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AULA 6 - PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES - O RURAL E O URBANO EM MOVIMENTO

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SEMINÁRIO EM SERVIÇO SOCIAL
PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE FLORES: 
O RURAL E O URBANO EM MOVIMENTO
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Identificar os principais movimentos sociais operários e camponeses do Brasil no século XX;
2. Reconhecer a emergência de atores sociais populares no campo e na cidade na defesa de seus interesses;
3. Compreender o processo histórico de luta por democracia e cidadania no Brasil;
4. Relacionar a eclosão dos movimentos sociais no Brasil com os fundamentos socialistas, comunistas e
anarquistas.
1 A Primeira República: República da Espada (1889 a 
1894) e a República Oligárquica (1894 a 1930)
A construção da República no Brasil é marcada pela contradição entre o velho e o novo. O antigo modelo
patriarcal, assentado na , cede lugar ao moderno modelo , fundamentado na República.Monarquia democrático
Entretanto, a nova forma não traduz fielmente o seu conteúdo.
Na prática, a primeira República brasileira, também chamada de República Velha, preserva valores e costumes
típicos da sociedade tradicional, como o autoritarismo ou o mandonismo das elites militares ou oligárquicas.
A primeira fase da República Velha ficou conhecida como República da Espada e teve um curto período de
vigência que foi entre 1889 até 1894.
O governo militar foi exercido primeiro pelo Marechal Deodoro da Fonseca (1889 –1891) e, em seguida, pelo seu
vice-presidente Marechal Floriano Peixoto (1891—1894).
Este período foi marcado pelo autoritarismo e centralização do poder, em que diversas revoltas ocorreram,
como o Manifesto dos Treze Generais, a 1ª e 2ª Revoltas da Armada e a Revolução Federalista.
A segunda fase da República Velha ficou conhecida como e teve um período maisRepública das Oligarquias1
longo de duração, entre 1894, com a eleição de Prudente de Morais, e 1930, com a chegada ao poder de Getúlio
Vargas.
1Assim, O cenário politico-social do Brasil republicano em pouco diferenciava do quadro patrimonialista e
autoritário do Império ou Colônia. As elites oligárquicas continuavam tendo totais condições de explorar a
população pobre e desamparada da cidade e do campo. Por sua vez, começa a emergir um processo de
conscientização e mobilização das camadas populares que irá marcar a luta de classes em todo o século XX no
Brasil.
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Essa fase foi marcada pela política do , em que os cafeicultores de São Paulo e os produtores deCafé-com-Leite
leite de Minas Gerais formaram um pacto de alternância no governo federal. Para que as oligarquias dos outros
Estados aceitassem esse rodízio, foi desenvolvida a , em que se estabelecia o apoioPolítica dos Governadores
do governo central às elites regionais (coronéis) em troca de sustentação no Congresso Nacional.
2 O Nascimento do Movimento Operário Brasileiro
No final do século XIX, a chegada de imigrantes italianos e o êxodo rural produzem a formação de um
contingente cada vez maior de trabalhadores nas cidades.
As péssimas condições de vida e de trabalho são o retrato das contradições entre o tradicional e o moderno no
Brasil. O mandonismo patriarcal do passado permanece no tratamento ao operariado em formação. Entretanto,
este quadro de opressão é contrastado com a formação das primeiras Ligas Operárias.
Em 1906, sob a influência de ideias anarquistas e anarco-sindicalistas trazidas pelos imigrantes italianos, é
realizado o I Congresso Operário brasileiro. Dois anos depois, é fundada a Confederação Operária Brasileira
(COB) e o jornal “A Voz do Trabalhador” que reivindica direitos trabalhistas como a redução da jornada de
trabalho para 8 horas diárias e o seguro contra acidentes.
O movimento dos trabalhadores cresce e em 1912 é realizado o II Congresso Operário que ratifica as
reivindicações anteriores e elege a greve como instrumento legítimo de luta contra a opressão do Capital. Apesar
disso, as condições de trabalho e vida continuam péssimas para o operariado que sobrevive com baixos salários,
intensa exploração do trabalho infantil e feminino, falta de higiene nas vilas operárias, mortalidade infantil e
inúmeras epidemias.
Dados sobre o desenvolvimento da indústria e do operariado brasileiro:
1889 Em 1889, o Brasil já possuía cerca de 636 indústrias e 54 mil operários.
1907
Em 1907, esse número subiu para 3.258 indústrias e 149.018
operários.
1920 Em 1920, o Brasil chegou a 13.336 indústrias e 275.512 operários.
Primeira Greve Geral do Brasil – 14 de junho de 1917
Diante do quadro de miséria e degradação, os trabalhadores de São Paulo se mobilizam e deflagram diversas
greves. A reação do governo foi violenta e o operário José Martinez é assassinado pelos soldados que atiraram
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contra os manifestantes. Este foi o estopim para que em 14 de julho de 1917 fosse deflagrada a Primeira Greve
Geral do Brasil. Cerca de 70 mil trabalhadores participaram da greve que colocou definitivamente o Movimento
Operário Brasileiro no contexto da luta de classes.
Com a fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB), em março de 1922, e do jornal comunista, “A classe
Operária”, em 1925, o Comunismo assume o lugar do Anarquismo no Movimento Operário Brasileiro. Em 1927, é
a vez dos trabalhadores do campo serem contaminados pelas ideais comunistas e criarem o Bloco Operário
Camponês.
O Tenentismo
Enquanto isso, a sucessão do presidente é marcada por uma crise política. Alguns militaresEpitácio Pessoa
como o , presidente do Clube Militar, ficaram claramente insatisfeitos com aMarechal Hermes da Fonseca
eleição de . Em Pernambuco, manifestações populares contra a posse de Bernardes sãoArtur Bernardes
combatidas pelo Exército por ordem de Epitácio Pessoa que manda fechar o Clube Militar e ordena a prisão de
Hermes da Fonseca. Diante da prisão do Marechal e do fechamento do Clube Militar, jovens tenentes se
rebelaram contra o governo federal por considerarem o ato uma afronta ao Exército. Essa rebelião ficou
conhecida como .Tenentismo
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Os 18 do Forte
Em 5 de julho de 1922, no forte de Copacabana no Rio de Janeiro, jovens tenentes iniciam o levante que contou
com cerca de 300 tenentes. Entretanto, diante da violenta repressão federal, apenas 17 rebeldes continuaram.
Eles saíram à rua e com o apoio de um civil (Octávio Correa) enfrentaram as tropas federais. Apenas dois
rebeldes sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes. Este episódio ficou conhecido como “Os 18 do
Forte”. Outros regimentos em todo país também se articularam, mas foram rapidamente contidos.
A Coluna Prestes-Miguel Costa
O clima de insatisfação persistiu e em 1924 outros oficiais do Exército protestaram em São Paulo contra o
mandonismo oligárquico.
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Em pouco tempo, diversas revoltas eclodiram peto pais, como em Sergipe, Amazonas e Rio Grande do Sul. Apesar
da forte repressão, o movimento cresce em São Paulo sob a liderança do Major Miguel Costa, e no Rio Grande do
Sul, sob a liderança do Capitão Luis Carlos Prestes. Assim, duas milícias paramilitares são formadas contra a
velha política das oligarquias.
Em abril de 1925, essas duas colunas se fundem e formam a chamada Coluna Prestes-Miguel Costa, que cruza o
pais enfrentando as forças federais. Composta por 1500 homens, a coluna percorreu cerca de 25.000 km e 13
Estados da Federação. Entretanto, desgastada pelos combates, ela se desfaz e os sobreviventes se exilam na
Bolívia e no Paraguai em 1927.
A Revolução de 1930: o fim da República Velha
Em 1930, o presidente Washington Luís, representante dos fazendeiros de São Paulo, rompe com a política do
Café-com-Leite ao indicar o paulista Júlio Prestes para sua sucessão.
A reação dos políticos mineiros veio com a formação da Aliança Liberal, em que Minas Gerais apoia a
candidatura do gaúcho Getúlio Vargas à presidência e a do paraibano João Pessoa à vice naquela eleição.
Contudo, o sistema de fraudes eleitorais garantiu a vitória de Júlio Prestes.
Fim da República Velha
Quando tudo parecia definido, João Pessoa é assassinado na Paraíba devido a disputas políticaslocais. Este foi o
estopim para a revolução. O general Gois Monteiro e Getúlio Vargas marcham do Rio Grande do Sul para o Rio de
Janeiro e destituem o presidente Washington Luis. Era o fim da República Velha.
A Revolução Constitucionalista de 1932
Getúlio Vargas centralizou o poder no Executivo Federal, fechando o Congresso nacional e as Assembleias
Estaduais. Além disso, reduziu as forças policiais e indicou interventores nos Estados da Federação. Saiba mais
sobre Vargas clicando nos números a seguir.
A nomeação de um interventor federal em São Paulo foi a gota d’água para uma série de manifestações
populares contra o autoritarismo de Vargas e a favor de uma nova Constituição Federal. O piora com aconflito2
morte de quatro jovens pela polícia em um desses protestos.
2Os nomes dos jovens mortos, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, passam a denominar o Movimento
Constitucionalista MMDC que, em junho de 1932, vira um conflito armado. Com apoio popular, milícias paulistas
enfrentam as tropas federais, e três meses depois põem fim ao conflito.
Apesar da derrota, a Revolução Constitucionalista de 1932 em São Paulo obteve a maior parte de suas
reivindicações. Em 1933, foi eleita a Assembleia Constituinte. Em 1934, Vargas foi indiretamente eleito
presidente para um mandato de quatro anos.
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Na Era Vargas, Getúlio Vargas instituiu diversos direitos trabalhistas que perduram até os dias de hoje. Dentre
eles, podemos citar:
- jornada de trabalho de oito horas diárias;
- descanso semanal remunerado;
- férias anuais remuneradas;
- indenização por demissão sem justa causa;
- proibiu o trabalho de menores de 14 anos;
- proibiu o trabalho noturno e insalubre para menores de 16 anos e mulheres.
Durante o primeiro governo de Vargas, o cenário mundial viveu grande ebulição política com a consolidação do
comunismo na Rússia, o surgimento do nazismo na Alemanha e do fascismo na Itália. No Brasil, surgiram grupos
políticos inspirados nessas ideologias. Foi o caso da Ação e da Integralista Brasileira (AIB) Aliança Nacional
Libertadora.
Fundada em 1932, pelo jornalista Plínio Salgado, a AIB tinha forte inspiração fascista e nacionalista. Sob o lema
“Deus, Pátria e Família”, os integralistas eram a favor de um Regime Político Totalitário capaz de garantir a
supremacia absoluta do Estado sobre a sociedade.
Em resposta ao avanço do fascismo no Brasil, os comunistas brasileiros fundaram a ANL, em 1935, sob a
liderança de Luís Carlos Prestes. Com o apoio da União Soviética, os aliancistas propunham:
- o não pagamento da dívida externa;
- a nacionalização das empresas estrangeiras;
- a reforma agrária;
- a formação de um governo popular.
A intentona comunista
Em 5 de junho de 1935, Prestes lançou um manifesto em favor de uma revolução socialista no Brasil.
Imediatamente, Vargas determinou o fechamento da ANL.
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O Partido Comunista do Brasil respondeu a esta medida com levantes militares em Natal, Recife e Rio de Janeiro.
Entretanto, a revolução foi vencida pelas forças federais e ficou conhecida como a Intentona Comunista.
3 O Estado Novo
Sob o pretexto de combater os comunistas, Getúlio assume uma postura totalitária e realiza o seu golpe de
Estado em 10 de novembro de 1937. Ele determina o fechamento do Congresso Nacional e outorga uma
Constituição inspirada no fascismo polonês que ficou conhecida como “A Polaca”. Apoiado pela AIB, Vargas
instaura o Estado Novo, cuja denominação é uma referência à ditadura portuguesa de Antônio Salazar.
Durante o Estado Novo, Vargas adotou uma postura de autoritarismo e populismo sustentado por um forte
aparato repressivo e midiático. Ele extinguiu os partidos políticos, inclusive a AIB e criou o Departamento de
Imprensa e Propaganda (DIP), responsável pela censura e criação da ideologia patriótica e populista.
Em 1943 Getúlio ratifica seu golpe ideológico sob as camadas populares ao instituir a Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT). Na verdade, os direitos trabalhistas conquistados pelos operários em suas lutas sangrentas
foram reunidos na CLT sob a ideia de concessão do presidente. Assim ele, que muitas vezes reprimiu
violentamente o movimento sindical, assume miticamente a imagem do “Pai dos Pobres”.
Saiba mais
Movimento Queremista
Aos poucos o autoritarismo de Vargas o isolou no poder e as pressões políticas ficaram
insustentáveis. O seu nacionalismo desagradava à burguesia internacional e o seu populismo
gerava crítica da burguesia nacional. Pressionado, ele tenta encontrar apoio nas camadas
populares. Temendo a volta das oligarquias e a perda de conquistas trabalhistas, Luís Carlos
Prestes e o PCB defendem sua permanência com o Movimento Queremista: “Queremos
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Movimento Social no Campo: as Ligas Camponesas
A crise social e econômica brasileira em meados do século XX nunca foi exclusividade dos centros urbanos.
Desde o período colonial, a produção agrária sempre foi importante para a economia do Brasil. Entretanto, os
trabalhadores rurais jamais receberam amparo das autoridades públicas.
4 Monarquia para República
Na transição da Monarquia para República, o poder das oligarquias rurais contaminou a estrutura moderna do
Estado brasileiro com o coronelismo e a política dos governadores. Assim, o quadro de exploração, o abandono e
a miséria caracterizam a história sofrida da população do campo.
Aproximação da burguesia industrial
Em meados do século XX, a aproximação da burguesia industrial emergente com os senhores de terras
tradicionais produziu um processo singular nas áreas rurais brasileiras. Chamado de Modernização
Conservadora, esse processo gerou mudanças no cenário das relações sociais e econômicas do campo. Dentre
elas, a expropriação de terras dos e sua proletarização.camponeses3
3Esse processo também foi identificado por Fernando Antônio Azevedo, em sua obra “As Ligas Camponesas”,
como “via Prussiana”. Assim, foram introduzidas técnicas e maquinários modernos para aumentar a produção,
mas as condições de opressão e miséria tradicionais persistiram. Os camponeses, desprovidos de suas terras,
não podiam mais produzir sua subsistência e foram obrigados a trocar sua força-trabalho por salário. Sem
direitos trabalhistas efetivos, os novos trabalhadores assalariados do campo viram os proletários rurais. As
contradições estruturais continuaram e o velho mandonismo oligárquico permaneceu na moderna produção
agrícola brasileira.
Trabalhadores rurais
Diante dessa intensa exploração, os trabalhadores rurais se mobilizaram e criaram as Ligas Camponesas e os
Sindicatos Rurais como formas de luta contra a opressão do Capital no campo. Diferentemente dos movimentos
messiânicos ou do banditismo social, as Ligas Camponesas apresentaram uma forte politização e objetivos claros
contra a exploração dos coronéis, a reivindicação de direitos trabalhistas, a reforma agrária, entre outros.
populares. Temendo a volta das oligarquias e a perda de conquistas trabalhistas, Luís Carlos
Prestes e o PCB defendem sua permanência com o Movimento Queremista: “Queremos
Getúlio!”. No entanto, o presidente estava enfraquecido e movimento popular, que ele próprio
desarticulou outrora, não tinha forças suficientes para sustentá-lo. Assim, Getúlio é forçado a
renunciar em 1945. Volta ao poder nas eleições de 1951, mas ainda sem sustentação política e
sob intensa pressão, ele se suicida, colocando fim à Era Vargas.
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Outros movimentos sociais
Atualmente, outros movimentos sociais desempenham papéis importantes no campo, como o Movimento dos
Sem-Terra (MST). Contudo, foram as Ligas Camponesas que, durante as décadas de 50 e 60, organizaram e
politizaram os trabalhadores rurais na luta por seus direitos. O principal líder desse movimento foi o advogado
Francisco Julião que sempre defendeu a construção de uma sociedade justa e igualitária.
O golpe militar de 1964 e os movimentos sociais por democracia
Em 1960, Jânio Quadros foi eleito presidente pela União Democrática Nacional (UDN), mas a herançapolítica de
Getúlio Vargas conseguiu eleger João Goulart (Jango) como vice-presidente.
O Brasil vivia um quadro econômico frágil, com alta de infração e pressões sociais. Jânio não conseguia superar
esses problemas e desagradava todas as correntes políticas. Até que em 25 de agosto de 1961, ele renunciou à
presidência e deu início a mais um período de violência na história do Brasil. Pela ordem constitucional João
Goulart deveria assumir a presidência, mas estava em uma missão diplomática na China. Talvez Jânio acreditasse
que sua renúncia não fosse ser aceita pelo Congresso nacional nem pelos militares por causa da simpatia de
Jango pelos comunistas. Entretanto, a renúncia de Jânio foi aceita, mas a posse de Jango teve que ser negociada
com os militares que o ameaçaram de prisão, caso retornasse ao Brasil.
Movimento de Resistência Democrática
Diversas manifestações passaram a exigir o cumprimento da Constituição. Este movimento ficou conhecido
como a que teve como governador do RioCampanha Legalista ou Movimento da Resistência Democrática4
Grande do Sul Leonel Brizola, seu principal defensor.
4Uma guerra civil se anunciava quando o Congresso fez uma alteração na Constituição e mudou o sistema de
governo de presidencialismo para parlamentarismo. Foi uma espécie de “Golpe Branco”. Assim, Goulart retornou
ao Brasil e assumiu a presidência sem poder efetivo. Pela nova redação constitucional, o primeiro-ministro
exerceria de fato as funções do Executivo, e um plebiscito seria realizado em 1965 para decidir pela permanência
ou não do parlamentarismo.
A inflação aumentou ainda mais, e as pressões populares forçaram a antecipação do Plebiscito para o dia 6 de
janeiro de 1963, consagrando o presidencialismo com mais de 80% dos votos. Finalmente, João Goulart poderia
colocar em prática seu plano de governo, que previa entre outras medidas: corte dos gastos públicos; reformas
de base (agrária, bancária, tributária, eleitoral e educacional); redução da inflação; combate à desigualdade
social.
Reação Conservadora: em 13 de março de 1964, Jango anunciou a nacionalização das refinarias de petróleo e a
expropriação de terras para a reforma agrária, além de uma nova Constituinte. A reação conservadora veio com
a que reuniu mais de 300 mil pessoas contra o governo.“Marcha da família com Deus pela Liberdade”
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1º de Abril: o Dia da Mentira: apesar de contar com certo apoio popular, o presidente João Goulart não tinha
sustentação política suficiente e foi destituído pelos militares. Isso revelou como o contexto social brasileiro é
complexo e contraditório em suas redes de relações conservadoras e transformadoras do status quo. Assim, no
dia 1º de abril de 1964, Dia da Mentira, os valores democráticos e republicanos foram violentados em nome de
Deus, da Pátria e da Família.
Os Atos Institucionais: a violência constitucional
O golpe militar extinguiu diversas garantias e liberdades individuais sob o pretexto de combater a ameaça
comunista e superar a crise econômica. Anunciada como temporária, a ditadura militar permaneceu até 1984. O
principal instrumento de governo foram os Atos Institucionais que tinham força de Emendas Constitucionais do
Poder Executivo. Assim, os oficiais militares tinham poderes arbitrários sobre a sociedade.
Fonte: Fonte: www.brasilescola.com
• Al. 1 - 1964
- poder de alterar a Constituição;
- cassar mandatos políticos;
- suspender direitos e garantias individuais;
- decretar estado de sítio.
• Al. 2 – 1964
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- extinguiu todos os partidos políticos;
- criou dois partidos políticos (Arena e MDB);
- determinou eleições indiretas para Presidência da República.
• Al. 3 – 1966
- determinou eleições indiretas para os estados da federação;
- os prefeitos passaram a ser escolhidos pelos governadores estaduais;
- endureceu ainda mais o regime.
• Al. 4 – 1966
- estabeleceu uma eleição presidencial;
- elaboração de uma nova Constituição.
• Al. 5 – 1968
- fechamento do Congresso Nacional;
- possibilidade de prisão de qualquer pessoa pelo Executivo;
- possibilidade de perda dos direitos políticos de qualquer pessoa pelo Executivo;
- censura prévia dos meios de comunicação;
- o controle do Judiciário pelo Executivo;
- extinção do Mandado de Segurança e do .Habeas Corpus
5 Movimentos Sociais
Maio de 1968: “Sejamos realistas. Exijamos o impossível!”
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Enquanto isso na França, em maio de 1968, estudantes protestam contra o sistema de ensino. O movimento
ganhou força e se tornou uma revolta contra o status quo de conservadorismo político. Paris foi tomada por
diversas manifestações. Mesmo sofrendo violência policial, os estudantes ofereciam flores aos soldados.
Inspirados no movimento hippie, o principal modo de ação coletiva era o pacifismo em defesa da liberdade. Sob
lemas como “Sejamos realistas. Exijamos o impossível!” ou “É proibido proibir!”, o movimento jovem logo
recebeu apoio de intelectuais e trabalhadores que aderiram à luta pela transformação social. Uma greve geral
mobilizou cerca de 10 milhões de operários. Apesar da repressão, o movimento deixou como herança ideológica
a esperança de que é possível mudar.
A Passeata dos Cem Mil
No Brasil, o movimento estudantil também cresceu e, ao lado de intelectuais, camponeses e operários, combateu
diretamente a Ditadura Militar. O governo reagiu invadindo escolas, universidades e teatros. As diversas
passeatas realizadas pelos estudantes foram reprimidas com grande violência e prisões. Até que em uma delas, o
jovem estudante secundarista, Edson Luís foi morto pelos soldados no Rio de Janeiro. O seu enterro se
transformou em uma passeata com mais de 100 mil participantes.
Guerrilhas Contra a Ditadura
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O AI- 5 aniquilou qualquer possibilidade de oposição legal ao regime militar no Brasil. Isso fez com que os
movimentos sociais em favor da volta da democracia fossem considerados clandestinos e marginais pelo
governo. Assim, grupos armados paramilitares se formaram para lutar contra a ditadura militar. Eram as
chamadas Guerrilhas Urbanas e Rurais. As suas principais formas de resistência eram assaltos a banco, ataques
ao Exército, roubos de armas e libertação de companheiros presos.
A reação militar veio com a criação de um sistema integrado de repressão. Foram criados o Serviço Nacional de
Informação (SNI) e as Secretarias Estaduais de Segurança (SES) e seus Departamentos de Ordem Política e Social
(DOPS).
O Exército criou ainda o Destacamento de Operações e Informações (DOI) e o Centro de Operações de Defesa
Interna (CODI). Todo esse aparato técnico-científico militar tinha como objetivos identificar, capturar, torturar e
eliminar opositores ao regime.
O ato de guerrilha de maior repercussão internacional foi sem dúvida o sequestro do embaixador norte-
americano Charles Burke Elbrick. As duas guerrilhas que mais se destacaram foram as lideradas por Carlos
Lamarca, ex-capitão do Exército, morto em 1971, e por Carlos Marighela, ex-deputado do PCB morto em 1969. A
última a sucumbir foi a Guerrilha do Araguaia, entre o Pará, Maranhão e Goiás, que lutou de 1967 até 1975,
quando 69 guerrilheiros foram mortos pelo exército.
Movimento de Resistência Artística: pra não dizer que não falei de flores
Diversos segmentos artísticos passaram a demonstrar insatisfação com o regime militar. O chamado Cinema
Novo abandonou a alienação do modelo estético estrangeiro e passou a abordar a cruel realidade nacional.
Músicos como , Tom Zé, Geraldo Vandré e Chico Buarque produziram canções de protesto queGilberto Gil
viraram hinos da luta contra à ditadura. Os festivais de música se transformaram em espaços de manifestações
políticas contra o regime. Assim, apesar da forte censura, perseguição e exílio, a arte desempenhou um papel
importante na luta por democracia.
Movimento “Diretas Já!”
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Em 1983, a oposição se reestrutura e promove a campanha pela redemocratização do país. O movimento pela
eleição direta para presidente mobilizoumilhões de pessoas às ruas em todo o Brasil exigindo o fim da ditadura.
Era o movimento “Diretas Já!”
Entretanto, em 25 de abril de 1984, uma manobra política estabeleceu uma eleição indireta pelo Congresso
Nacional. A partir de um acordo político, a chapa com Tancredo Neves à Presidência e José Sarney como vice foi
vitoriosa. Assim, após 20 anos de ditadura, o Brasil volta a ter um presidente civil no poder.
(...) Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil! (...)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/hino.htm
Podemos concluir que o processo histórico brasileiro é marcado pelas lutas da sociedade civil contra as diversas
formas de opressão. No campo ou na cidade, contra coronéis ou militares, a história do Brasil é a história de um
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/hino.htm
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povo heroico que sempre buscou o sol da liberdade e jamais fugiu a luta, nem temeu quem adorava a própria
morte. O povo que conquistou a igualdade com braço forte e brado retumbante. Uma história que continua sendo
escrita, em que a paz do futuro depende de não se esquecer das glórias do passado durante as lutas do presente.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• O conceito moderno de Cidadania e sua relação com os Movimentos Sociais;
• a Constituição da República de 1988 e a Cidadania no Brasil;
• fundamentos jurídicos-constitucionais dos Movimentos Sociais Contemporâneos.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Identificou os principais movimentos sociais operários e camponeses do Brasil no século XX;
• Reconheceu a emergência de atores sociais populares no campo e na cidade na defesa de seus interesses;
• Compreendeu o processo histórico de luta por democracia e cidadania no Brasil;
• Relacionou a eclosão dos movimentos sociais no Brasil com os fundamentos socialistas, comunistas e 
anarquistas.
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	Olá!
	1 A Primeira República: República da Espada (1889 a 1894) e a República Oligárquica (1894 a 1930)
	2 O Nascimento do Movimento Operário Brasileiro
	3 O Estado Novo
	4 Monarquia para República
	Al. 1 - 1964
	Al. 2 – 1964
	Al. 3 – 1966
	Al. 4 – 1966
	Al. 5 – 1968
	5 Movimentos Sociais
	O que vem na próxima aula
	CONCLUSÃO

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