Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Diabetes Mellitus Os fatores que contribuem para a hiperglicemia são: deficit de insulina (absoluto ou relativo) e/ou resistência à insulina. Como resultado tem-se a diminuição da utilização periférica e aumento da produção (hepática) de glicose. 1.Definição No período pós-prandial predominam as reações de anabolismo, por estímulo de elevados níveis séricos de insulina, ao passo que no jejum predominam as reações de catabolismo, movidas pela queda da insulina e aumento dos contrarreguladores, em particular o glucagon. A glicose é "percebida" ao adentrar o citoplasma através dos canais de GLUT 1 e 2, que são expressos de forma constitutiva na membrana da célula beta. O glucagon também é um hormônio peptídico, porém, é sintetizado e liberado pelas células-alfa das ilhotas, basicamente em resposta à redução dos níveis séricos de glicose. A glicose é a grande fonte de energia dos neurônios, pois eles não são sensíveis à insulina. Eles já expressam canais de glicose (GLUT 1) de forma constitutiva em sua membrana, sendo estritamente dependentes da glicemia. Diante de um deficit extremo de glicose, o fígado produz corpos cetônicos a partir dos ácidos graxos, que podem ser usados como "combustível alternativo". A cetoacidose, um tipo de acidose metabólica com ânion-gap aumentado causado pelo excesso de corpos cetônicos. As incretinas são peptídeos secretados pelo tubo digestivo durante a absorção de nutrientes. Seu principal efeito é aumentar a secreção pancreática de insulina em resposta à glicose. As incretinas "incrementam" a secreção de insulina na presença de glicose, mas somente quando a glicose é absorvida a partir de uma refeição. A secreção de insulina é maior quando uma mesma carga de glicose é ministrada pela via oral, em comparação com a via endovenosa. 2.Fisiologia Normal Devido à carência de insulina, o organismo diabético se comporta como se o paciente estivesse constantemente em estado de jejum, mesmo no período pós-prandial. Desse modo, o catabolismo e a gliconeogênese ficam continuamente estimulados, e a utilização periférica de ácidos graxos (betaoxidação) predomina em relação à glicólise, explicando o surgimento de hiperglicemia crônica (pré e pós-prandial). 3.Metabolismo no Diabetes Mellitus DM tipo 1: destruição primária das células beta e hipoinsulinismo "absoluto". Tipo 1A - mecanismo autoimune. Tipo 1B - particularmente em negros e asiáticos, predominante em pacientes jovens e não obesos, mas até 30% aparece após a idade de 30 anos (LADA - Latent Autoimune Diabetes of Adults - diabetes autoimune "latente" do adulto). DM tipo 2: resistência periférica à insulina, que ao longo do tempo se associa à disfunção progressiva das células beta ("exaustão" secretória). DM gestacional: intolerância à glicose diagnosticada durante a gestação que não configura um quadro franco de diabetes mellitus segundo os critérios diagnósticos para paciente não grávidas. "Outros": DM associado ao uso de drogas, endocrinopatias ou defeitos monogênicos (ex.: MODY - Maturity-Onset Diabetes of the Young), entre outros. 4.Classificação O DM tipo 1A é uma doença autoimune, e não raro coexiste com outras imunopatias (ex.: anemia perniciosa, vitiligo, Hashimoto etc.). As ilhotas de Langerhans são invadidas por linfócitos T citotóxicos (CD8+), que destroem seletivamente as células beta, deixando as demais células intactas. Principais autoanticorpos encontrados no DM tipo 1: Anti-ilhota (ICA) = 80%; Anti-GAD = 70%; Anti-IA-2 = 60%. 5.Etipopatogenia do DM Tipo 1 No DM tipo 2 os fatores que justificam a hiperglicemia são: (1) resistência à insulina; e (2) deficit secretório das células beta. Hipoinsulinismo "relativo": a insulina pode estar "normal" ou mesmo alta, mas é sempre insuficiente para manter a homeostase da glicose. Curiosamente, a influência genética no DM tipo 2 é maior do que no DM tipo 1. À medida que a resistência à insulina progride, forçando a célula beta a sintetizar mais insulina, ocorre o acúmulo intracelular de uma substância cossintetizada: a amilina. Esta se precipita dentro da célula beta, formando depósitos amiloides patogênicos. Em cerca de 50% dos casos, o reconhecimento da doença só é feito quando lesões órgão-alvo já estão presentes e são irreversíveis. O paciente típico é adulto (>40-45 anos), obeso, sedentário e possui outros fatores de risco cardiovascular. Com menos frequência, sintomas de franca hiperglicemia podem ser referidos (poliúria, polidipsia), sendo raríssimo o surgimento de cetoacidose diabética. Principal complicação aguda do DM tipo 2 é o estado hiperosmolar não cetótico. Um importante sinal clínico é a acantose nigricans (ou nigricante) característica de resistência à insulina ou de neoplasia maligna. 8.Quadro Clínico do DM Tipo 2 MODY (Maturity-Onset-Diabetes of the Young): consiste em defeitos monogênicos que interferem no mecanismo de secreção de insulina pela célula beta. Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Diabetes Mellitus O DM tipo 1A possui uma fase assintomática, em que ocorre destruição progressiva das células beta antes que o pâncreas se torne incapaz de produzir insulina em níveis satisfatórios. Os portadores de DM tipo 1 dependem, para o resto de suas vidas, da reposição de insulina exógena (caso contrário, inexoravelmente desenvolvem cetoacidose diabética). LADA (Latente Autoimmune Diabetes of Adults): a progressão do deficit insulínico é relativamente lenta (passam-se décadas até a destruição total das células beta), o que justifica um quadro clínico mais arrastado, podendo levar à confusão diagnóstica com DM tipo 2. 6.Etiopatogenia do DM Tipo 2 7.Etiopatogenia dos Demais Tipos de DM Os principais exemplos são: (1) insuficiência pancreática, (2) outras endocrinopatias, (3) uso de drogas e (4) MODY (defeitos monogênicos). Além disso, existe também a DM gestacional. Obs.: Medicamentos como os glicocorticoides exercem efeito "contrarregulador" da insulina. Necessidades totais diárias: 0,5-1,0 UI/kg/dia (~50% basal). Fator de sensibilidade (FS): - Descreve quanto 01 UI de insulina reduz na glicemia; - Calculada pela regra dos 1500 (se Regular) ou 1800 (se UR). FS = 1500/DTD Glicemia-alvo: glicemia estipulada como meta pré- prandial (~100 mg/dl). Relação CHO/insulina (RCI): - Descreve quanto 01 UI de insulina "queima" de CHO; - Calculada pela regra dos 500. RCI = 500/DTD Bolus de correção: dose de insulina necessária para retornar à glicemia-alvo. Bolus de refeição (prandial): dose de insulina necessária para "queimar" a refeição. Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Diabetes Mellitus O diagnóstico de diabetes mellitus requer a demonstração laboratorial de hiperglicemia. 9.Confirmação Diagnóstica São necessários dois exames positivos para a confirmação do diagnóstico, exceto na situação de glicemia ao acaso acompanhada de sintomas típicos. Se os testes forem discordantes, aquele que estiver alterado deverá ser repetido para confirmação ou não do diagnóstico. 10.Insulinoterapia - DM Tipo 1 Esquema 1: duas aplicações Neste esquema, recomenda-se fazer 2/3 da dose diárias na primeira tomada (manhã) e 1/3 na segunda tomada (noite). A proporção NPH/regular deve ser de 70/30% na primeira tomada e de 50/50% na segunda tomada. Este esquema deve ser ajustado pelas três glicemias capilares pré-prandiais e uma antes de dormir. 1 - Glicemia matinal - depende da NPH do jantar da véspera; 2 - Glicemia pré-almoço - depende da regular da manhã; 3 - Glicemia pré-jantar - depende da NPH da manhã; 4 - Glicemia antes de dormir - depende da regular da noite. A dose de insulina com base na contagem de carboidratos que o indivíduo ingeriu a cada refeição, em média 1U para cada 4g de carboidratos. O esquema com duas aplicações diárias (ou convencional) não é fisiológico e não deve ser recomendado para paciente diabéticos tipo 1. < 70 mg/dl: -2U 71-140 mg/dl: manter a dose 141-160 mg/dl: +1U 161-200 mg/dl: +2U 201-240 mg/dl: +3U > 240 mg/dl: +4U Amanda VieiraSampaio - Medicina UFMA PHO Diabetes Mellitus 11.Tratamento Farmacológico - DM Tipo 2 Metformina (Glifage): 1.000 - 2.000 mg VO/dia, em duas tomadas. Pioglitazona (Actos): 15 - 45 mg VO/dia, em uma tomada. Acarbose (Glucobay): 150 - 300 mg VO/dia, em três tomadas (refeições). Repaglinida (Prandin): 1 - 4 mg VO/dia, em três tomadas (refeições). Nateglinida (Starlix): 120 mg VO/dia, em três tomadas (refeições). Vildagliptina (Galvus): 100 mg VO/dia, em tomada única. Sitagliptina (Januvia): 100 mg VO/dia, em tomada única. Saxagliptina (Onglyza): 5 mg VO/dia. Exenatide (Byetta): 5 µg duas vezes ao dia SC, com aumento posterior para 10 µg duas vezes ao dia SC. Liraglutide (Victoza): 1,2 a 1,8 mg SC uma vez ao dia. Pranlintida (Symlin): 60 a 120 mcg SC antes da principal refeição. Dapagliflozina (Farxiga): 10 mg VO/dia, em tomada única. Canagliflozina (Invokana): 100 - 300 mg VO/dia, em tomada única. Empagliflozina (Jardiance): 10 - 25 mg VO/dia, em tomada única. Amanda Vieira Sampaio - Medicina UFMA PHO Diabetes Mellitus 12.Insulinoterapia - DM Tipo 2 No caso da NPH, utiliza-se uma aplicação noturna, antes de dormir, começando com 10 U SC (0,1 - 0,2 U/kg). No caso da insulina glargina ou detemir, podemos administrar a dose pela manhã. Os paciente em fase avançada do DM tipo 2 precisam de múltiplas aplicações diárias de insulina, aproximando-se do tratamento do DM tipo 1. A dose pode variar de 0,5 a 0,6 U/kg/dia, em pacientes magros, com deficit secretório, até próximo de 2 U/kg/dia em paciente com grande resistência.
Compartilhar