo, deve seu sucesso a um
trabalho permanente de educa-
ção de seus agentes e de fatores
específicos que marcaram seus
dois últimos ciclos desde 1991:
o capital financeiro
poderá ser o principal
responsável pela
retomada gradual do
. desenvolvimento
1991/1997 - uma legislação
flexívelpara entrada dos investi-
dores estrangeiros e o sucesso do
Plano Real que resultou no con-
trole da inflação. Nesseperíodo o
IBovespa teve uma valorização
de quase 3mil % em dólares;
2002/2008 - lançamento do
Novo Mercado, eliminação da
CPMFnas negociações em bolsa,
mudança da lei das S.A.'srestabe-
lecendo direitos de acionistas
minoritários e o lançamento do
Plano Diretor do Mercado de Ca-
------------;-------~----------_ .._----_._---------
pitais pelas entidades do merca-
do e implementado durante o
governo Lula. O índice Bovespa
valorizou-se de 8.300 pontos em
outubro de 2002 para 73.500
pontos até a crise de 2008.
O novo ciclo do mercado de
capitais, que· imaginamos estar
se aproximando, terá como fato-
res determinantes a redução da
taxa de juros e uma nova Estraté-
gia Nacional de Acesso aoMerca-
do de Capitais que encontra-se
em construção para ampliar de
forma significativa o número de
investidores, intermediários e
empresas no mercado.
Compouco mais de 550.000in-
vestidores individuais e de 400
empresas listadas em bolsa o con-
junto de investidores institucio-
nais aplica apenas 17%de seus re-
cursos em açõese 7%em títulos de
dívida das empresas sendo que tí-
tulos públicos e papéis bancários
absorvem 41%e cerca de 30%des-
sesrecursosrespectivamente.
Oaumento deprodutividade do
capital .6.nanceiro resultante do
crescimento do seu mercado de
capitais poderá ser o principal res-
ponsável pela retomada gradual
denovos níveisde seu desenvolvi-
mento econômico esocial.
Thomás Tosta de Sá é presidente
executivo do Ibmec- Instituto Brasileiro
do Mercado de Capitais e ex-presidente
daCVM
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A2 I Valor I Terça-feira, 14 de agosto de 2012
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DOê 1-~lf{YL(.h'1.. 0(P1--l3.~\~
':'<=; " 2-- J-~ ,:::.1'>. D'"'--t'Z.--.rüProjeto· .~
greves do funcionalismo
Antonio Delfim
Netto
censura frequente
aos governos das
últimas duas
décadas é que eles
não têm um
"projeto": faltam medidas
"estruturantes", seja lá o que
isso for. Os críticos ignoram que
desde a Constituição de 1988
(a maioria deles a abomina
por suas "utopias"), o Brasil
tem um "megaprojeto
superestruturante"! Nela, os
legítimos representantes do
povo estabeleceram a
organização social em que
gostariam de viver os
brasileiros.
Que projeto foi estabelecido
na Constituição? Trata-se de
organizar sólidas instituições
que permitam a construção:
1Q ) de uma república, ou
seja, um Estado no qual todos,
inclusive os governos, estão
sujeitos à mesma lei, sob o
controle de um Supremo
Tribunal Federal independente,
que é o "garante" de nossas
liberdades e o controlador da
irresistível indiscrição dos
governos de plantão;
2Q ) de uma democracia, isto
é, um sistema de sufrágio
absolutamente universal (para
maiores de 16 anos) no qual
escolhe-se o poder incumbente
em períodos certos, em eleições
livres organizadas por partidos
e que satisfazem a condição
mínima da democracia:
Governo deve
investir R$IOO bi
nos próximos 5 anos
eleições competitivas cujo
resultado é incerto; e
3Q ) de uma sociedade onde
se caminhe, permanentemente,
. na direção do aumento da
. igualdade de oportunidades.
Em poucas palavras, a
situação final dos indivíduos
deve ser cada vez menos
dependente das circunstâncias
em que foram gerados.
O que alguns veem como a
mais utópica das propostas dá
Constituição de 1988:
educação e saúde
universais e gratuitas
(não por obra dos céus, mas
com recursos fornecidos
proporcionalmente por todos),
é o que há de mais importante
na construção de uma
sociedade razoavelmente
"justa", objetivo fundamental
para dar um mínimo de
moralidade ao mecanismo
do mercado.
Esses são os três vetores cuja
direção todos os governos,
desde 1988, têm seguido, com
resultados razoavelmente
satisfatórios, como provam
recen tes pesquisas
internacionais (Pew Research
Center,]uly 12,2012). Elas
. mostram que os brasileiros
revelaram-se dos mais
satisfeitos e com maior
esperança de que o
futuro será melhor do que o
presente. Estamos
desenvolvendo urna sociedade
onde a liberdade de iniciativa,
a inclusão social e o
respeito às limitações impostas
pela conservação da natureza
estão sendo introjetadas no
comportamento coletivo.
É muito importante
reconhecer que a possibilidade
de sua construção é
condicionada pela qualidade
de sua organização produtiva.
Essa deve ser capaz de
gerar os recursos que
, tornem possível realizá-Ia.
No fundo, só o aumento físico
e a melhoria organizacional da
capacidade produtiva pode
fazê-lo. Isso coloca um dilema:
como administrar os
resultados do processo
produtivo (o PIB) entre o
consumo presente e o
I investimento que aumenta a
· capacidade produtiva e o
consumo no futuro?
Um país como o Brasil precisa
· de um crescimento médio do
PIBda ordem de 5%ao ano e
isso só é sustentável com um
investimento médio da ordem
de 25% do PIB.
· Para conseguir 25% do PIB,
I como investimento, temos de .
poupar (ou importar poupança
externa) no mesmo nível.
A contabilidade nacional é
indiferente à ideologia,
cara feia, passeatas ou ameaças
sindicais! Trata-se de um
problema aritmético.
Por que o Brasil pôde crescer
7,5% ao ano, durante 30 anos
(1948-1980)? Porque
a carga tributária bruta
I era de 24% e o investimento
; público de 4% a 5%.Por que
crescemos nos últimos 30 anos
à média de 2,8% ao ano?
Esqueçamos a "chinoiserie"
enganadora e extravagante:
insegurança jurídica,
falta de instituições, produto
I potencial, intervenção nos -
I mercados, incertezas externas,
I juros, câmbio que podem ter
! alguma responsabilidade.
I A razão fundamental é que
I com uma carga tributária
. bruta de 34% a 35% do PIB,o
investimento público não
chega a 2%dele!
Pois bem. O setor privado
brasileiro continua investindo
mais de 25% de sua renda
líquida (PIBmenos tributação,
nas contas nacionais).
Quem desinveste liquidamente
é o governo! Agora ele se
prepara para dar um passo
avante e acelerar ó
crescimento por meio de
investimentos da ordem'
d~-R'ÚÕÕi;tlh6esnos----
próximos cinco anos, em
projetos de infraestrutura, com
concessões mais bem
estudadas e com taxas de
retorno capazes de atrair,
numa dura competição,
o que há de melhor e
de mais confiável na
engenharia nacional. Eles
elevarão o baixo investimento
no setor sem sobrecarregar o
orçamento federal (no qual
não cabe o que já está lá
dentrol) fazendo crescer a
renda e o consumo
I imediatamente e ampliando a
capacidade produtiva
futura (a produtividade total
da economia) quando
estiverem executados.
O momento exige uma
enorme responsabilidade do
governo, que deve manter
sadias as suas contas para não
pressionar, na frente, a
elevação da taxa de juros pelo
aumento do déficit fiscal e o
I aumento da relação dívida
pública bruta/PIB, que anda em
torno de 65%.Gostemos ou
não, esse é o parãmetro,
seguramente imperfeito, pelo
qual se mede, universalmente
aquela relação que influi no
"risco Brasil" e, no fim, na taxa
de juros real interna.
A presidente Dilma tem
absoluta razão quando diz que
não se pode "brincar com as
finanças públicas". Se
quisermos continuar a crescer
com estabilidade não podemos
transigir com os aumentos
salariais "exigidos" (sic) pelo
funcionalismo sindical. É
preciso que os 196 milhões de
cidadãos "excluídos" apdiern
fortemente, pela palavra
e pela ação, a disposição do
governo de resistir. .
É mais do que claro que o
modelo da Constituição.
não se compadece com
uma república sindicalista e
muito menos ainda, uma
república controlada pelo
sindicalismo público!
Antonio Delfim Netto é professor
emérito da FEA-USP, ex-ministroda
Fazenda, Agricultura e Planejamento.
Escreve às terças-feiras
E-mail
contatodelfímnetto@terra.GOm.br
Terça-feira, 14 dI
'e. •
v"Ç>oc::. 8 -- ÚPrL-o''-~\-......\.u N\\(f-:. ,-
Sustentabilidade da
Yoshiaki Nakano
ara promover a recupe-
ração e a retomada do
crescimento da econo-
mia brasileira, a taxa de
câmbio deve ser competitiva, es-
tável e sustentável. Na atual con-
juntura econômica, essa última
condição é essencial, pois a eco-
nomia foi dominada, nos últi-
mos oito anos, por uma superva-
lorização e estamos agora pa-
gando o "preço" com recessão
na indústria, forte desindustria-
lização e várias distorções, que
precisam ser corrigidas urgente-
mente. Não se trata apenas de
perda de competitividade nos
mercados externos, mas tam-
bém de elevação dos salários
reais e demais custos domésti-
cos, decorrentes indiretamente
da apreciação cambial, que pro-
vocou a invasão no mercado do-
méstico das importações, afe-
tando profundamente o ânimo
dos empresários. Quebrou-se o
que há de mais precioso para a
retomada do processo de desen-
volvimento, "o espírito animal
dos empresários".
A exposição da indústria de
transformação brasileira a uma
competição desleal, com desvalo-
rizações competitivas .do dólar e
de outras moedas asiáticas, "a
guerra cambial", tomou inócuas
as tarifas e demais instrumentos
de política comercial. Isso conta-
minou completamente as expec-
tativas de longo prazo do empre-
sariado, gerando um profundo
desânimo. Não adianta a taxa de
câmbio ser, momentaneamente,
competitiva se os empresários
não acreditarem na sua sustenta-
ção num horizonte longo de tem-
po, pois eles não retomarão os in-
vestimentos produtivos. Para
qualquer decisão de investimen-
to, o empresário precisa estimar
as receitas e as despesas, a partir'
de seus principais determinantes,
para estimar o fluxo de caixa e a
taxa de retomo, considerando
um horizonte temporal de pelo
menos dez anos. Como formar es-
. sas expectativas se a taxa de câm-
bio for volátil, instável e não hou-
ver garantia deque o governo vai
criar. e manter as condições de
sustentabilidade da competitivi-
dade no longo prazo?
Por exemplo, se a taxa de juros
doméstica não for igual à inter-
nacional, a taxa de câmbio não
será sustentável porque esta se
transforma num preço de um ati-
vo financeiro, determinado pelo
fluxo de capitais, sujeito a boorns
de entrada e paradas súbitas. Se
for equalizada por um imposto
regulatôrio de equalização de ta-
xa de juros, o IOF na sua origem,
o fluxo de capitais pode se equili-
brar, mas dado que, em qualquer
economia, temos infinitos tipos
de ativos, portanto infinitas ta-
xas de juros ou retorno, a tarefa é
tão complexa que é eficaz se for
momentânea. A rigor, se a taxa
de juros doméstica for igual à in-
ternacional, a taxa de câmbio se-
rá determinada apenas pelas im-
portações e exportações, e, neste
caso, as flutuações serão mais de
longo prazo e pode trazer equilí-
brio externo e níveis de endivida-
mento externo sustentáveis.
Da mesma forma, a política fis-
cal tem efeito crueial sobre a taxa
de câmbio. Se a política fiscal for
excessivamente expansionista, a
demanda agregada poderá cres-
cer acima da oferta, como tem
acontecido nos últimos anos no
.Brasil, forçando um déficit em
transações correntes e ampliação
excessiva do passivo externo. Se a
política fiscal for deficitária, a dí-
vida pública crescerá, podendo o
governo se tornar insolvente. Em
ambos os casos afetará negativa-
mente as expectativas de longo
prazo, particularmente dos em-
presários que tem que tomar de-
cisões de investimentos, mas an-
tes que se chegue à insolvência, o
mercado financeiro antecipará
os efeitos de uma crise fiscal (in-
flação, tributação adicional, des-
valorização cambial, deságio na
divida pública, etc) retirando ca-
pitais do país e desencadeando
as chamadas-crises cambiais.
Desta forma, seaspolíticas mone-
tária, fiscal e cambial não estiverem
alinhadas e sincronizadas, a taxa de
câmbio não será sustentável.
Sem dúvida nenhuma, a taxa
de câmbio é o preço macroeco-
nôrnico mais importante para
países em desenvolvimento co-
mo o Brasil. As economias em de-
senvolvimento são financeira-
mente vulneráveis (a ataques es-
peculativos, sudden stops, endi-
vidarnento excessivo etc.), tem
"pass through" da taxa de câm-
bio para inflação significativo e
descasamento cambial nos ba-
lanços. Por isso, é objeto de
acompanhamento de qualquer
banco central pragmático.
Éessa taxa que'
influencia o nível geral
de preços, determina o
salário real e, portanto,
.a margem de lucro
De fato, a taxa de câmbio pode
ser a âncora nominal ou desesta-
bilizadora do nível geral de pre-
ços; determina o salário real e,
portanto, a margem de lucro das
empresas, especialmente no se-
tor de tradables; determina no
médio e longo prazos o endivida-
mento externo do país podendo
desencadear crises cambiais; e
por ser um preço relativo, entre
bens e serviços tradables e
não-tradables, determina a alo-
cação de recursos entre eles. Daí
porque a divergência entre o que
os bancos centrais declaram for-
malmente ser o regime cambial
de livre flutuação e sua prática,
de intervenção massiva, como
mostra a literatura sobre "Fear of
Floating" e "Fear of Apprecia-
tion". Nos países em desenvolvi-
mento, mesmo os bancos cen-
trais mais "ortodoxos" acabam
intervindo no mercado cambial,
tanto para evitar as flutuações
excessivas, como a a
preciação excessiva, que tem
sido desestabilizadora com efei-
tos negativos sobre o crescimen-
to econômico.
Para concluir, o que estamos
assistindo nos países em desen-
volvimento é, na prática, uma
crescente intervenção esteriliza-
da no mercado de câmbio, o que
já se tornou convencional. Os
bancos centrais passam a ter duas
metas: a taxa de inflação e a taxa
de câmbio. Para alcançar estas
metas utilizam-se de dois instru-
mentos simétricos: compra e ven-
da de moeda nacional no merca-
do aberto para controlar a taxa de
juros, visando controlar a infla-
ção e, compra e venda de moeda
estrangeira no mercado cambial,
para controlar a taxa de câmbio,
buscando o equilíbrio externo e
desenvolvimento econômico. O
pressuposto é que a taxa de juros
doméstica seja igual à externa em
condições normais. Se a taxa de
juros doméstica· precisar ficar
temporariamente acima da inter-
nacional, o imposto de equaliza-
ção de taxa de juros (IOF) entra
em ação temporariamente.
Yosh.iaki Nakano, ex-secretário da
Fazenda do governo Mário Covas (SPl.
professor e diretor da Escola de
Economia de São Paulo da Fundação
Getulio Vargas - FGV/EESP. escreve
mensalmente às terças-feiras.
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