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BCE CASO 02-UNIFTC 4P CASO 2: SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL Objetivos 1) Conhecer a classificação etiológica do sangramento intrauterino anormal (Classificação PALM-COEIN). 2) Estabelecer diagnóstico das diferentes causas estruturais: Pólipos, Adenomiose, Leiomiomas e tumores uterinos malignos 3) Entender o tratamento hormonal e não hormonal das causas não estruturais 4) Diferenciar entre quadros de TOC e dissociativo conversivo 5) Compreender a importância da psicoterapia e da farmacologia no tratamento dos transtornos neuróticos. 6) Correlacionar os mecanismos moleculares e da regulação da expressão gênica e farmacológico associados aos distúrbios de sangramento SANGRAMENTO UTERINO ANORMAL| CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO: Fonte: Sangramento uterino anormal. -- São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2017 • Sangramento Uterino Anormal (SUA) é a denominação utilizada atualmente para nomear as alterações da menstruação decorrentes de aumento no volume, na duração ou na frequência. • Tem grande importância pela sua frequência e por afetar negativamente aspectos físicos, emocionais, sexuais e profissionais, piorando a qualidade de vida das mulheres • Em 2011, um grupo de especialistas da FIGO propôs uma classificação para as desordens que causam o SUA • O esquema é conhecido como PALM-COEIN, onde cada uma das letras denomina uma das etiologias do sangramento • O “sistema” PALM-COEIN é aplicável uma vez excluídas causas de sangramento relacionadas à gravidez • A evolução inicial inclui história detalhada do sangramento e de antecedentes, com foco em fatores de risco para câncer de endométrio, coagulopatias, medicações em uso, doenças concomitantes, além de exame físico completo, com foco em sinais da síndrome dos ovários policísticos, resistência insulínica, doenças da tireoide, petéquias, equimoses, lesões da vagina ou colo do útero, além de tamanho do útero. • Para investigação complementar, pode-se utilizar hemograma, dosagem de ferritina e ultrassonografia pélvica. DIAGNÓSTICO DAS DIFERENTES CAUSAS ESTRUTURAIS • No SUA, o diagnóstico etiológico direciona à terapêutica e está diretamente associado ao sucesso do tratamento. • Apenas em situações de sangramento agudo e intenso é aceitável que o tratamento seja instituído, com o único objetivo de estancar a hemorragia e estabilizar a hemodinâmica da paciente, postergando a investigação para assim que o sangramento estiver controlado. • Na propedêutica clínica inicial, descartar lesões vaginais, do colo e uterinas- As duas primeiras podem se diagnosticadas já no exame especular. BCE CASO 02-UNIFTC 4P • O exame complementar que mais dados fornece para a condução dos casos de SUA é a ultrassonografia da região pélvica, com ótima sensibilidade (96%), porém baixa especificidade (13,8%) para lesões endometriais em geral. • Nas lesões intracavitárias sem conclusão diagnóstica, indica-se histerossonografia ou histeroscopia, ambas com sensibilidade semelhante. Porém, a histeroscopia permite a realização da biópsia guiada da lesão. • A identificação das lesões benignas do endométrio melhora a precisão na indicação terapêutica, enquanto o diagnóstico diferencial das neoplasias endometriais, feito logo após a instalação do quadro clínico, interfere diretamente no prognóstico. São lesões mais frequentes após a menopausa. O diagnóstico definitivo é feito por meio de biópsia de lesão difusa ou focal, sendo que nessa última a biópsia guiada por histeroscopia tem maior sensibilidade (94,4%) e especificidade (99,6%) • Esses exames são geralmente suficientes para o diagnóstico dos pólipos, miomas e lesões malignas ou pré-malignas. Já a adenomiose tem diagnóstico mais impreciso, com confirmação por estudo anatomopatológico após a histerectomia. Não obstante, a padronização de critérios diagnósticos tem avançado, tanto por ultrassonografia convencional como por ultrassonografia tridimensional e ressonância magnética VISÃO GERAL| CAUSAS ANATÔMICAS - PALM Fonte: Tratado de Ginecologia, Berek & Novack, 15 edição • As causas anatômicas de sangramento anormal são mais frequentes nas mulheres em idade reprodutiva que nas demais faixas etárias. LEIOMAS • Os leiomiomas uterinos e os pólipos endometriais são comuns e, na maioria das vezes, assintomáticos; no entanto, ainda são causas importantes de sangramento anormal • Os leiomiomas uterinos são encontrados em até metade das mulheres com mais de 35 anos de idade e são os tumores mais comuns dos órgãos genitais; • O sangramento anormal é o sintoma mais comum nas mulheres com leiomiomas. Embora o número e o tamanho dos leiomiomas uterinos não pareçam influenciar a ocorrência de sangramento anormal, os miomas submucosos são os mais propensos a causar sangramento. O mecanismo de sangramento anormal relacionado com os leiomiomas não é bem demonstrado. PÓLIPOS • Os pólipos endometriais são uma causa de sangramento intermenstrual, sangramento menstrual intenso, sangramento irregular e sangramento após a menopausa, e estão associados ao uso de tamoxifeno e à dismenorreia e infertilidade. • Assim como os leiomiomas, a maioria dos pólipos endometriais é assintomática. • A incidência de pólipos endometriais aumenta com a idade ao longo da vida reprodutiva. • Pode-se suspeitar do diagnóstico com base no espessamento endometrial observado à US transvaginal, e os padrões de vasos sanguíneos aferentes podem ajudar a distinguir pólipos endometriais de leiomiomas intracavitários e de neoplasia maligna do endométrio • A confirmação requer observação, por histeroscopia ou histerossonografia, ou exame histológico de tecido obtido por biopsia no consultório ou de amostra de curetagem. • Não há uma orientação definida sobre a indicação e o momento da retirada, sobretudo se o pólipo for assintomático e diagnosticado por acaso que isso acontece. • Os pólipos menores são mais propensos a desaparecer, e os maiores podem ter maior probabilidade de causar sangramento anormal. • Ainda que possa haver regressão espontânea dos pólipos com o tempo, uma questão clínica importante é a tendência à transformação maligna. • O risco de malignidade ou de alterações pré-malignas em pólipos endometriais parece ser muito baixo antes da menopausa e maior após a menopausa • O sangramento anormal, seja intermenstrual ou pós-coital, pode ser causado por lesões cervicais. BCE CASO 02-UNIFTC 4P • O sangramento pode ser consequência de pólipos endocervicais e de lesões cervicais infecciosas, como condilomas, ulcerações por herpes-vírus simples, cervicite por clamídia ou cervicite por outros organismos. É possível que outras lesões cervicais benignas, como a ampla eversão acentuada do epitélio colunar endocervical ou cistos de Naboth, sejam detectadas ao exame, mas raramente causam sangramento. NEOPLASIA. • O sangramento anormal é o sintoma mais frequente de mulheres com câncer cervical invasivo. Uma lesão cervical visível deve ser avaliada por biopsia em vez de aguardar o resultado do exame colpocitológico, que pode ser falsamente negativo nas lesões invasivas em razão da necrose tumoral. • A ação estrogênica sem oposição está associada a várias anormalidades do endométrio, desde hiperplasia cística até hiperplasia adenomatosa, hiperplasia com atipia citológica e carcinoma invasor. • Embora a neoplasia vaginal seja incomum, a avaliação da vagina deve ser meticulosa quando há sangramento anormal. • Deve-se prestar atenção a todas as superfícies da vagina, inclusive as paredes anterior e posterior, que podem ser encobertas pelo espéculo vaginal ao exame. DIAGNÓSTICO DO SANGRAMENTO ANORMAL NA IDADE REPRODUTIVA • A avaliação de menstruação excessiva e anormal inclui história clínica e ginecológica completa, exclusão de gravidez, consideração de possível malignidade e exame ginecológicometiculoso. EXAMES LABORATORIAIS • Qualquer paciente com sangramento menstrual excessivo deve ser submetida a avaliação objetiva do quadro hematológico com hemograma completo para se detectar anemia ou trombocitopenia. Deve-se fazer teste de gravidez para descartar problemas relacionados com a gravidez. Além disso, em vista da possibilidade de um distúrbio primário da coagulação, deve- se considerar um coagulograma; • RECOMENDAÇÃO INTERNACIONAL: solicitação de hemograma completo, contagem e avaliação da função plaquetária, PT, PTT ativada, VWF (medido por atividade de cofator de ristocetina e antígeno, fator VIII) e fibrinogênio, a serem avaliados em conjunto com um hematologista EXAMES DE IMAGEM • US pélvica ajuda a identificar anormalidades anatômicas se os resultados do exame forem insatisfatórios ou se houver suspeita de massa ovariana. É a melhor técnica inicial para avaliar o contorno do útero, a espessura do endométrio e a estrutura do ovário • Uso de um transdutor vaginal torna possível avaliar distúrbios endometriais e ovarianos, sobretudo nas mulheres obesas. Em razão da variação na espessura do endométrio com o ciclo menstrual, essas medidas são bem menos úteis antes da menopausa que depois dela; • A histerossonografia é útil sobretudo na observação de problemas intrauterinos como pólipos ou leiomioma submucoso • Embora essas técnicas de US ajudem a observar doenças intrauterinas, o exame histológico é necessário para que se exclua neoplasia maligna • A RM pode ser um exame secundário para localização de leiomiomas uterinos relacionados com a cavidade endometrial, ao estadiamento e à avaliação pré-operatória de câncer do endométrio, bem como à detecção de adenomiose e identificação de doenças anexiais e ovarianas COLETA DE AMOSTRA DO ENDOMÉTRIO • A coleta de amostra do endométrio deve ser feita para que se avalie o sangramento anormal em mulheres sob risco de doenças do endométrio, inclusive pólipos, hiperplasia ou carcinoma. • É obrigatória na avaliação de sangramento anovulatório em mulheres com mais de 35 a 40 anos de idade, em mulheres mais jovens obesas e naquelas que não respondem ao tratamento clínico ou com história de anovulação prolongada. BCE CASO 02-UNIFTC 4P TRATAMENTO NÃO HORMONAL E HORMONAL DAS CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS (COEIN) Fonte: Sangramento uterino anormal. -- São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2017 • Estão incluídas aqui todas as causas de sangramento uterino em que não é possível identificar uma alteração estrutural ou anatômica. • É o caso das coagulopatias, anovulações crônicas, disfunções endometriais, sangramento secundário ao uso de medicamentos ou outras drogas (iatrogênico), sejam hormonais ou não, além de um grupo de outras causas não classificadas. • Nestes casos, a terapêutica tem por princípio atuar na estabilidade endometrial ou no controle dos fatores que levam à • descamação e à cicatrização do endométrio. Na falha desse tratamento, há opções cirúrgicas disponíveis. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO- MEDICAMENTOSO O tratamento medicamentoso do SUA baseia-se na ação dos hormônios e de outros mediadores inflamatórios sobre o endométrio, além do controle hemostático do sangramento. As opções disponíveis são: TRATAMENTO HORMONAL 1) . Estrogênio e progestagênio combinados • Os contraceptivos combinados (CC) contendo estrogênio e progestagênio reduzem a perda sanguínea menstrual em • 35% a 72%, sendo uma opção terapêutica para a maioria das causas de SUA sem alteração estrutura • Geralmente os contraceptivos combinados monofásicos são usados em esquemas cíclicos, com pausas, mas podem também ser administrados continuamente, reduzindo também o número de episódios de menstruação • Estudos da literatura são mais frequentes com formulações contendo 30 mcg de etinilestradiol associado ao levonorgestrel • Estudos mostram que regimes monofásicos orais foram mais efetivos quando comparados com ácido mefenâmico, naproxeno ou danazol. Regimes contínuos também se mostraram superiores que o uso cíclico das formulações combinada • Recentemente, uma formulação contendo dienogeste associado ao valerato de estradiol mostrou redução do sangramento menstrual • Uma limitação importante ao seu uso é o desejo reprodutivo imediato, uma vez que esses esquemas têm ação anovulatória. No tratamento do SUA, os contraceptivos combinados também são norteados pelos critérios de elegibilidade da OMS para métodos contraceptivos, respeitando-se as contraindicações para o uso de estrogênios, tais como hipertensão, enxaqueca com aura, tabagismo após os 35 anos, trombofilias, entre outros 2) PROGESTÊNIO SISTÊMICO • A progesterona é um hormônio produzido no organismo feminino durante a fase lútea do ciclo menstrual, responsável pela transformação secretória do endométrio. Quando a fecundação não ocorre e os níveis de estrogênio e progesterona caem, a menstruação ocorre. Há vários derivados sintéticos da progesterona no mercado. Embora sua denominação não seja padronizada no Brasil, usaremos o termo progestagênio • Os progestagênios promovem a atrofia endometrial por vários mecanismos e têm ação anti- inflamatória, porém ainda há lacunas no conhecimento de como promovem redução do sangramento. Embora possam ser indicados para a maioria das mulheres, seu uso é particularmente relevante para as que apresentam contraindicação ou não toleram o uso de estrogênios. Há diferentes progestagênios, utilizados por diferentes vias e Não hormonal • Anti-inflamatórios • Antifibrinolíticos Hormonal • Estrogênio e progestagênio combinados • Progestagênio oral cíclico ou contínuo • Progestagênio injetável • Sistema uterino liberador de levonorgestrel • Outros BCE CASO 02-UNIFTC 4P doses, sendo seu uso contínuo, cíclico, por via oral, injetável ou intrauterina. O principal limitante ao uso contínuo de progestagênio isolado são os sangramentos inesperados decorrentes da atrofia endometrial. 2.1 PROGESTAGÊNIO ORAL CÍCLICO OU CÓNTINUO CÍCLICO- uso controverso, não parece ser a melhor opção terapêutica; deve ser restrito ao SUA causado por disfunção ovulatória; , isto é, em mulheres anovulatórias que não queiram engravidar e não possam usar outras opções hormonais. Para essas pacientes haveria benefício com o uso de um progestagênio oral por 12 a 14 dias por mês, “mimetizando” a fase lútea do ciclo menstrual. A didrogesterona tem estrutura molecular semelhante à progesterona natural. O efeito de 10 mg de didrogesterona é comparável ao efeito de 10 mg de acetato de medroxiprogesterona. CONTÍNUO- uso contínuo do progestagênio oral tem se mostrado efetivo na redução do volume do sangramento, podendo bloquear os períodos de menstruação, promovendo amenorreia em um percentual de mulheres. Seu uso baseia-se na intenção de produzir atrofia endometrial, consequentemente reduzindo a ação estrogênica sobre a proliferação endometrial. Pode ser indicado tanto em mulheres anovulatórias como nas ovulatórias com sangramento de causa endometrial. As formulações citadas na literatura são acetato de medroxiprogesterona oral (2,5 mg a 10 mg ao dia), noretisterona (2,5 mg e 5 mg ao dia), acetato de megestrol (40 e 320 mg ao dia), ou progesterona micronizada (200 mg e 400 mg ao dia), usadas do dia 5 ao 26 do ciclo ou continuamente.Ex: A noretistenona é bastante estudada, sendo prescrita na dose de 5 mg, 3 vezes ao dia, do dia 5 ao 26 do ciclo menstrual. Apresenta efeitos colaterais frequentes e relacionados à ação dos progestagênios, que podem limitar seu uso, tais como sangramentos irregulares, mastalgia, cefaleia, edema e acne 2.2 PROGESTAGÊNIO INJETÁVEL- Não há evidências conclusivas do uso do progestagênio injetável de depósito (acetato de medroxiprogesterona 150 mg para usoIM a cada 3 meses) no SUA, porém, há estudos mostrando que pode promover amenorreia em até 24% das mulheres, sugerindo que seja uma boa opção para mulheres com sangramento aumentado. Os efeitos colaterais frequentemente levam à interrupção de sua utilização, principalmente por sangramentos irregulares, ganho de peso, cefaleia. 2.3 IMPLANTE SUBCUTÂNEO DE ETONOGESTREL- Não há estudos suficientes para apontar o uso do implante de etonorgestrel no SUA 2.4 SISTEMA INTRAUTERINO LIBERADOR DE LEVONORGESTREL (SIU-LNG)- A maioria dos estudos sobre o uso de progestagênio contínuo refere-se ao uso do SIU-LNG, com nível de evidência A na literatura. O SIU-LNG libera 20 mcg de levonorgestrel diariamente, resultando, por vários mecanismos, em atrofia endometrial, com redução do sangramento. É considerado mais efetivo para o controle do SUA do que os tratamentos orais. Além da grande redução, de 71% a 96%, no volume de sangramentoe consequente melhoria na qualidade de vida, parece ter melhor aceitação considerando o tratamento prolongado, com menos incidências de efeitos adversosEste método não deve ser usado quando a cavidade uterina não é regular, devido ao risco aumentado de expulsão. O efeito adverso mais relatado é a ocorrência de sangramento inesperado, mais frequentemente nos primeiros meses de uso. Nessa situação, a utilização de ácido tranexâmico ou anti-inflamatórios pode trazer benefícios. OBS: Todos os tratamentos contendo progestagênio isolado podem ter como efeito adverso a presença de sangramento irregular, principalmente nos primeiros três meses de uso. Apesar de o objetivo inicial ser amenorreia, essa ocorre em apenas 10%-15% das usuárias de pílula oral de progestagênio isolado, 20% das usuárias de implantes subcutâneos de progestagênio isolado e mais frequentemente em usuárias de injetável trimestral (acetato de medroxiprogesterona) e de sistema intrauterino de levonorgestrel TRATAMENTO NÃO HORMONAL O tratamento não hormonal do SUA inclui o uso de antifibrinolíticos ou de anti-inflamatórios não hormonais. Está particularmente indicado para mulheres que não desejam usar hormônios ou que tenham contraindicação ao uso de hormônios, além de mulheres com desejo de gestação. 1. ANTIFIBRINOLÍTICOS- Medicações que atuem reduzindo a fibrinólise podem reduzir o sangramento. Nesta categoria, o ácido tranexâmico é um medicamento frequentemente indicado. Desde seu lançamento no mercado, foi prescrito para mulheres com hemofilia, von Willebrand, trombastenia de Glanzmann e SUA, com bons resultados. Porém, ainda há questionamentos quanto à dose e contraindicações. O ácido BCE CASO 02-UNIFTC 4P tranexâmico é um antifibrinolítico com meia-vida curta, devendo ser usado 3 a 4 vezes ao dia, com dose recomendada variável de acordo com diferentes fontes da literatura. Swedish Medical Products Agency (MPA): 1 g a 1,5 g, 3 a 4 vezes ao dia, oralmente, por 3 a 4 dias (podendo ser aumentada quando o volume é muito acentuado para até 1 g, 6 vezes ao dia); Todas estas recomendações indicam o uso durante os dias de sangramento mais volumoso. Os efeitos colaterais são poucos e relacionados a sintomas gastrointestinais. São contraindicações ao ácido tranexâmico a história de tromboembolismo ou insuficiência renal. Pode-se esperar uma redução de até 50% no volume de sangramento 2. ANTI INFLAMATÓRIOS NÃO HORMONAIS- Os NSAID exercem sua ação por meio da inibição da ciclooxigenase, que é a enzima que catalisa a transformação de ácido araquidônico para prostaglandina e tromboxane. Estudos comparando sangramento normal e aumentado têm demonstrado que o aumento da inflamação no endométrio está associado com aumento na perda de sangue durante a menstruação, servindo de base para a indicação dos NSAID no tratamento do SUA, que limitariam a produção de mediadores inflamatórios. Podem ser usados isoladamente ou como terapia adjuvante de um tratamento hormonal. Talvez o NSAID mais estudado com esta finalidade seja o ácido mefenâmico, que proporciona redução de 25% a 50% no volume de sangramento. Deve ser usado durante a menstruação e apresenta o benefício da redução da dismenorreia. Os efeitos colaterais mais frequentes estão relacionados a efeitos gastrointestinais, devendo ser evitados em mulheres com história de úlcera. os anti-inflamatórios causam redução do fluxo menstrual quando comparados com placebo, mas o ácido tranexâmico e o SIU-LNG causam maior redução. Também foram comparados ao danazol, que reduz mais o sangramento, mas tem efeitos colaterais mais evidentes. A mesma revisão comparou o ácido mefenâmico ao naproxeno, sem diferença entre ambos. Alguns autores sugerem que a redução do sangramento seja reavaliada após três meses de uso, porém cerca de 52% das mulheres ainda apresentarão sangramento acima do considerado normal (80 ml) apesar do uso do NSAID. Caso o controle seja adequado, o uso pode ser mantido. 3. OUTRAS OPÇÕES TERAPÊUTICAS- Análogos do GnRH podem ser considerados antes de uma cirurgia, por exemplo em miomas, em especial para possibilitar a recuperação do organismo e a redução do volume. São utilizados quando outros métodos hormonais estão contraindicados, por período de tempo curto, até que as condições para uma cirurgia sejam adequadas. É preciso considerar seu custo e efeitos colaterais frequentes. As evidências para o uso de desmopressina em SUA são reduzidas e ainda inconclusivas para que seja recomendada TRATAMENTO CIRÚRGICO DO SUA SEM LESÃO ESTRUTURAL- O tratamento cirúrgico no SUA sem causa estrutural é indicado quando há falha do tratamento clínico. Dentre as formas de tratamento cirúrgico, temos a ablação do endométrio e a histerectomia. 3.1 ABLAÇÃO ENDOMETRIAL- constitui uma alternativa menos invasiva à histerectomia. O objetivo dessa técnica é promover a destruição do endométrio, com lesão da camada basal desse, o que impede sua regeneração. 25 Apresenta bons resultados quando o útero tem histerometria inferior a 10 cm. Podem ser empregadas várias técnicas para a destruição endometrial, todas com sucesso relativamente parecido, gerando melhora importante do sangramento e taxa de amenorreia, após um ano, em torno de 40% a 50% 3.2 Histerectomia é um tratamento de exceção para o tratamento do SUA de causa não estrutural, possuindo alto índice de satisfação das pacientes por ser curativo. A análise do alto custo do tratamento cirúrgico, o tempo prolongado de afastamento das atividades diárias, o risco de infecção e as complicações cirúrgicas tornam a indicação desse método exclusiva para os casos em que todas as alternativas terapêuticas apresentaram falhas e para quando a paciente não desejar mais ter filhos. TRANSTORNO OBSSEVIVO COMPULSIVO X TRANSTORNO DISSOCIATIVO CONVERSIVO Fonte:Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais [recurso eletrônico] / Paulo Dalgalarrondo. – 3. ed. – Porto Alegre. Artmed, 2019 No passado, de uma forma ou outra, todos os transtornos dissociativos e conversivos tendiam a ser agrupados no grande capítulo da histeria ou neurose histérica. A CID-11 e o sistema DSM, desde o DSM-III, do início dos anos de 1980, até o atual DSM-5, BCE CASO 02-UNIFTC 4P desmontaram o construto histeria em várias condições distintas. CONVERSÃO E DISSOCIAÇÃO • NA CONVERSÃO ocorrem alterações das funções sensoriais ou das funções motoras, que lembram sintomas neurológicos, mas que são, na realidade, claramente distintos das condições neurológicas. • Há, assim, a conversão de um conflito psíquico inconsciente (desejos, temores inconscientes e inaceitáveis para o indivíduo) para o corpo; conversão aqui significa, portanto, salto” do plano psíquico para o plano de sintomas corporais. • Em relação às funções sensoriais, pode haver anestesias departes do corpo, perda da visão, do olfato ou da audição. • Em relação às funções motoras, pode haver fraqueza ou paralisias, contraturas, movimentos anormais, perturbações do andar e no ficar de pé (astasia-abasia) e rouquidão psicogênicas ou perda total da voz (afonia conversiva). • Por serem psicogênicas (de causa predominantemente psicológica), as alterações sensoriais, como perda da visão ou audição, perda da voz, anestesia das mãos ou de um braço, ou as motoras, como paralisias de membros, correspondem à representação mental e simbólica do corpo, e não à neuroanatomia objetiva ou à função neurológica; • NA DISSOCIAÇÃO, ocorre a perturbação, a separação e o isolamento de aspectos da mente e da personalidade. Aqui, dissociação significa “separação”, “rechaço”, de uma parte da mente inaceitável para o indivíduo. • A dissociação pode ocorrer por meio de crises em que se perde parcialmente a consciência (a pessoa se “desliga” do ambiente e de si mesma, com desmaio parcial e abalos musculares), ou em episódios em que parte da memória é momentaneamente apagada, como a memória retrógrada de eventos traumáticos do passado. Pensamentos, desejos e experiências vividas, conflitantes com os valores do paciente, são isolados e suprimidos do campo da consciência e da memória. • TRANSTORNOS CONVERSIVOS • Os transtornos conversivos, no DSM-5, são quadros em que um ou mais sintomas de alteração de função motora ou sensorial psicogênica estão presentes. • Os sintomas devem causar sofrimento e/ou disfunção e não são explicados por causas neurológicas ou médicas somáticas. • NO DSM-5, os transtornos conversivos são de: • Fraqueza ou paralisia; movimentos anormais( tremores, distonias etc) e distúrbios de marcha, dificuldade ou impossibilidade de deglutição, alterações de fala como afonia ou disfonia, rouquidão ou fala arrastada; ataques semelhantes a uma convulsão epilética (CRISE HISTÉRICA), anestesia ou perda sensorial, sintomas mistos. • TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS • Os transtornos dissociativos se caracterizam por perda na continuidade da experiência subjetiva e perturbação da integração normal (por isso, dissociação), da consciência, da memória, da identidade, das emoções, das percepções, da representação corporal, do controle motor e/ou do comportamento. Em decorrência de traumas emocionais graves ou conflitos psíquicos, o paciente “necessita” cindir parte de suas funções mentais, rechaçando os elementos consciente ou inconscientemente temidos ou indesejados. 1. AMINÉSIA DISSOCIATIVA- em geral o indivíduo esquece elementos seletivos e significativos do ponto de vista psicológico (amnésia psicologicamente seletiva). Do ponto de vista temporal, trata-se, geralmente, de uma amnésia retrógrada, com o indivíduo esquecendo ou apagando todos ou alguns aspectos seletivos do passado ou de um evento passado particular (em geral traumático ou inaceitável psicologicamente). Associada à amnésia dissociativa, pode ocorrer a chamada fuga dissociativa, na qual o indivíduo perambula sem rumo, por horas ou dias, em estado parcialmente alterado da consciência (e pode apresentar o chamado estado crepuscular da consciência. 2. TRANSTORNO DISSOCIATIVO DE IDENTIDADE- No transtorno dissociativo de identidade, há ruptura da identidade e presença de dois ou mais estados de personalidade distintos (identidades dissociadas). A ruptura da identidade implica, geralmente, marcante descontinuidade no senso de si mesmo, no senso de agência e no domínio das próprias ações. O comportamento é observado por outras pessoas ou é relatado pelo indivíduo. Pelo menos duas “personalidades distintas” recorrentemente tomam o controle da consciência e do funcionamento do paciente e atuam em áreas específicas da vida diária, BCE CASO 02-UNIFTC 4P como na família ou no trabalho. Mudanças da personalidade são acompanhadas de alterações correlatas na sensopercepção, na cognição, no afeto, no controle motor, na memória e nos comportamentos. Há, tipicamente, episódios de amnésia associados a tais dissociações. 3. TRANSTORNO DE DESPERSONALIZAÇÃO/DESREALIZAÇÃO- A despersonalização é definida como estranhamento e sensação de irrealidade em relação ao próprio Eu. A pessoa percebe seu self como algo estranho ou irreal, sente-se “distante de si mesma”, como se fosse um observador externo de si, dos seus sentimentos, pensamentos, ações e sensações corporais. Já a desrealização é caracterizada por perceber o mundo ao redor, pessoas e objetos conhecidos e familiares como se fossem irreais ou estranhos, como se estivessem em um sonho, em cenas distantes ou nubladas, sem cor ou visualmente distorcidas. Para o diagnóstico desse transtorno, é necessário que o indivíduo tenha seu senso de realidade bem preservado. Assim, não deve estar psicótico ouapresentar sintomas psicóticos associados (como delírios e/ou alucinações). 4. TRANSTORNOS DE TRANSE E TRANSE COM POSSESSÃO- No transtorno do transe, o indivíduo deve apresentar estados de transe nos quais há alteração de seu estado de consciência, e o senso de identidade pessoal é alterado. No transe com possessão, a consciência e identidade da pessoa é substituída por uma instância ou identidade externa “possuidora”; o indivíduo se comporta com a sensação de estar sendo controlado pela entidade ou agente “possuidor”. Esses quadros de transe são recorrentes e, se o diagnóstico for feito em um episódio único, devem durar vários dias. Os transtornos de transe e de transe com possessão são involuntários e indesejados. 5. CRISES HISTÉRICAS- crises histéricas. Nos dias atuais, elas são denominadas pelo DSM-5 como transtorno conversivo com ataques semelhantes a uma convulsão epiléptica. Tal denominação e classificação são, de certa forma, inexatas, pois se trata de mecanismo de dissociação da consciência, e não de conversão (conceitos vistos anteriormente). Trata-se de crises de curta duração (minutos a poucas horas), com turvação mais ou menos profunda da consciência, espasmos, tremores, abalos, hipertonia ou atonia muscular. O paciente range os dentes, saliva pela boca, às vezes geme ou grita. Em geral, são crises desencadeadas por situação estressante, as quais ocorrem após discussão ou briga pessoal, recebimento de uma notícia inesperada ou ao presenciar cena emocionalmente carregada. É raro durarem mais do que algumas horas, praticamente nunca surgem durante o sono e quase nunca ocorrem sem a presença de outras pessoas. TRANSTORNOS OBSSESSIVOS COMPULSIVOS- Eles se caracterizam por ideias, fantasias e imagens obsessivas e por atos, rituais ou comportamentos compulsivos. Esses quadros são vividos como uma pressão sobre o indivíduo, como algo que o obriga e a que se submete. Os quadros obsessivos, portanto, caracterizam-se por ideias, pensamentos, fantasias ou imagens persistentes que surgem de forma recorrente na consciência; são vivenciados com angústia e como algo que “invade” a consciência. Nos quadros compulsivos, predominam comportamentos e rituais repetitivos, como lavar as mãos inúmeras vezes, tomar muitos banhos, verificar se as portas e janelas estão trancadas dezenas de vezes, colocar todos os objetos do BCE CASO 02-UNIFTC 4P quarto em certa ordem, etc., assim como atos mentais, como repetir palavras mentalmente em silêncio, fazer listas mentais, fazer determinadas contas, em geral em resposta a uma ideia obsessiva (“Devo estar com câncer, aids ou sífilis; então tenho que me lavar constantemente”). Os comportamentos e os atos compulsivos também podem surgir como forma de cumprir regras mágicas que precisam ser rigidamente seguidas. Outras razões para os atos e os rituais compulsivos são pensamentos mágicos que vinculam a realização do ato compulsivo como afastamento de algum evento temível ou indesejado (“Se eu der 15 voltas no quarteirão antes de entrar em casa, ninguém da família morrerá”). Na prática clínica, nem sempre é fácil demarcar com precisão o limite entre a obsessão e a fobia (p. ex., obsessão por limpeza, fobia de sujeira ou contaminação) ou entre a ideia delirante e a obsessão com pouca crítica e insight. TRATAMENTO DOS TRANSTORNOS NEURÓTICOS- TOC Fonte: USO DE MEDICAMENTOS NO TRATAMENTO DO TOC (Capítulo 5 do livro “TOC” 2a Edição: Artmed, 2014). Os medicamentos considerados de primeira escolha no tratamento do TOC são os ISRS (fluvoxamina, fluoxetina, paroxetina, citalopram, sertralina e escitalopram) e a clomipramina. Quando comparam-se os resultados obtidos em estudos com estes fármacos, a clomipramina parece apresentar alguma vantagem na redução de sintomas comparada aos ISRS (em média 45% contra média de 30%). Mas este resultado é tido como controverso nas discussões da literatura, apontando para possíveis fatores relacionados ao perfil de pacientes estudados como causa da ‘’desvantagem’’ dos ISRS. Estudos ‘’cabeça-a-cabeça’’ comparando o tricíclico e os ISRS mostram eficácia equivalente, com tolerabilidade mais favorável aos ISRS. Com estes resultados a literatura tem indicado os ISRS como tratamento preferencial no TOC. Com base nos estudos envolvendo a serotonina e a dopamina no TOC, parece possível que, pelo menos em algu-mas formas de TOC (p.ex., TOC com história de ST), os sistemas neurotransmissores, tanto da dopamina quanto da serotonina, possam estar envolvidos na fisiopatologia dos sintomas. Ainda não está esclarecido se a anormalidade primária está na função da sero-tonina, na função da dopamina ou no equilíbrio entre ambas. Esta hipótese é sustenta-da por muitos dados pré-clínicos que sugerem a existência de importantes interações anatômicas e funcionais entre os neurônios serotoninérgicos e dopaminérgicos. Deste modo, pode ser que decréscimos nas influências tônico-inibitórias da sero-tonina sobre os neurônios dopaminérgicos possam levar ao aumento da função dopa-minérgica devido a conexões funcionais entre os neurônios dopaminérgicos e seroto-ninérgicos nos gânglios basais. Pacientes com TOC e história de ST podem assim representar um subtipo do transtorno com dois neurotransmissores, estando o equilíbrio entre eles envolvido na fisiopatologia dos sintomas Mecanismo de ação IRSS: Os ISCSs bloqueiam a captação de serotonina, levando ao aumento da concentração do neurotransmissor na fenda sináptica Os efeitos colaterais mais comuns da fluoxetina, da sertralina, da paroxetina, da fluvoxamina, citalopram e escitalopram são náuseas, dor abdominal, diarreia, sonolência e, eventualmente, insônia, inquietude, dor de cabeça e suores noturnos. Com frequência, também causam disfunção sexual (diminuição do desejo, dificuldades para atingir o orgasmo, retardo na ejaculação e impotência) e, mais raramente, tremores das mãos. A clomipramina pode provocar tonturas, queda da pressão arterial, boca seca, visão turva, constipação intestinal, sonolência, ganho de peso, retardo na ejaculação, retenção urinária, diminuição da libido e confusão mental. Mais raramente, causa tremores das mãos, suores noturnos e galactorréia (eliminação espontânea de leite). Em doses elevadas, pode provocar convulsões e está contraindicada em pacientes com infarto do miocárdio. Os antipsicóticos podem ser utilizados como tratamento de potencialização aos fármacos que atuam na recaptação da serotonina. Em monoterapia não há comprovação de sua eficácia. . A risperidona foi considerado a primeira escolha nesta indicação em função do nível de evidência, relação risco-benefício e tolerabilidade. Doses médias seriam preferíveis a doses baixas. A adição de terapia cognitivo-comportamental é um dos primeiros recursos (talvez o mais efetivo e de maior concordância entre diferentes guidelines e protocolos) quando a resposta ao medicamento é insatisfatória. Na verdade, a TCC deve ser adicionada à farmacoterapia sempre que possível desde o início do tratamento. Estudos mais recentes indicam que os resultados são superiores quando os dois métodos terapêuticos são utilizados em conjunto38- 40. Portadores de TOC com resposta parcial também apresentam redução na intensidade dos sintomas se for acrescentada TCC à terapia farmacológica em curso. BCE CASO 02-UNIFTC 4P COAGULOPATIAS HEREDITÁRIAS As coagulopatias congênitas são condições clínicas decorrentes de anormalidades congênitas do mecanismo de coagulação. Clinicamente, essas alterações podem se expressar por meio de manifestações hemorrágicas (coagulopatias congênitas hemorrágicas), trombóticas (coagulopatias congênitas trombóticas ou trombofilias hereditárias), hemorrágicas ou trombóticas (disfibrinogenemias), e assintomáticas, quando são diagnosticadas por achado laboratorial. HEMOFILIAS A hemofilia A (hemofilia clássica) e a hemofilia B (doença de Christmas) são doenças hemorrágicas hereditárias, decorrentes de deficiências quantitativas ou qualitativas dos fatores VIII e IX, respectivamente. As hemofilias são herdadas como condições recessivas ligadas ao cromossomo X, acometendo quase que exclusivamente indivíduos do sexo masculino. A herança é ligada ao sexo, mas até um terço dos pacientes não tem história familiar, e a doença resulta de mutação recente. Genética: As hemofilias são doenças de transmissão recessiva ligada ao cromossomo X, sendo transmitidas a indivíduos do sexo masculino através de mães portadoras da mutação. Os genes que codificam os fatores VIII e IX estão localizados no braço longo do cromossomo X. Os defeitos genéticos da hemofilia A compreendem deleções, inserções e umtações por todo o gene do fator VIII. Aproximadamente 40% dos casos de hemofilia A grave são causados pela inversão do intron 22 do gene do fator VIII. Como o gene do fator IX tem aproximadamente um terço do tamanho do fator VIII, suas mutações genéticas são mais facilmente identificáveis, não havendo relatado nenhuma mutação recorrente como observado para hemofilia A. Em indivíduos do sexo masculino que não possuam o alelo normal, a deficiência manifesta-se clinicamente como hemofilia. O indivíduo afetado não irá transmitir a doença aos filhos porque o cromossomo Y é normal. Contudo, todas as suas filhas serão portadoras de um alelo alterado (mulheres portadoras de hemofilia), uma vez que herdam o cromossomo X paterno. A maioria dessas mulheres será clinicamente normal por causa da presença do alelo normal materno. A mulher portadora poderá transmitir a doença para 50% dos seus filhos e o estado de portadora para 50% de suas filhas. As mulheres quando portadoras do gene mutante são habitualmente as- sintomáticas. A proporção com a qual o gene anormal é suprimido pelo alelo normal nas mulheres portadoras de hemofilia varia de acordo com o fenômeno da inativação randômica dos cromossomos X (hipótese de Lyon). Isto faz com que as taxas do fator VIII apresentem grandes variações, muitas vezes sobrepondo-se aos valores normais. Para a ocorrência de mulheres hemofílicas, existem as seguintes possibilidades: • A forma mais comum é a observada numa minoria de mulheres heterozigotas, onde a “lyonização” é extrema, resultando na inativação do alelo normal na maioria das células e, consequentemente, em valores extremamente baixos do fator V III coagulante; • Resultado da união de um hemofílico com uma mulher portadora, o que é um evento pouco frequente; • Presença de um alelo mutante em uma mulher com somente um cromossomo X, como no mosaicismo para a síndrome de Turner (genótipo XX/XO); e • Raros casos de hemofilia A transmitida como doença autossômica dominante, decorrente de uma nova mutação, devendo a hemofiliaA ser diferenciada da doença de von Willebrand sub tipo 2N. Diagnóstico e classificação O diagnóstico confirmatório da hemofilia A e B baseia-se na quantificação da atividade coagulante dos fatores VIII e IX, respectivamente. A suspeita diagnóstica baseia-se na história clínica hemorrágica e/ou antecedente familiar. Como os fatores VIII e IX fazem parte do mecanismo intrínseco da coagulação, os testes que avaliam essa via estarão anormais, havendo normalidade da contagem plaquetária, do tempo de sangramento e do Tempo de Protrombina (TP). Contudo, a intensidade do prolongamento do Tempo de Tromboplastina Parcial ativado (TTPa) irá depender da gravidade da hemofilia e do reagente utilizado. O paciente hemofílico grave terá história de hemorragias desde a infância, com o aparecimento posterior de sangramentos intra-articulares, hematomas musculares pós-traumáticos e mesmo espontâneos. A presença de BCE CASO 02-UNIFTC 4P sangramentos pós-exodontias e procedimentos cirúrgicos, principalmente amidalectomia, é outro sintoma característico. As hemofilias A e B exigem diferenciação específica entre elas para o tratamento adequado. A diferenciação com a hemofilia B é feita através das dosagens dos fatores VIII e IX. O diagnóstico diferencial entre a hemofilia A e a doença de von Willebrand é feito através do estudo da atividade antigênica e funcional do fator von Willebrand. As hemofilias A e B devem ser diferenciadas das outras deficiências da via intrínseca, que causam prolongamento do TTPa. A deficiência do fator XI acomete homens e mulheres, apresentando diátese hemorrágica mais leve do que as hemofilias. As deficiências dos fatores XII, preçalicreína e cininogênio de alto peso molecular, embora apresentem prolongamento do TTPa, não cursam com manifestações hemorrágicas. No caso da deficiência combinada dos fatores V e VIII, além do prolonga- mento do TTPa há prolongamento do TP e redução dos níveis dos fatores VIII e V (ao redor de 15- 20%), não associados à doença hepática. A hemofilia B é diferenciada da deficiência de vitamina K através da normalidade das concentrações plasmáticas dos fatores II, VII e X. DOENÇA DE WILLEBRAND A doença de von Willebrand é uma doença hemorrágica, causada por defeitos hereditários na concentração, estrutura ou função do fator von Willebrand. Os pacientes com essa alteração hemostática representam um grupo heterogêneo, já que as expressões fenotípicas da doença po dem variar em intensidade e oscilar com o tempo, além das mutações do fator von Willebrand poderem ter efeitos complexos. A doença de von Willebrand é considerada a mais comum das doenças hemorrágicas. É o distúrbio hemorrágico hereditário mais comum. DIAGNÓSTICO- Os sangramentos mais frequentemente relatados pelos pacientes com DVW são epistaxe, menorragia, hemorragia pós-exodontia, equimose, sangramento após pequenos ferimentos, gengivorragia, sangramento pós-operatório, sangramento gastrintestinal e hemartrose. Essas manifestações hemorrágicas geralmente são leves ou moderadas, refletindo o predomínio da doença de von Willebrand tipo 1. As hemorragias graves podem acontecer nos pacientes com doença de von Willebrand tipo 3, em alguns pacientes com tipo 2 e raramente no tipo 1. Manifestações hemorrágicas pouco comuns, como hemartrose, são observadas geralmente nas formas graves da doença de von Willebrand. Contudo,deve-se sempre ter em consideração que as manifestações hemorrágicas podem ser modificadas pela presença de comorbidades e pelo uso de medicamentos, como aspirina, anti--inflamatórios não hormonais, contraceptivos orais e antidepressivos. Alguns trabalhos relatam prevalência elevada de menorragia em mulheres com doença de von Willebrand. GENÉTICA Quanto ao padrão de hereditariedade da doença de von Willebrand, nos tipos 1, 2A e 2B ele é, usualmente, au- tossômico dominante. Nos tipos 2N e 3 éautossômico recessivo. Deve-se ainda considerar as situações de he- terozigose composta, a qual, aparentemente, émais comum do que anteriormente suposto, e a penetrância variável da doença tipo 1. A doença de von Willebrand adquirida pode ocorrer espontaneamente ou em associação com outras doenças como gamopatias monoclonais, mieloma múltiplo, doenças linfoproliferativas, doenças mieloproliferativas, doenças autoimunes, cardiopatias congênitas, valvopatias cardíacas, determinados tumores e hipotireoidismo. As manifestações hemorrágicas são semelhantes, porém com ausência de história pessoal prévia e familiar de sangramentos. BCE CASO 02-UNIFTC 4P TIPO 1- A doença de von Willebrand tipo 1 corresponde às deficiências parciais do fator von Willebrand, sendo as manifestações hemorrágicas decorrentes das menores concentrações plasmáticas do fator von Willebrand. Laboratorialmente, caracteriza-se pela proporcionalidade entre as atividades funcionais e as concentrações plasmáticas do Fator Von Willebrand (FVWRCo/FVWAgA DVW tipo 1 pode ser causada pela redução da secreção de fator von Willebrand funcionalmente normal, com distribuição multimérica praticamente normal, ou por depuração aumentada do fator von Willebrand. A DVW tipo 1 é a forma mais comum, compreendendo 70 a 80% dos casos e, usualmente, apresenta padrão de transmissão autossômico dominante, com penetrância incompleta (60%). TIPO 2 - A doença de von Willebrand tipo 2 caracteriza-se por apresentar alterações da molécula do FVW, sem alterar sua atividade antigênica, de modo que não há paralelismo entre os valores da atividade de cofator de ristocetina e do antígeno do fator von Willebrand. TIPO 3- A doença de von Willebrand grave ou tipo 3 édecorrente de uma intensa redução da síntese do fator von Willebrand, resultando em níveis plasmáticos muito baixos do fator von Willebrand (< 5 UI/dL), da atividade de cofator de ristocetina (< 5 UI/dL), da capacidade de ligação ao colágeno (< 5 UI/dL) e de fator V III coagulante (10 UI/dL). Consequentemente, os pacientes apresentam manifestações hemorrágicas graves, com sangramentos cutâneos e mucosos, além de hemorragias musculares e intra-articulares. Sua transmissão éautossômica recessiva, sendo os pais, heterozigotos, oligossintomáticos ou assintomáticos. BCE CASO 02-UNIFTC 4P TRATAMENTO O tratamento dos pacientes com doença de von Willebrand se baseia em três estratégias: a) aumentar as concentrações plasmáticas de fator von Willebrand através da secreção de estoques endógenos por estimulação das células endoteliais pela vasopressina; b) reposição do fator von Willebrand através da infusão de concentrados de fator von Willebrand; e c) uso de agentes que promovem a hemostasia e a cicatrização tecidual, sem alterar substancialmente as concentrações plasmáticas do fator von Willebrand. Essas alternativas serão utilizadas de acordo com o tipo e gravidade da doença de von Willebrand, gravidade da manifestação hemorrágica e a natureza do sangramento atual ou em potencial. Contudo, de acordo com a situação, mais de uma dessas opções terapêuticas poderá ser usada em conjunto. Desmopressina A desmopressina (DDAVP) é um análogo sintético da vasopressina que causa o aumento das concentrações plasmáticas do fator VIII coagulante e do FVW, quando administrado em voluntários normais ou em pacientes com hemofilia A leve e doença de von Willebrand. Embora tenha importante ação antidiurética, relacionada com a estimulação de receptores V2 de vasopressina, o DDAVP apresenta pequena ou nenhuma ação sobre os receptores VI de vasopressina, presente nos músculos lisos. Aparentemente, o DDAVP atua ao promover a liberação do fator von Willebrand, especialmente os multímeros de alto peso molecular, dos corpúsculos de Weibel-Palade do endotélio vascular, através de mecanismo mediado pela adenosina-monofosfato cíclica (AMPc), além da liberação do fatorVIII coagulante das células dos sinusóides hepáticos, e ao melhorar a interação entre as plaquetas e o subendotélio mediada pelos monócitos e por outro agente agregante, independente do fator von Willebrand. As melhores respostas ao uso do DDAVP ocorrem nos pacientes com doença de von Willebrand tipo l. Tratamneto de substituição para a elevação das concentrações do FVW - A terapia de substituição éindicada para os pacientes que não respondem ao DDAVP ou que apresentam alguma contraindicação para seu uso dessa medicação. Drogas antifibrinolíticas São drogas que ligam-se, reversivelmente, ao plasminogênio, bloqueando a sua ligação à fibrina, sua ativação e transformação à plasmina. Como essas drogas penetram no espaço extravascular e acumulam-se nos tecidos, admite-se que a sua eficácia decorra da inibição da fibrinólise tecidual e consequente estabilização do coágulo. Existem dois derivados sintéticos com atividade antifibrinolí- tica, o ácido aminocaproico e o ácido tranexâmico, que é dez vezes mais potente do que o ácido aminocaproico. Estrógenos Os estrógenos aumentam as concentrações plasmáticas do FVW, aparentemente, por estimulação direta da célula endotelial, porém de modo variável e sem possibilidade de prever. O uso continuado de anticoncepcionais orais contendo estrogênios poderá ser eficaz contra a menorragia em situações em que os antifibrinolíticos foram ineficientes, mesmo em mulheres com doença do tipo 3, em que essa modalidade terapêutica não afeta as concentrações plasmáticas do fator VIII e do fator von Willebrand Prednisona Na hematúria, tanto os antifibrinolíticos como os concentrados de fator aumentam o risco da formação de coágulos com consequente cólica renal. Nos pacientes com doença do tipo 3, em que o DDAVP éineficaz, a prednisona pode ser útil no tratamento da hematúria de intensidade moderada. Aparentemente, atua nos capilares renais e não propicia a formação de coágulos maiores. Hemostasia local O uso local de selantes de fibrina éindicado nas exodontias e nas postectomias, sempre associado à aplicação local e sistêmica de droga antifibrinolítica. A aplicação de Gelfoam, embebido com antifibrinolítico, éeficaz no tratamento de epistaxe TROMBOFILIAS HEREDITÁRIAS A trombofilia hereditária (TH) refere-se a uma tendência geneticamente determinada para o desenvolvimento de trombose, embora pacientes com TH possam nunca desenvolvê-la. Quase sempre o termo émais empregado na abordagem do Tromboembolismo Venoso (TEV).A TH decorre de mutações nos genes que codificam proteínas da coagulação e anticoagulantes naturais. Essas mutações podem ocasionar deficiências quantitativas, qualitativas (funcionais) ou ambas.
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