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1 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1 anemia ferropriva O ferro é adquirido por meio da dieta, pelos alimentos como a carne vermelha ou vegetais. A carne contém o grupamento heme, que é liberado pela pepsina. Já os vegetais contêm ferro inorgânico, que precisa ser reduzido pelo pH ácido do estômago. Posteriormente, esse ferro é absorvido no intestino, principalmente no duodeno e jejuno proximal, mas a maior parte do ferro ingerido na dieta são excretado nas fezes. Há algumas substancias que ajudam na absorção do ferro, como vitamina C e a própria proteína da carne. Enquanto há outras substâncias que dificultam na absorção, como os fitatos (presentes nos cereais), oxalatos (presentes em algumas frutas), antiácidos (porque reduz o pH do estômago e interferir na absorção), cálcio e drogas. Chegando na mucosa intestinal, após absorvido, pode ser estocado na própria mucosa intestinal na forma de ferritina (principal reserva de ferro no organismo humano), se esse ferro não for absorvido, vai ser eliminado após a descamação da mucosa. Se o organismo precisar utilizar essa reserva a hepcidina (produzida no fígado) vai diminuir, para parar de inibir a ferroportina, e esta conseguir levar o ferro até o plasma. Para ser transportado até o plasma, esse ferro é transportado pela transferrina. Esse ferro vai principalmente para a medula óssea para a produção de hemoglobina para os eritrócitos. Uma parte desse ferro é convertido em ferritina dentro da MO, como uma fonte de reserva de ferro para a própria medula. Outra parte é utilizada para formar a hemoglobina para formar as hemácias. Essa hemácia tem vida média, após isso, é destruída no baço. Após destruída, o ferro é recuperado, podendo ser estocado na forma de ferritina ou sendo liberado novamente no plasma. A hemoglobina A é responsável por mais de 95% do total de hemoglobinas do organismo. A hemoglobina tem duas cadeias de globina (polipeptídeo) beta e duas cadeias de globina alfa. Portanto, é um tetrâmero, pareados duas a duas (duas cadeias alfa e duas beta). Em cada cadeia tem um grupamento heme e um átomo de ferro. 2 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1 Em uma molécula de hemoglobina, tem 4 cadeias de globina pareadas duas a duas, 4 grupamentos heme e 4 átomos de ferro. • HEME: Anel tetrapirrólico com íon central de ferro (em seu estado ferroso – Fe2+). Parte de sua síntese ocorre no citosol e parte nas mitocôndrias. Cromossomo 16 → 2 genes alfa (4 no total) Cromossomo 11 → 1 gene beta (2 no total) Outros genes: Delta → da hemoglobina 2 Gama → da hemoglobina fetal Zeta 1 e 2 → hemoglobinas embrionárias • SÍNTESE PROTEICA: FORMAÇÃO DA GLOBINA: O gene alfa está no cromossomo 16, o beta no cromossomo 11 e na região desse gene tem o DNA dupla hélice, que vai fazer a primeira transcrição em RNA, que posteriormente gera um RNAm por splicing (diminui). RNAm sai do núcleo, vai até o citoplasma e começa a ser traduzido na região dos ribosssomos, ou seja, as sequências de nucleotídeos que formam uma cadeia polipeptídica, a globina. Os aminoácidos formam a cadeia alfa e beta conforme o código nos RNAm. FERRO: O ferro, adquirido pela dieta, foi absorvido pelo enterócito no duodeno, principalmente na porção proximal. A enzima ferroredutase transforma o ferro da forma férrica (Fe3+) para a forma ferrosa (Fe2+) e vai entrar no enterócito através do receptor DMT-1. No enterócito vai se manter na forma de hemeoxigenase. Pode ser estocado dentro das células na forma de ferritina ou vai circular, sair do enterócito pela ferroportina e a enzima hefaestina vai transformar de novo na forma Fe3+ para que essa molécula seja transportada pela transferrina. Esse ferro vai para a mioglobina (nos músculos esqueléticos), mas a grande maioria vai para a medula óssea para produzir hemoglobina. Existe um equilíbrio entre a ingestão e perda de ferro por dia. Perde-se ferro por descamação das células da mucosa, células da pele, menstruação na mulher, mas é em quantidade pequena. DISTRIBUIÇÃO CORPORAL DO FERRO CORPÓREO TOTAL Pool corporal total: 3 a 5 gramas 60 a 70%: hemoblogina 10%: mioglobina e outros compostos heme, catalases e citocromos 0,1%: ligado à transferrina 20 a 30%: estocados na forma de ferritina 3 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1 Não existe um mecanismo para fazer com que se excrete mais ferro em situações de sobrecarga de ferro. Em contrapartida, em situações de deficiência de ferro, o duodeno consegue aumentar sua absorção, contudo, tem um limite de absorção. Quando se dá ferro oral, uma boa parte é excretada nas fezes, pois não consegue ser absorvida, por isso que não adianta dar grandes quantidades de ferro oral. A necessidade diária de ferro varia ao longo da vida, sendo muito alta durante a gestação e amamentação. A da mulher é relativamente mais alta do que a do homem por causa da menstruação, portanto, após a menopausa, é igualado. A anemia ferropriva é o tipo de anemia mais comum no mundo. O principal diagnóstico diferencial é com a talassemia ou anemia de doença crônica. A anemia ferropriva é uma diminuição da quantidade de ferro disponível, portanto, há várias causas que podem levar a um desequilíbrio do ferro. Há estágios, primeiro a causa faz com que o ferro vá sendo diminuído, porque está consumindo a reserva que estava sendo estocada na MO (ferritina). Depois começa a aumentar a saturação da transferrina. Conforme vai aumentando essa deficiência de ferro, começa a apresentar anemia, que vai se tornando cada vez mais intensa. Quanto maior a ferropenia, menos hemácias. Portanto, há fases dessa anemia: pré-latente, latente, até chegar na anemia. A anemia ferropriva ocorre quando o paciente apresenta uma ingesta de ferro menor do que a demanda. • ANEMIA FERROPRIVA POR BAIXA INGESTA: É muito restrito. - lactentes (a quantidade de ferro do leite é muito baixa, menor do que a necessidade diária) - vegetarianos ou macrobiótico restritos (veganos) - dieta pobre em ferro (muito difícil ser a única causa) • CIRURGIA BARIÁTRICA: Retirada de parte do estômago, uma das consequências dessa retirada é a anemia ferropriva, principalmente no caso de mulheres que ainda menstruam. Diminui a absorção de ferro. Esse paciente vai precisar receber suplementação de ferro, muitas vezes EV. • PERDAS DO TGI: deficiências na absorção de ferro - parasitoses - doença péptica - neoplasias - inflamatórias • GINECOLÓGICAS: - distúrbios hormonais - endometriose - neoplasias (mioma, adenocarcinoma) • SANGRAMENTO CRÔNICO: A principal causa é um sangramento crônico, seja na TGI, por causa de uma gastrite crônica ou um câncer, ou no sangramento uterino (quando a mulher perde mais sangue do que o normal). Primeiro o paciente vai consumir todo o estoque de ferro do organismo, apresentando uma anemia microcítica e hipocrômica. ✓ Fadiga ✓ Palidez de mucosas ✓ Dispneia aos esforços ✓ Boqueira (lesão no canto da boca) ✓ Coiloníquia (unha em forma de colher) ✓ Geofagia (“pica”) – impulso incontrolável de comer terra, cimento, tijolo. ✓ Síndrome de Plummer-Vison ou Paterson-Kelly – ocorre em algumas 4 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1 mulheres, principalmente idosas. Consiste na presença de uma membrana que se forma entre a faringe e o esôfago que pode ser revertida com a reposição hormonal de ferro. Anemia microcítica e hipocrômica. HEMATÓCRITO: ↓ VCM: ↓ (porque as hemácias vão estar microcíticas) RDW: ↑ (hemácias com diferença de tamanho muito grande entre si) FERRO SÉRICO: ↓ SATURAÇÃO DE TRANSFERRINA:↓ (ou seja, esse carregador do ferro não vai estar saturada de ferro) CAPACIDADE TOTAL DE LIGAÇÃO DO FERRO (TIBC): ↑ (porque apesar de ter pouco ferro para se ligar na transferrina, essa proteína estará ávida a se ligar a esse ferro) FERRITINA: ↓ A ferritina é o principal marcador de ferro do organismo, portanto, vai ser o primeiro a sofrer alteração também. É o melhor indicador laboratorial do estoque de ferro. O problema é que a ferritina também é uma proteína de fase aguda, assim, em situações de inflamação aguda, a ferritina também poderá estar aumentada. CTLF = TIBC No primeiro estágio a ferritina está diminuída porque o indivíduo está perdendo mais ferro do que absorvendo, contudo, o resto está normal. Conforme evolui nesse estágio de ferropenia, isto é, carência de ferro no organismo, a ferritina cai, o ferro sérico também cai, a transferrina aumenta, a saturação diminui, a capacidade total de fixação do ferro também aumenta, mas ainda não tem ainda e nem alteração do VMC. Apenas no estágio avançado de ferropenia, essa deficiência de ferro leva à anemia, que é queda da hemoglobina, do hematócrito, do VCM. BALANÇO NEGATIVO: o ferro na MO diminui, a ferritina diminui, a capacidade de transporte está aumentada, mas os outros parâmetros estão normais. Mas ainda não tem anemia, porque a reserva está diminuída, mas a produção de hemácias continua normal, ainda está sendo poupada. ERITROPOIESE DEFICIENTE DE FERRO: Conforme essa reserva de ferro vai diminuindo cada vez mais, vai ter comprometimento da eritropoiese. Cai o ferro sérico e a saturação, e começa a ter anemia. ANEMIA FERROPRIVA: Quando a reserva cai significativamente, quando a reserva medular já é nula e a ferritina extremamente baixa, a capacidade de transporte aumenta, o ferro sérico e saturação muito baixa. Nesse cenário, a anemia ferropriva está instalada, com produção de hemoglobina diminuída. Conforme é diagnosticado e inicia o tratamento, faz o processo inverso no tratamento. Primeiro refaz a massa de eritrócitos, repondo a hemoglobina, para só depois normalizar o estoque de ferro. 50 -200 5 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1 O normal é a hemácia discoide e bicôncava. Na anemia ferropriva terá microcitose, e o halo central está aumentado (hipocromia). A microcitose ocorre porque o VCM está diminuído. A hipocromia é medida pelo HCM e CHCM. Além disso, também é possível observar a anisocitose, ou seja, as hemácias não tem padrão de tamanho, há umas maiores e outras menores (índice de RDW). Um pouco de poiquilcoitose (hemácia em lágrima). Alguns heliptócitos também. O padrão ouro para diagnóstico de anemia ferropriva é o mielograma com pesquisa de Fe medular (método de Perls/azul da Prússia). É um exame pouco pedido, porque normalmente o quadro clínico consegue ser fechado com os exames laboratoriais. Serve para verificar a reserva de Fe na MO. FERROPRIVA X ANEMIA DE INFLAMAÇÃO ANEMIA DE INFLAMAÇÃO: A saturação estará normal porque tanto o ferro quanto a transferrina estão diminuídos. Esse cenário acontece quando tem ferro disponível, mas ele não está sendo direcionado para a produção de hemácia. Isso porque a hepcidina (responsável pelo controle do metabolismo do ferro). Portanto, o ferro que é absorvido no enterócito entra pelo receptor, que é controlado pela hepcidina e pode sair por outro receptor para a corrente sanguínea (ferroportina), que também é controlado pela hepcidina. A hepcidina tem essa mesma função no macrófago, também bloqueia ou não a saída do ferro do macrófago. Na situação de anemia ou hipoxia, tem-se um estimulo negativo para a hepcidina para que ela liberar a entrada de ferro para melhorar a hipoxia. Em uma situação de excesso de ferro ou inflamação, a hepcidina é estimulada pela interleucina-6 a bloquear a passagem de ferro nos receptores. Assim, o ferro sérico é diminuído, e tem-se menos ferro liberado para os eritroblastos, apresentando uma anemia microcítica. Situações que levam a esse quadro: inflamações reumáticas, úlceras de membros inferiores de longa data, osteomielite crônica. Em um primeiro momento parece uma anemia ferropriva, mas posteriormente se observa que é um quadro de anemia provocada por uma inflamação ou por infecção intensa e prolongada. FERROPRIVA X TALASSEMIA A talassemia é um defeito genético na produção das globinas, sendo a beta talassemia mais comum. • TALASSEMIA MENOR (HETEROZIGOTO): Assintomático 6 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1 Hb entre 9 e 13 g/dl (pode não ter anemia ou ter anemia leve) Ausência de ferropenia Diagnóstico feito pela eletroforese de hemoglobinas (aumento de hemoglobina2) Microcítica e hipocrônico. OBS: o paciente com talassemia não recebe ferro via oral nem parenteral, pois já apresenta reserva de ferro no organismo. • TALASSEMIA MAIOR (homozigoto): Defeito genético que já se manifesta desde a infância (desde em torno dos 6 meses de idade) Anemia grave Hb < 6 – 7 g/dl 1 – reposição de ferro por via oral ou via parenteral: Não pode ser via intramuscular, é doloroso, o ferro pode ficar depositado por longos tempos na pele, pode dar fibrose no local da injeção. Em situações que a via oral não é possível, utilizar via endovenosa. 2 – identificar e tratar a causa Nunca ser tratada somente com a dieta, não é viável. Isso porque o paciente teria que ingerir uma grande quantidade de alimentos para conseguir repor. • DIETA: - fígado - carne vermelha (4.540g/dia) Ou seja, não se trata a anemia ferropriva por meio da dieta, porque seria necessário comer uma grande quantidade de alimentos para conseguir repor (o que não é possível). • DOSES: Terapia 3 a 5 mg/kg/dia de ferro elementar dividido de 2 a 3 doses (máximo 200 mg/dia) • PREPARAÇÕES: ✓ Sais ferrosos: - sulfato ferroso (bem mais barato e disponível na rede pública) - fumarato ferroso - gluconato ferroso ✓ Ferro aminoquelado ✓ Complexo de ferro polimaltosado Quando o paciente tem uma melhor condição socioeconômica, no consultório, não se usa o sulfato ferroso (que é o mais comum) porque ele causa muitos efeitos colaterais. Nesse caso, opta-se pelo ferro aminoquelado ou complexo de ferro polimaltosado. • SULFATO FERROSO: Para administrar esse comprimido por via oral, deve ser ingerido com o estômago vazio (jejum), para que não tenha interferência de nenhuma daquelas substâncias que atrapalham a absorção do ferro, e de preferência com uma substancia ácida, como um suco de laranja (contém vitamina C e é uma substância ácida). O problema são os efeitos colaterais que o sulfato ferroso causa: - náuseas - vômitos - constipação/diarreia - gosto amargo na boca - fezes escurecidas 7 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1 Normalizar o hemograma do paciente Normalizar o estoque de ferro (níveis normais de ferritina) Média de duração do tratamento: 6 meses. - dose inadequada - baixa adesão - problema na absorção (quando o paciente apresenta uma síndrome disabsortiva não funciona reposição oral de ferro, deve ser endovenosa) - persistência da causa base da anemia ✓ Ferro-dextran ✓ Gulconato férrico de sódio ✓ Ferro-sucrose ✓ Feromoxitol • INDICAÇÕES: - mal absorção - cirurgia bariátrica - intolerância ao ferro oral - pacientes não cooperativos - pacientes com muitas queixas gástricas • VIAS DE ADMINISTRAÇÃO: Endovenosa (EV) – diluir bem • DOSE: 100 – 200 mg/semana Máximo 500 mg/semana • EFEITO COLATERAL: Quadro de anafilaxia grave que é mais comum o ferro-dextran.8 ANA PAULA – XXII HEMATOLOGIA – ATD1
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