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1 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Anemias Hemolíticas Introdução O sangue penetra no parênquima esplênico através das arteríolas centrais, passando pela polpa branca, os ramos dessas arteríolas desaguam na polpa vermelha → para voltar à circulação, as células hematológicas devem passar através de fendas endoteliais nos sinusoides esplênicos → as hemácias tem o diâmetro cerca de 4x maior que os dessas fendas → precisam se deformar → suas propriedades viscoelásticas e o formato bicôncavo → os macrófagos presentes no baço tem alta sensibilidade para detectar anormalidades na membrana eritrocítica → fagocitose de hemácias senis (>120 dias) e patológicas. Hemocaterese Hemólise: destruição prematura das hemácias na periferia, reduzindo o seu tempo de meia-vida. Caso o tempo de meia-vida se reduzir para até 20-25 dias, mas a Eritropoiese medular estiver normal, com estoques de ferro, ác. Fólico e B12 preservados → não se instaura anemia → hemólise compensada. Caso esse tempo de meia-vida se reduza a valores inferior a 20 dias, desenvolve-se a anemia. Hemólise Extravascular: as hemácias são destruídas no tecido reticuloendotelial → principalmente no baço. Hemólise Intravascular: as hemácias são destruídas na própria circulação e seu conteúdo é liberado no plasma. Hemólise → anemia → aumento da liberação de eritropoietina → medula óssea → maturação dos eritroblastos → reticulócitos → anemia hiperproliferativa → hiperplasia eritroide. Hemácia lisada → hemoglobina → heme-ferro- protoporfirina → a protoporfirina é transformada em biliverdina → bilirrubina indireta → transportada ao fígado ligada à albumina. Aumento da concentração de bilirrubina na bile → cálculos de bilirrubinato de cálcio → litíase biliar → colecistite aguda → colangite → icterícia acentuada à custa de bilirrubina direta. • Crianças com episódios de crise biliar + cálculos radiopacos → suspeitar de anemia hemolítica hereditária. Crises Anêmicas: Crise Aplásica: quando um fator inibe diretamente a eritropoiese, causando uma anemia grave e sintomática, devido prejuízo nos mecanismos compensatórios. • A principal etiologia da crise aplásica é a infecção pelo parvovírus B19, agente do eritema infeccioso. Ele infecta o pró-eritroblasto tornando-o incapaz de se tornar reticulócito → anemia com reticulopenia. Crise Megaloblástica: aumento da produção de hemácias pela MO → maior necessidade de ferro, folato e B12 → anemia megaloblástica por carência de folato (primeiro a se esgotar) Crise Hiper-Hemolítica: aumento da atividade dos macrófagos → exarcebação da hemólise → anemia súbita + reticulocitose + esplenomegalia. Sequestro Esplênico: ocorre obstrução aguda da rede de drenagem microvascular devido a vaso-oclusão local, culminando em represamento de sangue no interior do órgão. Laboratório da Hemólise: Icterícia Leve Esplenomegalia Hist. familiar positiva de anemia Uso de medicamentos Hemoglobinúria (hemólise intravascular) Desidrogenase Lática (LDH): se encontra elevada devido a liberação dessa enzima do interior das hemácias. A isoforma elevada na hemólise é a LDH-2. Haptoglobina: hemólise → cadeias de globina se ligam à haptoglobina → destruídas no fígado → diminuição dos níveis séricos de haptoglobina. Hemoglobinemia: valores acima de 50mg/dl são sugestivos de hemólise intravascular. Hemossiderinúria: caso a capacidade de ligação da haptoglobina seja excedida a hemoglobina é filtrada pelos rins → a hemoglobina é catabolizada pelas células tubulares → ferro armazenado na hemossiderina e 2 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 ferritina → descamação dessas células → hemossiderina eliminada na urina. Hemoglobinúria: caso haja saturação da hemossiderina dos túbulos renais → hemoglobina filtrada não é absorvida → hemoglobina na urina → urina vermelho-acastanhada. Hemopexina e metemalbumina: a hemoglobina no plasma que não se liga à haptoglobina sofre oxidação → metemoglobina → o heme se liga à proteína hemopexina ou à albumina → metemalbumina → redução dos níveis de hemopexina livre → aumento dos níveis do complexo hemopexina-heme → aumento dos níveis de metemalbumina. Índices Hematimétricos: Anemia Normocítica e Normocrômica, em casos de hemólise grave: Macrocitose. Hematoscopia: Policromatofilia no sangue periférico, Anisocitose e Poiquilocitose. Urobilinogénio urinário e estercobilinogénio fecal aumentados. Anemias Hemolíticas Hereditárias Alterações do Citoesqueleto e Membrana Eritrocítica: Proteínas de sustentação da membrana do eritrócito: o O ancoramento das fibras de espectrina na membrana é feito pela anquirina → essa ligação espectrina-anquirina é reforçada pela proteína 4.2 (palidina)→ a anquirina serve como ponte entre a espectrina e a proteína banda 3 (glicoforina). o A ligação espectrina-actina é reforçada pela proteína 4.1. Defeitos Genéticos das Forças Verticais: espectrina, anquirina, banda 3 e proteína 4.2 → esferocitose hereditária. Defeitos genéticos das forças horizontais: espectrina, actina, proteína 4.1 → eliptocitose hereditária e suas variantes. Esferocitose Hereditária • Doença autossômica dominante em 80% dos casos e autossômica recessiva em 20% dos casos. • Prevalência de 20/100.000 nos caucasoides. • Deficiências em graus variados das proteínas do citoesqueleto: espectrina (10% dos casos), anquirina (40-50%), banda 3 (20%) ou proteína 4.2. • A deficiência de anquirina acarreta uma deficiência secundária de espectrina. Deficiência da espectrina no citoesqueleto eritrocitário → perda da superfície em relação ao volume → esferócito → não consegue se deformar e passar pelas fendas sinusoidais → maior tempo em contato com os macrófagos → perda de pequenos pedaços da membrana → microesferócito → parte deles é destruída no baço → hemólise crônica. • Eritroestase: ocorre a queda da glicose e do pH, e o aumento de oxidantes favorece a hemólise. Clínica: • Grau de anemia geralmente é moderado. • Geralmente é descoberta durante a investigação de uma criança com esplenomegalia. Anemia leve a moderada Microcitose ou normocitose HIPERCRÔMICA Microesferócitos e reticulócitos periféricos Icterícia discreta Esplenomegalia Litíase biliar por cálculo de bilirrubinato de cálcio Crise aplásica Diagnóstico: Anemia Hemolítica Hereditária Reticulócitos e microesferócitos periféricos Teste de Coombs direto negativo Análise de DNA para mutação de proteínas Teste de Fragilidade Osmótica positivo Os microesferócitos por terem uma área de superfície pequena em relação ao volume eritrocítico → alta sensibilidade à hipo-osmolaridade. 3 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 Tratamento: Esplenectomia: remoção do principal sítio de hemólise, prevenindo a anemia e as complicações. Suplementação de Ácido Fólico: evitar a crise megaloblástica. Eliptocitose Hereditária • Doença autossômica dominante. • Distúrbio da síntese da espectrina ou da proteína 4.1. • A maioria dos pacientes são assintomáticos, apresentando hemólise leve, não acompanhada de anemia e esplenomegalia. • Sangue periférico: ovalócitos e eliptócitos. • Casos que evoluem com episódios hemolíticos frequentes e graves → esplenectomia. Piropoiquilocitose Hereditária • Doença autossômica recessiva muito rara. • Defeito na síntese de espectrina. • Anemia hemolítica grave + poiquilócitos bizarros + hemácias fragmentadas no sangue periférico. • Anemia microcítica. Estomatocitose Hereditária • Doença autossômica dominante. • Há grande influxo de água e sódio para o interior da hemácia → hemácia edemaciada → redução de sua hemoglobina corpuscular média • Estomatócito: hemácia com área de palidez central semelhante a uma boca. • Anemia hemolítica + esplenomegalia. • A esplenectomia deve ser evitada devido à ocorrência de eventos tromboembólicosgraves Defeitos Enzimáticos: O ATP tem como função manter a Na-K-ATPase funcionante, e regenerar os lipídios de membrana. A via glicolítica é responsável pela síntese do ATP, e a via do NADPH transforma o NADP em NADPH, este regenera o glutation intracitoplasmático, que faz parte do sistema tampão que protege a célula contra o estresse oxidativo. Deficiência de G6PD • Deficiência da enzima Glicose-6-fostato desidrogenase (G6PD). • É comum em todo o mundo, afetando cerca de 200 milhões de pessoas. • Doença de herança recessiva ligada ao X. • Ocorre deficiência na proteção da hemoglobina e da membrana da hemácia aos radicais livres derivados do oxigênio → hemólise. • Estresse oxidativo (infecção) → ativação de neutrófilos → produção de radicais livres → crise hemolítica. • Alguns medicamentos podem causar estresse. Medicamentos PROIBIDOS: Dapsona, fenazopiridina, primaquina, nitrofurantoína, azul de metileno, azul de toluideno e rasbuicase. EVITAR: sulfonamidas, ácido nalidíxico, naftaleno. • Desnaturação oxidativa da cadeia de globina → precipitados intracelulares de hemoglobina desnaturada → corpúsculos de Heinz → se ligam a membrana eritrocítica → formação de neoantígenos → ligação com autoanticorpos IgG → nos cordões esplênicos os macrófagos retiram os corpúsculos de Heinz → células mordidas e células bolhosas. • O paciente apresenta hemólise intravascular aguda + febre + lombalgia + palidez + icterícia → precipitada por infecção ou droga → se instala de 2-4 dias após. • Hemoglobinúria → necrose tubular aguda → insuficiência renal aguda oligúrica. • Dosagem da atividade da G6PD. Deficiência de Piruvato Quinase • Doença autossômica recessiva. • Redução na produção de ATP, resultando em disfunção da membrana por não renovação de lipídios. • Grau de hemólise variável + icterícia e esplenomegalia desde a infância. 4 Beatriz Almeida – Medicina UFCG Turma 78 • Sangue Periférico: eritrócitos bizarros e múltiplos equinócitos (hemácias crenadas). • Teste de fragilidade osmóstica negativo. Anemias Hemolíticas Adquiridas Hemólise extravascular: Anemia Hemolótica Autoimune Ocorre ligação de anticorpos e componentes do complemento à membrana da hemácia → opsonização. O componente C3b do sistema complemento opsoniza as hemácias e se ligam a macrófago esplênicos e hepáticos. • AHAI por anticorpos quentes: ligação com anticorpos IgG em temperatura corpórea (37º). Os anticorpos IgG são fracos ativadores do sistema complemento. • AHAI por anticorpos frios: ligação com anticorpos IgM em baixas temperaturas (0 a 10º). Os anticorpos IgM não são agente opsonizantes, mas são potentes ativadores do sistema complemento. Quadro Clínico: palidez, adinamia, astenia, sopro sistólico, taquicardia, falência cardíaca, tonturas, intolerância ao esforço. Icterícia + esplenomegalia. Diagnóstico: anemia nprmocítica e normocrômica, reticulocitose, aumento de DHL, policromasia, hemaglutinação, esferócitos, Teste de Coombs direto positivo. AHAI por IgG – Anticorpos Quentes • Os anticorpos IgG são habitualmente dirigidos contra antígenos do sistema Rh, e o principal local de hemólise é o baço, pois os macrófagos esplênicos são ricos em receptores para IgG de alta afinidade. Possíveis causas: idiopática (50%), alfametildopa, lúpus eritematoso sistêmico, leucemia linfocítica crônica e linfomas não Hodgkin. • A forma idiopática é mais frequente em mulheres, na faixa etária dos 50-60 anos. • Quadro clínico varia de assintomático e sem anemia até episódios hemolíticos agudos graves (fulminantes), com anemia profunda, insuficiência cardíaca congestiva e colapso vascular. • Icterícia de instalação aguda + esplenomegalia discreta nos casos graves. • Na criança os episódios seguem quadros virais respiratórios, com início de forma repentina e severa. • As plaquetas e os neutrófilos também podem ser atacados pelos autoanticorpos. • Síndrome de Evans: púrpura trombocitopênica autoimune + AHAI por IgG. • Anemia de variada intensidade + reticulocitose + VCM normal ou aumentado + DHL aumentada. • Sangue periférico: microesferócitos e reticulócitos. • Teste de Coombs Direto positivo: identifica a presença de anticorpos ou complemento ligados à superfície das hemácias do paciente. • Tratamento: glicocorticoides (prednisona), pulsoterapia (metilprednisolona), imunoglobulina, imunossupressão (azatioprina, danazol), anticorpo monoclonal (rituximabe), ácido fólico.
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