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O QUE É O ROMANCE?
É possível contar histórias em prosa que compreendam personagens, utilizando outras formas que não sejam o romance. A distinção às vezes é sutil. Gide, por exemplo, preferia chamar de “narrativas ou relatos (récits) algumas de suas obras (O imoralista, A porta estreita, Isabelle) porque nelas a história é como que purificada, as personagens são numerosas, a temática é concentrada. (...). Sem contar essas discriminações particulares, a tradição reconhece ALGUMAS OUTRAS FORMAS DE NARRATIVAS além do romance, das quais é possível extrair leis estéticas.
O CONTO
RELEMBRANDO!
Uma das formas de narrar, o  conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho). Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total. O conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade. Ao escritor de contos dá-se o nome de contista. 
Universalmente admirado, versa sobre os mais variados assuntos e são classificados por tipo: "Contos Policiais", "Contos de Fadas", "Contos Eróticos", "Ficção", "Contos Infantis", etc.Essa forma narrativa de menor extensão se diferencia do romance e da novela não só pelo seu tamanho, mas também por possuir características estruturais próprias.
Possui os mesmos componentes do romance, mas evita análises, complicações do enredo, e o tempo e o espaço são muito bem delimitados. O conto é um só drama, um só conflito, uma única ação. Tudo gira em torno do conflito dramático. A montagem do conto está em volta de uma só idéia, uma imagem ou vida, desprezando-se os acessórios. É uma narrativa linear, que não se aprofunda no estudo da psicologia das personagens nem nas motivações de suas ações. “O conto é uma narrativa breve; desenrolando um só incidente predominante e um só personagem principal, contém um só assunto cujos detalhes são tão comprimidos e o conjunto do tratamento tão organizado, que produzem uma só impressão”. (J. Berg Esenwein)
O CONTO
OUTRAS FORMAS DE NARRATIVAS:
É possível contar histórias em prosa que compreendam personagens, utilizando outras formas que não sejam o romance. A distinção às vezes é sutil:
NOVELA
CONTO
CRÔNICA
FÁBULA
EPOPÉIA
ENSAIO
Muita gente define o conto como sendo uma narrativa pequena. Mas a definição precisa não é esta. A chave para se entender o conto, enquanto gênero, está na concentração de sua trama. Não é possível falar de vários assuntos ou apresentar várias situações dentro de um conto. Ele trata, geralmente, de uma situação, a qual se desenrola sem pausas e sem recuos.
O seu foco é levar o leitor ao desfecho, que é, também, o clímax da história. É o momento com o máximo de tensão. Neste momento final, quase não há descrições.
No conto, deve existir um cuidado na seleção de tudo aquilo que será apresentado ao leitor. Tudo deve ser muito simples, sem grandes complicações psicológicas e sem grandes peripécias. 
Características do conto:
A unidade do Conto
O espaço do conto
O tempo do conto
O tempo do conto
A linguagem do conto
A estrutura do conto
A aliança
Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim. Aconteceu com um amigo meu. Fictício, é claro.
Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para A batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las.
- Você não sabe o que me aconteceu! 
— O quê?
— Uma coisa incrível. 
— O quê?
— Contando ninguém acredita. 
— Conta!
— Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?
— Não. 
— Olhe.
E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.
— O que aconteceu?
E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.
— Que coisa - diria a mulher, calmamente.
— Não é difícil de acreditar?
— Não. É perfeitamente possível. 
— Pois é. Eu...
Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria.
— Mas, meu bem...
— Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!
E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:
— Que fim levou a sua aliança? E ele disse:
— Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.
Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.
— O mais importante é que você não mentiu pra mim. 
E foi tratar do jantar.
As mentiras que os homens contam
Luiz Fernando Verissimo
CRÔNICA
Já da época das grandes navegações, que diz respeito ao Brasil, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel é tida como a primeira crônica nacional. O relato da descoberta de nosso país era uma crônica no sentido atribuído ao vocábulo, ou seja, narrativa em ordem cronológica do que acontecia no Novo Mundo. Indiscutível também foi seu valor literário, “pois ele recria com engenho a arte tudo o que ele registra no contato direto com os índios e seus costumes naquele instante de confronto entre a cultura européia e a cultura primitiva”. (Jorge de Sá). 
O primeiro aspecto que percebemos é o bom humor do texto.
O autor não utilizou grandes recursos de linguagem nem criou situações complexas.
O texto é leve e fácil de ser compreendido.
O texto é imaginado, é criado a partir de um fato, de uma cena corriqueira, do dia a dia.
As características da crônica:
· Ligada à vida cotidiana;
· Narrativa informal, familiar, intimista;
· Uso da oralidade na escrita: linguagem coloquial;
· Sensibilidade no contato com a realidade;
· Síntese; Brevidade;
· Uso do fato como meio ou pretexto para o artista exercer seu estilo e criatividade;
· Dose de lirismo;
· Natureza ensaística;
· Leveza;
· Diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa fiada;· Uso do humor;
· É um fato moderno: está sujeita à rápida transformação e à fugacidade da vida moderna.
A ênfase, no caso da crônica, incide sobre uma visão pessoal dos acontecimentos. Há uma forte carga de subjetividade. O que é levado em consideração é a visão que o cronista tem dos fatos, os quais ele classifica como importantes para ele epara o leitor. A veracidade é emotiva. Devido à subjetividade, há um diálogo natural com o leitor. Tudo acontece como se o cronista estivesse conversando com ele. No entanto, O leitor não pode expor suas considerações diante daquilo que está sendo contado.
Na crônica, "Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida...“
CRÔNICA
A história da crônica
Do grego chronikós, referente a tempo (chrónos), pelo latim chronica ,o vocábulo crônica, segundo Massaud Moisés, “designava, no início da era cristã, uma lista ou relação de acontecimentos, segundo a marcha do tempo, isto é, em seqüência cronológica.”
Outras fontes nos informam que em suas origens a crônica destinava-se a relatos de fatos verídicos e nobres, também em ordem cronológica. No Antigo Testamento, por exemplo, no livro das Crônicas, o que se visava era o registro da grande história do povo e dos reis de Israel. 
E em Portugal em 1434, Fernão Lopes, notário, guardião-mor da Torre do Tombo, foi oficialmente designado pelo infante rei D. Duarte, a escrever as crônicas dos reis anteriores e dos feitos do rei D. João I. 
Já da época das grandes navegações, que diz respeito ao Brasil, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel é tida como a primeira crônica nacional. O relato da descoberta de nosso país era uma crônica no sentido atribuído ao vocábulo, ou seja, narrativa em ordem cronológica do que acontecia no Novo Mundo. Indiscutível também foi seu valor literário, “pois ele recria com engenho a arte tudo o que ele registra no contato direto com os índios e seus costumes naquele instante de confronto entre a cultura européia e a cultura primitiva”. (Jorge de Sá). 
A crônica se afastou da História com o avanço da imprensa e do jornal. Tornou-se "Folhetim". João Roberto Faria no prefácio de Crônicas Escolhidas de José de Alencar nos explica:"Naqueles tempos, a crônica chamava-se folhetim e não tinha as características que tem hoje. Era um texto mais longo, publicado geralmente aos domingos no rodapé da primeira página do jornal, e seu primeiro objetivo era comentar e passar em revista os principais fatos da semana, fossem eles alegres ou tristes, sérios ou banais, econômicos ou políticos, sociais ou culturais. O resultado, para dar um exemplo, é que num único folhetim podiam estar, lado a lado, notícias sobre a guerra da Criméia, uma apreciação do espetáculo lírico que acabara de estrear, críticas às especulações na Bolsa e a descrição de um baile no Cassino."3
No século XIX, com a ampla difusão da imprensa, a crônica assumiu seu sentido estritamente literário. Segundo alguns estudiosos, ela apareceu inicialmente em forma de folhetim, no rodapé dos jornais da época. José de Alencar definiu o folhetim como uma miscelânea de assuntos, de artigos a ensaios ou resenhas literárias. 
Dos folhetins iniciais, foi então se aclimatando na pena de grandes talentos de nossa literatura, até assumir, segundo alguns críticos literários, uma identidade própria, uma característica tipicamente nacional, componente imprescindível dos jornais. 
O folhetim fazia parte da estrutura dos jornais, era informativa e crítica. Aos poucos foi se afastando e se constituindo como gênero literário: a linguagem se tornou mais leve, mas com uma elaboração interna complexa, carregando a força da poesia e do humor. 
Ainda hoje há a relação da crônica e o jornalismo. Os jornais ainda publicam crônicas diariamente, mas seu aspecto literário já é indiscutível. O próprio fato de conviver com o efêmero propicia uma comunicação que deve ser reveladora, sensível, insinuante e despretenciosa como só a literatura pode ser. É "uma forma de conhecimento de meandros sutis de nossa realidade e de nossa história” 2.
No Brasil, a crônica se consolidou por volta de 1930 e atualmente vem adquirindo uma importância maior em nossa literatura graças aos excelentes escritores, como Rubem Braga e Luís Fernando Veríssimo, além dos grandes autores brasileiros, como Machado de Assis, José de Alencar e Carlos Drummond de Andrade, que também resolveram dedicar seus talentos a esse gênero. Tudo isso fez com que a crônica se desenvolvesse no Brasil de forma significativa.
Na crônica, "Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida..."4. 
1 - Afrânio Coutinho - "A literatura no Brasil" - Volume III - RJ:Livr. São José,1964.  
2 - Davi Arrigucci Jr. - "Fragmentos sobre a crônica" - Folha de São Paulo,1987  
3- João Roberto Faria no prefácio (Alencar conversa com os seus leitores) de "Crônicas escolhidas - José de Alencar" - São Paulo: Ed. Ática e Folha de São Paulo, 1995. 
4 - Antônio Cândido no artigo "A vida ao rés-do-chão".
Uma das características essenciais da crônica é esta: a trivialidade. Atos como acordar, fazer o café e procurar o pão ganham uma relevância a ponto de se transformarem em objetos de criação literária.
Geralmente, as crônicas apresentam linguagem simples, espontânea, situada entre a linguagem oral e a literária. Isso contribui também para que o leitor se identifique com o cronista, que acaba se tornando o porta-voz daquele que lê.
A linguagem direta, espontânea, jornalística e, por isto tudo, fácil de ser compreendida, mas com alguns aspectos literários.
Não há espaço para devaneios. O cronista tem que se manter preso aos fatos. Mesmo quando a subjetividade aflora, isto é, torna-se mais perceptível pelo leitor, o cronista não pode perder de vista o fato real.
Trata-se, então, de uma linguagem que flutua entre a referencialidade do jornal e a plurissignificação das palavras da literatura. Joga, portanto, com os dois lados da moeda.
O cronista capta uma situação qualquer e dá a ela, através da linguagem, uma outra dimensão. Ao dar a uma situação banal um estilo ágil e, muitas vezes, poético, a crônica conquista o leitor.
Onde termina a crônica e começa o conto?
Personagens
Narrador
O Assunto
Personagens
Enquanto o contista mergulha de ponta-cabeça na construção da personagem, o cronista age de maneira mais solta. As personagens não têm descrição psicológica profunda; são levemente caracterizadas (uma ou duas características), suficientes para compor seus traços genéricos, com os quais, qualquer pessoa pode se identificar: Fulano é distraído, Beltrano é mau-caráter. Em geral, as personagens não têm nomes: é a moça, o menino, a velha, o senador, a mulher, a dona de casa. Ou, se têm, são nomes comuns, como: dona Nena, seu Chiquinho. Às vezes, o cronista cria personagens, mas sempre a partir de uma matriz real, isto é, pessoas reais que se tornam personagens.
Narrador
Enquanto no conto o narrador é um personagem. Na crônica, o cronista sequer tem a preocupação de colocar-se no seu lugar.  Quem narra uma crônica é o seu autor mesmo; pois, o cronista parte de experiências próprias, de fatos que testemunhou (com certo envolvimento) ou dos quais participou. Por isso, a crônica tem, quase sempre, um caráter confessional, autobiográfico. 
O Assunto
O assunto de uma crônica é sempre resultado daquilo que o cronista colhe na sua vivência. Portanto, o assunto da crônica, geralmente, está centrado em uma experiência pessoal. Ao passo que o conto, não raro, é produto da imaginação, da ficção.
O Desfecho
No conto há um conflito e, geralmente, um desfecho para ele. Como a finalidade da crônica é analisar as circunstâncias de um fato e não concluí-lo, o desfecho é, praticamente, inexistente. Seu texto não tem resolução, não tem moral como na fábula, é aberto para que cada leitor crie o final que melhor desejar. O cronista, no fundo, deseja que seu leitor seja um coautor.
A Linguagem
O cronista procura trazer para suas crônicas a oralidade das ruas. Daí ser predominante nas crônicas a linguagem coloquial e até popular, para introduzirum linguajar de bate-papo, de conversa-fiada; todos carregados de gírias.
"[...], pois o artista que deseje cumprir sua função primordial de antena do seu povo, captando tudo aquilo que nós outros não estamos aparelhados para depreender, terá que explorar as potencialidades da língua; buscando uma construção frasal que provoque significações várias (mas não gratuitas ou ocasionais), descortinando para o público uma paisagem até então obscurecida ou ignorada por completo." (SÁ, Jorge de. A crônica. São Paulo: Ática, 1985. Série Princípios)
O Diálogo
É a presença do diálogo na crônica, que faz com que ela se aproxime do conto. Mas, na crônica, o diálogo é forma de interação, que cria uma importante cumplicidade com o leitor, principalmente, através de perguntas lançadas ao ar; ou então, para manter um formato que se aproxime do bate-papo, sua característica marcante.
Conclusão
A crônica tem, hoje, uma linguagem própria, um espaço definido e independente - no jornal ou em qualquer outro veículo de comunicação.  
A crônica é literatura graças ao trabalho consciente dos cronistas-escritores, que fizeram e fazem de seu ofício uma profissão de fé. Machado de Assis, Olavo Bilac, Humberto Campos, Raquel de Queirós ou Rachel de Queiroz, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Rubens Braga, Paulo Mendes, Paulo Francis, Arnaldo Jabor, Érico Veríssimo e tantos outros, cultivaram-na ou cultivam-na com peculiar engenhosidade, criatividade e assiduidade. 
O cronista pode trabalhar qualquer assunto, basta que tenha talento para fazê-lo. Até a falta de um assunto pode ser um assunto. Crônica Lírica ou Poética, Crônica de Humor, Crônica-Ensaio, Crônica Descritiva, Crônica Narrativa, Crônica Dissertativa, Crônica Reflexiva, Crônica Metafísica 
 "A crônica não é um ‘gênero maior’ [...] ‘Graças a Deus’, - seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós. E para muitos pode servir de caminho não apenas para a vida, que ela serve de perto, mas para a literatura (...)." (CANDIDO, Antonio. Prefácio Para Gostar de Ler. São Paulo: Ática, 1980.) 
O Dramático e suas Formas
Dramático vem do verbo grego “drao”, e quer dizer: fazer, agir. A principal característica do gênero dramático é a ação. Este gênero ultrapassa a literatura propriamente dita, valorizando o texto dramático que pode ser em verso ou em prosa.
 O gênero dramático só se complementa com a atuação de atores no espetáculo teatral. 
A palavra drama significa, etimologicamente, ação. Por isso, em obras dramáticas, a história e as emoções não são imitadas através do discurso do narrador, mas são expressas através de personagens em ação. 
 O gênero dramático caracteriza-se pela ausência de um narrador, o destaque dado à fala da personagem e a concentração dramática.
A ação dramática encontra sua realização num espaço restrito e num tempo restrito. O espaço, geralmente, é um palco. O tempo é aquele necessário para representar uma história, estabelecendo uma comunicação entre obra e público. Trata-se de um tempo que passa num ritmo próprio, um ritmo que tem por objetivo o desfecho da história. Esse ritmo é desencadeado a partir do momento em que o espectador tem sua atenção voltada para a tensão. 
Principais manifestações dramáticas
TRAGÉDIA - forma dramática de origem grega, usa uma linguagem rebuscada e apresenta personagens da aristocracia que, vitimados pelo destino caem em desgraça. Procura inspirar pelo horror e piedade, provocando a reflexão sobre o sentido da existência humana.
COMÉDIA - também de origem grega, apresentava originalmente personagens de caráter vicioso e vulgar, que protagonizavam atitudes ridículas. A comédia é uma sátira de comportamentos individuais e coletivos.
Atualmente a comédia representa aspectos da vida cotidiana como tema, provocando o riso.
Aspectos do gênero dramático
A AÇÃO: 
PARTES DA HISTÓRIA - Apresentação; Complicação; Clímax; Desfecho ou desenlace 
PERSONAGENS – Protagonista; Antagonista; Personagens secundários, adjuvantes ou coadjuvantes 
ESPAÇO
TENSÃO
Ariano Suassuna
Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em 16 de junho de 1927, filho de Cássia Villar e João Suassuna. 
A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano. Com Hermilo Borba Filho. fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, Uma Mulher Vestida de Sol. 
Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. Em 1959,fundou o Teatro Popular do Nordeste.
Em 1955, Auto da Compadecida que estréia no cinema, 1969. Microssérie da Rede Globo de Televisão, 1994, e no cinema, 2000. 
Segundo João David Pinto Correia (1993 ) são as seguintes as composições da literatura popular integradas neste género: tragédias e dramas, comédias, fábulas e apólogos, autos, entremezes, cegadas, representações, diálogos
O adjetivo - dramático - mantém uma estreita ligação com o termo “drama”, cujo significado é “ação”. Tal ação é representada por meio da encenação de atores, que, no palco, são peças fundamentais. Destituída de narrador, o enredo é retratado pelos próprios personagens do espetáculo, mantendo uma perfeita sintonia entre a palavra verbalizada e o público expectador.  
Dentre as características que perfazem tal modalidade estão: atores, que em consonância com outros elementos, como, figurino, maquiagem, cenário, gestos, reproduzem a história em forma de diálogos, divididos em atos e cenas;  e a ação propriamente dita, retratada numa sequência linear,constituída pela exposição, conflito, complicação, clímax e desfecho final. 
“Contrariamente a um preconceito bastante difundido e cuja origem é a escola, o teatro não é um gênero literário. Ele é uma prática cênica.”
Ler o teatro, tomo II, A escola do espectador, Belin, 1996, p.9.
Cultuado desde a Antiguidade, sua origem deve-se aos gregos, haja vista que em suas festas religiosas homenageavam ao deus Dionísio (Baco). E entre os principais dramaturgos figuram-se: 
Ésquilo - Prometeu acorrentado
Sófocles  - Édipo rei, Electra
Eurípides - Medeia, As bacantes 
Aristófanes - A paz, Assembléia de mulheres 
Antífanes  - Menandro 
A AÇÃO
As vivências e atitudes dos personagens conduzem à ação de um texto narrativo. Há uma seqüência de fatos e acontecimentos a serem contados. Essa seqüência cronológica de fatos e acontecimentos constitui a história; a organização dessa seqüência resulta no enredo, ou intriga. Dessa forma a o enredo de um texto narrativo resulta de um trabalho de montagem desenvolvido pelo ficcionista a partir dos elementos fornecidos pela história.
Uma história pode ser esquematicamente a passagem de uma situação inicial para uma situação final, devido à ocorrência de transformações. Surgem os conflitos entre os personagens. Assim, podem-se apontar as seguintes partes de uma história: a apresentação, a complicação, o clímax e o desfecho.
Partes da história:
 Apresentação – nesta parte, mostra-se ao os primeiros dados do mundo construído, como os personagens e suas características, o espaço em que se movimentam, as relações que mantêm entre si e suas referências temporais; expõe-se aqui a situação inicial do universo ficcional.
• Complicação – é o momento  em que se rompe o equilíbrio do estado inicial; por causa das atitudes de algum personagem ou de um acontecimento, surgem conflitos e começam a ocorrer transformações que conduzem a narrativa ao ponto máximo de tensão.
• Clímax – é o ponto máximo de tensão, resultante da convergência de vários conflitos vividos pelos personagens.
• Desfecho ou desenlace – corresponde à situação final, ou seja, ao novo equilíbrio que se alcança depois do clímax. PERSONAGENS
Os personagens de uma narrativa são seres fictícios, criaturas de papel e tinta moldadas pelo escritor por meio da organização de traços recolhidos da realidade e trabalhados pela imaginação. Inseridos num mundo construído que segue uma coerência interna, os personagens subordinam-se a ela. Sua movimentaçãoé que determina o andamento da ação: o enredo existe por meio de personagens, que nele ganham vida.
Categorias de Personagens:
• Protagonista – é o personagem principal da narrativa, a quem se devem as principais ações dinamizadoras do enredo, ou a quem o texto dedica maior pormenorização de atitudes e emoções. É comum denominá-lo herói quando se afirma por suas qualidades físicas ou morais.
• Antagonista - é o principal opositor do protagonista. Suas atitudes provocam o surgimento de conflitos, cuja superação conduz às transformações.
• Personagens secundários, adjuvantes ou coadjuvantes - surgem ao redor do protagonista ou do antagonista, auxiliando-os ou prejudicando-os em suas atitudes. Sua atuação é mais ou menos a mesma ao longo de toda a trama. 
Tempo: 
O mundo construído pelo ficcionista apresenta marcas temporais: podem ser indicações de datas ou horários, referências às partes do dia, às estações do ano, à posição dos astros no céu. É nesse fluxo de tempo que acontecem os fatos formadores da história; é nele que os personagens desenvolvem seus dramas e conflitos.
Espaço:
Os componentes físicos que servem de cenário ao desenrolar da ação e aos movimentos dos personagens constituem o chamado espaço da narrativa: trata-se de mais um dos elementos do mundo construído pelo ficcionista.
Narrador:
O elemento do mundo ficcional responsável por sua apresentação a quem esteja interessado em conhecê-lo é o narrador. É sua existência que diferencia o gênero narrativo do gênero dramático: neste último, ação, personagens, espaço e tempo desenrolam-se diretamente diante do espectador. No gênero narrativo eles chegam ao leitor através do narrador. Ao ler um texto narrativo, você percebe a existência de uma voz que conta ou mostra os fatos: essa voz é o narrador.
Foco narrativo - é o ponto de vista assumido pelo narrador ao apresentar o mundo construído. De acordo com o foco narrativo que ele assume, o narrador se aproxima ou se distancia dos fatos narrados, dos personagens, da ação e daquele a quem narra. Sua posição pessoal pode tender à neutralidade ou ser claramente participativa.
Um único caráter comum é retido pelos antigos a fim de definir o gênero dramático, opondo-o a uma outra grande família literária, a narração: é a enunciação. Os meios de que lança mão o teatro fazem-no imitar “todas as pessoas agindo e realizando algo” ( A Poética 1448a), e a arte dramática expressa essa mímese por meio de uma enunciação na primeira pessoa. Aristóteles distingue assim a imitação que se faz “contando” daquela que se faz agindo e falando. 
O teatro poderia pois se definir, em primeiro lugar, como uma arte do “eu”. Mas um eu plural, posto que cada protagonista que toma a palavra emprega-a por sua própria conta.
“O teatro torna-se o gênero mais objetivo, aquele em que as pessoas parecem falar por si mesmas, sem que o autor tome diretamente a palavra ( salvo no caso especial do porta-voz, do mensageiro, do coro, do prólogo, do epílogo ou das indicações cênicas”
Patrice Pavis, Dicionário do teatro, Dunod, 1996, p. 148
Tensão:
A tensão é a essência do dramático. Ela é movida por duas características principais: pathos e problema. Daí, temos mais duas perguntinhas: 
O pathos é a paixão. Para expressá-lo, o autor dramático cria um tipo de linguagem comovente e arrebatada. Esta linguagem traduz a resistência da personagem diante dos embates gerados pelo mundo que a cerca. A fala patética é impetuosa e pressupõe um outro que a ouça e com ela se comova. É uma comoção espontânea. 
Esse sentimento grandioso, seja de dor ou de prazer, está sempre direcionado a algo que se crê ou a algo em que se deposita esperança. É uma força que caminha, gradativamente, para um clímax. Neste ponto, os objetivos são atingidos.
TRAGÉDIA - forma dramática de origem grega, usa uma linguagem rebuscada e apresenta personagens da aristocracia que, vitimados pelo destino caem em desgraça. Procura inspirar pelo horror e piedade, provocando a reflexão sobre o sentido da existência humana.
A palavra tragédia deriva do grego tragos, que significa bode, e oide, que significa canto. A partir de um entendimento mítico, acredita-se que tenha nascido de cultos religiosos praticados em honra ao deus Dionísio, nos quais as pessoas apareciam travestidas com pele de bode e, usando máscaras, cantavam hinos à divindade que presidia a colheita da uva. Apresenta um choque entre o herói e seu destino.
“A tragédia é, portanto, a imitação de uma ação nobre levada até o final e tendo uma certa extensão. Numa língua realçada por detalhes espirituosos dos quais cada espécie é utilizada separadamente de acordo com as partes da obra; é uma imitação feita por personagens em ação e que, por intermédio da piedade e do temor, realiza a purgação das emoções desse gênero”
A Poética, 1449b, op. cit. 
Ó geração de mortais, como vossa existência nada vale a meus   olhos! Qual a criatura humana que já conheceu a felicidade que  não seja a de parecer feliz, e que não tenha recaído após, no infortúnio, finda aquela doce ilusão? Em face do teu destino tão cruel, ó desditoso Édipo, posso afirmar que não há felicidade para os mortais! (SÓFOCLES, p.132 )
A ação trágica segue uma sequência: nó, reconhecimento, peripécia e clímax. 
COMÉDIA - também de origem grega, apresentava originalmente personagens de caráter vicioso e vulgar, que protagonizavam atitudes ridículas. A comédia é uma sátira de comportamentos individuais e coletivos.
Atualmente a comédia representa aspectos da vida cotidiana como tema, provocando o riso.
Para Aristóteles, é a imitação de pessoas de qualidade moral ou psíquica inferior. É a exposição de vícios que caem no domínio do risível. Submetido ao riso, o homem percebe seus limites. O ridículo dispersa a tensão dramática. Supõe-se que a comédia tenha nascido dos festejos fálicos no culto à procriação.
A tensão trágica caminha para o clímax. A interdependência das partes, na tragédia, é responsável pela tensão. Já a tensão cômica é permanentemente desfeita pelo riso. Surgem várias tensões que são dispersadas ou abolidas pelo ridículo ou pelo riso.
STALLONI, 2003,p. 40 e 41
O autor da Poética desejava, sobretudo, em se tratando de teatro, arte dea mimese, definir as leis do gênero que considerava superior e, de alguma forma, ideal: a tragédia. As posições relativas à comédia, só foram por ele apresentadas por comparação com esse gênero.
Eis os três principais critérios admitidos por Aristóteles:
 A imagem do herói – “uma delas (a comédia) pretende imitar o pior dos homens, ao passo que a outra (a tragédia) consagra a imitação dos homens melhores que os contemporâneos” (1448a). E ainda: “ A comédia é (...) uma imitação dos homens que não tem grande virtude” (ibidem)
 Os assuntos inferiores – A origem da comédia é popular, dionisíaca.
 Final feliz – “(...) de fato os personagens que, na lenda, são os piores inimigos, partem ao final reconciliadas, e ninguém é morto por ninguém” (1453b)
 Força cômica – deformidade (defeito) e linguagem.
O Lírico e suas formas
Cada um – Ricardo Reis
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos. Nada mais nos é dado.
Começo a conhecer-me. Não existo.  
Sou o intervalo entre o que desejo ser e os outros me fizeram,   
ou metade desse intervalo, porque também há vida ...  
Sou isso, enfim ...   
Apague a luz, feche a porta e deixe de ter barulhos de chinelos no corredor.  
Fique eu no quarto só com o grande sossego de mim mesmo.   
É um universo barato. 
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobreo chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía. 
Deixa a Vida me Levar 
Zeca Pagodinho
Eu já passei
Por quase tudo nessa vida
Em matéria de guarida
Espero ainda a minha vez
Confesso que sou
De origem pobre
Mas meu coração é nobre
Foi assim que Deus me fez...
E deixa a vida me levar
(Vida leva eu!)
Deixa a vida me levar
(Vida leva eu!)
Deixa a vida me levar
(Vida leva eu!)
Sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu...
Só posso levantar
As mãos pro céu
Agradecer e ser fiel
Ao destino que Deus me deu
Se não tenho tudo que preciso
Com o que tenho, vivo
De mansinho lá vou eu...
Se a coisa não sai
Do jeito que eu quero
Também não me desespero
O negócio é deixar rolar
E aos trancos e barrancos
Lá vou eu!
E sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu...
REFRÃO
Traduzir-se - Ferreira Gullar
Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém, fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa, pondera
Outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte linguagem
Traduzir uma parte na outra parte
Que é uma questão de vida e morte
Será arte ? 
EQUILIBRIO
EU X MUNDO
A grande dificuldade para o ser humano é fazer uma leitura de si mesmo.
 A grande dificuldade é cada um tentar se entender para harmonizar o que tem de racional e passional.
“Traduzir-se uma parte/ na outra parte” - “Será arte?”
Mundo e realidade
O que é o lírico?
A palavra lírica deriva do grego lyrikós, que significa algo referente à lira ou som da lira. Este é um instrumento primitivo de quatro cordas que, por sua musicalidade, tem vínculo com o surgimento da poesia lírica, pois o texto lírico tem, na sua estrutura, musicalidade.
Ainda quanto à origem, a poesia lírica tem seus pés fincados em hinos religiosos e na tradição popular.
	O Eu lírico é um termo usado dentro da literatura para demonstrar o pensamento geral daquele que está narrando o texto; A junção de todos os sentimentos, expressões, opiniões e críticas feitas pela pessoa superior ao texto, que no caso seria o narrador e/ou a pessoa central ao qual o texto está se referindo. O Eu-lírico é o "eu" que fala na poesia. É geralmente muito usado em textos de gênero lírico, que são caracterizados por expressar, mas não necessariamente, os sentimentos do autor.
O EU representa o mundo ao redor a partir de sua subjetividade. O sujeito, na literatura, surge com o lírico. É, no lírico, que esse sujeito deixa aflorar os seus sentimentos mais recônditos.
Diante do universo da representação vai se constituir progressivamente um universo em expansão. À restituição do mundo em sua forma narrada (o relato, a narrativa) ou dialogada (o teatro), responderá uma relação pessoal das impressões suscitadas pelo mundo, uma exploração íntima dos sentimentos, expressa através de uma voz julgada espontânea, (...). Tomando-se ele próprio como assunto, o poeta abandona o domínio da imitação da realidade em troca daquele da introspecção individual.
Essa tendência literária que negligencia a atitude de tomar o mundo como modelo, que ignora as expectativas do auditório, que parece traduzir, de maneira incontrolada, a interioridade do criador e reproduzir uma fala que ele parece dirigir a si mesmo, corresponde àquilo que será chamado de lirismo.
(STALLONI, 2003, p.135)
A lírica está ligada à livre imaginação, onde a emoção supera o pensamento.
Gênero literário é uma categoria de composição literária. A classificação das obras literárias pode ser feita de acordo com critérios, sintáticos,fonológicos, formais, contextuais e outros. A distinções entre os gêneros e categorias são flexíveis, muitas vezes com subgrupos.
O gênero lírico se faz, na maioria das vezes, em versos e explora a musicalidade das palavras. Entretanto, os outros dois gêneros — o narrativo e o dramático — também podem ser escritos nessa forma, embora modernamente prefira-se a prosa.
Todas as modalidades literárias são influenciadas pelas personagens, pelo espaço e pelo tempo. Todos os gêneros podem ser não-ficcionais ouficcionais. Os não-ficcionais baseiam-se na realidade, e os ficcionais inventam um mundo, onde os acontecimentos ocorrem coerentemente com o que se passa no enredo da história
A lírica está ligada à livre imaginação, onde a emoção supera o pensamento
“Poesia é quando uma emoção encontra seu pensamento e o pensamento encontra palavras.” (Robert Frost, 1874-1963)
“A poesia é o eco da melodia do universo no coração dos humanos.” (Rabindranath Tagore, 1861-1941)
“A poesia é o sentimento que sobra ao coração e sai pela mão.” (Carmen Conde, 1907-19960)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Principais manifestações dramáticas
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
A lírica está ligada à livre imaginação, onde a emoção supera o pensamento.
A Valsa – Cecília Meireles 
Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos, 
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
E estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
- Os ares fogem, viram-se as águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam 
VOZES D’ÁFRICA – Castro Alves
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
— Infinito: galé! ...
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.
Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes
Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.
...........................................................
A Europa é sempre Europa, a gloriosa! ...
A mulher deslumbrante e caprichosa,
Rainha e cortesã.
Artista — corta o mármor de Carrara;
Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
No glorioso afã! ...
Sempre a láurea lhe cabe nolití
....................................
Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada
Em meio das areias esgarrada,
Perdida marcho em vão!
Se choro... bebe o pranto a areia ardente;
talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente!
Não descubras no chão...
.......................................
Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
É, pois, teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?...
E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
Teu gládio vingador?!
........................................
Foi depois do dilúvio... um viadante,
Negro, sombrio, pálido, arquejante,
Descia do Arará...
E eu disse ao peregrino fulminado:
"Cam! ... serás meu esposo bem-amado...
— Serei tua Eloá. . . "
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos — alimária do universo,
Eu — pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
São Paulo, 11 de junho de 1868.
Para que o leitor penetre no espaço da poesia é preciso que, de coração aberto, num estado de compreensão, de entendimento claro daquilo perceba o que lhe é apresentado. Assim, ele atinge o entendimento, passando pelo plano da emoção. A sua sensibilidade tem que estar desperta. Afinal de contas, antes de entender ele tem que sentir. Portanto, a alma tem que estar desarmada e afinada com a alma do poeta. Há um estado de receptividade por parte do leitor.
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz... 
Minhas Leituras
A TEORIA DO MEDALHÃO 
Machado de Assis
-Estás com sono? 
- Não, senhor. 
- Nem eu; conversemos um pouco. Abre a janela. Que horas são? 
- Onze. 
- Saiu o último conviva do nosso modesto jantar. Com que, meu peralta, chegaste aos teus vinte e um anos. Há vinte e um anos, no dia 5 de agosto de 1854, vinhas tu à luz, um pirralho de nada, e estás homem, longos bigodes, alguns namoros...
- Papai... 
- Não te ponhas com denguices, e falemos como dois amigos sérios. Fecha aquela porta; vou dizer-te coisas importantes. Senta-te e conversemos. Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras  ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. Vinte e um anos, meu rapaz, formam apenas a primeira sílaba do nosso destino. Os mesmos Pitt e Napoleão, apesar de precoces, não foram tudo aos vinte e um anos. Mas qualquer que seja a profissão da tua escolha, o meu desejo é que te faças grande e ilustre, ou pelo menos notável, que te levantes acima da obscuridade comum. A vida, Janjão, é uma enorme loteria; os prêmios são poucos, os malogrados inúmeros, e com os suspiros de uma geração é que se amassam as esperanças de outra. Isto é a vida; não há planger, nem imprecar, mas aceitar as coisas integralmente, com seus ônus e percalços, glórias e desdouros, e ir por diante.
- Sim, senhor. 
- Entretanto, assim como é de boa economia guardar um pão para a velhice, assim também é de boa prática social acautelar um ofício para a hipótese de que os outros falhem, ou não indenizem suficientemente o esforço da nossa ambição. É isto o que te aconselho hoje, dia da tua maioridade. 
Creia que lhe agradeço; mas que ofício, não me dirá?
Nenhum me parece mais útil e cabido que o de medalhão. Ser medalhão foi o sonho da minha mocidade; faltaram-me, porém, as instruções de um pai, e acabo como vês, sem outra consolação e relevo moral, além das esperanças que deposito em ti. Ouve-me bem, meu querido filho, ouve-me e entende. És moço, tens naturalmente o ardor, a exuberância, os improvisos da idade; não os rejeites, mas modera-os de modo que aos quarenta e cinco anos possas entrar francamente no regime do aprumo e do compasso. O sábio que disse: "a gravidade é um mistério do corpo", definiu a compostura do medalhão. Não confundas essa gravidade com aquela outra que, embora resida no aspecto, é um puro reflexo ou emanação do espírito; essa é do corpo, tão-somente do corpo, um sinal da natureza ou um jeito da vida. Quanto à idade de quarenta e cinco anos... 
- É verdade, por que quarenta e cinco anos?  
- Não é, como podes supor, um limite arbitrário, filho do puro capricho; é a data normal do fenômeno. Geralmente, o verdadeiro medalhão começa a manifestar-se entre os quarenta e cinco e cinqüenta anos, conquanto alguns exemplos se dêem entre os cinqüenta e cinco e os sessenta; mas estes são raros. Há-os também de quarenta anos, e outros mais precoces, de trinta e cinco e de trinta; não são, todavia, vulgares. Não falo dos de vinte e cinco anos: esse madrugar é privilégio do gênio. 
- Entendo. 
- Venhamos ao principal. Uma vez entrado na carreira, deves pôr todo o cuidado nas idéias que houveres de nutrir para uso alheio e próprio. O melhor será não as ter absolutamente; coisa que entenderás bem, imaginando, por exemplo, um ator defraudado do uso de um braço. Ele pode, por um milagre de artifício, dissimular o defeito aos olhos da platéia; mas era muito melhor dispor dos dois. O mesmo se dá com as idéias; pode-se, com violência, abafá-las, escondê-las até à morte; mas nem essa habilidade é comum, nem tão constante esforço conviria ao exercício da vida. 
- Mas quem lhe diz que eu... 
- Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. Não me refiro tanto à fidelidade com que repetes numa sala as opiniões ouvidas numa esquina, e vice-versa, porque esse fato, posto indique certa carência de idéias, ainda assim pode não passar de uma traição da memória. Não; refiro-me ao gesto correto e perfilado com que usas expender francamente as tuas simpatias ou antipatias acerca do corte de um colete, das dimensões de um chapéu, do ranger ou calar das botas novas. Eis aí um sintoma eloqüente, eis aí uma esperança, 
No entanto, podendo acontecer que, com a idade, venhas a ser afligido de algumas idéias próprias, urge aparelhar fortemente o espírito. As idéias são de sua natureza espontâneas e súbitas; por mais que as sofreemos, elas irrompem e precipitam-se. Daí a certeza com que o vulgo, cujo faro é extremamente delicado, distingue o medalhão completo do medalhão incompleto. 
- Creio que assim seja; mas um tal obstáculo é invencível. 
- Não é; há um meio; é lançar mão de um regime debilitante, ler compêndios de retórica, ouvir certos discursos, etc. O voltarete, o dominó e o whist são remédios a provados. O whist tem até a rara vantagem de acostumar ao silêncio, que é a forma mais acentuada de circunspecção. Não digo o mesmo da natação, da equitação e da ginástica, embora elas façam repousar o cérebro; mas por isso mesmo que o fazem repousar, restituem-lhe as forças e a atividade perdidas. O bilhar é excelente.
- Como assim, se também é um exercício corporal? 
- Não digo que não, mas há coisas em que a observação desmente a teoria. Se te aconselho excepcionalmente o bilhar é porque as estatísticas mais escrupulosas mostram que três quartas partes dos habituados do taco partilham as opiniões do mesmo taco. O passeio nas ruas, mormente nas de recreio e parada, é utilíssimo, com a condição de não andares desacompanhado, porque a solidão é oficina de idéias, e o espírito deixado a si mesmo, embora no meio da multidão, pode adquirir uma tal ou qual atividade.
- Mas se eu não tiver à mão um amigo apto e disposto a ir comigo?
- Não faz mal; tens o valente recurso de mesclar-te aos pasmatórios, em que toda a poeira da solidão se dissipa. As livrarias, ou por causa da atmosfera do lugar, ou por qualquer outra, razão que me escapa, não são propícias ao nossofim; e, não obstante, há grande conveniência em entrar por elas, de quando em quando, não digo às ocultas, mas às escâncaras. Podes resolver a dificuldade de um modo simples: vai ali falar do boato do dia, da anedota da semana, de um contrabando, de uma calúnia, de um cometa, de qualquer coisa, quando não prefiras interrogar diretamente os leitores habituais das belas crônicas de Mazade; 75 por cento desses estimáveis cavalheiros repetir-te-ão as mesmas opiniões, e uma tal monotonia é grandemente saudável. Com este regime, durante oito, dez, dezoito meses - suponhamos dois anos, - reduzes o intelecto, por mais pródigo que seja, à sobriedade, à disciplina, ao equilíbrio comum. Não trato do vocabulário, porque ele está subentendido no uso das idéias; há de ser naturalmente simples, tíbio, apoucado, sem notas vermelhas, sem cores de clarim... - Isto é o diabo! Não poder adornar o estilo, de quando em quando...
- Podes; podes empregar umas quantas figuras expressivas, a hidra de Lerna, por exemplo, a cabeça de Medusa, o tonel das Danaides, as asas de Ícaro, e outras, que românticos, clássicos e realistas empregam sem desar quando precisam delas. Sentenças latinas, ditos históricos, versos célebres, brocardos jurídicos, máximas, é de bom aviso trazê-los contigo para os discursos de sobremesa, de felicitação, ou de agradecimento. Caveant consules é um excelente fecho de artigo político; o mesmo direi do Si vis pacem para bellum. Alguns costumam renovar o sabor de uma citação intercalando-a numa frase nova, original e bela, mas não te aconselho esse artifício: seria desnaturar-lhe as graças vetustas. Melhor do que tudo isso, porém, que afinal não passa de mero adorno, são as frases feitas, as locuções convencionais, as fórmulas consagradas pelos anos, incrustadas na memória individual e pública. Essas fórmulas têm a vantagem de não obrigar os outros a um esforço inútil. Não as relaciono agora, mas fá-lo-ei por escrito. De resto, o mesmo ofício te irá ensinando os elementos dessa arte difícil de pensar o pensado. Quanto à utilidade de um tal sistema, basta figurar uma hipótese. Faz-se uma lei, executa-se, não produz efeito, subsiste o mal. Eis aí uma questão que pode aguçar as curiosidades vadias, dar ensejo a um inquérito pedantesco, a uma coleta fastidiosa de documentos e observações, análise das causas prováveis, causas certas, causas possíveis, um estudo infinito das aptidões do sujeito reformado, da natureza do mal, da manipulação do remédio, das circunstâncias da aplicação; matéria, enfim, para todo um andaime de palavras, conceitos, e desvarios. Tu poupas aos teus semelhantes todo esse imenso aranzel, tu dizes simplesmente: Antes das leis, reformemos os costumes! - E esta frase sintética, transparente, límpida, tirada ao pecúlio comum, resolve mais depressa o problema, entra pelos espíritos como um jorro súbito de sol. 
- Vejo por aí que vosmecê condena toda e qualquer aplicação de processos modernos.
- Entendamo-nos. Condeno a aplicação, louvo a denominação. O mesmo direi de toda a recente terminologia científica; deves decorá-la. Conquanto o rasgo peculiar do medalhão seja uma certa atitude de deus Término, e as ciências sejam obra do movimento humano, como tens de ser medalhão mais tarde, convém tomar as armas do teu tempo. E de duas uma: - ou elas estarão usadas e divulgadas daqui a trinta anos, ou conservar-se-ão novas; no primeiro caso, pertencem-te de foro próprio; no segundo, podes ter a coquetice de as trazer, para mostrar que também és pintor. De outiva, com o tempo, irás sabendo a que leis, casos e fenômenos responde toda essa terminologia; porque o método de interrogar os próprios mestres e oficiais da ciência, nos seus livros, estudos e memórias, além de tedioso e cansativo, traz o perigo de inocular idéias novas, e é radicalmente falso. Acresce que no dia em que viesses a assenhorear-te do espírito daquelas leis e fórmulas, serias provavelmente levado a empregá-las com um tal ou qual comedimento, como a costureira esperta e afreguesada, - que, segundo um poeta clássico, Quanto mais pano tem, mais poupa o corte, Menos monte alardeia de retalhos; e este fenômeno, tratando-se de um medalhão, é que não seria científico.
- Upa! que a profissão é difícil!
- E ainda não chegamos ao cabo.
- Vamos a ele.
- Não te falei ainda dos benefícios da publicidade. A publicidade é uma dona loureira e senhoril, que tu deves requestar à força de pequenos mimos, confeitos, almofadinhas, coisas miúdas, que antes exprimem a constância do afeto do que o atrevimento e a ambição. Que D. Quixote solicite os favores dela mediante, ações heróicas ou   custosas, é um sestro próprio desse ilustre lunático. O verdadeiro medalhão tem outra política. Longe de inventar um Tratado científico da criação dos carneiros, compra um carneiro e dá-o aos amigos sob a forma de um jantar, cuja notícia não pode ser indiferente aos seus concidadãos. Uma notícia traz outra; cinco, dez, vinte vezes põe o teu nome ante os olhos do mundo. Comissões ou deputações para felicitar um agraciado, um benemérito, um forasteiro, têm singulares merecimentos, e assim as irmandades e associações diversas, sejam mitológicas, cinegéticas ou coreográficas. Os sucessos de certa ordem, embora de pouca monta, podem ser trazidos a lume, contanto que ponham em relevo a tua pessoa. Explico-me. Se caíres de um carro, sem outro dano, além do susto, é útil mandá-lo dizer aos quatro ventos, não pelo fato em si, que é insignificante, mas pelo efeito de recordar um nome caro às afeições gerais. Percebeste? 
- Percebi. 
- Essa é publicidade constante, barata, fácil, de todos os dias; mas há outra. Qualquer que seja a teoria das artes, é fora de dúvida que o sentimento da família, a amizade pessoal e a estima pública instigam à reprodução das feições de um homem amado ou benemérito. Nada obsta a que sejas objeto de uma tal distinção, principalmente se a sagacidade dos amigos não achar em ti repugnância. Em semelhante caso, não só as regras da mais vulgar polidez mandam aceitar o retrato ou o busto, como seria desazado impedir que os amigos o expusessem em qualquer casa pública. Dessa maneira o nome fica ligado à pessoa; os que houverem lido o teu recente discurso (suponhamos) na sessão inaugural da União dos Cabeleireiros, reconhecerão na compostura das feições o autor dessa obra grave, em que a "alavanca do progresso" e o "suor do trabalho" vencem as "fauces hiantes" da miséria. No caso de que uma comissão te leve a casa o retrato, deves agradecer-lhe o obséquio com um discurso cheio de gratidão e um copo d'água: é uso antigo, razoável e honesto. Convidarás então os melhores amigos, os parentes, e, se for possível, uma ou duas pessoas de representação. Mais. Se esse dia é um dia de glória ou regozijo, não vejo que possas, decentemente, recusar um lugar à mesa aos reporters dos jornais. Em todo o caso,se as obriga- obrigações desses cidadãos os retiverem noutra parte, podes ajudá-los de certa maneira, redigindo tu mesmo a notícia da festa; e, dado que por um tal ou qual escrúpulo, aliás desculpável, não queiras com a própria mão anexar ao teu nome os qualificativos dignos dele, incumbe a notícia a algum amigo ou parente.
- Digo-lhe que o que vosmecê me ensina não é nada fácil.
- Nem eu te digo outra coisa. É difícil, come tempo, muito tempo, leva anos, paciência, trabalho, e felizes os que chegam a entrar na terra prometida! Os que lá não penetram, engole-os a obscuridade. Mas os que triunfam! E tu triunfarás, crê-me. Verás cair as muralhas de Jericó ao som das trompas sagradas. Só então poderás dizer que estás fixado. Começa nesse dia a tua fase de ornamento indispensável, de figura obrigada, de rótulo. Acabou-se a necessidade de farejar ocasiões, comissões, irmandades; elas virão ter contigo, com o seu ar pesadão e cru de substantivos desadjetivados, e tu serás o adjetivo dessas orações opacas, o odorífero das flores, o anilado dos céus, o prestimoso dos cidadãos, o noticioso e suculento dos relatórios. E ser isso é o principal, porque o adjetivo é a alma doidioma, a sua porção idealista e metafísica. O substantivo é a realidade nua e crua, é o naturalismo do vocabulário.
- E parece-lhe que todo esse ofício é apenas um sobressalente para os deficits da vida?
- Decerto; não fica excluída nenhuma outra atividade.
- Nem política?
- Nem política. Toda a questão é não infringir as regras e obrigações capitais. Podes pertencer a qualquer partido, liberal ou conservador, republicano ou ultramontano, com a cláusula única de não ligar nenhuma idéia especial a esses vocábulos, e reconhecer-lhe somente a utilidade do scibboleth bíblico.
- Se for ao parlamento, posso ocupar a tribuna? 
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza de bom-tom, própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica;  - é mais fácil e mais atraente. Supõe que desejas saber por que motivo a 7ª companhia de infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão-somente pelo ministro da guerra, que te explicará em dez minutos as razões desse ato.  Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas. E depois não obriga a pensar e descobrir. Nesse ramo dos conhecimentos humanos tudo está achado, formulado, rotulado, encaixotado; é só prover os alforjes da memória. Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade.
- Farei o que puder. Nenhuma imaginação? 
- Nenhuma; antes faze correr o boato de que um tal dom é ínfimo. 
- Nenhuma filosofia? 
- Entendamo-nos: no papel e na língua alguma, na realidade nada. "Filosofia da história", por exemplo, é uma locução que deves empregar com freqüência, mas proíbo-te que chegues a outras conclusões que não sejam as já achadas por outros. Foge a tudo que possa cheirar a reflexão, originalidade, etc., etc. - Também ao riso? 
- Como ao riso?
- Ficar sério, muito sério...
- Conforme. Tens um gênio folgazão, prazenteiro, não hás de sofreá-lo nem eliminá-lo; podes brincar e rir alguma vez. Medalhão não quer dizer melancólico. Um grave pode ter seus momentos de expansão alegre. Somente, - e este ponto é melindroso...
- Diga... 
- Somente não deves empregar a ironia, esse movimento ao canto da boca, cheio de mistérios, inventado por algum grego da decadência, contraído por Luciano, transmitido a Swift e Voltaire, feição própria dos cépticos e desabusados. Não. Usa antes a chalaça, a nossa boa chalaça amiga, gorducha, redonda, franca, sem biocos, nem véus, que se mete pela cara dos outros, estala como uma palmada, faz pular o sangue nas veias, e arrebentar de riso os suspensórios. Usa a chalaça. Que é isto? - Meia-noite.
- Meia-noite? Entras nos teus vinte e dois anos, meu peralta; estás definitivamente maior. Vamos dormir, que é tarde. Rumina bem o que te disse, meu filho. Guardadas as proporções, a conversa desta noite vale o Príncipe de Machiavelli. Vamos dormir.
AUTOR
TIPO DE TEXTO
PERSONAGENS
ENREDO
AMBIENTE
TEMA
LINGUAGEM
IDÉIAS E CONCEPÇÕES: Ponto de vista filosófico; ponto de vista moral; ponto de vista ideológico.
 Outras impressões provocadas pela leitura
Relação estabelecida entre o texto literário e a sociedade que o produziu;
 Identificar a posição assumida pelo narrador e para quem está direcionado o seu discurso.
Minhas Leituras II
LUÍS DE CAMÕES
“Ao desconcerto do Mundo”
Os bons vi sempre passar
no Mundo grandes tormentos;
e pera mais me espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado:
assim que, só pera mim,
anda o Mundo concertado.
Vós sois ua dama
Das feias do mundo,
De toda a má fama
Sois cabo profundo.
 A  vossa figura
Não é para ver;
Em vosso poder
Não há fermosura.
Vós fostes dotada
De toda maldade;
Perfeita beldade
De vós é tirada.
Sois muito acabada
De tacha e de glosa ;
Pois, quanto a fermosa
Em vós não há nada
Do grão merecer
Sois bem apartada;
Andais alongada
Do bem-parecer.
Bem claro mostrais
Em vós fealdade;
Não há i maldade
Que não precedais.
De fresco carão
Vos vejo ausente;
Em vós é presente,
A má condição.
De ter perfeição
Mui alheia estais;
Mui muito alcançais
De pouca razão.
Retrato de Mulher – Da Vinci
1452 - 1519
Esquema rimático: 
4 estrofes com 8versos
ababcddc
Rima cruzada - versos 1 a 5;
Rima emparelhada -versos 6 e 7;
Rima interpolada noverso 8;
Quanto à escansão (nº sílabas métricas) encontramos a medida velha; isto é,verso de redondilha menor (5)
O tema é a mulher. 
Nesta composição poética Camões materializa a dualidade da dama pela leitura múltipla:
Na horizontal, apresenta- se louvada, as suas qualidades positivas são realçadas;
Na vertical, o poeta deslouva-a, mostrando qualidades negativas. É ainda o gosto do trivial e do lúdico que inspiram estas trovas.
A dona Francisca de Aragão, mandando-lhe esta regra que lha glosasse
MOTE
Mas porém a que cuidados? 
 
 VOLTA
Tanto maiores tormentos
foram sempre os que sofri
daquilo que cabe em mi,
que não sei que pensamentos
são os para que naci.
Quando vejo este meu peito
a perigos arriscados
inclinado, bem suspeito
que a cuidadas sou sujeito:
mas porém a que cuidados?
OUTRA AO MESMO
Que vindes em mi buscar,
cuidados, que sou cativo
e não tenho que vos dar?
Se vindes a me matar,
já há muito que não vivo;
se vindes, porque me dais
tormentos desesperados,
eu, que sempre sofri mais,
não digo que não venhais:
mas porém a quê, cuidados?
OUTRA AO MESMO
Se as penas que Amor me deu
vêm por tão suaves meios,
não há que temer receios,
que val um cuidado meu
por mil descansos alheios.
Ter nuns olhos tão fermosos
os sentidos enlevados
bem sei que, em baixos estados,
são cuidados perigosos.
Mas porém, ah! que cuidados!
Casamento- Adélia Prado
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinho na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
O casamento do diabo
Machado de Assis
Satã teve um dia a idéia
De casar. Que original!
Queria mulher não feia,
Virgem corpo, alma leal.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
Resolvido no projeto,
Para vê-lo realizar,
Quis procurar objeto
Próprio do seu paladar.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu. 
Cortou unhas, cortou rabo,
Cortou as pontas, e após
Saiu o nosso diabo
Como o herói dos heróis.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
É mais fina do que tu.
Casar era a sua dita;
 Correu por terra e por mar,
Encontrou mulher bonita
E tratou de a requestar.
 Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
 Ele quis, ela queria,
Puseram mão sobre mão,
E na melhor harmonia
Verificou-se a união.
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu. 
Passou-se um ano, e ao diabo,
Não lhe cresceram por fim,
Nem as unhas, nem o rabo ...
Mas as pontas, essas sim. 
Toma um conselho de amigo,
Não te cases, Belzebu;
Que a mulher, com ser humana
E mais fina do que tu.
Loucura - Florbela Espanca
Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada
Pavorosa! Não sei onde era dantes.
Meu solar, meus palácios, meus mirantes!
Não sei de nada, Deus, não sei de nada!...
Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas, quebram-se os diamantes!
Não tenho nada, Deus, não tenho nada!...
Pesadelos de insônia,ébrios de anseio!
Loucura de esboçar-se, a enegrecer
Cada vez mais as trevas do meu seio!
Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro de mim! 
PAIS E FILHOS – Legião Urbana
Estátuas e cofres e paredes pintadas
Ninguém sabe o que aconteceu.
Ela se jogou da janela do quinto andar
Nada é fácil de entender.
Dorme agora,
é só o vento lá fora.
Quero colo! Vou fugir de casa!
Posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo, tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três.
Meu filho vai ter nome de santo
Quero o nome mais bonito.
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há.
Me diz, por que que o céu é azul?
Explica a grande fúria do mundo
São meus filhos
Que tomam conta de mim.
Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar.
Já morei em tanta casa
Que nem me lembro mais
Eu moro com os meus pais.
É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há.
Sou uma gota d'água,
sou um grão de areia
Você me diz que seus pais não te entendem,
Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser,
Quando você crescer
ASA BRANCA – LUIZ GONZAGA
Quando "oiei" a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus "óio"
Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração
A arte não se limita à expressão estética em forma de poesia, quadro, escultura ou música; a arte é a expressão simbólica de uma emoção, um sentimento, uma ideologia.
A MÚSICA E A POESIA
Música e literatura têm muito em comum por serem manifestações artísticas infinitamente ricas. Sua distinção se dá, principalmente, pela forma como conduzem as criações humanas: uma pelo jogo de sons, a outra pelo jogo de palavras.
As relações entre a música e a literatura são tão antigas quanto essas duas formas de expressão artística. Desde a Antiguidade o texto literário adapta-se à música, bem como a música adapta-se ao texto literário, mais precisamente, ao poema. Se pensarmos, por exemplo, no Cântico dos Cânticos ou nos Salmos, percebemos com nitidez que foram textos escritos com a finalidade de serem recitados ou cantados ao som de instrumentos musicais; nos Salmos, em especial, encontramos inúmeras indicações destinadas aos músicos, tais como no Salmo 4, onde consta: "Ao mestre de canto. Com instrumentos de cordas". Outras vezes consta "Com flautas" e, em certa ocasiões, indicações bem precisas de técnica, como: "Uma oitava abaixo". São célebres as ilustrações que mostram Davi empunhando uma harpa.
Na Antiguidade grega e romana era quase inadmissível que um poema fosse dito sem que se fizesse acompanhar de música: para tanto, o poema materializava-se em frases de cadência favorável ao canto, e mediante regras mais ou menos uniformes. Não esqueçamos também a imagem do imperador Nero, empunhando uma harpa enquanto incendiava Roma: não apenas uma melodia, mas uma elegia literária à cidade que perecia nas cinzas. Procurava-se, como se percebe, captar o ouvinte pela palavra e pela música ao mesmo tempo. 
Da Idade Média, passou ao nosso imaginário cultural a figura do trovador, simultaneamente poeta e músico, perambulando pelas aldeias com seu alaúde e seus poemas. Rarissimamente a música era meramente instrumental: exceto no caso das danças, a melodia conjugava-se à palavra. Poucos foram os nomes desses poetas-músicos que chegaram até nós.
Durante várias décadas do século XX, por exemplo, as contradições e crises sociais embricaram-se à literatura e à canção, tornando-se estas parte do nosso legado histórico. Em 1930,enquanto Getúlio Vargas tomava posse com o apoio da burguesia e de militares ligados ao tenentismo, grandes mudanças ocorriam no país, desencadeando o crescimento das zonas urbanas,da industrialização e da burguesia, em detrimento do governo oligárquico da República Velha, o qual privilegiava os grandes proprietários de terras. Noel Rosa, nesse ano, lançava Com que roupa, carregando em seu samba uma crítica explícita à pobreza do país, e saía O Quinze, de Rachel de Queirós. 
As composições, na década de 40, de Gonzagão, acrescentam à canção elementos típicos de sua região..
O autor brasileiro que fez a grande travessia da poesia canônica para a canção popular foi Vinicius de Moraes. Pode-se dizer que sua contribuição ao cancioneiro nacional foi mais determinante do que ao universo poético propriamente dito. O “poetinha” acabou se tornando um dos pais da Bossa Nova. O movimento mudaria para sempre os rumos da canção popular, influenciando músicos em vários países. Herdeiros da arte de Vinicius, compositores como Aldir Blanc, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fernando Brant, José Miguel Wisnik e Paulo César Pinheiro – também sob a influência de Guimarães Rosa – se renderam ao fascínio das letras, passando a escrever crônicas, ensaios, ficção e poesia, confirmando a vocação múltipla dos autores nacionais.
A música é uma forma de lirismo. Existe, nela, um olhar muito particular, uma forma única de sentir o mundo. Além disso, assim como a literatura, é um veículo de denúncia de grandes questões sociais.
O Lírico e suas formas
EQUILIBRIO
EU X MUNDO
Mundo e realidade

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