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igualdade, nem a igualdade sem a comensurabilidade». Mas, neste ponto, ele hesita e renuncia à
análise da forma-valor. «Na verdade – acrescenta - é impossível que coisas tão diferentes sejam
comensuráveis entre si», isto é, qualitativamente iguais. A afirmação da sua igualdade será
necessariamente contrária à natureza das coisas; «é somente um expediente para atender às
necessidades práticas». 
Deste modo, é o próprio Aristóteles que nos diz qual é o obstáculo à prossecução da sua análise: a
falta de conceito de valor. Qual é essa essência igual, isto é, a substância comum que a casa
representa em face do leito, na expressão do valor deste último? Uma tal coisa, diz Aristóteles,
«não pode, na verdade, existir». Porquê? A casa representa em face do leito qualquer coisa de
igual, desde que represente o que existe de realmente igual em ambos. O quê, portanto? O
trabalho humano. 
O que impedia Aristóteles de deduzir da forma-valor das mercadorias que todos os trabalhos são aí
expressos como trabalho humano indistinto e, por conseguinte, iguais, é o facto de a sociedade
grega repousar então sobre o trabalho dos escravos - tendo por base natural a desigualdade dos
homens e das suas forças de trabalho. O segredo da expressão do valor - a igualdade e a
equivalência de todos os trabalhos, porque e na medida em que são trabalho humano [em geral] -
só pode ser decifrado quando a ideia da igualdade humana adquiriu já a firmeza de uma convicção
popular. Mas isso só tem lugar numa sociedade em que a forma mercadoria se tornou a forma
geral dos produtos do trabalho, onde, por conseguinte, a relação dos homens entre si como
produtores e permutadores de mercadorias é a relação social dominante. O que mostra o génio de
Aristóteles, é o facto de ele ter descoberto na expressão do valor das mercadorias uma relação de
igualdade. Somente a situação histórica particular da sociedade em que vivia o impediu de
descobrir em que é que consiste «na realidade» essa relação de igualdade [18].
4. A forma-valor simples, no seu conjunto
A forma-valor simples de uma mercadoria está contida na sua relação de valor ou de troca com
uma outra qualquer mercadoria de espécie diferente. O valor da mercadoria A é expresso
qualitativamente pela propriedade que tem a mercadoria B de ser imediatamente permutável por A.
É expresso quantitativamente pela permutabilidade de uma quantidade determinada de B pela
quantidade dada de A. Por outras palavras, o valor de uma mercadoria exprime-se autonomamente
através da sua representação como valor-de-troca. Portanto, se no princípio deste capítulo
dissemos - usando a terminologia corrente - que a mercadoria é valor-de-uso e valor-de-troca,
contudo, para falar com rigor, isso é falso. A mercadoria é valor-de-uso ou objecto de utilidade e
valor. Ela revela-se sob esse duplo aspecto - aquilo que ela é realmente - quando o seu valor
possui uma forma fenomenal própria, distinta da sua forma natural, a forma de valor-de-troca; e
esta forma não a possui quando considerada isoladamente [mas apenas na relação de valor ou de
troca com uma outra mercadoria diferente]. Esclarecido isto, a terminologia que acima utilizámos
deixa de ser equívoca, servindo antes para abreviar a exposição. 
Ressalta da nossa análise que é da natureza do valor das mercadorias que deriva a sua forma-
valor [ou a sua expressão de valor], e não o contrário: que o seu valor e a sua grandeza do valor
derivam da sua expressão como valor-de-troca. Contudo, é essa precisamente a ilusão dos
mercantilistas e dos seus modernos epígonos, os Ferrier, os Ganilh, etc. 21, bem como dos seus
antípodas, os modernos caixeiros-viajantes do livre-cambismo, tais como Bastiat e seus consortes.
Os mercantilistas põem em relevo sobretudo o aspecto qualitativo da expressão de valor,
consequentemente a forma-equivalente da mercadoria, que possui no dinheiro a sua forma
acabada; ao contrário, os modernos paladinos do livre-cambismo, tendo de desembaraçar-se a
todo o custo da sua mercadoria, fazem ressaltar o aspecto quantitativo da forma-valor relativa. Para
eles não existe, pois, nem valor, nem grandeza de valor fora da sua expressão na relação de troca,
isto é, praticamente só existem nas cotações diárias dos preços. O escocês MacLeod, que se
impôs a tarefa de adornar, com a maior erudição possível, a trapalhada de preconceitos
económicos da Lombardstreet - a rua dos grandes banqueiros de Londres -, constitui a síntese
acabada dos mercantilistas supersticiosos e dos espíritos iluminados do livre-cambismo. 
Um exame atento da expressão do valor de A em B mostrou que nessa relação a forma natural da
mercadoria A figura apenas como valor-de-uso, e a forma material da mercadoria B apenas como
forma-valor. A contradição interna entre o valor-de-uso e o valor, contida na mercadoria, mostra-se,
portanto, [numa contradição externa, isto é,] na relação de duas mercadorias, relação em que A,
cujo valor se pretende exprimir, figura imediatamente apenas como valor-de-uso, enquanto que,

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