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Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Doença hepática gordurosa não alcoólica É uma doença que vem crescendo em prevalência no mundo. É um acúmulo excessivo de gordura no fígado. Define-se com a presença de esteatose em mais de 5% nos hepatócitos pela biópsia ou por meio de uma TC, com quantificação de gordura com mais de 5,6% de acometimento por esteatose. Ela é dividida em esteatose hepática e esteato hepatite não alcoólica. Na esteatose hepática, normalmente não vemos injuria hepatocelular. Na esteato-hepatite não alcoólica já existe inflamação e injuria dos hepatócitos. Na definição também entra a importância de excluir doença hepática gordurosa alcoólica. É muito importante na história clínica dos pacientes perguntar sobre a ingesta etílica, há quanto tempo ingerem e a quantidade que ingerem. Pacientes que ingerem mais de 30 gramas de álcool por dia podem ter gordura do fígado secundária ao álcool, não classificaríamos esse paciente então como doença hepática gordurosa não alcoólica. Também é importante excluir causas secundárias de esteatose. Existem algumas doenças do fígado que podem cursar secundariamente com esteatose. Com relação a epidemiologia, a gordurosa é a doença hepática mais comum nos países ocidentais. Atinge até 46% dos adultos, e isso é algo muito relevante impressionante. Alguns estudos mostram que até metade da população em alguns países são acometidas pela doença hepática gordurosa não alcoólica. Ela é a principal causa de elevação de enzimas hepáticas e a terceira causa mais comum de cirrose no mundo. Acredita-se que algumas cirrose ditas como criptogenicas, ou seja sem etiologia definida, possam ter a doença hepática gordurosa não alcoólica como causa da cirrose. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Tem algumas doenças que andam de mãos dadas com a doença hepática gordurosa não alcoólica, que são as doenças que compõem a síndrome metabólica. Nós temos visto um progressivo da prevalência tanto de doença hepática gordurosa não-alcoólica quanto da síndrome metabólica. As doenças que compõem a síndrome metabólica precisam ter três desses cinco critérios: Aumento da circunferência abdominal, presença de hipertensão arterial, glicemia de jejum alterada ou diagnóstico de diabetes, hipertrigliceridemia e HDL baixo. Em relação a fisiopatologia da doença, o mais importante é termos consciência de que hábitos de vida não saudáveis são os principais responsáveis pela inflamação e pelo acúmulo de gordura no fígado. A ingesta de alimentos ricos em frutose ou hipercalóricos, alimentos ricos em gordura saturada e o sedentarismo, são grandes fatores de risco da obesidade e doenças hepática gordurosa não alcoólica. Além do estilo de vida não saudável, existem outros fatores levou uma fisiopatologia da doença. A obesidade visceral contribui para o acúmulo de gordura inflamação e fibrose, resistência à insulina, disbiose intestinal e componentes genéticos. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 A doença hepática gordurosa não alcoólica pode evoluir. A esteatose pode evoluir em 40% dos casos para a NASH, que é a esteato hepatite não alcoólica. Essa esteato-hepatite pode evoluir com fibrose avançada ,que pode evoluir com cirrose, alguns pacientes necessitam até mesmo de transplante. Quando se tem fibrose, o risco de CHC se torna alto nesses pacientes. Com relação as manifestações clínicas, a maioria dos pacientes são assintomáticos. Geralmente é detectada a gordura no fígado acidentalmente, em algum exame de laboratório ou de imagem. Até mesmo nos casos de fibrose avançada nós já temos sinais de hipertensão Portal e cirrose. O paciente típico que chega no consultório é um paciente com síndrome metabólica, obeso, diabético e hipertenso ou dislipidêmico. Geralmente um assintomático onde o exame de rotina e detectou elevação de TGO TGP. O mesmo paciente assintomático que foi fazer o exame de imagem por outro motivo, e evidenciou a esteatose hepática. Essa esteatose hepática não é valorizada, mas nós devemos explicar que essa doença pode evoluir de forma grave e como é importante o tratamento. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Com relação ao rastreamento, todo indivíduo com doença hepática gordurosa não alcoólica deve ser rastreado para síndrome metabólica. Para o diagnóstico, devemos excluir a ideia de que o paciente tem uma ingesta etílica exagerada. É importante avaliar as doenças que andam de mãos dadas com a doença hepática gordurosa não alcoólica. Avaliar IMC, a circunferência abdominal, glicemia de jejum, hemoglobina glicada, TGO e TGP, colesterol total e fracionados e triglicerídeos. Precisamos também excluir causas secundárias de esteatose hepática, então pedimos sorologia para avaliar hepatite B e C, avaliar medicamentos que o paciente está em uso, investigar doença de Wilson e outras hepatopatias imunes. Dosar enzimas hepáticas básicas. Aumenta mais TGP do que TGO. O diagnóstico é feito por exame de imagem pode ser por um ultrassom de abdômen uma tomografia ou uma ressonância. Se o paciente não chegou com tomografia ou uma ressonância, e você quer investigar para ver se ele tem esteatose, você deve pedir um ultrassom de abdômen. É um exame que avalia bem o abdômen e não tem muita radiação, além de ser mais barato do que uma ressonância. A imagem à esquerda temos um fígado normal e a direita um fígado com esteatose, é um fígado com parênquima mais branco (hiperecogênico). A gordura atrapalha a passagem do feixe acústico e os pacientes podem ter uma sombra acústica posterior. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Aqui, temos uma ressonância magnética para quantificação de gordura. Não é um exame feito para diagnóstico da doença, por ser muito caro e tem mais caráter de pesquisa, ainda pouco inserido na prática clínica. Esse paciente entrou no programa de mudança de hábito de vida, estava 160 kg e em 90 dias ele havia perdido 30 kg. A ressonância consegue quantificar a gordura do fígado, no início o fígado era muito mais branco do que no final, então ele foi perdendo gordura do fígado ao longo dos dias. Uma vez detectada a esteatose hepática, é importante avaliar se há sinais de esteato hepatite. O diagnóstico vai ser dado por biópsia hepática. Achados para critério diagnóstico da esteato- hepatite: Presença de esteatose, balonização dos hepatócitos e inflamação lobular. Não se indica biopsia a todos os pacientes com esteatose hepática, utilizamos de alguns critérios para definir a necessidade da biópsia. Como avaliar se um paciente com esteatose já tem algum grau de fibrose? O padrão-ouro é sempre a biópsia hepática, porém ela é um exame muito invasivo com riscos de complicação. Existem alguns testes não invasivos para avaliar a fibrose. Existem escores laboratoriais que são cálculos feitos por com calculadoras automáticas que podem inferir o grau de fibrose. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 O fib-4 é uma dessas calculadoras automáticas. Fatores que influenciam no cálculo: idade, valor de TGO, valor de TGP e o número de plaquetas. O número gerado será interpretado como se o paciente tem o risco de fibrose avançado ou não. A direita, temos a representação de uma elastografia com ultrassom, é um outro método de avaliação não invasiva de fibrose. O aparelho é posicionado no hipocôndrio direitodo paciente e é gerado uma onda de cisalhamento que vai medir o grau de dureza do fígado. Quanto mais duro o figado, mais rapidamente a onda vai passar e vai gerar o número, esse número corresponde a um grau de fibrose avançada ou leve. Quanto mais duro e quanto mais fibrose, com mais velocidade vai passar a onda. Se o paciente tem critério de risco para síndrome metabólica, nós vamos fazer um ultrassom de abdômen para rastreio de esteatose. Se não houver esteatose, nós vamos dosar as enzimas hepáticas. Se voltarem normais, seguimos com ultrassom e enzimas hepáticas a cada 3 a 4 anos. Se fez um ultrassom e veio com esteatose, nós vamos avaliar se o paciente tem enzimas hepáticas alterada,s e já devemos encaminhá-lo para um especialista para avaliação de biópsia hepática. A presença de enzimas hepáticas alteradas já é um grande fator de risco para esteato-hepatite e fibrose. Se as enzimas hepaticas vierem normais, nós podemos lançar mão de marcadores não invasivos de fibrose. Se paciente tiver baixo risco de fibrose, oodemos seguir a cada dois anos analisando as enzimas hepáticas e novas avaliações desses marcadores. Se o paciente tem o risco de fibrose avançada, devemos avaliar a biópsia hepática desses pacientes. Só vamos precisar de biópsia se o paciente tiver as enzimas hepáticas persistentemente alteradas ou se tivermos marcadores de fibrose mostrando o risco de fibrose avançada. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 O tratamento da doença hepática gordurosa não alcoólica é mudança de hábito de vida. A mudança de hábito da dieta com atividade física regular, é o que mostrou melhores resultados em relação ao prognóstico, diminuição de evolução para fibrose, e diminuição de evolução para esteato- hepatite, diminuição de CHC etc. Como orientar a dieta e atividade física para esses pacientes? Atividade física o ideal é fazer 150 a 200 minutos por semana de atividade física moderada. Atividade física moderada é aquela que o paciente fica com uma leve ofegância. Os exercícios podem ser de resistências ou exercícios aeróbicos. Para a dieta, seria ideal uma dieta do Mediterrâneo, ou seja, uma dieta pobre em gorduras saturadas e rico em boas gorduras como azeite, peixes de águas profundas, legumes, verduras, baixa ingesta de alimentos processados e ricos em gordura saturada. Diminuir ingesta de alimentos e bebidas com frutose. Uma perda de 7 a 10% do peso corporal melhoras enzimas hepáticas, ajuda a diminuir fibrose e inflamação do fígado. Ajuda também a melhorar o prognóstico. O tratamento medicamentoso deve ser prescrito para pacientes com esteato hepatite não alcoólica com fatores de pior prognóstico. Pacientes com uma fibrose mais avançada acima de F2. Os que tem TGP elevado, síndrome metabólica, diabetes e os mais idosos acima de 50 anos. E para aqueles que têm atividade necroinflamatória intensa no fígado. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 Todos os medicamentos utilizados para tratar a doença hepática gordurosa são off-label. Recomendação em São baseado em alguns estudos que foram feitos. Os três medicamentos com mais evidência de melhora da fibrose da inflamação são: A pioglitazona, que é o antidiabetico oral. A liraglutida, é um agonista de GLP 1. Vitamina E, que tem propriedade antioxidante. Lembrando que não se tem consenso quanto a qual o tempo de tratamento que devemos manter o paciente. Caso paciente melhore de histologia e enzimas, isso ocorre a longo prazo. Então vamos manter esses medicamentos por anos, ou por um curto período, dependendo da melhora. Alguns autores dizem para manter o tratamento por 6 meses e reavaliar após isso. A cirurgia bariátrica está indicada para pacientes que não tiveram resposta a mudança de hábitos de vida e nem ao tratamento medicamentoso. A cirurgia bariátrica tem capacidade de melhorar histologia e melhorar a fibrose, justamente por conta da perda de peso que os pacientes apresentam. Os pacientes que evoluem para cirrose ou CHC, devem ser listados para transplante hepático como qualquer outra etiologia de cirrose. É de fundamental importância tratar as comorbidades do paciente. O IMC circunferência abdominal são grandes preditores de doença hepática avançada. O Diabetes aumenta a progressão para esteato-hepatite e risco de CHC. Amanda Lima Mutz – MedUFES 103 A doença hepática gordurosa não alcoólica é um grande fator de risco para CHC, mesmo que o paciente ainda não seja cirrótico. Ela pode evoluir para o estágio de CHC antes mesmo de passar pelo estado de cirrose. E esse risco ainda maior naqueles que tem o polimorfismo do gene PNPLA3.
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