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Emanuely Campana – Psicologia UVV BEHAVIORISMO: DEFINIÇÃO E HISTÓRIA INTRODUÇÃO É possível uma ciência do comportamento. Muitos behavioristas acrescentam que a ciência do comportamento deve ser a psicologia. Muitos psicólogos rejeitam a ideia de a psicologia ser uma ciência, e os que a veem como ciência consideram que seu objeto não é o comportamento. A ciência do comportamento veio a ser chamada de análise comportamental. • O behaviorismo é um conjunto de ideias sobre essa ciência, e não a ciência em si – é a filosofia da ciência, filosofia do comportamento; o Aborda tópicos como: por que fazemos o que fazemos, e o que devemos e não devemos fazer. o Oferece uma visão alternativa sobre o agir. REFERENCIAL HISTÓRICO De Filosofia à Ciência Todas as ciências – astronomia, física, química, biologia – tiveram sua origem na filosofia e eventualmente se separaram dela. O raciocínio da filosofia parte de suposições para conclusões: “se isso fosse assim, então aquilo seria assim”. • A verdade filosófica é absoluta. • As suposições filosóficas se referem a abstrações além do universo natural. A ciência segue em direção oposta: “isto foi observado; que verdade poderia levar a essa observação, e a que outras observações isso levaria?”. • A verdade científica é sempre relativa e provisória. • As suposições científicas referem-se apenas ao universo natural. A ruptura da psicologia com a filosofia é relativamente recente. Até a década de 1940 era raro encontrar uma universidade que tivesse um departamento de psicologia. Na segunda metade do século XIX tornou-se comum chamar a psicologia de ciência da mente. Como estudar a mente? Os psicólogos propuseram a adoção do método dos filósofos: a introspecção – autoanálise da mente. • Tarefa difícil quando o objetivo é colher fatos científicos fidedignos. • Para os psicólogos do século XIX, essa dificuldade poderia ser superada com treino e prática. o Duas correntes de pensamento se somaram para corroer essa visão: psicologia objetiva e a psicologia comparativa. Emanuely Campana – Psicologia UVV Psicologia Objetiva Alguns psicólogos não se sentiam à vontade com introspecção como método científico, pois ela parecia pouco confiável, vulnerável a distorções pessoais e muito subjetiva. Se duas pessoas treinadas em introspecção discordassem sobre suas conclusões, seria difícil resolver o conflito. No entanto, utilizando um método objetivo – medidas verificáveis e replicáveis –, os pesquisadores poderiam notar diferenças de procedimento que talvez explicassem os resultados diferentes. F. C. Donders fez experimentos a fim de medir o tempo de reação das pessoas – tempo exigido para detectar um som, por exemplo, e então apertar um botão. • Argumentou que poderia medir objetivamente o processo mental de escolha. Gustav Fechner tentou medir a intensidade subjetiva da sensação. • Desenvolveu uma escala que se baseava na diferença apenas perceptível – a menor diferença física entre duas luzes ou sons que uma pessoa conseguia detectar. Hermann Ebbinghaus mediu o tempo que ele levava para aprender e depois reaprender listas de sílabas sem sentido, a fim de produzir medidas de aprendizagem e de memória. Outros utilizavam o método de I. P. Pavlov para estudo da aprendizagem e da associação através da medida de um reflexo simples transferido para novos sinais apresentados no laboratório. Psicologia Comparativa Os seres humanos não eram mais vistos como separados das outras coisas vivas. Começava-se a reconhecer que compartilhamos com antropoides, macacos, cães e até peixes, não somente traços anatômicos, mas também muitos traços comportamentais. Noção de continuidade da espécie: ideia de que, mesmo sendo claramente diferentes entre si, as espécies se assemelham umas às outras, à medida que compartilham a mesma história evolutiva. A teoria de Darwin ensinou que novas espécies passaram a existir apenas como modificações de espécies existentes. Tudo leva a crer que, assim como podíamos ver as origens de nossos traços anatômicos em outras espécies, poderíamos ver as origens de nossos próprios traços mentais. • Presumia-se que esses traços apareceriam em outras espécies sob formas mais simples ou rudimentares. A ideia de fazer comparações entre espécies a fim de conhecer melhor a nossa própria deu origem à psicologia comparativa. Para alguns psicólogos, essa forma de “humanizar a besta” ou antropomorfismo, soou especulativa demais. No final do século XIX e início do século XX, os psicólogos comparativos começaram a fazer observações rigorosas, conduzindo experimentos com animais. • Uso de labirintos – controle do tempo para atravessar o labirinto e número de erros que cometia. Em sua tentativa de “humanizar a besta”, esses pesquisadores acrescentavam especulações sobre estados mentais, pensamentos e emoções dos animais. Emanuely Campana – Psicologia UVV • O problema dessas afirmações sobre consciência animal era ficarem muito à mercê de vieses individuais. • Dado o caráter subjetivo das observações, a discordância não poderia ser resolvida através de outros experimentos. Para John B. Watson, fundador do behaviorismo, as inferências sobre consciência em animais, como método científico eram ainda menos confiáveis do que a introspecção, e que nenhuma das duas poderia servir como método para uma verdadeira ciência. A Primeira Versão do Behaviorismo 1913: Watson publica o artigo “Psychology as the behaviorist views it”. Guiado pela psicologia objetiva, Watson articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a introspecção e a analogia como métodos. Queixava-se de que a introspecção era excessivamente dependente do indivíduo e que nas analogias entre animais e seres humanos, a ênfase na consciência o obrigava a tentar construir o conteúdo da mente do animal. Para Watson, os psicólogos se “emaranhavam” nesses esforços infrutíferos, porque definiram a psicologia como ciência da consciência – definição responsável pelos métodos pouco confiáveis e pelas especulações infundadas. Em vez disso, para Watson, a psicologia deveria ser definida como ciência do comportamento. • O caminho era fazer da psicologia uma ciência feral do comportamento, que compreendesse todas as espécies, e na qual os seres humanos seriam apenas mais uma. • Essa ciência não usaria nenhum dos termos tradicionais referentes à mente e à consciência, evitaria a subjetividade da introspecção e as analogias entre o animal e o humano, e estudaria apenas o comportamento objetivamente observável. Enquanto a principal preocupação dos outros eram os métodos das ciências naturais, a de B. F. Skinner foi a explicação científica. • Ele sustentou que o caminho para uma ciência do comportamento estava no desenvolvimento de termos e conceitos que permitisse explicações verdadeiramente científicas. • Rotulou a visão oposta de behaviorismo metodológico e chamou sua própria posição de behaviorismo radical. Assim como a teoria de Darwin desafiou a noção de um Deus criador, o behaviorismo desafia a venerada noção de livre-arbítrio. LIVRE ARBÍTRIO VERSUS DETERMINISMO Definições Na ideia de que é possível uma ciência do comportamento está implícito que o comportamento, como qualquer objeto de estudo científico, é ordenado, pode ser explicado, pode ser previsto desde que se tenham os dados necessários e pode ser controlado desde que se tenham os meios necessários. Determinismo: noção de que o comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente. Emanuely Campana – Psicologia UVV O determinismo vai contra antigas tradições culturais que atribuem a responsabilidade pelos atos ao indivíduo, e não à hereditariedade e ao ambiente. Livre-arbítrio: capacidade de escolha. • O livre-arbítrio supõe um terceiro elemento além da hereditariedade e do ambiente, supõe algo dentro do indivíduo.• Apesar da herança e dos impactos ambientais, uma pessoa que se comporta de dada forma poderia ter escolhido comportar-se de outra. • A escolha não é uma ilusão – são as próprias pessoas que causam o comportamento. A fim de tentar conciliar o determinismo e o livre-arbítrio, filósofos propuseram ao livre-arbítrio teorias chamadas de “determinismo brando” – livre-arbítrio como comportamento dependente da hereditariedade e do ambiente – e “teorias compatibilizadoras” – livre-arbítrio como deliberação antes da ação. Argumentos Pró e Contra o Livre-Arbítrio Para provar o livre-arbítrio – contestar o determinismo – seria necessário que, embora se conhecessem todos os possíveis fatores determinantes de um ato, a consumação desse ato assumisse sentido contrário ao previsto. Argumentos Sociais Embora seja verdadeiro que a democracia se baseia na escolha, é falso que a escolha se torna sem sentido se não houver livre-arbítrio. Para que uma eleição tenha sentido, as pessoas não precisam ser livres, basta apenas que seu comportamento esteja aberto à influência e persuasão (determinantes ambientais de curto prazo). Somos favoráveis à democracia, não porque tenhamos livre-arbítrio, mas porque achamos que, como conjunto de práticas, ela funciona. A liberdade política consiste em algo mais prático do que o livre-arbítrio: significa ter opções disponíveis e ser capaz de afetar o comportamento daqueles que governam. Uma compreensão científica do comportamento poderia ser usada para aumentar a liberdade política. Dessa forma, o conhecimento advindo de uma ciência do comportamento estaria a serviço de um bom uso. • Se realmente possuíssemos o livre-arbítrio, ninguém precisaria se preocupar com o uso desse conhecimento, porque não sofreríamos influência dele. As teologias judaica e cristã incorporam o livre-arbítrio como meio de salvação. Argumentos Estéticos Os críticos do livre-arbítrio apontam sua falta de lógica. Até teólogos que promoveram essa ideia se embaraçaram com essa noção. Santo agostinho foi claro: se Deus faz tudo e sabe tudo antes de acontecer, como pode alguém fazer alguma coisa livremente? A solução teológica comum é chamar o livre-arbítrio de mistério. Emanuely Campana – Psicologia UVV Quanto mais sabemos das razoes que estão por trás dos atos de uma pessoa, menos nos inclinamos a atribuir esses atos ao livre arbítrio. O outro lado desse argumento é que, independentemente de quanto se saiba, ainda assim não se pode prever exatamente o que uma pessoa fará em determinada situação – essa imprevisibilidade é às vezes considerada prova de livre-arbítrio. • O clima é também imprevisível, mas não é olhado como produto de livre-arbítrio. • O livre-arbítrio realmente implica imprevisibilidade, mas de forma alguma isso exige o inverso, ou seja, que a imprevisibilidade implique livre-arbítrio. Eventos naturais levam a outros eventos naturais, porque podem estar relacionados um com o outro no tempo e no espaço. Coisas não-naturais, como o livre-arbítrio, não podem ser localizadas no tempo e no espaço. Como um evento não-natural pode causar um evento natural? A natureza misteriosa do livre-arbítrio vai contra a teoria da evolução. 1. Há o problema da descontinuidade. Se falta livre-arbítrio aos animais, como que foi que ele subitamente apareceu em nossa espécie? 2. Mesmo que os animais pudessem ter o livre-arbítrio, como poderia uma coisa não-natural ter evoluído? BEHAVIORISMO METODOLÓGICO John B. Watson. Estuda o comportamento por si mesmo. Evita sentimentos e os estados mentais intermediários. Opõe-se ao mentalismo (qualquer enfoque psicológico que considere o comportamento como resultado de processos e/ou agentes internos e/ou de outra natureza ou substância distinta daquela da conduta a ser explicada). Detém-se às causas físicas anteriores ao comportamento. Admite a existência dos fatos mentais/mente/processos mentais, embora não os considere passíveis de serem observados e estudados (não é um dado científico). Grande ênfase nos procedimentos de medidas e na concordância entre os observadores – observação consensual. A manipulação experimental é a reprodução do modelo S-R – estímulo-resposta (comportamento como produto de estímulos ambientais). • Condicionamento respondente/clássico. Rejeita a introspecção. Realização de experimentação. Perspectiva dualista (mente em uma dimensão e comportamentos em outra). Se baseia no realismo (toda a experiência é causada por um mundo objetivo e real, exterior e separado do mundo subjetivo e interno). Emanuely Campana – Psicologia UVV Comportamento respondente O reflexo condicionado é uma resposta que fica associada a um estímulo com o qual não tinha relação anterior. O comportamento respondente é uma relação de contingência na qual um determinado estímulo produz uma resposta específica em um organismo. • O respondente não se define nem pelo estímulo nem pela resposta, mas sim pela relação entre ambos. BEHAVIORISMO RADICAL B. F. Skinner. Nega a existência da mente (fatos que escapem ao mundo físico). Acredita na possibilidade da auto-observação (introspecção) como forma de observação e obtenção e conhecimento sobre o próprio indivíduo. Não exige consenso na observação. Estuda eventos internos. Propõe dois tipos de relações entre ambiente e organismo (eventos estabelecedores de ocasião e consequências seletivas). Aceita os fenômenos comportamentais radicalmente (acredita em um corpo que se comporta – no lugar de processos mentais, diz comportamento). É pragmático (se cala sobre a origem da experiência, mas, em compensação, aponta a utilidade de tentar entender e buscar o sentido de nossas experiências). O comportamento que não cabe no modelo S-R é explicado a partir da noção de condicionamento operante. Eventos estabelecedores de ocasião Contextos que estabelecem a ocasião para o comportamento ser afetado por suas consequências (e que, portanto, ocorreriam antes do comportamento e que igualmente afetariam a probabilidade desse comportamento). Consequências seletivas Consequências que ocorrem após o comportamento e modificam a probabilidade futura de ocorrerem comportamentos equivalentes. Comportamento operante O condicionamento operante é um hábito gerado por uma ação do indivíduo. Emanuely Campana – Psicologia UVV • Aprendizagem de novo comportamento – modelagem. • O instrumento fundamental da aprendizagem é o reforço – consequência de uma ação –, que pode ser positivo (recompensa) ou negativo (punição). No comportamento operante o ambiente é modificado e produz consequências que agem de novo sobre ele, alterando a probabilidade de ocorrência futura semelhante. REFERÊNCIA BAUM, W. M. Compreender o behaviorismo: comportamento, cultura e evolução. Porto Alegre: Artmed, 1999.
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