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P1_Questionário II (Aulas 7 a 12) + respostas

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ALUNO: João Paulo Balloni (NºUSP 5146732)
EAE – 416
FORMAÇÃO ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL I
Prof. Dr. José Flávio Motta
QUESTIONÁRIO II
(Aulas 7 a 12)
1. Discuta, com fundamento da interpretação de Jacob Gorender, a afirmação seguinte, de Raimundo Faoro: “Estado patrimonial, portanto, e não feudal,o de Portugal medievo...”
Faoro trabalha a questão semântica que ao príncipe cabe reinar, enquanto que ao senhor (sem a auréola feudal), cabe o dominar. Defende que em Portugal ocorreu o estabelecimento de um sistema patrimonial, e não feudal - no caso português não existe o “feudo” como unidade territorial e consequentemente todo o complexo de relações de suserania e vassalagem.
Para Gorender, os termos feudalismo, mercantilismo e capitalismo foram criados a partir de críticos das proposições e características aventadas por estes diferentes modos de produção. O termo feudalismo especificamente deriva da palavra “feudo”, que é apenas o resultado jurídico-político de uma forma de organização econômica, ou seja, utilizando-se termos marxistas, pode-se dizer que a palavra “feudalismo” expressa apenas a superestrutura de um tipo mais geral de modo de produção (marxistas precisam também da infra-estrutura).
 		Sob esta confusão semântica, surgiram diversos problemas interpretativos, sendo o principal aquele que passou a relacionar o feudalismo apenas à existência da estrutura do feudo e das relações aparentes de vassalagem e suserania a ele relacionados. Mas o feudalismo é de fato mais que isto: é um conjunto de relações econômico-sociais que se fundamenta em um tipo específico de exploração, a saber, a servidão.
 		A própria servidão, quando se pensa em feudalismo, não deve ser compreendida em um sentido estrito, ou seja, não deve ser encarada apenas como a servidão do camponês ligado à uma gleba de terra, mas pode, e deve, ser estendida a outros tipos de relação, como o do camponês que, apesar de não ligado a uma gleba específica, ainda conserva todos os muitos tipos de obrigação que caracterizam a servidão: corvéia, trabalho nas terras senhoriais etc.
 		O feudalismo caracteriza-se, portanto, pelas seguintes características: a) existência de uma classe senhorial dominante que detém a posse da terra e faz uso de força produtiva servil; b) extração de renda da terra por parte do senhor, que, detendo a força, é capaz de obter do servo o sobreproduto gerado na terra (a renda gerada a partir do trabalho do servo na terra); c) existência de terras comunais como complementares à produção nas terras senhoriais.
Tendo-se a conceituação acima, seria absolutamente incorreto discorrer sobre a ausência de um feudalismo português, ou mesmo sobre um modo defeituoso de feudalismo em Portugal. Dadas as características peculiares desta nação, o mais correto é mesmo falar de uma “forma portuguesa de feudalismo”: trata-se de um feudalismo sem a superestrutura político-jurídico, com formas variadas de servidão, relação de força entre as classes, e com existência de lutas de classes.
Além de ter sido Portugal a primeira nação européia a completar o processo de unificação nacional e consolidação do absolutismo, também observa-se ali a primeira extinção da servidão ligada a gleba, mas não uma extinção da servidão. O servo português não estava ligado a uma determinada propriedade senhorial específica, como ocorria hereditariamente nos países da Europa Ocidental com aquele feudalismo mais geral, mas ainda assim continuava a ser servo porque na terra onde trabalhava ainda devia toda a série de obrigações cabíveis a esta classe.
Desse modo, ainda que não estivesse ligado estritamente à terra, o servo tinha o sobreproduto de seu trabalho transformado em diversos tipos de renda, a qual acaba expropriada ou pela classe senhorial dominante ou pela Igreja. Em suma, o camponês vilão, independente na gestão de sua economia e pessoalmente livre, continuava submetido pela coação extra-econômica, sancionada na lei e nos costumes, à obrigação de entregar o sobreproduto do seu trabalho ao senhor eminente da terra”.
As classes dominantes do feudalismo português caracterizam-se, como nas demais localidades européias, pela presença da Coroa, da nobreza e do clero, embora as relações que estabelecessem não fossem as comumente observadas: dada a centralização monárquica, não é exagerado falar em um poder muito mais limitado da nobreza portuguesa frente à Coroa, a despeito do que ocorria em outras regiões. Estas três classes dominantes sustentavam-se sobremaneira pela apropriação e redistribuição entre si das rendas geradas pelos servos; havia três formas de renda: a renda-produto derivava da produção obrigatoriamente fornecida ao senhor, a renda-trabalho decorria do trabalho obrigatório do servo no senhorio (geralmente uma vez por semana), e a renda-dinheiro decorria dos pagamentos de obrigações monetárias.
 		Duas outras peculiaridades do feudalismo português merecem destaque. O primeiro é o surgimento de uma burguesia rural, sobre a qual incidiam menores obrigações determinadas pela nobreza. A segunda é a existência relativamente consolidada de uma burguesa mercantil, sobretudo nas cidades portuárias.
 
**2. Discuta, com fundamento da interpretação de Jacob Gorender, a afirmação seguinte, de Celso Furtado: “A história portuguesa apresenta assim essa peculiaridade da ascensão completa e definitiva da burguesia em pleno século XIV. (...) A revolução política que leva à constituição do Estado nacional português é a mesma revolução econômico-social que implantará a supremacia definitiva da classe burguesa, isto é, dos núcleos urbanos.”
Para Furtado, a revolução política que leva à formação do Estado é a mesma revolução sócio-econômica que implantará a supremacia da classe burguesa. Portugal apresentou ascensão completa e definitava da burguesia ainda no século XIV. Classe social sem ligações com passado feudal. “espírito” do capitalismo presente nos indivíduos, e não mais há mais o privilégio devido ao sangue (nobres).
Para Gorender, a Revolução Nacional de 1383-1385, ainda que não soerguesse a burguesia ao poder, fez com que a antiga nobreza fosse depurada e substituída por uma nova, esta advinda principalmente da burguesia comercial. A burguesia que apoia o rei ou que enriquece via comércio não produziu o capitalismo, visto que não havia na época aparato para o capitalismo em si, ou seja, os burgueses se enobressem mas sem reitirar o status da nobreza. Não nega contudo que a burguesia teve papel fundamental na revolução, tanto que supõe que possa ter ocorrido mescla entre nobres e burgueses (nobres comerciantes). Entretanto a mesma “revolução” que com uma mão leva à expansão, com a outra suplanta o atraso.
 
3. Discuta, com fundamento da interpretação de Jacob Gorender, a afirmação seguinte, de Fernando Novais: na etapa em que se processou a gênese do capitalismo na Europa Ocidental, houve “… uma acumulação que, por se gerar fora do sistema, Marx chamou de originária ou primitiva … complexo sistema de estímulos. O mercantilismo foi, na essência, a montagem de tal sistema, e o sistema colonial mercantilista, sua peça fundamental, a principal alavanca na gestação do capitalismo moderno”.
(gancho com a questão 8 do Questionário I, que explica a ac. primitiva para novais)
Entretanto existe uma discussão a cerca do conceito de “acumulação primitiva”, já que alguns autores assim a consideram somente quando o capital acumulado é de fato precursor do capitalismo industrial, caso contrário é caracteriza apenas como uma acumulação como qualquer outra.
Nesse sentido Gorender discorda de certos aspectos da análise de Novais. Para ele, é fato que o sistema colonial contribuiu largamente para acumulação primitiva de capital que levaria ao estabelecimento do modo de produção capitalista, mas esta “evolução, por assim dizer, ocorreria apenas nos países em que as estruturas internas já estivessem sido maturadas para tanto, ou seja, a idéia de Novais, de que o sistema colonial era uma alavanca que demonstrava o sentido profundo da colonização (ou seja,fomentar a acumulação primitiva), não é totalmente correta: o sistema colonial foi tal alavanca apenas onde internamente desenvolveram-se as ferramentas para que atuasse como tal.
O que ocorreu nos países ibéricos foi, no entanto, o inverso: “[...] a exploração colonialista não favoreceu, mas obstaculizou o desenvolvimento do modo de produção capitalista”. Ou seja, fatores internos foram vitais para a permanência da estrutura sócio-econômica.
Gorender não desconsidera que a acumulação primitiva realmente tenha ocorrido, apenas justifica que isso não ocorreu em Portugal (já que existiu a redistribuição do excedente colonial - capital originário - entre os países futuramente industriais), apenas justifica porque Portugal se tornou uma potência. A acumulação primitiva como condição fundamental para o desenvolvimento do capitalismo industrial, a sua “principal alavanca”, nesse sentido seria mais eficiente se utilizado após a adoção de medidas como o cercamento.
 
**4. Discuta, com fundamento da interpretação de Jacob Gorender, e tendo em mente o conceito de “mercantilismo inferior”, a afirmação seguinte, de Iraci Del Nero da Costa: “Enfim, os portugueses caíram em armadilha por eles mesmos armada ao não desenvolverem o capital industrial porque a Revolução Industrial ‘deu certo’; se ela não viesse a obter êxito, superando definitivamente o capital mercantil e as práticas econômicas e políticas a ele associadas, estaríamos hoje a dizer: ‘A arguta sensibilidade dos mercantilistas ibéricos evitou-lhes o desastre da Revolução Industrial’. Assim funcionam os volúveis desígnios da História: os portugueses foram vítimas do próprio pioneirismo.”
Para Iraci, os Português foram os pioneiros, mas ficaram tão seduzidos com a acumulação, que não houve incentivos para mudança, ficando estagnados. Portugal se contentou apenas com a exploração, não evoluíram no sentido do protecionismo industrial (como fizeram Inglaterra e França), se acomodaram (espécie de doença holandesa).
Para Gorender, o mercantilismo praticado em Portugal não era voltado a um protecionismo que garantisse um fortalecimento da indústria (à época, manufatura) interna, mesmo porque isto não atendia aos interesses das duas principais classes e porque o setor manufatureiro era de fato pouco desenvolvido ali. Assim, nas palavras de A.J. Saraiva: “desta forma, se o Estado português no século XVI oferece exteriormente uma aparência ‘moderna’, na medida em que é uma grande empresa econômica, por outro lado, ele assegura, no interior do País, a persistência de uma sociedade arcaica, na medida em que garante o domínio de uma classe tradicionalmente dominante, cujo espírito está nos antípodas do burguês”.
 
5. Explicite as distintas motivações conducentes à expansão ultramarina portuguesa. Caracterize as políticas de expansão lusa cujo corolário foi o estabelecimento do Império colonial. Exponha os principais traços definidores desse Império. Por fim, com base nas respostas aos três quesitos anteriores, elabore um comentário acerca das possibilidades e formas concretas assumidas pela inserção do Brasil no dito Império.
Para Gorender, dispor de fronteiras bem definidas, não possuir querelas internas relevantes e ter um poder em vias rápidas de centralização foram todos fatores que permitiram à Portugal sair na frente, pois a empresa expansionista requeria um poder central canalizador de interesses e controlador, ao menos parcialmente, dos riscos.
Godinho trata em sua tese que a expansão deveu-se a fatores internos a Portugal, com constantes oscilações de interesse entre a burguesia e a nobreza (comércio ultramarino X conquista militar por terras). À burguesia interessam as rotas comerciais, sem destruir os pontos de comercio, estabelecendo contatos comerciais duradouros, seja por negociação ou imposição, não interessando os ataques diretos, o que os levavam a optar pela ocupação de pontos estratégicos. Para a nobreza, o interesse é fazer batalhas e saques (especialmente dos muçulmanos), e nesse caso o Marrocos é o lugar mais interessante, já que conta com uma costa cheia de entrepostos comerciais.
 	Dessa forma, as motivações conducentes à expansão ultramarina portuguesa podem ser sintetizadas em econômias (lucro via comércio, rompendo omonopólio ítalo-mulçumano), territoriais (dada a expansão da nobreza e a falta de solos propícios à pratica agrícola - 2/3 dos solos eram rochosos) e religiosas (espírito de Cruzada).
A consolidação da dinastia de Avis e a experiência militar da nobreza são fatores esenciais para explicar a expansão, que teve como ponto de partida a tomada de Ceuta, em 1415, que figurava como zonas de comércio (ouro do Sudão, tecidos, etc) e de produção e criação (cereais, cavalos, cabras).
Após a tomada de Ceuta, afiguravam-se aos portugueses três caminhos possíveis: avançar rumo ao Mediterrâneo e iniciar concorrência com as cidades italianas pelo comércio regional (Caminho do levante - via comércio - mundo “mediterrâneo” já ocupado), iniciar uma campanha de conquista no Marrocos (via territorialidade) ou prosseguir rumo ao sul, em busca de um comércio com a África, sobretudo para obtenção de ouro e escravos (via comércio - mundo Atlântico).
A expansão marítima portuguesa baseia-se inicialmente, portanto, não na busca pelas especiarias orientais, mas pelas riquezas que lhe pudessem ser proporcionadas pelo comércio africano, ou seja, pela busca de “especiarias africanas”. Para isso, a empresa requereria contudo, uma prévia acumulação de capitais capaz de manter os investimentos enquanto os retornos não fossem iniciados: os particulares certamente não se arriscariam em uma atividade cujos resultados eram tão incertos e os riscos tão significativamente elevados (ser levado a cabo inicialmente pela Coroa portuguesa).
Para Boxer, a expansão portuguesa rumo ao Oriente teria de estar baseada, em um período inicial, quase que exclusivamente na força. Para assumir o controle daquela rede deveria assumir um posicionamento de imposição, pela violência de caráter exemplar, de suas próprias regras. E o reino português conseguiu fazê-lo com grande rapidez e eficiência.
Dessa forma, o Império Colonia Português atinge sua configuração áurea já na segunda metade do sec. XVI, especialmente sob o comando de Afonso Albuquerque (1509 a 1515), que conseguiria uma série de vitórias que consolidariam a vastíssima extensão imperial no Oriente.
A principal característica da talassocracia portuguesa era a dispersão, o que exigia da metrópole grandes esforços de manutenção e controle (especialmente dada a baixa quantidade de recursos populacional), mas que favorecia uma alta versatilidade comercial. 3 praças-fortes atuavam como pontos-chave do império: Goa, Ormuz e Malaca; a primeira por sua posição estratégica e as demais pela já salientada relevância comercial.
(Capítulo I – Da Expansão Comercial à Empresa Agrícola)
Para Furtado, O processo de colonização da América está envolto no contexto muito mais amplo da expansão ultramarina européia, esta levada a cabo por caracteres específicos de uma base fundamentalmente mercantil (diferentemente de outros processos de colonização, como o da Grécia Antiga, decorrente de pressões demográficas, ou o das tribos Germânicas, resultante de uma ruptura no sistema de organizacional então vigente).
A descoberta de metais preciosos na América Espanhola, sobretudo ouro, estimulou as fantasias européias frente às terras descobertas (miragem do ouro). Com o ulterior desenvolvimento marítimo de outras nações e a consolidação crescente das posições econômicas destas, sobretudo França, Holanda e Inglaterra (que, obviamente, eram adeptas da colonização efetiva, ou seja, a terra devia caber de direito àqueles que a ocupassem), começaram a surgir ameaças às posições exclusivas de Espanha e Portugal na América.
A ameaça de invasões e a perspectiva de obter ouro nos territórios potencialmente passíveis de ocupação por terceiros fez com que fossem geradas pressões políticas sobre a Coroa Portuguesa para que as terras americanas que lhecabiam fossem colonizadas. A Espanha, tendo o recurso do ouro plenamente disponível, centrou sua ocupação na região das minas, ou seja, a ocupação espanhola deu-se, logo de início por fatores puramente econômicos. Mas Portugal não possuía interesses econômicos imediatos na porção de terra que lhe cabia, na verdade, muito mais interessante aos portugueses era o comércio com as Índias Orientais.
De modo a responder às ameaças externas de ocupação de territórios, Portugal, com êxito, buscou uma base econômica interessante: instalava-se, assim, a primeira grande colônia agrícola nas Américas.
 
6. Elabore uma discussão sucinta acerca das principais diretrizes norteadores dos reinados de D. João II, o Príncipe Perfeito, de D. Manuel I, o Venturoso, e de D. João III, o Piedoso. Enfatize nessa discussão o impacto das diretrizes referidas sobre o território que viria a ser o Brasil.
Portugal já é um país formado e consolidado desde o fim do século XIII (1297), porém é somente com a consolidação da Dinastia de Avis (Revolução de Avis - 1383-1385 - substituindo a Dinastia Afonsina) que se da a expansão ultramarina portuguesa, que teve como ponto de partida a tomada de Ceuta, em 1415.
É no reinado de D João II (1481-1495) que ocorre o apogeu da política comercial e marítima de Portugal. É sintetizando os diversos interesses envolvidos que a busca comercial assumirá o plano central da política portuguesa e as iniciativas de expansão e descobrimentos não mais se restringirão à África, mas estender-se-ão ao longínquo oriente. O “plano das Índias” promoverão a sedimentação da hegemonia marítima atlântica de Portugal, rompendo o monopólio muçulmano-veneziano.
No reinado de D Manuel I (1495-1521) ocorre o descobrimento do Brasil, porém é dada maior importância para o comercio do oriente.
No reinao de D João III (1521-1557), contrariamente ao seu antecessor, vai concentrar esforços na manutenção da hegemonia do Atlantico Sul. A perda de territórios no oriente e a grande concorrência das outras potencias no oriente, somado a ameaça estrangeira e a possibilidade de se descobrir metais preciosos, tal qual a Espanha (como observou Furtado), levariam os portugueses a “rever e a calcular” suas prioridades: início do processo de colonização do Brasil. Como o sistema de capitanias (iniciativa privada) não deu certo, a saída é colonizar.
 
8. Caracterize, com base em Celso Furtado, a economia espanhola do século XVI, destacando os vínculos entre tais características e o êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa. Discuta, ademais,…os problemas da economia espanhola…”.
(Capítulo II – Fatores do Êxito da Empresa Agrícola)
Como Furtado observou, havia efetivamente pouco interesse econômico dos portugueses pela ocupação de suas terras na América, mas a ameaça estrangeira e a possibilidade de se descobrir metais preciosos, tal qual a Espanha, fizeram com que a Coroa Portuguesa empenhasse-se em criar uma atividade econômica que se adequasse ao sistema mercantil.
 		A implementação da atividade monocultural agrícola obteve sucesso fundamentalmente por três fatores: experiência portuguesa no ramo, obtenção de financiamento junto aos Países Baixos (sobretudo Holanda) e, principalmente, criação de novas rotas comerciais capazes de suportar o aumento da oferta sem diminuição dos preços.
 		Dado o caráter de restrição de exportações de manufaturas que começava a imperar, a experiência portuguesa nas ilhas do Atlântico foi de grande importância para que o açúcar pudesse ser implantado, já que, por exemplo, as cidades italianas mantinham estrito controle sobre o refino do açúcar e certamente não se disporiam a exportar equipamentos para a colônia portuguesa.
 		O aspecto mais importante, porém, parece ter sido o papel desempenhado pelos holandeses no processo. Quando, em inícios do século XV, o açúcar português advindo das ilhas atlânticas primeiramente aportou na Europa, as vias de comércio mantidas pelas cidades italianas não foram suficientes para distribuir a nova quantidade ofertada, o que resultou em uma queda brusca de preços, a qual teria tornado a expansão da atividade açucareira inviável. No entanto, a crescente atividade mercantil dos portugueses junto a Flandres alteraria esta perspectiva: a nova rede comercial possuía o aparato para suportar a oferta sem diminuir os preços, o que se dava sobremaneira pela posição destacada dos Países Baixos quanto ao “carrying trade”.
 		Na medida em que se viram imiscuídos com a atividade mercantil portuguesa, passou a ser interessante aos neerlandeses financiar as atividades desenvolvidas nas colônias de Portugal. Desse modo, era possível obter somas que talvez não dispusesse Portugal e que permitiam levar adiante a empresa colonial.
 		Por fim, havia a questão da mão-de-obra, a qual acabou resolvida pela implementação do sistema escravista. Isto se deu pela impossibilidade de empregar trabalhadores assalariados (para que a emigração fosse efetiva, haveria a necessidade de altos salários, com os quais não poderia arcar a empresa colonial, além disso, a disponibilidade de terras tornava inviável manter os indivíduos na grande gleba produtora, já que estes prefeririam obter propriedades próprias) e pela lucratividade que obtinham os portugueses no comércio de escravos africanos, atividade esta que se consolidara ao longo de seu processo de expansão rumo ao sul da África.
(Capítulo III – Razões do Monopólio)
A Espanha não pode desenvolver um sistema parecido com o português e isto levaria à decadência não apenas da atividade econômica da colônia, como também da metrópole.
 		A grande quantidade de metais preciosos encontrados requeria apenas que a mão-de-obra local (ainda que, em alguns casos, tenham sido importados negros) fosse empregada na atividade de extração. Desse modo, aprofundava-se a especialização das regiões coloniais, que possuíam pouco ou nenhum contato econômico entre si.
 		As diversas regulamentações, como a saída única de navios anuais do Porto de Sevilha para as Américas tendia a intensificar este processo.
 		A abundância de metais preciosos fez a Espanha abandonar qualquer projeto metropolitano ou colonial que estivesse ligado exclusivamente à atividade produtiva. O resultado foram déficits cada vez maiores e freqüentes: importava-se a maior parte do que se necessitava, gerando um aporte de metais às demais nações européias, que posteriormente se consolidariam como as economicamente mais fortes. Ao final, a decadência da atividade produtiva na metrópole, piorada pela enorme inflação que se propagaria por toda a Europa, geraria o declínio das próprias colônias, já que “fora da exploração mineira, nenhuma outra empresa econômica de envergadura chegou a ser encetada”.
 		O resultado para Portugal não poderia ser melhor: caso houvesse a implementação da monocultura escravista nas terras mais propícias à produção da cana, como eram as possuídas pela Espanha, é muito provável que o mercado europeu não suportasse a nova “explosão” de oferta, o que conduziria a preços severamente declinantes.
 
**9. Discuta a afirmação seguinte, de Barros de Castro: “No regime social que aqui se instala há dois teclados; os teclados são dois, mas a música é uma só. Há a produção de mercadorias, com a sua partitura composta de determinações econômicas. E há a escravidão, um velho tema, que permite improvisos de muita força.” Em seguida, elabore uma análise comparada entre esse comentário de Castro e a citação seguinte, de A. J. Saraiva: “Poderia, talvez, sem grande erro, comparar-se a Coroa portuguesa a uma grande organização monopolista, cujos benefícios são distribuídos entre funcionários e acionistas, sob a forma de ordenados e dividendos, sendo que esses funcionários e acionistas não exercem pessoalmente uma atividade industrial ou comercial (...). Desta forma, se o Estado português no século XVI oferece exteriormente uma aparência ‘moderna’, na medida em que é uma grande empresa econômica, por outro lado, ele assegura, no interior do País, a persistênciade uma sociedade arcaica, na medida em que garante o domínio de uma classe tradicionalmente dominante, cujo espírito está nos antípodas do burguês.”
Schwartz ressalta o caráter “moderno” do empreendimento colonial açucareiro, que era dispendioso, complexo (com divisão do trabalho, “ciência” no refino) e relativamente grande para os padrões contemporâneos.
O caráter capitalista da manufatura do açúcar aparece mascarado pela existência da escravidão. Na comparação do engenho com uma grande fábrica inglesa do início do séc. XIX, o escravo se apresenta como uma antecipação do moderno proletário – porém, nesse caso, a coerção que age sobre ele é extra-econômica.
Para Barros de Castro o engenho tem roupagem moderno, já que é produção capitalista voltada para o mercado. A presença do trabalho escravo entretanto assegura persistência de uma sociedade arcaica. Mais uma vez Portugal é “presa” pelas suas bases arcaicas.
Para Gorender, o mercantilismo praticado em Portugal não era voltado a um protecionismo que garantisse um fortalecimento da indústria (à época, manufatura) interna, mesmo porque isto não atendia aos interesses das duas principais classes e porque o setor manufatureiro era de fato pouco desenvolvido ali. Assim, nas palavras de A.J. Saraiva: “desta forma, se o Estado português no século XVI oferece exteriormente uma aparência ‘moderna’, na medida em que é uma grande empresa econômica, por outro lado, ele assegura, no interior do País, a persistência de uma sociedade arcaica, na medida em que garante o domínio de uma classe tradicionalmente dominante, cujo espírito está nos antípodas do burguês”.
 
 
**10. Discuta, baseando-se na análise realizada por C. Furtado acerca da economia escravista de agricultura tropical no Brasil dos séculos XVI e XVII, a afirmação seguinte, de H. Johnson & Maria B. N. da Silva: “Uma análise cuidadosa de algumas fontes contemporâneas [de fins do século XVI] aproximaria esse número [a produção média de açúcar por engenho, medida em arrobas] de 6000 ou menos. Frédéric Mauro, por sua vez, examinou em profundidade a contabilidade de importante engenho da Bahia (Sergipe do Conde) durante o período de 1622 a 1635. (...) [O] rendimento do capital durante os 13 anos em questão variou de um mínimo de 1,2% a um máximo de 3,4%.”
Schwartz ressalta que quando se consideram dados quantitativos frente à produção açucareira, mesmo em uma área ou período restrita, deve-se levar em conta a inexistência de um padrão no registro dos dados econômicos, ou seja, as regras contábeis em que se baseavam tais escriturações dificilmente são precisas e certamente diferem em muito do que atualmente é realizado, o que dificulta a atividade do pesquisador que se dedica a escrutinar tais dados.
Afirma ainda que diversos historiadores argumentaram que os retornos elevadíssimos sobre o capital proporcionaram uma enorme concentração de renda, à qual se pode responsabilizar pela posterior ausência de desenvolvimento econômico. Os dados históricos, por mais mascarados que estejam, indicam, porém, realidades muito distintas das estimativas de 30% ou 50% de retornos anuais sobre o capital. Por outro lado, afirma também que não se deve incorrer no extremo oposto, uma vez que retornos muito pequenos não seriam capazes de explicar o elevado aumento na quantidade de unidades produtivas.
 	Assim, tomando como referência a produção antilhana, tem-se que retornos de 5% eram considerados satisfatórios, enquanto que aqueles que chegassem a 10% ou 15% eram considerados excelentes, embora tais níveis raramente tenham sido alcançados. De forma sucinta: “indústria açucareira provavelmente não foi nem tão rica nos bons tempos, nem tão pobre nas épocas difíceis [...]”.O açúcar, além disso, foi o produto colonial cujo valor não foi igualado nem mesmo pelas exportações de ouro a Portugal.
Schwartz crítica também os valores apresentados por Celso Furtado. A taxa de retorno estimada por ele em cerca de 80% não é, em absoluto, factível. Além disso, a concentração de 90% da renda nas mãos dos senhores de engenho é uma proposição igualmente dúbia e a idéia dos senhores como uma classe extremamente abastada parece mais apenas uma figura que uma realidade.
 
 
11. Explique o eventual paradoxo presente nas afirmativas seguintes, de C. Furtado, referentes à economia açucareira nos séculos XVI e XVII: “Os dados (...) sugerem que a indústria açucareira era suficientemente rentável para autofinanciar uma duplicação de sua capacidade produtiva cada dois anos”. Não obstante, “não havia (...) nenhuma possibilidade de que o crescimento com base no impulso externo originasse um processo de desenvolvimento de autopropulsão.”
 	(Capítulo VIII – Capitalização e nível de renda na colônia açucareira.)
Furtado defende a tese, baseado sobretudo nos dados provenientes do livro de Simonsen, de uma rentabilidade extremamente alta para a indústria do açúcar, de forma que esta poderia auto-financiar a duplicação de sua capacidade produtiva a cada dois anos. Tal constatação decorre do cálculo baseado no total de capitais invertidos nos engenhos coloniais, no total empregado na aquisição de força de trabalho escravo e comparadas com os rendimentos anuais do açúcar produzido.
Segundo ele, 90% da renda monetária gerada estava concentrada nas mãos de senhores de engenho e outros proprietários de plantações de cana. Os outros 10% destinavam-se a pagar custos de transporte e armazenamento, de obtenção de animais para tração e de lenha para as fornalhas.
Descontando-se da renda líquida os gastos com consumo, ainda assim a margem restante mostra a enorme potencialidade de duplicação da capacidade produtiva. Dado que não existia outra atividade possível de receber esse investimento, Furtado então observa que nos anos em que não se concretizava esse processo de capitalização da renda na indústria açucareira, que o que acontecia era que parte daquela renda acabava então não ficando nas mãos dos senhores de engenho, sendo destinado aos comerciantes. Ou seja, era uma renda de não-residentes na colônia (holandeses). Portanto, apesar da potencialidade de dobrar a produção em dois anos, isto não ocorria simplesmente porque parte da renda transferia-se para não-residentes.
(Capitulo IX – Fluxo de renda e crescimento)
Assim, apesar da elevada possibilidade de capitalização da economia açucareira, com possibilidade de auto-financiar a duplicação de sua capacidade produtiva a cada dois anos, para Furtado, ainda que essa capacidade de duplicação fosse realizada (mesmo que hipoteticamente sem comprometimento do preço dado o aumento da oferta), como o crescimento dessa economia ligava-se exclusivamente ao exterior, tem-se que a expansão da empresa escravista tendia a ser em extensão, não apresentando quaisquer alterações estruturais capazes de significar um desenvolvimento efetivo.
 
Em outras palavras, em sendo o processo produtivo dependente do mercado externo, ele seria incapaz de enveredar-se por outros caminhos de desenvolvimento mais efetivo (que Furtado chama de autopropulsão). Furtado argumenta como prova desta idéia que no século XIX a atividade açucareira seria retomada no Nordeste com exatamente as mesmas características que lhe serviram de base no XVII e XVIII.
A ligação entre as duas afirmativas e que resulta nesse eventual paradoxo é a presença dos escravos. Nesse modelo de desenvolvimento que se dá com base no impulso externo (depende da demanda externa - voltado para fora) a rentabilidade é proporcionada pela presença de mão-de-obra escrava (rentabilidade essa capaz de auto-financiar a duplicação de sua capacidade produtiva), ao mesmo tempo em que impede a formação de uma demanda interna capaz de promover mudanças estruturais na economia, que no limite levaria a autopropulsão do modelo.
Para Schwartz o fracasso dessa atividade em propiciar um crescimento contínuo resultou, aparentemente, não das deficiências ou ausência de lucratividade da mão-de-obra escrava, mas da política governamental, que taxava a indústria mas não empregava as receitasa serviço dos objetivos de crescimento contínuo. Resultou também da natureza da organização comercial do produto, que se manteve orientada para a metrópole e dependente desta. A despeito desses obstáculos, a indústria açucareira incentivou uma grande variedade de outras atividades econômicas na colônia, o que produziu uma sociedade que refletia as hierarquias do engenho”.
 
12. Analisando os itens de patrimônio arrolados em um conjunto de processos de inventários de senhores de engenho baianos, com datas entre 1716 e 1816, Stuart Schwartz escreveu: “Fica patente que o principal item nas despesas de capital era a terra, que em vários casos respondia por mais da metade do valor total da propriedade. Quando se acrescenta ao total o valor da cana cultivada nessa terra, a proporção relativa aos bens imóveis eleva-se ainda mais. Esses números contradizem as afirmações feitas por alguns estudiosos de que era a mão-de-obra, e não a terra, o fator produtivo crucial. Esses historiadores argumentam que, sendo a terra relativamente abundante e pouco valorizada, a sociedade brasileira não poderia ser designada como um ‘regime feudal’. De qualquer forma, sejam quais forem os méritos duvidosos de tal raciocínio, as evidências da Bahia indicam que, dada a importância relativa da terra, ele se baseia em uma falsa premissa.” Discuta essas afirmações de Schwartz com base no comentário seguinte, de Jacob Gorender: “A grande propriedade da terra ter-se-ia tornado no Brasil-colônia o elemento estrutural decisivo, característico do feudalismo, tão-somente se, afora outras condições, já houvesse aqui uma população camponesa suficientemente densa e arraigada ao solo, cujo sobreproduto poderia então converter-se em renda feudal. Dado que semelhante população camponesa inexistia e era inviável sua formação, o tipo de dominação não podia ser o feudal. [...] Concordo que a terra fosse o principal e mais importante meio de produção, uma vez que, em oposição à perspectiva coisificante do escravista, não considero o escravo um meio de produção. Entretanto, quando falamos em propriedade, referimo-nos a relações de produção e não à produção concreta em si mesma. (...) O mais significativo consiste, todavia, no fato de que, entre as relações de produção vigentes no Brasil-colônia e no Brasil-império, aquela que tinha a função econômica principal e decisiva era, não a propriedade da terra como sucederia no feudalismo, mas a propriedade de escravos.”
(definição do feudalismo para Gorender, questão 1 – Questionário II)
Segundo Schwartz, a principal parcela do capital dos engenhos encontrava-se nas terras, seguida pelos investimentos em mão-de-obra escrava. A importância das terras para a composição do capital coloca em questionamento a idéia de que nos engenhos a mão-de-obra era o fator produtivo crucial: os dados certamente questionam tal posicionamento, embora seja também inegável a importância do total de escravos na composição do capital dos engenhos.
As despesas com força de trabalho eram, de longe, as mais significativas, seja pela necessidade de reposição do estoque de escravos (observar aqui que este peculiar investimento em estoque era, como as demais formas de investimento, observado como despesa corrente, conforme salientado há pouco), seja pelos salários pagos a trabalhadores livres, contratados para serviços esporádicos ou enquanto profissionais especializados necessários à produção. Embora os custos com mão-de-obra tenham diminuído ao longo do tempo, o que se deveu principalmente pela substituição de assalariados por escravos treinados para funções mais específicas, as despesas com mão-de-obra permaneceram ainda como as mais significativas.
Vale ressaltar o caráter destes dispêndios com mão-de-obra. Todo o custo despendido na aquisição de escravos na verdade era investimento em capital, ou seja, custo fixo, ao passo que a força de trabalho assalariada forma, como hoje, custos variáveis. A grande importância que possuía a força de trabalho na composição dos custos evidencia ainda mais fortemente que a indústria açucareira estava ancorada em grandes custos fixos; isso a fazia particularmente “robusta” diante de alterações de preços, de modo que podia operar com prejuízo no curto prazo, contanto que as receitas auferidas ainda pudessem compensar os custos fixos.
Apesar dos pesados custos com a escravaria, dados referentes à produtividade do escravo revelam que as rendas geradas pelo trabalho desses eram suficientes para compensar as despesas de aquisição e manutenção em cerca de três anos e meio.
Para Schwartz, o que explica o grande desenvolvimento da economia açucareira no período inicial, sobretudo no século XVI, foi a concessão de terras pela Coroa. Como já observado, as terras formavam a parcela principal do capital de um engenho; se não houvesse dispêndios para adquiri-la, tinha-se a oportunidade de obter grandes retornos, de tal forma que a concessão das sesmarias proporcionou um motor para a expansão da indústria. Além disso, o aumento da riqueza por parte dos senhores de engenho não se deu fundamentalmente através de aumentos sucessivos na renda, mas no estoque de ativos da economia. Isto significa que as taxas de retorno sobre o capital na forma de rendimentos efetivos não precisavam ser muito elevados para que a atividade fosse extremamente atraente: obtida uma terra por concessão, os senhores de engenho investiam na infra-estrutura necessária à produção; o resultado era que o estoque de capital da economia crescia muito e de modo realmente rápido. A demanda e os preços em ascensão aumentaram ainda mais a atratividade da indústria.
 	Ao fim do século XVI, a disponibilidade de terras para concessão havia chegado ao esgotamento. Agora obter a terra implicava a necessidade de um capital muito mais considerável. Some-se a isto a crise decorrente da queda dos preços e ter-se-á o panorama da retração da indústria açucareira.
 
 
13. Furtado aponta três etapas na ocupação econômica das terras americanas: “a primeira etapa consistira basicamente na exploração da mão-de-obra preexistente com vistas a criar um excedente líquido de produção de metais preciosos; a segunda se concretizara na produção de artigos agrícolas tropicais por meio de grandes empresas que usavam intensamente mão-de-obra escrava importada. [Na] terceira etapa surgia uma economia similar à da Europa contemporânea, isto é, dirigida de dentro para fora, produzindo principalmente para o mercado interno, sem uma separação fundamental entre as atividades produtivas destinadas à exportação e aquelas ligadas ao mercado interno.” Discuta estas três etapas: a) em termos de sua adequação à política colonial então vigente; b) em termos de seus resultados quanto ao desenvolvimento econômico das colônias.
 
14. Explique, valendo-se da abordagem gráfica realizada por Iraci Del Nero da Costa, o trecho seguinte, de Celso Furtado: “A etapa de máxima rentabilidade da empresa agrícola-colonial portuguesa havia sido ultrapassada. O volume das exportações médias anuais da segunda metade do século XVII dificilmente alcança cinquenta por cento dos pontos mais altos atingidos em torno de 1650. E essas reduzidas exportações se liquidavam a preços que não superavam a metade daqueles que haviam prevalecido na etapa anterior. Tudo indica que a renda real gerada pela produção açucareira estava reduzida a um quarto do que havia sido em sua melhor época. A depreciação, com respeito ao ouro, da moeda portuguesa observada nessa época é praticamente das mesmas proporções, o que indica a enorme importância para a balança de pagamentos de Portugal que tinha o açúcar brasileiro. Fora Portugal o principal abastecedor da colônia, e essa desvalorização significaria uma importante transferência de renda real em benefício do núcleo colonial. Mas, como é sabido, por essa época o Brasil se abastecia principalmente de manufaturas que os portugueses recebiam de outros países europeus. Demais, como os artigos de produção interna que Portugal exportava para o Brasil eram, via de regra, os mesmosque exportava para outras partes, o mais provável é que seus preços estivessem fixados em ouro. Sendo assim, as transferências de renda
provocadas pela desvalorização revertiam principalmente em benefício dos exportadores metropolitanos portugueses.”
 
 
15. Explicite, com fundamento no Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado, como se formou e quais as características do complexo econômico nordestino. Explore, ainda segundo aquele autor, as conseqüências da existência desse complexo no que respeita às dimensões da crise que se abate sobre a economia açucareira na segunda metade do século XVII.
 
16. Explique o papel desempenhado pelo “pacto colonial” no abastecimento do mercado das colônias produtoras de açúcar nas Antilhas. E explique também o papel desempenhado pelo “pacto colonial às avessas” nas dificuldades vivenciadas pela produção açucareira da colônia brasileira.

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