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MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves TROMBOEMBOLISMO PULMONAR DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, CLASSIFICAÇÃO, FATORES DE RISCO, FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, DIAGNÓSTICO E ESTRATIFICAÇÃO DEFINIÇÃO A trombose venosa profunda (TVP) e o tromboembolismo pulmonar (TEP) fazem parte do espectro da mesma doença, que é o tromboembolismo venoso (TEV). A embolia pulmonar é definida como: Obstrução da artéria pulmonar ou seus ramos pela impactação de 1 ou mais êmbolos. Ocorre como consequência de um trombo, formado no sistema venoso profundo, que se desprende e, atravessando as cavidades direitas do coração, obstrui a artéria pulmonar ou 1 de seus ramos Aqui falará do tromboembolismo pulmonar, mas existe também: Embolismo aéreo, gorduroso, tumoral e mais raramente de outros materiais, como o metacrilato. Os principais sítios de origem do TEP são as: Veias pélvicas, poplíteas, femorais comum e femorais superficial. Cerca de 30 a 40% dos pacientes com TVP apresentam TEP concomitante, mesmo em pacientes sem sintomas de embolia. Por outro lado, apenas 30% dos pacientes com TEP apresentam TVP, embora esse número seja próximo a 70% em pacientes hospitalizados. EPIDEMIOLOGIA A TEP é a 3ª maior causa de doença cardiovascular no mundo, com 75 a 269 casos para cada 100.000 habitantes. É mais comum em homens com >70 anos de idade, em quem a incidência pode chegar a 700 casos a cada 100.000 habitantes/ano. No Brasil os dados são escassos e provavelmente subnotificados. O DATASUS registrou 7.412 óbitos por embolia pulmonar no ano de 2016. Acredita que esse número seja muito maior, por ser uma patologia de difícil diagnóstico clínico, pois pode ter desde paciente assintomático até como parada cardiorrespiratória. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves A gravidade dos casos de TEP é dependente de sua apresentação hemodinâmica. Pacientes hemodinamicamente instáveis representam 4 a 5% dos casos, mas têm taxa de letalidade de até 45%. Pacientes com TEP, hemodinamicamente estáveis, <50 anos e s/ outras doenças têm taxa de letalidade < 1%. CLASSIFICAÇÃO Os episódios de TEV podem ser classificados em: NÃO PROVOCADOS TEP não provocados representam 20% dos casos, e a probabilidade de ter trombofilia associada é maior. PROVOCADOS A maioria dos TEP provocados ocorrem por fatores precipitantes de tempo limitado, como: Cirurgia ou imobilidade temporária de um membro; ou por Fator precipitante persistente. Outros precipitantes incluem: Infecção; Doença crônica; Doenças ou condições que impedem o fluxo sanguíneo venoso; Uso de estrogênio e gravidez; ou Fase puerperal inicial. A!! Os pacientes com TEP não provocados têm 15% de chance de recidiva em 1 ano, em comparação com 5% para aqueles com episódio provocado. A mortalidade de TEP provocado em 1 ano é mais alta, provavelmente por refletir o impacto de uma comorbidade associada, como uma neoplasia maligna. FATORES DE RISCO A presença de fatores de risco para o TEV é a condição inicial para o estabelecimento de elevada suspeita clínica e, também, para realização de adequada profilaxia. Dentre os fatores de risco, estão: Desordens de coagulação (trombofilias): Deficiência de antitrombina; deficiência de proteínas C e S; resistência à proteína C (fator V Leiden); desfibrinogenemia; anticorpo antifosfolipídio/antiocardiolipina; mutação da protrombina; desordens do plasminogênio. Idade > a 40 anos; História de TVP e reicidivas; Associação de imobilização prolongada e o TEV: situações clínicas ou cirúrgicas restringem a movimentação, com perda da bomba muscular, produzindo estase venosa nos MMII; Viagens aéreas, com maior prevalência em casos de maiores distâncias percorridas; ICC e DPOC; Acidente vascular encefálico; Pacientes submetidos à cirurgia abdominal ou pélvica; Estrogênios: método de anticoncepção ou como terapia de reposição hormonal; Fraturas de bacia ou de MMII; Neoplasia de pâncreas, pulmão e TGI; Gravidez e o puerpério; Tabagismo. A!! A investigação das trombofilias deve ser feita em jovens com diagnóstico de TEV, naqueles com história familiar de trombose e nos casos de recorrência da trombose. Os principais tipos de trombofilia são a/o: Deficiência da proteína C e S; Resistência a proteína C (fator V Leiden); Deficiência de antitrombina III; Mutação da protrombina; Anticorpo antifosfolipídio/antiocardiolipina; Desfibrinogenemias; e Desordens do plasminogênio. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: fatores de risco para tromboembolismo pulmonar Legenda: fatores de risco para TEV FISIOPATOLOGIA A TEP ocorre devido à presença de algum dos elementos da TRÍADE DE VIRCHOW, que inclui: Lesão endotelial; Estase sanguínea; e Hipercoagulabilidade. A correlação entre o grau de obstrução vascular pulmonar inicial e a evolução clínica do TEP é ruim, mas: Pacientes sem doença cardíaca ou pulmonar prévia geralmente começam a apresentar sintomas com obstrução de 20% da vasculatura pulmonar. Com maior carga de coágulos e consequente obstrução, a pressão arterial pulmonar e a resistência vascular pulmonar aumentam: Levando a dilatação ventricular direita, redução da pré-carga para o ventrículo esquerdo e lesão miocárdica, causando a liberação de troponina e peptídeo natriurético tipo B. A dilatação ou lesão do ventrículo direito, evidenciada na TC de tórax ou no ecocardiograma, ou sugerida pela elevação da troponina ou do peptídeo natriurético tipo B, indica: Insuficiência cardíaca direita e aumento do risco de choque circulatório e de morte; A!! O aumento de troponina é associado com aumento de risco de morte de 5,2 a 5,9 vezes. Os dois principais mecanismos de morte por TEP são a/o: Oclusão abrupta da artéria pulmonar; e Efeito isquêmico no sistema de condução de His-Purkinje. Aproximadamente um terço dos sobreviventes de grandes TEP apresentam: MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Disfunção cardíaca direita persistente; e Sintomas graves. A!! Cerca de 5% evoluem com hipertensão pulmonar crônica e dispneia incapacitante. Anatomicamente, o TEP “em sela” ou “a cavaleiro” indica um: Trombo alojado na bifurcação da artéria pulmonar, implicando maior instabilidade hemodinâmica e mortalidade. Se o trombo se alojar em ramos cada vez mais distantes da artéria pulmonar, o TEP será classificado como: Lobar, segmentar ou subsegmentar, de acordo com a localização anatômica. A!! Isso terá implicação no tratamento e prognóstico do paciente. CLASSIFICAÇÃO HEMODINÂMICA Já de acordo com a classificação hemodinâmica, os pacientes podem se apresentar instáveis ou estáveis hemodinamicamente. PACIENTES INSTÁVEIS – TEP MACIÇO Caracteriza-se por: Hipotensão arterial manifesta com PAS <90 mmHg; ou Queda da PAS em mais de 40 mmHg do basal, por um tempo >15 minutos; ou ainda Hipotensão com necessidade de uso de inotrópicos, desde que a instabilidade não seja justificada por outro fator. PACIENTES ESTÁVEIS – TEP SUBMACIÇO O paciente estável hemodinamicamente é aquele que não preenche os critérios de instabilidade. Nesse grupo há uma heterogeneidade na gravidade da doença e nos sintomas, que compreende desde: Pacientes assintomáticos; até Pacientes com PA limítrofe e disfunção de ventrículo direito. A!! Esses conceitos são muito importantes para definir a investigação diagnóstica, o tratamento e prognóstico do paciente. QUADRO CLÍNICO Os achados clínicos são extremamente variáveis, com pacientes se apresentando desde: Pouco sintomáticos até hemodinamicamenteinstáveis. Pacientes com embolizações semelhantes podem ter apresentações clínicas drasticamente diferentes por diversos fatores. Legenda: fatores modificadores da apresentação e evolução de pacientes com TEP A!! Os sinais e sintomas dependem da localização e tamanho do trombo e do estado cardiorrespiratório prévio do paciente. A tríade clássica do TEP ocorre na minoria dos casos: DISPNEIA Sintoma mais frequentemente descrito, relatado em 80% dos casos, mas com dispneia em repouso ocorrendo em apenas 50% dos pacientes. DOR TORÁCICA PLEURÍTICA Embora até metade dos pacientes diagnosticados com TEP não apresentem essa queixa, que usualmente tem caráter: Pleurítico: quando o trombo é periférico, próximo a pleura, por inflamação dessa região; ou Subesternal, simulando uma síndrome coronariana aguda: por sobrecarga aguda e/ou isquemia do ventrículo direito. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves HEMOPTISE Pode estar presente quando ocorre infarto pulmonar: Quando as artérias brônquicas não são capazes de promover circulação colateral para o segmento pulmonar não perfundido. ________________________________________ O infarto pulmonar nos segmentos basais do pulmão pode se manifestar como: Dor referida no ombro; ou Dor que pode ser similar a cólica ureteral. A!! Ainda pode produzir estertores sobre o segmento pulmonar afetado. Além dos sintomas comuns de dor torácica e de dispneia, cerca de 1 a 2% dos pacientes apresentam sintomas neurológicos, como: Convulsão ou confusão mental; e Síncope em outros 17%. Como cerca de 20% das pessoas têm forame oval patente, o TEP que aumenta as pressões do coração direito pode levar ao: Fluxo de material trombótico direita- esquerda nos átrios, e embolização para circulação cerebral, produzindo sintomas semelhantes ao AVC. No exame físico, achados de TVP como: Edema assimétrico de MMII devem ser pesquisados. Também pode estar presente achados sugestivos de hipertensão pulmonar como: B2 hiperfonética; e Sopro em foco tricúspide. Sugerem estresse cardiorrespiratório agudo sinais vitais anormais, como: Taquicardia; Taquipneia; Pulso fino; ↓ saturação de O2 na oximetria; às vezes Febre baixa. O TEP não altera os sinais vitais de forma previsível e cerca da metade dos pacientes com TEP comprovado têm: FC < 100 batimentos/min no momento do diagnóstico; e Um terço tem sinais vitais anormais que se normalizam ainda no DE. As alterações dos sinais vitais ocorrem devido à: Presença do coágulo; e Obstrução ao fluxo sanguíneo. Juntos estimulam as fibras eferentes adrenérgicas para o coração e causam distúrbio ventilação-perfusão pulmonar. A presença de instabilidade hemodinâmica deve ser detectada precocemente e define o subgrupo de maior mortalidade. PAS < 90 mmHg; ou Queda de mais de 40 mmHg da PAS por um período >15 minutos. Por volta de 10% dos pacientes com EP apresentam temperatura > 38°C e < 2% dos pacientes com EP têm temperatura > 39,0°C. A maioria dos pacientes com TEP têm pulmões limpos na ausculta. Sibilos ou estertores bilaterais tornam possível um diagnóstico alternativo de broncoespasmo ou de pneumonia, mas não excluem TEP. ________________________________________ ACHADOS CLÍNICOS NAS EMBOLIAS PEQUENAS (SUBMACIÇAS) Dor torácica e dor pleurítica; Dispneia e tosse; Taquipneia e taquicardia; Hemoptise / hemoptóicos; Febre e cianose. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves ACHADOS CLÍNICOS NAS EMBOLIAS GRANDES (MACIÇAS) Síncope; Hipotensão arterial / choque; Taquicardia; Dispneia; Cianose. Legenda: sinais e sintomas em pacientes com tromboembolismo pulmonar confirmado na chegada ao departamento de emergência EXAMES COMPLEMENTARES E DIAGNÓSTICO OXIMETRIA DE PULSO E GASOMETRIA ARTERIAL A oximetria de pulso e a gasometria arterial devem ser colhidas para: Avaliação dos pacientes com suspeita de TEP. A oximetria de pulso média é menor em pacientes com TEP do que em pacientes sem TEP. Embora possa ser normal mesmo em pacientes com a doença. Da mesma forma, a pressão parcial média de oxigênio no sangue arterial (PaO2) é menor, e o gradiente alvéolo-arterial é aumentado em pacientes com TEP embora possa ser normal em 20% dos casos. A pressão arterial parcial de CO2 (PaCO2) é geralmente baixa, refletindo um: Aumento de 20 a 50% na ventilação minuto para compensar a perda de eficiência pulmonar secundária ao aumento do espaço morto. Os pacientes apresentam gasometria normal em cerca de 30% dos casos. A!! A gasometria deve orientar a necessidade de oxigenioterapia suplementar e de ventilação mecânica em pacientes instáveis. D-DÍMERO Coágulos de sangue contêm fibrina, que é degradada naturalmente através da ação da plasmina, e a degradação da fibrina libera a proteína D-dímero no sangue. O D-dímero é o principal exame para excluir TEV, pois apresentam alta sensibilidade e baixa especificidade para o diagnóstico. Há diferentes métodos para mensurar o D- dímero: Aglutinação pelo látex: realizado à beira do leito, mas com sensibilidade inadequada para uso no DE. Simpli-RED: teste de aglutinação qualitativo com hemácias. Realizado à beira do leito. Resultado negativo em paciente com baixa probabilidade pré- teste tem alto valor preditivo negativo para excluir TEV. ELISA: teste recomendado para uso no Departamento de Emergência, com alto valor preditivo negativo. As principais características são sensibilidade > 95% e especificidade de 35 a 45%. A!! A baixa especificidade do D-dímero não permite seu uso exclusivo para o diagnóstico de TEV, tornando necessária a realização de outros exames para a confirmação do diagnóstico. Situações em que a especificidade do D-dímero é muito baixa (até <10%), e raramente são úteis: MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Pacientes internados; Pós-operatório; Idosos (> 75 anos); e Evento trombótico/sangramento recentes. O D-dímero pode aumentar em outras situações com formação de fibrina no espaço vascular ou com reabsorção de produtos de degradação do espaço extravascular. Legenda: causas de elevação do D-dímero O algoritmo YEARS permite excluir TEP com D-dimero <1.000 µg/mL em pacientes sem nenhum dos seguintes achados: Sinais clínicos de TVP; Hemoptise; TEP não é a principal hipótese diagnóstica. A!! Esse algoritmo reduz em 19% a necessidade de realização de TC (reduzindo exposição à radiação), mas requer que todos os pacientes realizem dosagem de D-dímero. ELETROCARDIOGRAMA (ECG) Deve ser realizado em todos os pacientes com suspeita de TEP, embora os achados sejam, em geral, inespecíficos. Os achados mais comuns do ECG são: Taquicardia e inversão de onda T em V1 e V4 (cada um presente em 38% dos casos); Alterações de segmento ST em V1 a V4; bloqueio incompleto do ramo direito; e o Achado clássico, mas incomum, de S1- Q3-T3, em 10 a 15% dos pacientes. A!! Esses achados significam elevação de pressões em câmaras direitas. Em alguns casos, essas alterações podem ser crônicas e não ter relação com o quadro agudo do paciente. RADIOGRAFIA DE TÓRAX Pacientes com TEP podem ter radiografia de tórax com 1 ou mais anormalidades, incluindo: Cardiomegalia; Atelectasia basal; e Infiltrado ou derrame pleural. A!! Todos os achados são inespecíficos para EP. Em < 5% dos pacientes existe: Sinal de Westermark: área em forma de cunha de oligoemia pulmonar, geralmente significa obstrução completa da artéria lobar; ou Sinal de Hampton: opacificação periférica em formato de cúpula, indica infarto pulmonar; Sinalde Palla: dilatação da artéria pulmonar; Sinal de Fleichner: artéria pulmonar central distendida. Legenda: alterações encontradas na radiografia torácica em pacientes com tromboembolismo pulmonar ANGIOTOMOGRAFIA DE TÓRAX A angiotomografia computadorizada é a modalidade de imagem mais comum para o diagnóstico de TEP, capaz de identificar um: Coágulo como um defeito de enchimento das artérias pulmonares com contraste. A!! Equipamentos com mais detectores (p. ex., scanners com 64 ou 128 detectores) permitem melhor resolução e observação de defeitos de enchimento em artérias pulmonares subsegmentares. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves A sensibilidade diagnóstica e a especificidade de uma angiotomografia computadorizada adequada são > 90%. A maioria dos protocolos exige que o: Paciente fique em decúbito dorsal e prenda a respiração por alguns segundos. Na maioria dos centros, o paciente deve ter um cateter IV periférico (calibre 20 ou maior) ou uma linha fixa aprovada para permitir a injeção do contraste, e o cateter central não pode ser usado para injeção. A!! Anafilaxia ou edema pulmonar desencadeados por contraste, com risco de vida, são muito raros, ocorrendo em cerca de 1 em 1.000 pacientes. Além do reconhecimento do coágulo, a angiotomografia computadorizada pode detectar diagnósticos alternativos, como: Pneumonia (8% a 22% dos casos). A concordância interobservador na identificação de defeitos de preenchimento segmentar ou maior é alta, mas a concordância para coágulos subsegmentares não tem a mesma performance. Cerca de 10% das tomografias são inadequadas devido à: Artefatos de movimento secundários; ou Opacificação ruim da artéria pulmonar, que é comum em obesos. ________________________________________ Sumarizando em relação à angiotomografia pulmonar: Indicada em pacientes com probabilidade clínica pré-teste alta ou naqueles com D- dímero positivo; Permite avaliar diagnósticos diferenciais; É um exame seguro e não invasivo; Contribui para a estratificação de risco em pacientes com TEP. COMPLICAÇÕES Cerca de 15% dos pacientes submetidos à TC contrastada desenvolvem nefropatia por contraste, definida como um aumento de 25% ou mais na concentração de creatinina sérica dentro de 2 a 7 dias após o exame. Atualmente, a única medida profilática útil é a hidratação com soluções cristaloides intravenosas equilibradas. Outras complicações incluem: Extravasamento de contraste em um MM, pode causar dor, síndrome compartimental ou tromboflebite secundária. CINTILOGRAFIA PULMONAR DE VENTILAÇÃO E PERFUSÃO (V/Q) A cintilografia V/Q pode identificar um defeito de perfusão em locais com ventilação normal. As imagens de perfusão são geralmente obtidas primeiro e requerem um cateter IV periférico para injeção, e a capacidade do paciente de se sentar e deitar durante o procedimento. O componente de ventilação requer que o paciente respire em um nebulizador para inalar um aerossol que contenha um isótopo. Uma cintilografia V/Q homogênea em todo o pulmão na porção de perfusão tem quase 100% de sensibilidade para excluir TEP, independentemente da porção de ventilação. Uma cintilografia V/Q com 2 ou mais defeitos centrais em forma de cunha na fase de perfusão com ventilação normal nessas regiões indica probabilidade > 80% de TEP. Todos os outros achados cintilográficos não são diagnósticos isoladamente. Atualmente o exame serve como uma alternativa para pacientes que não podem receber contraste iodado ou se submeter a radiação como: MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Gestantes; Anafilaxia com contraste EV; ou Doença renal crônica. Em pacientes com radiografia normal é aceitável fazer apenas a cintilografia de perfusão se houver dificuldades para realizar a cintilografia de ventilação. ECOCARDIOGRAMA O ecocardiograma não consegue excluir o diagnóstico de TEP (apresenta valor preditivo negativo de 40-50%). Mais útil na estratificação do TEP. Sinais de sobrecarga de ventrículo direito podem estar presentes em pacientes com outras patologias, como: Hipertensão pulmonar crônica; ou DPOC, sem tromboembolismo pulmonar associado (assim como no ECG). No paciente que se apresenta com instabilidade hemodinâmica, sem diagnóstico definitivo, o ecocardiograma pode mostrar sinais de sobrecarga de ventrículo direito, direcionando o diagnóstico para TEP. ARTERIOGRAFIA PULMONAR O exame era considerado o padrão-ouro para o diagnóstico de TEP Porém vem perdendo espaço para a angiotomografia de artérias pulmonares. Atualmente é mais utilizado para guiar terapêuticas invasivas como: Embolectomia. A!! Toda a lógica de passos no diagnóstico do TEP tenta racionalizar a investigação para não ser necessária a arteriografia. A angiografia pulmonar identifica um: Coágulo como um defeito de enchimento dentro da artéria pulmonar. Esse teste requer a colocação de um cateter na artéria pulmonar, geralmente através da veia femoral, seguida da injeção de 150 a 300 mL de material de contraste. A!! O exame é pouco disponível, caro e invasivo. USG DOPPLER DE MMII O exame é disponível, barato e pode ser realizado à beira do leito. Geralmente não é indicado quando a suspeita é TEP, pois é positivo em apenas 30 a 50% dos pacientes com tromboembolismo pulmonar. Usualmente reservado para pacientes com: Contraindicações para realizar a angiotomografia; e/ou para Complementar a cintilografia ou angiotomografia inconclusivas. OUTROS EXAMES Outros exames indicados em pacientes com TEP: Função renal; Coagulograma; Eletrólitos; e Solicitações conforme indicação clínica. Exames para estratificar pacientes com TEP: Troponina I: pode estar elevado - associada à disfunção do VD e à presença de múltiplos defeitos segmentares na cintilografia pulmonar; BNP; e Ecocardiograma. ABORDAGEM DIAGNÓSTICA Em pacientes que são avaliados para possível TEP, o diagnóstico é confirmado em apenas 10% dos casos. Quando os médicos têm maior grau de certeza, eles estão corretos em apenas 17 a 25% dos pacientes. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Como resultado, a abordagem diagnóstica do TEP requer estratégias que minimizem falhas diagnósticas sem expor pacientes a riscos de realização de exames desnecessários. Em todos os pacientes com suspeita diagnóstica de TEP, o primeiro passo é determinar qual é a probabilidade clínica pré-teste de o paciente apresentar realmente TEP. Ferramentas para essa investigação foram criadas com escores de risco sistematizados para avaliação de pacientes, como o escore de Wells. Legenda: probabilidade pré-teste conforme os escore de Wells Os pacientes classificados como de: Baixo risco apresentam uma probabilidade de 10 a 12% de apresentar TEP; Moderado risco de 30%; e Alto risco de 65%. Em pacientes de baixo risco, pode aplicar o escore PERC para descartar a suspeita de tromboembolismo pulmonar e encerrar a investigação. Legenda: escore PERC (Pulmonary Embolism Rule-Out Criteria) O desempenho do escore PERC foi determinado em pacientes que não tinham tromboembolismo pulmonar e naqueles em que a própria investigação traz mais danos que o conhecimento do diagnóstico. A diretriz europeia de 2019 sobre TEP cita o escore PERC, mas considera ainda que seu uso não pode ser generalizado. Quando a resposta for negativa para todos os fatores, a suspeita de tromboembolismo pulmonar pode ser considerada descartada, com a probabilidade diagnóstica < 2%. As figuras abaixo indicam os próximos passos de acordo com a probabilidade pré-teste.Legenda: fluxograma para baixa probabilidade pré-teste de TEP MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: fluxograma para média e alta probabilidade pré-teste de TEP Na suspeita de TEP em pacientes com probabilidade pré-teste alta, a 1ª dose de anticoagulação deve ser realizada antes da confirmação diagnóstica. Se TEP não for excluído com a regra PERC, deve realizar um teste diagnóstico que possa reduzir a probabilidade pós-teste para <2,0%. D-dímero de metodologia ELISA é capaz de excluir TEP em pacientes com probabilidade pré-teste baixa ou moderada com sensibilidade de 95%. D-dímero de metodologia de aglutinação pelo látex ou sangue total em pacientes com probabilidade pré-teste baixo. A regra de Charlotte é uma proposta de excluir TEP em pacientes de baixa probabilidade pré- teste. Em pacientes de baixo risco e com a presença de um dos critérios PERC ou em que não foi possível descartar TEP com a regra de Charlotte, o próximo exame recomendado é a dosagem do D-dímero. Se o exame vier negativo não é recomendado continuar a investigação. Em pacientes c/ moderada ou alta probabilidade, ou de baixo risco com critérios PERC e D- dímero positivo é recomendado continuar a investigação. O exame usualmente recomendado é a angiotomografia computadorizada de tórax. A cintilografia V/Q é uma opção em pacientes: Grávidas; com Insuficiência renal; ou com Histórico de reação adversa prévia ao material de contraste. ESTRATIFICAÇÃO DOS PACIENTES O TEP é classificado em três categorias com base na gravidade: TEP MACIÇO PAS< 90mmHg por mais de 15 minutos; PAS<100mmHg com história de HAS; ou Redução > 40% na PAS basal. TEP SUBMACIÇO PA normal, mas com outras evidências de estresse cardiopulmonar. TEP DE MENOR GRAVIDADE Todos os outros casos. ________________________________________ Em pacientes com TEP confirmado é importante classificar e estratificar o paciente de acordo com a gravidade do quadro (risco de mortalidade) calculando o escore PESI. Legenda: cálculo do escore PESI (Pulmonary Embolism Severity Risk) MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Legenda: fluxograma de tratamento do TEP de acordo com a gravidade do quadro medido pelo escore PESI. Os pacientes PESI classe I e II são: Considerados de baixo risco e podem ser elegíveis para tratamento domiciliar ou alta precoce, que é definida por alta antes de 5 dias de internação hospitalar, tempo recomendado de internação para TEP. Outra forma de selecionar pacientes de baixo risco que poderiam realizar todo o tratamento ambulatorial são os critérios HESTIA. Se todas as respostas forem negativas e o paciente for classificado como PESI I ou II, ele é um candidato adequado para tratamento ambulatorial. Nesses pacientes não é necessária dosagem de troponina e BNP. Caso a dosagem seja inadvertidamente realizada e venha alterada, o paciente é reclassificado como de risco intermediário baixo. Para os pacientes classificados como classe III e IV, devemos realizar: Dosagem de troponina e BNP. Aferição de disfunção de VD (ecocardiograma ou tc com contraste). Caso apenas 1 dos 2 acima venha alterado, o paciente é classificado como de risco intermediário baixo Os pacientes nessa classificação devem ser internados e monitorizados. Caso os 2 venham alterados, o paciente é classificado como risco intermediário alto. Além de internação e monitorização, deve ficar atento para a descompensação hemodinâmica que indica a trombólise. PLUS: TEP E COVID As complicações cardiovasculares têm sido apresentadas de forma expressiva e variável na COVID-19. Na apresentação mais grave, há altos níveis de D-dímero, que tem sido associado a aumento da mortalidade. Estudos sugerem que a resposta inflamatória sistêmica exacerbada + hipóxia possam causar disfunção endotelial e aumento da atividade pró-coagulante, contribuindo para a formação de trombos. Esse estado pró-trombótico + infecção sistêmica é comumente chamado de coagulopatia induzida pela sepse. A!! Vale ressaltar que os dados disponíveis sobre risco trombótico são limitados, sendo a maior parte dos eventos descritos em estudos baseados em séries de casos da China, Holanda e França. Porém, a maioria dos especialistas concorda que o sinal para aumento do risco trombótico é suficiente para recomendar a profilaxia farmacológica do TEV em pacientes hospitalizados com COVID-19. Tem sido recomendado, ainda considerar anticoagulação no cenário de pacientes críticos em terapia intensiva, mesmo sem evidência clínica ou de imagem de trombose, levando em consideração risco de sangramento e possível benefício na interrupção da cascata pró- trombótica, segundo opinião de especialistas e série de casos, necessitando de estudos prospectivos para sua confirmação. A elevação do D-dímero nas formas graves da COVID-19 e a sobreposição de sintomas respiratórios da doença de base às do TEP dificultam o diagnóstico deste último de maneira precoce. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves Especial atenção deve ser dada a alterações como: Hipoxemia refratária; Alterações eletrocardiográficas; Surgimento de taquicardia sinusal não explicada pelo quadro clínico atual; e Disfunção de VD para o diagnóstico de TEP e início da terapia anticoagulante adequada. MÓDULO PERDA DE SANGUE – P4 | Luíza Moura e Vitória Neves
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