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FES – Aula do dia 20/10/2008 (segunda) Hoje vamos continuar falando dos tratados de 1810, e falar um pouco de Carlota e D.João VI, que veio para o Brasil com 40 anos de idade. Hoje a aula será mais descritiva. Texto de hoje: Olga Pantaleão, A presença inglesa no Brasil. Próximas aulas: Furtado, caps. 16 a 18, Emilia V. COSTA, mais analítico. Estrutura da aula é diferente do livro. Tudo começa com o bloqueio continental, em 21 de novembro de 1806 (1 ano antes da vinda da família real), de Napoleão Bonaparte, grande anti-monarquista. Em Portugal a imperatriz era louca, mesmo caso do imperador da Inglaterra, que andava de pijama o dia inteiro. O objetivo de Bonaparte era isolar a Inglaterra das colônias, em plena revolução industrial. O dilema de D João era que Portugal encontrava-se neutro frente a essa disputa, mas se aderisse ao bloqueio, correria dois riscos: o comandante da marinha inglesa estava próximo de Portugal (Sidney Smith) e bombardearia este (assim como havia feito com a Dinamarca), além de tomar conta da Colônia portuguesa, o Brasil; ou no caso de Portugal não aderir ao bloqueio, sofreria sanções impostas por Napoleão. D. João assina uma convenção secreta com Jorge III (rei da Inglaterra) em 22 de outubro de 1807: quando o governo português estivesse estabelecido no Brasil, delinear-se-ia um tratado com a Inglaterra. No caso de bloqueio dos portos, seria estabelecido um porto da Inglaterra na America do Sul. Tudo em troca de proteção. Num primeiro momento, viria para o Brasil somente o primogênito de D. João, D. Pedro I, mas vieram também as outras cortes (...). O professor mostra um quadro ilustrando a importância do Brasil para Portugal no período, onde dois terços das exportações portuguesas provinham de produtos brasileiros, Portugal exportava também muito para o Brasil (80% de suas exportações), e um terço das exportações do Brasil provinham de Portugal. Rodrigo de Souza Coutinho (Conde de Linhares – principal responsável pela negociação dos tratados de 1810 com a Inglaterra) sugeriu (em 1803) para os ingleses que comerciavam com o Brasil a criação da Associação dos Comerciantes que Traficam para o Brasil. Napoleão decreta Portugal como extinto em outubro de 1807 (mas Portugal sabe somente em novembro de 1807), decretando o bloqueio do porto de Lisboa, mas a França já estava em território português. As cortes embarcaram na seqüência em sentido para o RJ. Acredita-se que nesse trajeto, fez-se uma negociação com os ingleses. As naus chegaram espalhadas, com o rei chegando em Salvador, cujo conselheiro era o conde de Cairu, enquanto no RJ estavam os conselheiros oficiais. (daí a importância do Visconde de Cairu). Tratados: Aliança e Amizade Comércio de Navegação Convenção sobre o estabelecimento de paquetes Foram assinados em 1810 (2 anos depois), com renovação a cada 15 anos, mas como o Brasil declarou independência em 1822, impedindo a renovação do mesmo em 1825. Para renovar a Inglaterra impeliu Portugal a aceitar a independência. Em 1828, a Inglaterra reconhece a independência do Brasil e em 1843 renova de novo o tratado. Segundo Olga Pantaleão, esses tratados foram o preço pago por Portugal pela ajuda da Inglaterra na Europa. Os tratados têm como características a reciprocidade, mas na prática são bem desequilibrados a favor da Inglaterra. As explicações dos tratados estão na diferença de perspectivas de cada parte: os portugueses querem voltar para a Europa, e os ingleses querem o comércio com o Brasil. Enquanto Portugal se enxerga como entreposto comercial, a diplomacia inglesa pára sua fase de concorrência comercial, baseada na sua revolução industrial. No lado da Inglaterra, certos tratados reafirmam certos tratados do passado, como o juiz conservador (julgar ingleses por juízes ingleses), bom para a Inglaterra. Exemplos de benefícios aos ingleses: Participar da elaboração da pauta de valores das mercadorias Possibilidade de pagamento dos direitos de importação com letras a vencer com prazo de até 9 meses (privilégio que nem os súditos portugueses tinham, não era recíproco). Isso seria quase uma emissão de moeda (a Inglaterra pagaria a compra com essa letra) Enquanto a pauta de valores não estivesse pronta, o produto seria cobrado com base na fatura do importador. Ressarcimento de danos ou perdas sociais sofridas por mercadorias sob a guarda das autoridades alfandegárias Uso do porto de santa Catarina como porto franco, pagando somente direitos de reexportação (antes era 4% - estratégico para reexportar para Buenos Aires). Não embaraçar qualquer tipo de importação por monopólio. Ocorrem vários descasos dos portugueses na elaboração do conteúdo e precisão do tratado, com erros de tradução, não relacionando direito nem o que se era escambo (importações do rei). Em 1812, morre Souza Coutinho (anglófilo) e depois assume um conselheiro francófilo. Por parte da Inglaterra, foi tudo melhor redigido, inclusive mantendo tratados anteriores, como o Methuen. Pontos de conflito (poucos): Portugal não queria abrir mão do comércio direto com Goa e Macau (ASIA). Mas Goa tornou-se porto franco. Pressão do Núncio Papal, permitindo religião protestante, desde que templos parecessem com uma casa, e não poderiam fazer conversões (nas ruas), nem ir contra a religião católica. Resultados dos tratados: extremamente favoráveis à Inglaterra, apesar de prever a reciprocidade, mas na prática Portugal não conseguia fazer uso das mesmas, permitindo viagens, comércio, residência, etc., alem de igualdade no pagamento de tributos. Tratado de paz e amizade: prevê defesa mútua, marinha inglesa pode extrair madeira nas costas brasileiras, inquisição e trafico negreiro somente permitido para a coroa portuguesa. Tratado de comércio: 34 artigos Cláusula 15 – Nação mais favorecida (tema da próxima aula): tarifa máxima de 15% ad-valorem, válida para todas as colônias portuguesas, restringindo o comercio para nações não amigas da Inglaterra. Reações aos tratados: Hipólito José da Costa – Correio Brasilienze, dizendo que Portugal traiu os colonos. D João se justifica – justifica situação de Portugal, e lança mão inclusive de criticar o sistema mercantil. Com muitas falácias e mentiras sobre vantagens mutuas Conseqüências segundo Olga Pantaleão: Influência material da Inglaterra: comércio (X e M ); investimentos em gosto (residência e moda); hábitos à mesa (não usavam garfos e facas ainda); medicamentos (trarão as pomadas, etc.); meios de transportes; instrumentos de trabalho (serrote). Influência intelectual: literatura; livros técnicos e científicos principalmente. Influência política: conduta do governo; comportamento dos parlamentares. Recuperação da indústria britânica (em crise desde o bloqueio) Impediu o desenvolvimento da indústria do Brasil (baixo preço – tese semelhante a do Simonsen), com alíquota de somente 15%. Isso será criticado com base no Celso Furtado.
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