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Constitucionalismos

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CONSTITUCIONALISMOS 
 
 
O termo constitucionalismo designa a existência de uma constituição nos Estados , 
independentemente do momento histórico ou do regime político adotado. No sentido 
moderno da expressão, a Constituição surgiu apenas a partir das Guerras Religiosas 
dos séculos XVI e XVII, contudo, todos os Estados sempre possuíram uma norma 
básica que legitimava o poder soberano - podendo essa ser expressa, ou tácita. 
No sentido mais restrito, tradicionalmente o "constitucionalismo" está associado ao 
princípio da separação dos poderes (Kant e Montesquieu), e à garantia de direitos 
(instrumento de limitação do exercício do poder estatal para a proteção das 
liberdades fundamentais). 
Nicola Matteucci define o constitucionalismo como uma técnica de liberdade , ou 
seja, a técnica jurídica por meio da qual os direitos fundamentais são garantidos em 
face do Estado . 
O constitucionalismo faz oposição ao absolutismo , uma vez que estabelece 
mecanismos de desconcentração do exercício do poder, visando impedir o seu uso 
arbitrário e assegurar os ideais de liberdade 
Karl Loewenstein aponta que a história do constitucionalismo consiste na busca pelo 
homem político das limitações do poder absoluto exercido pelos detentores do 
poder. Já Charles Howard McIlwain cita a limitação do governo pelo direito como 
principal característica do constitucionalismo. 
O constitucionalismo pode ainda ser categorizado por suas fases marcantes. 
 
Constitucionalismo antigo 
Compreende o período entre a Antiguidade e o fim do século XVIII . As experiências 
constitucionais de maior destaque foram do Estado hebreu, da Grécia, de Roma e 
da Inglaterra. A primeira experiência constitucional noticiada ocorreu na Antiguidade 
clássica; tratava-se de estabelecer os limites do poder político na organização 
estatal . 
Para estruturar seu Estado, os hebreus adotaram constituições baseadas em 
convicções da comunidade e em costumes nacionais. Até mesmo os dogmas 
religiosos consagrados na Bíblia serviam como limites ao poder do soberano: a 
sociedade estava sujeita a autoridade divina e os direitos sofriam forte influência da 
religião. As normas supremas eram estabelecidas pelos chefes familiares ou pelos 
líderes dos clãs, considerados representantes dos deuses na terra. 
O constitucionalismo praticado por povos primitivos pode ser caracterizado pela 
existência de leis não escritas ao lado dos costumes, forte influência da religião, 
predomínio dos meios de constrangimento para assegurar o respeito aos padrões de 
FERNANDA CAUS PRADO TEORIA CONSTITUCIONAL 
17 
 
conduta da comunidade, tendência de julgar os litígios de acordo com as soluções 
dadas a conflitos semelhantes. 
Na Grécia , durante dois séculos, houve um Estado político plenamente 
constitucional, no qual o modelo de governo era a democracia constitucional. Para 
os gregos, as formas de governo constitucionais eram aquelas em que o poder não 
estivesse legibus solutus , mas fosse limitado pela lei. 
A experiência grega reflete uma conjunção entre uma experiência institucional 
extremamente variada e um teorizar idôneo e desenvolvido. As principais 
características do constitucionalismo nesse período foram a inexistência de 
constituições escritas, a prevalência da supremacia do Parlamento, a possibilidade 
de modificação das proclamações constitucionais por atos legislativos ordinários, e a 
irresponsabilidade governamental dos detentores do poder. 
Já em Roma , o termo constitutio (constituição) era utilizado desde a época do 
Imperador Adriano, contudo, o sentido divergia do sentido moderno: designava 
determinadas normas editadas pelos imperadores romanos com valor de lei. A 
experiência romana foi uma espécie de retrospecto da ocorrida na Grécia, com 
ampliações. A democracia romana forneceu verdadeiros modelos conceituais, tais 
como “ principado ” e “ res publica ”. 
Por fim, a Inglaterra tem destaque no que concerne ao constitucionalismo, 
simbolizada muitas vezes pelo Parlamento. A experiência constitucional do país se 
centraliza no princípio de Rule of Law . Durante a Idade Média, as formas 
participativas eram vetadas e os governantes tinham poder absoluto: nesse 
contexto, o constitucionalismo ressurge como movimento de conquista das 
liberdades. 
A Revolução Inglesa (1688) pretendia manter e reforçar direitos e privilégios. O 
governo apenas se subordinou ao direito na Inglaterra em decorrência da 
independência dos juízes em relação ao poder político, bem como pela 
particularidade do direito inglês de considerar os precedentes judiciais e os 
princípios gerais do direito contidos no common law como um direito do qual os 
juízes são responsáveis pela guarda e manutenção. 
É válido citar a Magna Charta Libertatum (1215) e a Petition of Rights (1628), bem 
como o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights (1689) e o Act of Settlement 
(1701) como sendo pactos celebrados que reconheceram a primizadia das 
liberdades públicas contra o abuso de poder. 
As principais características do constitucionalismo na Idade Média são a supremacia 
do Parlamento; a monarquia parlamentar; a responsabilidade parlamentar do 
governo; a independência do Poder Judiciário; a carência de um sistema formal de 
direito administrativo; e a importância das convenções constitucionais. 
 
 
FERNANDA CAUS PRADO TEORIA CONSTITUCIONAL 
18 
 
Constitucionalismo moderno 
Compreende o período entre as revoluções liberais do fim do século XVIII e a 
promulgação das constituições pós-bélicas (segunda metade do século XX). Tal fase 
é apontada por muitos como o verdadeiro marco inicial do constitucionalismo. Dois 
modelos de constituição surgem nesse contexto: as liberais e as sociais. 
O atual estágio de formalização das Constituições foi alcançado no fim do século 
XVIII, visto que surgiram as primeiras constituições escritas, rígidas, orientadas 
pelos conhecimentos teórico-científicos. 
Denominou-se como primeira geração dos direitos fundamentais os direitos civis e 
políticos consagrados nos textos constitucionais, atrelada ao valor da liberdade. 
 
Experiência estadunidense 
Nos Estados Unidos da América, a experiência constitucional se pautou nos 
pensamentos de Locke (individualismo e liberalismo)e de Montesquieu (limitação do 
poder ). 
A publicação da Virginia Bill of Rights (12 de junho de 1776) e da Constitution of 
Virginia (29 de junho de 1776) formalizou a decisão política de rompimento com o 
poder central inglês. Pouco depois, em 1777, foi ratificado o Articles of 
Confederation and Perpetual Union , instrumento de governo da aliança formada 
pelos treze Estados independentes. Tal documento seria substituído em 1787 pela 
atual Constituição dos Estados Unidos . 
A contribuição estadunidense está ligada às ideias de supremacia da constituição e 
sua garantia jurisdicional . A Constituição está situada em um plano juridicamente 
superior aos três poderes, e sua função consiste em dizer quem, como e até onde 
manda. 
Os principais pontos a serem citados acerca dessa experiência são a elaboração da 
primeira constituição escrita e dotada de rigidez (1787); a ideia de supremacia 
constitucional; a instituição do controle judicial de constitucionalidade (1803); a 
consagração da forma federativa de Estado; a criação do sistema presidencialista; a 
adoção da forma republicana de governo e do regime político democrático; a rígida 
separação e o equilíbrio entre os poderes estatais; o fortalecimento do Poder 
Judiciário; e a declaração de direitos humanos. 
 
Experiência francesa 
Antes do surgimento do movimento constitucionalista francês, a sociedade francesa 
era extremamente estratificada: nobreza (Primeiro Estado), clero (Segundo Estado) 
e povo (Terceiro Estado) eram as três classes sociais. A Revolução Francesa teve 
como objetivo destruir o Antigo Regime. 
FERNANDA CAUS PRADO TEORIA CONSTITUCIONAL 
19 
 
A constituição escrita foi utilizada como uma arma ideológica contra o Antigo regime 
e o absolutismo , buscando instaurar um governo moderado, distante de abusos. 
Os principais traços do constitucionalismo francês são a garantia dos direitos e a 
separação dos poderes . Nesse sentido, estabelecia o artigo 16 da Declaração 
Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão: 
Art. 16.º A sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos nem 
estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. 
A constituição é entendida como um projeto político destinado a promover uma 
transformação política e social e que, não se limita a estabelecer as regras do jogo, 
mas participa diretamente do jogo condicionando decisões coletivas sobre questões 
como o modelo econômico e a ação do Estado em diversas esferas . 
Enquanto o modelo estadunidense originariamente tinha apenas sete artigos, o texto 
da Constituição francesa de 1793 era composto por quatrocentos e dois artigos. 
Dentre as características da experiência francesa, destacam-se a manutenção da 
monarquia constitucional; a limitação dos poderes do Rei; a consagração do 
princípio da separação dos poderes, ainda que sem o rigor com que foi adotado nos 
EUA; e a distinção entre Poder constituinte originário e derivado. 
Também é válido pontuar que a França teve várias Constituições no fim do século 
XVIII, sendo elas: 
Primeira constituição escrita do país , período monárquico, redigida pela 
Assembleia Nacional Constituinte de 1789 e promulgada em 3 de setembro 
de 1791, tendo como preâmbulo a Declaração Universal dos Direitos do 
Homem e do Cidadão. 
Constituição Girondina , proposta em fevereiro de 1793. 
Constituição Jacobina , adotada em 24 de junho do mesmo ano, mas 
revogada logo em seguida. 
Constituição do Diretório , adota em 22 de agosto de 1795, resultante de um 
compromisso entre os monarquistas e os jacobinos mais moderados. 
De 13 de dezembro de 1799 , que conferia o governo a um triunvirato 
composto por três cônsules presididos por Napoleão. 
De 1802 , que nomeava Napoleão Cônsul vitalício (Senatoconsulto). 
De 1804 , que criou o Império (1804 a 1814). 
 
Constituições sociais 
Pouco antes do fim da Primeira Guerra Mundial, em decorrência das profundas 
mudanças na estrutura dos direitos fundamentais e do Estado de direito , surgiu um 
novo modelo de Constituição. 
FERNANDA CAUS PRADO TEORIA CONSTITUCIONAL 
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Em um cenário de empobrecimento das classes operárias, desigualdades sociais e 
crise econômica, iniciou-se uma crise do regime liberal. Com inúmeras demandas 
sociais emergindo, o direito passou a desempenhar um papel a fim de promover o 
bem comum . Questões existenciais, até então restritas ao âmbito individual, foram 
assumidas pelo Estado: surge a noção de Estado social. 
A Constituição mexicana de 1917 foi a primeira a incluir direitos trabalhistas entre os 
direitos fundamentais. Na Europa, a partir da segunda década do século XX, se 
inicia uma fase de grande intensidade política, na qual surgem constituições 
democráticas, raras até então. O documento constitucional de maior destaque foi a 
Constituição de Weimar (Primeira República Alemã, 1919), consolidando a 
democracia social. 
O objetivo da constituição deixou de ser unicamente organizar os poderes e garantir 
direitos, passando a abranger a representação dos princípios fundamentais 
colocados pelo poder constituinte na base da convivência civil . 
A crise do liberalismo e a crise econômica do pós-guerra, geradoras de 
desigualdade social, tiveram como reação a consagração de direitos sociais e 
econômicos, direitos fundamentais de segunda geração (ou dimensão) ligados ao 
valor igualdade. Nesse período também surge o controle de constitucionalidade 
centrado no tribunal constitucional. 
 
Constitucionalismo contemporâneo 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, inúmeras mudanças atingiram o 
constitucionalismo, especialmente na Europa. Tal período ficou conhecido como 
neoconstitucionalismo . 
Tais transformações foram em parte ocasionadas pela perplexidade gerada após o 
nazismo: surge a consciência coletiva sobre a necessidade de proteção da pessoa 
humana . A dignidade da pessoa humana passou a ser reconhecida como o núcleo 
central do constitucionalismo contemporâneo , dos direitos fundamentais e do Estado 
constitucional democrático. Essa noção tornou-se praticamente um “consenso 
teórico universal”. 
Os textos constitucionais das últimas décadas, com o intuito de proteger e promover 
a dignidade da pessoa humanae erigir a sociedade a patamares mais elevados de 
civilidade e respeito recíproco, consagraram outros grupos de direitos fundamentais. 
Aqui surgem os direitos de terceira (direitos ligados à fraternidade), quarta 
(democracia, informação e pluralismo) e até quinta geração (direito à paz). 
Buscando suprir as deficiências e consolidar as conquistas dos modelos de Estado 
liberal e social surge o Estado democrático de direito , cujas notas distintivas são o 
princípio da soberania popular e a preocupação com a efetividade dos direitos 
fundamentais. 
 
FERNANDA CAUS PRADO TEORIA CONSTITUCIONAL 
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