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04 - Const - Poder Constituinte e Fênomeno Constitucional Intertemporal
Humanas / Sociais
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Direito Constitucional PODER CONSTITUINTE NOÇÕES GERAIS É o poder que cria a norma constitucional (estrutura do Estado, Divisão dos Poderes e outros), tornando-a exigível. Em regra, ele se manifesta em momentos de crise (não necessariamente violenta), quando há o rompimento da Ordem Constitucional e se instaura uma Nova Ordem Constitucional (crises jurídica, econômica, social e política). Ele é que legitima o poder do Estado. Inicialmente, pensava-se que a nação era a titular do Poder Constituinte, mas, depois, evolui-se para considerar o povo como o seu legítimo titular. TEORIA DO PODER CONSTITUINTE A Teoria do Poder Constituinte é algo distinto do Poder Constituinte. Ela veio explicar o surgimento do Poder Constituinte. O marco foi a Teoria de Sieyès, com a obra O que é o Terceiro Estado? (A Constituinte Burguesa). Para ele a manifestação deve ser feita pelos representantes do povo, dentro do exercício da soberania popular. Seria a materialização do Poder, a partir do conceito de representatividade. Ele distinguiu: a) Poder Constituinte (poder de elaborar a estrutura do Estado e dividir os Poderes); b) Poder Constituído (poderes reconhecidos pela Constituição – Legislativo, Executivo e Judiciário). Curiosidade histórica: desde o primórdio da organização das sociedades humanas, já há algo cunhado como Constituição, sendo identificado o poder constituinte. A existência do poder constituinte não coincide com o marco histórico de seu surgimento. A Revolução Francesa (1789) é o marco do surgimento do poder constituinte, com a obra de SIEYÈS. Nessa obra, pela primeira vez, alguém racionalmente tratou do poder constituinte. No século XVIII, a França vivia uma enorme crise política, econômica, social e orçamentária. Foram convocados os Estados-Gerais, que se apresentavam como a assembleia consultiva do Rei. Eles foram criados por Felipe IV (em 1303) e eram formados por três classes que compunham a sociedade burguesa: • O primeiro Estado (clero). • O segundo Estado (nobreza). • O terceiro Estado (comuns, posteriormente, chamados de burguesia). Os Estados tinham a seguinte forma de deliberação: cada Estado tinha um voto. Ocorre que, em todas as questões, a nobreza e o clero votavam unidos, e a burguesia (que pagava a conta) sempre perdia. Assim, quando Luís XVI convoca os Estados-Gerais, surge a proposta de que a representação em cada Estado seja proporcional à quantidade de franceses que representavam. Dessa forma, ao terceiro estado caberia a maior representatividade. Depois, propõe-se ainda que o voto fosse por cabeça e não por Estado, assim, cada integrante teria um voto, e não o Estado todo somente um voto exclusivo. O objetivo era acabar com os privilégios tributários da nobreza e do clero. Para justificar essa mudança, afirmava-se que o Estado está submetido a certas regras, entretanto, a nação tem o poder de modificar essas normas, por meio do seu Poder Constituinte, por meio de seus Poderes Constituídos (Executivo, Legislativo e Judiciário). As leis constitucionais não podem ser independentes da vontade da nação. Quem pode mudar a Constituição não é a própria Assembleia (Estados-Gerais, no caso), mas a Constituinte. Por óbvio, os Estados-Gerais não aceitaram a votação por cabeça. Com isso, eclodiu a rebelião da assembleia do terceiro Estado que se autoproclamou em Poder Constituinte. Todavia, o rei não aceitou a rebeldia, e eles afirmam que quem mandava era povo, surgindo aí a concepção moderna da Teoria do Poder Constituinte. NATUREZA DO PODER CONSTITUINTE A natureza do Poder Constituinte é jurídica ou extrajurídica? Para os JUSPOSITIVAS Direito Constitucional (Kelsen), o Poder Constituinte: a) inaugura toda a normatização jurídica; b) ele é um fato, não deriva de outro direito superior; c) é o poder político que antecede à norma; d) é a posição adotada no Brasil. Para os JUSNATURALISTAS (Tomás de Aquino): a) o fundamento de validade do Poder Constituinte estaria no direito natural; b) logo, ele estaria hierarquicamente abaixo do direito natural; c) assim, sua natureza seria extrajurídica. TITULARIDADE DO PODER CONSTITUINTE De início, Sieyès defendia que seria a nação (que é a identidade de língua, cultura e raça). Depois, passou a defender que seria o POVO (parte da nação que habita determinado território – mesma nacionalidade). Como não há possibilidade de reunir o povo no mesmo lugar para decidir sobre as normas constitucionais, é preciso que o poder seja exercido por meio de representantes do povo. Democracia direta X democracia indireta. PREÂMBULO Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituirum Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos deuma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida,na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Art. 1º [...] Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO NOÇÕES GERAIS É aquele que cria uma Nova Ordem Constitucional, via nova Constituição. Tem a natureza jurídica política (pré-jurídico). A sua manifestação ocorre em um momento de ruptura da sociedade, quando uma nova ordem constitucional precisa ser escrita. Essa ruptura pode ser: a) revolução, que pressupõe o uso da força (a qual se legitima pelas injustiças da ordem anterior) visando à tomada do Poder por quem não está no Poder; b) golpe de Estado é a tomada de Poder por quem já está em exercício de uma parcela de Poder; c) transição constitucional quando: 1. uma Colônia tem a sua independência preparada pelo colonizador (Grã-Bretanha fez a CF do Canadá, África do Sul e Austrália); 2. há a ruptura social com a ordem anterior (transição por amadurecimento político-social, como ocorreu no Brasil). O procedimento constituinte é imposto pela própria Assembleia Constituinte, mas, se na hora de julgar não obedecer a alguns procedimentos, não faz diferença, pois não está obrigada a uma ordem superior. A violação aos procedimentos não é jurídica, assim, a sua autolimitação pode ser revista a qualquer momento. PARTICULARIDADES RELEVANTES DO PODER CONSTITUINTE DA CF/1988 Críticas ao Poder Constituinte da CF/1988: a) Foi convocado por uma Emenda Constitucional, o que impediria reconhecer como sendo uma ruptura com a ordem anterior; Direito Constitucional b) Seria produto de um Congresso Constituinte (após o encerramento dos trabalhos voltou a legislar infraconstitucionalmente), e não de uma Assembleia Nacional Constituinte (eleita especialmente para editar a nova Carta Política). Contrapontos: a) Não importa a forma pela qual a Assembleia se reuniu, o que interessa é que ela não sofreu limitação pela ordem constitucional anterior; b) No momento da eleição dos congressistas, já sabiam que teriam a missão de elaborar a nova CF. CARACTERÍSTICAS DO PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO: Seguindo a corrente juspositivista, o Poder Constituinte Originário é: a) Inicial (desencadeia toda a nova normatividade jurídica); b) Autônomo (não existe nenhum poder de fato e nem direito acima dele); c) Incondicionado (não se sujeita a nenhuma condição ou termo); d) Ilimitado (não precisa respeitar nenhum limite jurídico imposto pela ordem constitucional anterior). Por ser ilimitado, o Poder Constituinte Originário não precisa respeitar ato jurídico perfeito, coisa julgada ou direito adquirido estabelecidos na ordem constitucional anterior. Mas, para relativizar