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P2_Questionário 2008 - RESPONDIDO

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Comente criticamente, com fundamento nos escritos de Celso Furtado, a seguinte citação, de Vitorino de Magalhães Godinho: “O tratado de Methuen registra, sobretudo, uma situação de fato; já antes de 1703 o contrabando inglês introduzia em grande quantidade os panos ingleses que eram proibidos ... . E o comércio do vinho do Porto tinha-se desenvolvido antes de 1703. ... [Todavia,] se o tratado de Methuen não inovou, em todo o caso consagrou uma inovação de fato, isto é, a paragem do desenvolvimento manufatureiro; põe-se de lado a política desenhada a partir de 1670. Por quê? ... Em primeiro lugar, em 1690 a crise comercial está em vias de se extinguir. Os stocks foram vendidos, os preços sobem, pressente-se que os consumos do açúcar e do tabaco aumentaram muito ... . Os anos de 1690 a 1705 foram de incontestável incremento e prosperidade mercantil para Portugal.” 
Durante os anos que cercaram 1670, o tráfico Português com as Índias Orientais se tornou “anemiado” em conseqüência da vitoriosa concorrência dos holandeses, ingleses e franceses. Os produtos portugueses se vêem excluídos desses mercados e as conseqüências desse fato se fazem sentir nessa mesma época. A reação à crise comercial se baseou em algumas políticas que visavam atenuar o déficit que já representava 1/3 do valor das exportações. Entre essas ações podemos destacar a diminuição de importações (foram proibidas a entrada de alguns itens de luxo, com leis “pragmáticas”), houve cobertura do déficit em espécie e aumento de exportações, utilizando como apoio a desvalorização cambial para proteger à manufatura interna. Vale destacar que também foi realizada uma iniciativa de substituição de importações junto com uma política industrial, que alguns chegaram a chamar de “colbertiana”. Porém já no fim do século XVII, que nem está explicitado no texto, toda essa política desenhada em 1670 é posta de lado devido a alguns vetores como, por exemplo, a descoberta de ouro no Brasil. Esse ouro dificulta o surgimento das novas indústrias, pois Portugal volta a ter a prosperidade baseada nas exportações de açúcar, tabaco e azeite. Além disso, o surto de produção e comércio de vinhos faz com que os grandes industriais “cedam seu lugar” aos grandes senhores de vinho. Que nem diz A.H. de Oliveira Marques: “Comércio e agricultura voltam a dar-se as mãos.” Para Coutinho, o Tratado de Methuen não foi responsável pela desaceleração na política industrial portuguesa. Segundo ele, isso já estava ocorrendo antes de 1703, na verdade, foi essa incontestável prosperidade que possibilitou a assinatura do tratado (como ele mesmo disse: “Ora, sendo a política industrial uma resposta à crise comercial, uma vez esta passada, a primeira perdia sua razão de ser.”) Já para Celso Furtado, o Tratado de Methuen foi o que desempenhou papel básico no curso dos acontecimentos em Portugal. Segundo ele, o acordo significou para este país renunciar todo o desenvolvimento manufatureiro em troca de uma posição política sólida em uma etapa em que isso era fundamental para a consolidação de sua colônia americana. Para ele,o ouro brasileiro possibilitou a assinatura do tratado que veio a acabar com o estímulo manufatureiro presente.
Um dos fatores salientados pela historiografia como conducentes ao atraso do desenvolvimento das atividades manufatureiras no Brasil colonial trata-se da alegada incapacidade técnica dos portugueses. Discuta os avanços e retrocessos vivenciados pelo desenvolvimento manufatureiro português, de Ericeira a Pombal, baseando-se nos textos indicados de Vitorino de M. Godinho e Jorge de Macedo. 
A atuação do conde da Ericeira se encaixa no momento que, segundo Godinho, está entre dois períodos da história econômica portuguesa e que podemos chamar de „ciclo do açúcar, do tabaco e do sal‟ e „ciclo do ouro brasileiro, do Porto e do Madeira‟. Foi o momento de desenvolvimento industrial melhor explicado na questão acima. Ele visualizou um plano de crescimento industrial, contratando artífices e peritos em França, Inglaterra, Espanha e Veneza, adiantando fundos, concedendo toda espécie de privilégios às novas fábricas etc. Estabeleceram-se assim indústrias de vidros, têxteis e ferro em diversos pontos de Portugal. 
A partir de 1765, Portugal vai novamente entrar em uma fase manufatureira provocada por uma crise comercial. Godinho chega a dizer que esta relação entre crise comercial e industrialização parece constituir um ritmo fundamental da dinâmica econômica lusitana. Com o crescimento pessoal de Sebastião José, o sistema monopolista ganha um reforço semelhante que a orientação do reinado de D. João V havia obtido. A política de companhias tentou concentrar os lucros do comércio brasileiro para seus acionistas, antes ameaçados por uma multidão de pequenos concorrentes de uma pequena burguesia.
Sob o olhar de Macedo, numa primeira fase de governação pombalina, dois importantes setores da sociedade comercial portuguesa são defendidos: o grande comércio colonial e a zona vinícola do Douro ao mesmo tempo em que o Estado absoluto é reforçado. Para ele, o fomento dito pombalino utilizou mais a oficina do que a manufatura e os processos técnicos permaneceram alterados até o século XIX, quando passaram a mudar lentamente. A atividade industrial acaba se assentando em uma realidade preexistente e fortemente arraigada ao solo e dispersa pelo país. Segundo Macedo, o que se chamava erroneamente de “fábrica”, mantinha uma disposição técnica de oficina e possuía mais um aspecto de centro aproveitador de alguma industria caseira do que de uma organização produtora nova. A falta de sistematização faz com que o foco seja a rapidez da montagem, já que essa é a necessidade imposta pela crise. É essa mesma crise que vai explicar a montagem da indústria nas cidades, onde os produtos nacionais eram mais necessários.
Maxwell, por sua vez, vê que a raiz do fenômeno pombalino está nas dificuldades da crise do outro e da produção colonial que obrigava a produção industrial a tentar diminuir a importação estrangeira. Para ele, o fomento industrial de Pombal não nasceu em um deserto industrial, não constituiu nenhuma revolução técnica e nem tampouco foi resultado de uma visão antecipada ou de esforço voluntário relacionado com as luzes da Europa.
Furtado acredita que o Brasil não pôde desenvolver uma base manufatureira porque os emigrantes portugueses que para cá vieram não possuíam a experiência técnica necessária para instalá-la. Assim, na primeira metade do XIX, instalar uma base industrial no Brasil requeria aumentar as importações de manufaturas, de tal forma que a tecnologia pudesse ser copiada. Para aumentar o nível de importações, no entanto, fazia-se necessário aumentar o nível das exportações nacionais (para compensar as importações com o total do produto exportado). No entanto, Celso Furtado (diferentemente da perspectiva muito mais positiva de Buescu) observa a primeira metade do XIX como o período de máximo declínio da renda nacional.
Elabore, com base no texto indicado de Jorge de Macedo, uma análise acerca do período de governação pombalina em Portugal, tendo como ponto de partida a afirmação seguinte, de Vitorino de Magalhães Godinho: “É a partir de 1770, quer dizer, após o desencadeamento da crise do ouro e de todo o comércio de além-mar, que se verificará um novo surto manufatureiro e uma outra transformação comercial. ... Vai abrir-se um novo ciclo do comércio da China e a Índia, do algodão e do arroz do Brasil, das manufaturas da Metrópole. A balança comercial portuguesa tornar-se-á mesmo favorável no fim do século.” 
Resposta na questão 2.
Na etapa em que se processou a gênese do capitalismo na Europa Ocidental, escreve Fernando Novais, houve “... a necessidade de pontos de apoio fora do sistema, induzindo uma acumulação que, por se gerar fora do sistema, Marx chamou de originária ou primitiva. Daí as tensões sociais e políticas provocadas pela montagem de todo um complexo sistema de estímulos. O mercantilismo foi, na essência, a montagem de tal sistema, e o sistemacolonial mercantilista, sua peça fundamental, a principal alavanca na gestação do capitalismo moderno”. Explique, seguindo a interpretação de Novais, as razões pelas quais a referida peça fundamental transforma-se em obstáculo para o desenvolvimento capitalista, do que decorre a crise do antigo sistema colonial. 
O Antigo Sistema Colonial se comportava como elemento que compunha as engrenagens do Antigo Regime. Os Estados nacionais praticavam o mercantilismo com vistas à superação da crise feudal, sendo o antigo sistema colonial o fator de fomento da acumulação originária de capital. A exploração colonial era viabilizada porque o mundo senhorial-escravista ia se engendrando no mundo ultramarino, sendo o exclusivo metropolitano, a escravidão e tráfico negreiro os mecanismos que concretizaram o sentido profundo da colonização.
O ponto de incoerência nesse sistema colonial era o fato de que o mercado interno colonial, reduzido devido à mão-de-obra predominantemente escrava, dificultava a possibilidade da economia colonial auto-estimular-se. São assim, a produção mercantil e escravista, os 2 lados da limitação ao crescimento da economia de mercado.
FALTA COLOCAR RESUMO 1822: AS DIMENSÕES DA INDEPENDÊNCIA
A partir das considerações avançadas por Mircea Buescu, critique o trecho a seguir: “Dificilmente um observador que estudasse a economia brasileira pela metade do século XIX chegaria a perceber a amplitude das transformações que nela se operariam no correr do meio século que se iniciava. Haviam decorrido três quartos de século em que a característica dominante fora a estagnação ou a decadência. ... As fases de progresso, como a que conheceu o Maranhão, haviam sido de efeitos locais, sem chegar a afetar o panorama geral. A instalação de um rudimentar sistema administrativo, a criação de um banco nacional e umas poucas outras iniciativas governamentais constituíam ... o resultado líquido desse longo período de dificuldades” (FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 17.ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1980, p. 110). 
Furtado viu na primeira metade do século XIX o declínio a longo prazo do nível de renda. Devido à inexistência de uma base técnica, a industrialização exigiria ampliação da capacidade de importar e também do apoio da classe dirigente dos grandes proprietários escravistas. As atividades manufatureiras da primeira metade do século XIX ou não têm mercado (ex. siderurgia) ou quando há mercado (ex Têxteis), não se consegue vencer a concorrência do importado.
Além dessa dificuldade, os preços das exportações brasileiras caíram bruscamente, enquanto os preços de importação permaneciam constantes. Novamente, diz Furtado, o setor de subsistência cresce, marcando inequivocadamente, um processo de involução econômica, como explicitado no trecho. 
Buescu faz um resgate do período levando em conta as variáveis políticas, sociais, culturais além de dar um peso bem maior para a econômica, como fez Furtado. Dessa forma, o balanço do período é bem mais positivo, chegando o autor a destacar exemplos como a formação de uma elite intelectual, a implementação de um sistema educacional, a intensificação da imigração européia e a extinção do tráfico negreiro. Ele mesmo, criticando diretamente Furtado, propõe a seguinte pergunta: “mas não é isso minimizar a importância das raízes que iriam dar frutos mais tarde?” . 
Mas para Furtado, a instalação de um rudimentar sistema administrativo, a criação de um banco nacional e umas poucas outras iniciativas governamentais constituíam- ao lado da preservação da unidade nacional- o resultado líquido desse longo período de dificuldades.
Comente, baseando-se na interpretação de Celso Furtado, a seguinte citação: “É verdade que, conforme cálculos ainda precários, porém aceitáveis, a Renda „per capita‟ ficou estacionária entre 1800 e 1850, mas é justamente este fenômeno que é importante: depois de uma queda secular desta Renda, ela deixa de cair entre 1800 e 1850, para começar a subir na segunda metade do século. O mesmo fato, apresentado dentro de uma perspectiva global, toma outra significação: não é mais uma simples estagnação, mas sim, o marco da mudança de direção. (...) A época de Mauá só foi possível graças à de Cairu.” (BUESCU, Mircea. História econômica do Brasil: pesquisas e análises. Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 231). 
Insumos também se encontram na questão 5.
 Buescu critica a decisão de Furtado de jogar o lado positivo do avanço da economia brasileira para o terceiro quarto do século XIX, pois não podemos ignorar as raízes desse efeito posterior. Para subsidiar sua argumentação, Buescu levanta uma série de acontecimentos que mostram que o balanço do período foi mais positivo do que imaginou Furtado: a criação de um sistema educacional, a formação de uma elite colonial, a difusão de idéias, o crescimento da classe média, a intensificação da imigração de brancos, surto cafeeiro (aqui dada uma importância muito maior do que aquela dada por Furtado), abolição do tráfico negreiro e novos quadros jurídico-econômicos.
Explique as seguintes afirmações, de Olga Pantaleão: a) sobre a abertura dos portos: “A decisão, cuja importância não é preciso encarecer ─ bastando notar que ela quebrava o exclusivismo colonial e abria nova fase na história do Brasil ─ favorecia as nações amigas, em especial a Grã-Bretanha...” (PANTALEÃO, Olga. A presença inglesa no Brasil. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de, org. História Geral da Civilização Brasileira. 6.ed. São Paulo: DIFEL, 1985, vol. 3, p. 72); b) sobre o tratado de comércio e navegação de 1810: “O tratado de 1810 foi o preço pago por Portugal à Inglaterra pelo auxílio que dela recebera na Europa. Segundo Canning, por esse tratado, os ingleses recebiam „importantes concessões comerciais às expensas do Brasil‟, em troca de „benefícios políticos marcantes conferidos à Mãe Pátria‟. ... O governo português tinha os olhos no território europeu da Monarquia ao negociar o tratado. Mas a Inglaterra tinha-os voltados para o Brasil” (IDEM, p. 80-81). 
O bloqueio continental surtiu sérios efeitos econômicos e sociais na Inglaterra. Não demorou para que as linhas comerciais fossem interrompidas em seus fluxos normais, fazendo com que as mercadorias ou retornassem à Inglaterra ou tivessem encontrar rotas alternativas. A transferência da Corte portuguesa para o Brasil foi vista com entusiasmo pelos comerciantes e industriais e com alívio pelos parlamentares: objetivava-se criar um novo pólo demandante e o primeiro passo para tanto havia sido dado. A Abertura dos Portos sacramentaria aquelas esperanças, gerando uma verdadeira inundação do pequeno mercado brasileiro frente à gigantesca e sedenta oferta inglesa. A Grã Bretanha se beneficiou desse fato mais que outras nações amigas porque o mercado brasileiro abria-se no momento em que a maioria dos outros mercados tradicionais estava fechada para a Grã-Bretanha.
O tratado de 1810 reouve diversas cláusulas de acordos prévios entre Portugal e Inglaterra, predominando as mesmas bases de apoio político aos portugueses em troca de enormes benefícios comerciais aos ingleses. O de 1810, porém, foi particularmente significativo nos benefícios que forneceu à Inglaterra: embora em seus termos geralmente se fale em reciprocidade entre as nações. Portugal aceitou os termos econômicos desvantajosos por estar em uma situação política extremamente frágil: a sobrevivência da monarquia portuguesa e a unidade imperial dependiam quase que exclusivamente do apoio inglês, dadas as circunstâncias prevalentes na Europa. Tendo perdido largas extensões de seu território no Oriente para os Holandeses, em função da União Ibérica, enfrentando a ameaça neerlandesa no nordeste brasileiro e estando constantemente sob a ameaça efetiva de uma invasão espanhola, a situação de autonomia político-militar de Portugal em fins do século XVII era extremamente precária. Assim, foi necessário à Portugal aproximar-se cada vez mais estreitamente dos ingleses de modo a poder manter-se como uma nação imperial, claro que às custas de grandesperdas econômicas.
 Frente à perspectiva do fim da guerra, a Inglaterra vislumbrava a possível concorrência que se iniciaria no mercado brasileiro, o que tornava necessário garantir para si concessões comerciais que fizessem prevalecer os interesses anglos no Brasil. Some-se a isto a profunda preparação do negociador inglês, Lorde Strangford, e o caráter anglófilo do mediador português e ter-se-á um panorama do qual emergiram os termos do tratado.
O artigo principal do Tratado de 1810 estabelecia uma nova taxa de importação aos produtos ingleses entrados no Brasil: enquanto que a taxa para os produtos estrangeiros continuava na casa dos 24% e para os produtos portugueses ficava nos 16%, garantia-se aos produtos ingleses (entrados via comerciantes ingleses ou portugueses) uma taxa de apenas 15%. 
Também foram estabelecidos diversos direitos aos comerciantes ingleses: por exemplo, apesar de a Coroa manter seus monopólios, o comércio inglês não deveria ser embaraçado por companhias comerciais exclusivistas. Além disso, os ingleses receberam concessões diversas, como direito à liberdade de culto e de extraterritorialidade. Por fim, um ponto de particular interesse foi dado pelo artigo 10, pelo qual “O Príncipe Regente concordava na abolição gradual do tráfico de escravos e concordava em permiti-lo apenas nas possessões portuguesas da África para o Brasil”. 
TRATADO DE 1810 CORRIGINDO PROBLEMAS DA ABERTURA DOS PORTOS, DEIXANDO SITUAÇÃO DA INGLATERRA MAIS CONCRETA (CLÁUSULAS MAIS ESPECÍFICAS)
VISÃO PROSPECTIVA NÃO ESTÁ EXPLICITADA NO TRATADO
8. Baseando-se na interpretação de Celso Furtado e tomando como ponto de partida as citações que se seguem, analise os efeitos, para a economia brasileira, do Tratado de Comércio e Navegação firmado, em 1810, entre Portugal e Inglaterra: a) “O tratado de 1810 aniquilava ainda o surto manufatureiro que se ia verificando no país, após a revogação, em 1808, do célebre decreto de D. Maria I, que proibia as indústrias no Brasil” (ROBERTO C. SIMONSEN); b) “... o privilégio aduaneiro concedido à Inglaterra e a posterior uniformização da tarifa ao nível de 15% ad valorem, numa etapa de estagnação do comércio exterior, criaram sérias dificuldades financeiras ao governo brasileiro” (CELSO FURTADO). 
Em 1810, o governo português assinaria um acordo de fundamental importância para a história brasileira. Reconhecia o direito inglês de comercializar diretamente com a região colonial em que se instalara a corte e recebia para seus produtos taxações fiscais menores que aquelas aplicadas aos próprios produtos portugueses. Ao mesmo tempo, recebia a garantia de que os ingleses não reconheceriam qualquer liderança política que Napoleão viesse a estabelecer em Portugal.
O mercado brasileiro abria-se no momento em que a maioria dos outros mercados tradicionais estava fechada para a Grã-Bretanha, de modo que os comerciantes ingleses logo exportaram quantidades enormes de mercadorias, acima da capacidade de absorção do mercado brasileiro. (Pantaleão) 
Como o grande objetivo era escoar uma produção de há muito estocada, enviaram-se ao Brasil tanto mercadorias adequadas às demandas existentes, quanto algumas às quais não estavam acostumados os hábitos e gosto, e outras que simplesmente não se coadunavam em nada com as características daquele mercado.Os reflexos desta oferta excessiva não tardariam a surgir: “o abarrotamento do mercado, que logo se fez sentir, tornou difícil o escoamento das mercadorias. Isso refletiu-se imediatamente nos preços dos produtos. 
Com uma oferta de produtos tão expressiva e com preços abaixo do comum, os primeiros passos do surto manufatureiro são desestimulados. Além disso, depois da inclusão da tarifa Alves Branco, o déficit brasileiro em relação à Inglaterra ia crescendo e escoando o ouro nacional para o país beneficiado.
9. Elabore uma comparação entre a crítica à política metropolitana constante do “libelo” do desembargador Rodrigues de Brito, escrito em 1807, e os dizeres do manifesto do Príncipe Regente, redigido no palácio do Rio de Janeiro aos 7 de março de 1810, a seguir transcritos: “(...) para criar um Império nascente, fui servido adotar os princípios mais demonstrados de sã economia política, quais o da liberdade e franqueza do comércio, o da diminuição dos direitos das Alfândegas, unidos aos 2 princípios mais liberais, e de maneira que promovendo-se o comércio, pudessem os cultivadores do Brasil achar o melhor consumo para os seus produtos, e que daí resultasse o maior adiantamento na geral cultura, e povoação deste vasto território do Brasil, que é o essencial modo de o fazer prosperar, e de muito superior ao sistema restrito e mercantil, pouco aplicável a um país, onde mal podem cultivar-se por ora as manufaturas, exceto as mais grosseiras, e as que seguram a navegação, e a defesa do Estado.” 
Antes mesmo da vinda da Coroa para o Brasil, Rodrigues de Brito revoltava-se, em nome do liberalismo, contra entraves, impostos, controles, limitações e proibições presentes na dinâmica colonial. O opúsculo do desembargador evidencia o surgimento de uma elite intelectual mergulhada nos ideais do liberalismo clássico (sobretudo em Adam Smith) e que unia deliberadamente os conceitos de liberdade (em oposição aos séculos de colonialismo) e liberalismo. 
Os dois textos marcam profundamente a percepção que tinham da metrópole os coloniais (ou ex-coloniais no caso do discurso do Príncipe Regente): as “faltas de liberdades”, a limitação da produção industrial (fazendo referência ao decreto de 1875), as barreiras ao livre comércio e as disposições proibitivas são características apontadas como a causa do não desenvolvimento econômico brasileiro. Desse modo, a oposição de Rodrigues Brito é a revolta disfarçada contra a política colonial. As liberdades que ele pleiteia, em nome da nova doutrina, implicam no abandono dos próprios fundamentos do colonialismo, sobretudo nos seus moldes mercantilistas, o que mostra a nova perspectiva que ganha papel fundamental na consolidação das posições assumidas pela nação recém-independente no período crucial de 1800-1850.
Rodrigues de Brito é contundente em sua crítica à política metropolitana em relação à colônia. A declaração aos súditos, acerto de contas, é muito parecida com o texto de Rodrigues de brito (feito 3 anos antes). 
Fica claro que algo aconteceu (talvez transferência das cortes) e gera surpresa essa aproximação dos textos. Tem que mostrar e necessidade que a transferência das cortes trouxe de se aproximar os discursos. O entreposto metropolitano acaba e desqualifica a relação que havia antes, a caracterização de reino unido mostra essa mudança de status. A metrópole veio para cá, não é o caso de manter as políticas. Não é mudança de opinião, é mudança da realidade política de submissão.
É legal trazer uma discussão sobre o liberalismo.
10. Explore as implicações, para a emancipação política brasileira, dos movimentos revolucionários pré-independência, tomando como ponto de partida o trecho seguinte, extraído de carta escrita em Pernambuco, por João Lopes Cardoso, em 15 de junho de 1817: “os cabras, mulatos e crioulos andavam tão atrevidos que diziam que éramos todos iguais e não haviam de casar senão com brancas das melhores. (...) Vossa Mercê não suportava chegasse a Vossa Mercê um cabra, com o chapéu na cabeça e bater-lhe no ombro e dizer-lhe: ─ Adeus Patriota, como estais, dá cá tabaco, ora tomais do meu, como fez um cativo do Brederodes ao Ouvidor Afonso. [Cativo este que já recebera o justo castigo pela insolência:] já se regalara com 500 açoites.” 
Os movimentos de caráter revolucionário pré-Independência (Inconfidência Mineira, Conjura do Rio de Janeiro, Conjuração Baiana, Conjura Suassuna e Revolução Pernambucana de 1817) tiveram por base os então chamados “abomináveis ideais franceses”, isto é, idéias ilustradas propagadas na Europa e que se consolidariam na prática via Revolução Francesa. Além disso, o exemplo norte-americano foi grandemente inspirador para os movimentos latino-americanos deindependência, embora o apoio efetivo dos ianques aos brasileiros (seja por requerimento dos inconfidentes mineiros, seja por parte dos revolucionários de Pernambuco) tivesse sido absolutamente nulo. 
Não se deve, porém, superestimar a importância deste ideário iluminado nos movimentos de independência. A grande maioria dos movimentos pré-Independência foram movimentos de elite, e a própria Independência conservou os interesses das classes dominantes. Assim, o ideário ilustrado encontrava seus limites na estrutura organizacional que se buscava manter, ou seja, apesar de se objetivar a independência política e administrativa, em nenhum momento se advogou uma reestruturação das bases sociais e econômicas em que se assentava a colônia. 
Além disso, aquelas idéias ilustradas haviam sido importadas e não se coadunavam por completo com a realidade brasileira. Em primeiro lugar, ao passo que na Europa serviam aos interesses de uma classe burguesa industrial, que via na organização social vigente um entrave ao seu desenvolvimento e à sua participação política, no Brasil serviriam aos interesses de uma oligarquia rural de caráter claramente conservador. E mais, no Brasil não havia uma classe burguesa industrial; quando muito, havia uma classe burguesa comercial, formada principalmente por portugueses a quem os ideais revolucionários apareciam como extremamente negativos por serem contrários aos privilégios de que desfrutavam. 
É nesse contexto que o ideal ilustrado será perfeitamente coadunado com os preceitos escravistas: entre defender a igualdade entre livres brancos e escravos negros, ou defender os direitos de propriedade dos senhores brancos, preferiu-se a última opção. Esta última características dos movimentos de pré-Independência está ilustrado no trecho citado na questão.
Sob este contexto, os ideais liberais adotados visavam apenas a liquidar os laços coloniais, garantindo os benefícios comerciais que se tinham obtido gradualmente, sem romper qualquer característica estrutural daquela sociedade; já foi salientado, por exemplo, que a “escravidão constituía o limite do liberalismo do Brasil”.
Entrando mais no trecho da questão, os líderes destes movimentos temiam profundamente a possível reação popular que um movimento revolucionário poderia gerar entre as massas. Esclarecê-las significava ameaçar a estrutura que objetivavam manter. É, por exemplo, com aversão e temor que observam a “igualdade insultuosa” que prevalece entre brancos e negros, entre ricos e pobres, na Pernambuco pós-revolucionária de 1817(cenário e, que João Lopes Cardoso viu a cena do escravo do Brederodes). 
	
11. Comente a citação seguinte e, através dela, o processo de nossa emancipação política, com fundamento na caracterização dos limites do liberalismo e do nacionalismo no Brasil, efetuada por Emília Viotti da Costa: “na metáfora predileta dos periodistas e oradores patrióticos, representava-se o Brasil como escravo de Portugal. Os escravos parecem haver compreendido a hipocrisia do discurso patriótico. Se era para libertar o país da figurada escravidão portuguesa, por que não libertá-los também da autêntica escravidão brasileira?” Em junho de 1822, observou o “... barão de Roussin em correspondência para o ministro da Marinha francesa: „É já certo que não somente os brasileiros livres e crioulos desejam a independência política, mas mesmo os escravos, nascidos no país ou importados há vinte anos, pretendem-se crioulos brasileiros e falam de seus direitos à liberdade‟” (REIS, João José & SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 93-94). 
Insumos na questão 10. (escravismo como limite para liberalismo – VIOTI)
12. Tomando como ponto de partida o texto seguinte, exponha os distintos interesses presentes no processo que teve por corolário nossa independência política: “se d. Pedro não pode ser taxado de lento nas decisões, isso aponta para o fato de que ele soube absorver o espírito de sua época, encarnando perfeitamente o novo papel que cabia ao chefe de Estado. Contudo, apesar de sua trajetória posterior em Portugal, tais características não o tornam um liberal. Desde as primeiras notícias do movimento constitucional, as opiniões que manifestou, ou que deixou escritas, revelam-no indignado com a usurpação da soberania a seu pai que as Cortes haviam promovido. Posteriormente, embora hesitante, por breve intervalo, entre obedecer ao Congresso ou permanecer no Brasil, logo aprendeu a jogar com os interesses de coimbrãos e brasilienses, vendo no Império americano não só a possibilidade imediata de livrar-se do jugo da Assembléia, como a perspectiva futura de um Império dual, sobre o qual reinaria, após a morte de d. João VI, com redobrada autoridade e autonomia, de acordo com concepções derivadas ainda na maior parte do universo do Antigo Regime. Como resultado dessas contradições, o Império do Brasil não brotou das inspirações liberais que o período da Independência colocou em circulação, mas nasceu e foi acalentado, mais propriamente, sob o signo do mesmo absolutismo ilustrado que forjara a idéia de império para conservar o que supunha sempre haver sido” (NEVES, Lúcia Maria Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura política da independência, 1820-1822. Rio de Janeiro: Revan / FAPERJ, 2003, p. 418). 
A primeira metade XIX (aula 21)
Emancipação política II
VIOTI – opção mais simples(está na questão 11 tbm)
SLIDE PARA ALÉM DO FISCO/ABRINDO OS INTERESSES INTERNOS (texto de José Bonifácio)
“expliquem separadamente interesses coimbrãos e brasilienses, e dentro dos brasilienses, os antes e depois da independência, podendo dar destaque para o federalismo”
O pós-independencia é o mais rico para discussão, mas prof aceitaria só discussão entre coimbrãos e brasilienses (fazer tudo é muito difícil)
Dá para dimensionar o partido negro, sempre presentes, antes e depois da independência
13. Discuta a citação seguinte: “A rigor, o que se origina do confronto entre o partido autonomista, de um lado, e o imperador e os centralistas locais, de outro, não é a mera oposição de uma província isolada, que insiste em manter seu autogoverno a despeito das medidas adotadas a partir de um centro qualquer de peregrinação. Antes, trata-se de um confronto entre dois projetos de nação para o que fora outrora o conjunto do território da América portuguesa.” (SILVA, Luiz Geraldo Santos da. O avesso da independência: Pernambuco, 1817-1824. In: MALERBA, Jurandir, org. A Independência Brasileira: novas dimensões. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006, p. 343-384). 
	A historiografia brasileira convencional trata o processo de Independência como conseqüência natural do processo de emancipação, o qual foi guiado por homens esclarecidos quanto à realidade política da época. Em 1821 o Reino de Brasil teria se fragmentado se não fosse um conjunto de circunstancias que levaram o projeto unitarista a sair vitorioso. Entre eles podemos citar a presença da dinastia bragantina no Rio de Janeiro sob a pessoa de D. Pedro I, a determinação do centro-sul de manter a hegemonia do poder que havia conquistado a partir de 1808 e a ineficiência das Cortes em aproveitar as cisões inter-provinciais.
	O federalismo assumiu uma forma mais significativa nas províncias do norte, principalmente na Bahia e em Pernambuco. Essas províncias temiam sair do pacto colonial e com Portugal e tornarem-se simples colônias subordinadas a um poder central fluminense. Como a Bahia envolveu-se nos conflitos militares pós-independência, e acabou por reforçar uma posição favorável à D. Pedro, coube à Pernambuco o papel principal de defensor do federalismo. O predomínio pernambucano na esfera fedralista tem raízes também na luta que participaram contra os holandeses ainda no período colonial. Por terem sido responsáveis pela expulsão neerlandesa da região, eles viam o retorno à metrópole como decorrente de sua própria vontade, já que poderiam ter adquirido sua independência enquanto as demais provínciaspermaneceriam colônias (Pernambuco manteria com a monarquia um vínculo consensual).
	O federalismo de 1817-1824 em Pernambuco criou a pecha de separatismo sob a qual viveu esta província durante o Império. Na historiografia tradicional, caracterizou-se negativamente esse separatismo, observado como extremamente nocivo ao projeto de Brasil que se consolidava como vitorioso. 
14. Discuta, confrontando-as, as afirmações seguintes, de autoria, respectivamente, de Fernando Novais e Paula Beiguelman: a) “(...) a exploração colonial, quanto mais opera, mais estimula a economia central, que é o seu centro dinâmico. A industrialização é a espinha dorsal desse desenvolvimento, e quando atinge o nível de uma mecanização da indústria (Revolução Industrial), todo o conjunto começa a se comprometer porque o capitalismo industrial não se acomoda nem com as barreiras do regime de exclusivo colonial nem com o regime escravista de trabalho”; b) “(...) desde o momento em que a economia internacional prescinde do tráfico negreiro como fator de acumulação, suprime-se um requisito básico para a persistência do escravismo. (...) Ou seja: temos que o sistema, depois da revolução industrial, tanto pode inserir como dispensar a escravidão, diversamente do que ocorria quando o tráfico (elemento ao qual se vincula a necessidade do escravismo) era peça relevante no processo de acumulação capitalista.”
 	Novais trata, no trecho acima, sobre a contradição intrínseca ao sistema colonial, o qual é: esse sistema atua na criação da possibilidade de surtos maquinofatureiros, pois ele promove o acúmulo primitivo de capital. Para tal, o antigo sistema colonial se baseia no exclusivismo metropolitano, no trafico negreiro e no escravismo. O problema surge quando a mecanização da indústria chega ao seu auge e essas premissas do sistema começam a impedir a expansão do novo modelo econômico. Para Novais, o escravismo por si só representava uma barreira que poderia comprometer a conjuntura da Revolução Industrial.
	Paula Beiguelman nega a existência de uma dicotomia entre capitalismo e escravidão. Longe de representar um componente a-escravista, o escravismo é uma criação capitalista que se coadunou com ele ao longo de todo período do capitalismo mercantil. Para explicar a razão pela qual o escravismo ruiu frente ao desenvolvimento capitalista, a autora cita o novo caráter da Inglaterra frente às colônias dos EUA e das Antilhas. Os EUA deixam de ter o papel de consumidor principal dos produtos ingleses, pois estes já podiam competir em outros mercados via preços. Por outro lado, com a autopropulsão atingida pelo capital industrial, declina a importância do excedente criado pelo tráfico como fator de acumulação de capital. Dessa forma, a produção antilhana recebe novo caráter: passa de demandadora de escravos para produtora de açúcar para comercialização, agora, no âmbito mundial. A autora deixa claro que tal objetivo não tem em seu cerne qualquer característica de oposição à instituição escravista em si. 
	Um dos argumento de Novais para provar a relação de causalidade entre o fim do escravismo e o desenvolvimento do capitalismo era o de que a Inglaterra industrial estaria requerendo mercados que não podiam ser atingidos em economias nas quais prevalecesse a concentração extrema de renda proporcionada pela instituição escravista. Para Paula Beiguelman, esse argumento é falho, pois a abolição da escravatura não necessariamente significaria, como não significou, a melhor distribuição de renda. Apenas substituiu-se o escravo por uma massa de tão pequenas rendas que não podia ser suficiente para atender às necessidades da oferta crescente de produtos ingleses. 
	A relação entre o novo sistema estabelecido e pela revolução industrial e o escravismo moderno é o de simples indiferença: se a nova conjuntura coloca a possibilidade de extinguir a escravidão, certamente não a põe como necessidade. O que motivou a Inglaterra a acabar com escravismo moderno foi a busca pelo livre-cambismo segundo a autora. A Revolução Industrial, contudo, representa a indiferença do capitalismo à escravidão, pois desaparece a demanda por essa forma de trabalho. Nesse caso, as abolições devem ser entendidas caso a caso, e não como um movimento global.
15. Tomando por base a interpretação de autoria de Paula Beiguelman, critique o trecho seguinte: “O fato é que a Inglaterra, depois de abolir em 1807 o tráfico nas suas colônias, torna-se o paladino internacional na luta contra ele. É sob sua influência ou pressão diplomática muitas vezes, mas não raro também militar que o tráfico será sucessivamente abolido por todos os países do mundo. Quem resiste mais é Portugal e seu sucessor, o Brasil. {...} [D]iante da intransigência inglesa que nada abalava, comprometia-se cada vez mais a soberania brasileira e desorganizava-se a vida do país. De um modo ou de outro, era preciso sair do impasse, e afinal a política brasileira cede. Em 1850 adotam-se medidas efetivas de repressão ao tráfico: não só leis eficientes, mas uma ação severa e continuada.” (PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 20.ed. São Paulo: Brasiliense, 1977, p. 145 e 152) 
	A principal diferença de abordagem entre Caio Prado Jr e Paula Beiguelman é na ênfase em diferentes autores que coaduranaram para o fim da escravidão no Brasil. Para o primeiro autor, a pressão inglesa foi crucial para tal desenrolar da história, como é visto no trecho acima. Já para Beiguelman, a ênfase está nos interesses internos brasileiros que começam a se articular para o fim da escravidão logo em 1850.
	O fim do tráfico, em 1850, implicava logicamente o fim da escravidão, mas esse fato mergulhou o tema da problemática escravista em profundo silêncio, o que para ele, estava longe de refletir alguma indiferença à conjuntura posta. No entanto, foi questão de tempo até que as contradições do sistema escravista viessem a ser agravadas pelo estancamento da entrada de mão de obra cativa. O tráfico interprovincial se intensificou e trouxe um duplo problema: enquanto o nordeste era despovoado de braços, o afluxo de escravos para o sudeste não era suficiente para acompanhar a rápida expansão da economia cafeeira. Vale ressaltar aqui uma diferença entre Prado e Carvalho: enquanto o último fala de uma relativa abundância de mão-de-obra no Nordeste, este último nem chega a mencioná-la, talvez pela percepção do modelo pradiano de inorganicidade daquela parcela livre da população. Prado denota que a opinião pública contra a escravidão é crescente e acaba sendo reforçada quando, a partir de 1865, apenas Brasil e Cuba eram nações escravistas. Surgem na década de 1860 soluções conciliatórias que visam uma harmonização entre dos interesses em jogo sem prejudicar a elite dominante. Caio Prado Jr, diferentemente de Carvalho, identifica as elites políticas e econômicas do Brasil, ou seja, vê nos interesses e articulações políticas o simples reflexo das motivações econômicas e das classes escravocratas da nação. D. Pedro II, movido muito provavelmente por ter recebido um apelo feito pela Junta Francesa de Emancipação, volta a tratar da questão emancipacionista em 1867, mas políticos trazem a tona a Guerra do Paraguai para protelar esse tipo de debate. Caio Prado vê a Lei do Ventre livre de 1871 como uma manobra diversionista: apesar de parecer significativa, foi um triunfo para os escravocratas, além de acalmar as discussões, protelava a abolição em uns 50 anos. Porém, é em no decênio de 1880 que a campanha abolicionista ganha pela primeira vez caracteres de movimento popular. Os próprios escravos são atraídos para ela e tornam-se, pela primeira vez, sob a perspectiva pradiana, agente de um processo que lhes tocava interesses diretos.
	Paula Beiguelman, por sua vez, vê na Lei do Ventre Livre um abalo nas estruturas do sistema escravista, mesmo apesar do efeito sobre o volume de mão-de-obra escrava só se concretizar no longo prazo. Essa lei provocou a depreciação do investimento servil (principalmente o feminino), pois acabou com a perspectiva de da “criaçãode cativos”. Houve sim, segundo ela, uma diminuição na soma de interesses a contrariar a abolição e um estímulo ao setor mais novo da lavoura paulista, direcionando-os para a solução imigrantista.Segundo Beiguelman, se não se advoga abertamente a extinção, também não há muita resistência aberta a ela. É nesse contexto que, para ela, vai agir a pressão inglesa. Os três principais setores das elites não tinham grandes resistências à extinção do tráfico: a agropecuária decadente do Norte e do Nordeste já via seus escravos como mercadoria de exportação; a economia açucareira madura contava com amplo estoque de mão-de-obra constituído em anos anteriores, a economia do centro sul, onde desponta o café, não só se beneficia do tráfico interno mas tende a se deslocar a outras alternativas além do escravo. Dados esses fatores, a pressão inglesa foi bem sucedida. Para Paula Beiguelman, a questão abolicionista influi no encaminhamento político-partidário (liberais e conservadores, interesses agrários e interesses da coroa) dos novecentos, e é na verdade uma disputa de livre-cambismo versus pacto colonial às avessas, no mercado açucareiro.
16. Discuta a citação seguinte, de Jaime Rodrigues, adotando a visão de Caio Prado Júnior sobre a extinção do tráfico de escravos para o Brasil: “a população livre e pobre, os escravos e os africanos livres também estiveram presentes no processo de extinção do tráfico para o Brasil. Embora o papel desempenhado por estes sujeitos não tenha sido determinante para o desfecho do processo, não se pode negligenciar sua presença.” 
Uma posição característica do modelo pradiano é observar a inorganicidade da massa escrava perante o processo abolicionista, o qual lhe tocava o mais diretamente possível. Para Caio Prado Jr, se é verdade que eles participaram de movimentos de rebelião em algumas circunstâncias, é fato também que eles acompanharam muito debilmente. Essa posição contraria a historiografia moderna e a questão posta na citação de Jaime Rodrigues, que levantam a idéia de uma participação efetiva do escravo na luta contra a escravidão. 
Um dos argumentos para explicar tal inatividade era a falta de articulação de interesses entre os escravos devido ao grande afluxo deles dentro do país e dos conflitos, não raros, entre as diversas nações africanas. Porém, no decênio de 1880, a campanha abolicionista ganha pela primeira vez caracteres de movimento popular. Os próprios escravos são atraídos para ela e tornam-se, pela primeira vez, sob a perspectiva pradiana, agente de um processo que lhes tocava interesses diretos.
17. Comente, com fundamento nos distintos entendimentos da Lei do Ventre Livre explicitados por Caio Prado Júnior, Paula Beiguelman e José Murilo de Carvalho, as afirmações que se seguem: “O texto final da lei de 28 de setembro foi o reconhecimento legal de uma série de direitos que os escravos haviam adquirido pelo costume e a aceitação de alguns objetivos das lutas dos negros. (...) Na verdade, a lei de 28 de setembro pode ser interpretada como exemplo de uma lei cujas disposições mais importantes foram „arrancadas pelos escravos às classes proprietárias. E essa lei também pode ser interpretada como exemplo do instinto de sobrevivência da classe senhorial: o conselheiro Nabuco explicou que „a esperança de alforria que a lei daria aos escravos „em vez de perigo, é um elemento de ordem pública (...). Alguns autores viram na lei do ventre livre o momento de afirmação ou de consolidação de um projeto de transição para o trabalho livre e de formação de todo um contingente de trabalhadores disciplinados e higienizados. Essa pode ser uma parte da história. (...) O fato é que 1871 não é passível de uma interpretação unívoca e totalizante. É mais fácil fazer um boi voar do que tirar ilações desse tipo. O que nos interessa especificamente é perceber que a lei de 28 de setembro foi de certa forma uma conquista dos escravos, e teve conseqüências importantes para o processo de abolição na Corte. (...) Com efeito, Pancrácio, „tu cresceste imensamente (...).” (CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, p. 159-161) 
Tanto Caio Prado Jr, quanto Paula Beiguelman e Carvalho não concordam que a Lei do Ventre Livre foi uma conquista dos escravos, embora cada um tenha visto diferentes aspectos nesse fato. Caio Prado, por sua vez, vê a Lei do Ventre livre de 1871 como uma manobra diversionista: apesar de parecer significativa, foi um triunfo para os escravocratas, além de acalmar as discussões, protelava a abolição em uns 50 anos. 
Já Paula Beiguelman percebe na Lei do Ventre Livre um abalo nas estruturas do sistema escravista, mesmo apesar do efeito sobre o volume de mãe-de-obra escrava só se concretizar no longo prazo. Essa lei provocou a depreciação do investimento servil (principalmente o feminino), pois acabou com a perspectiva de da “criação de cativos”.
Em seu texto, José Murilo de Carvalho cita uma expressão utilizada pelo conselheiro Nabuco: “tal proposta (a lei do ventre livre) teve o efeito de um raio caindo de um céu sem nuvens”. Isso significou que as motivações de D.Pedro II não foram claras e muitos consideraram a decisão como um desatino monárquico e inconseqüência política. Carvalho também articula as posições distintas que se formaram em relação à lei. De um lado, havia os críticos à decisão do imperador, alegando que não havia pressão alguma (nem interna ou externa) que justificasse a Lei. Além disso, seria perigoso discutir um tema tão delicado em um momento em que as tropas brasileiras estavam mobilizadas. Do outro lado, havia aqueles que acreditavam que o Brasil teria que uma hora ou outra encarar o problema do escravismo, e que, seria melhor fazê-lo de forma gradual, lenta e controlada, antes que os próprios escravos tomassem os prumos da discussão de forma revolucionária.
A votação desta lei, segundo Carvalho e Paula Beiguelman, causou grandes abalos na estrutura política na qual se assentara o império até então. Um exemplo foi o problema relacionado à posição do Partido Liberal em relação à essa lei: o projeto abolicionista tinha sido incorporado ao partido em 1869, portanto, não seria coerente impedir que uma lei que estava em seu programa político não passar. Porém, se votassem à favor do governo, perderiam o caráter de oposição aos conservadores que possuíam. Sendo assim, houve uma cisão no partido, assim como ocorreu entre deputados de diversas origens e em função da ocupação.
Para Carvalho, um ponto crucial que emergiu com a discussão da Lei do Ventre Livre é a de que o governo estava longe de ser um reduto de interesses escravistas. A iniciativa foi, sem dúvida, da Coroa e além de tornar indiscutível o fim próximo da escravidão, mostrou aos escravistas que não teriam a Coroa ao seu lado.
18. Caracterize e avalie o “sistema de parceria”, tendo por referencial a chamada “imigração assalariada”, sobre a qual escreve Paula Beiguelman: “(...) o imigrante percebeu as vantagens que podia oferecer a lavoura cafeeira das terras novas, e o fazendeiro o partido que podia tirar do interesse despertado. Para a descoberta dessas vantagens recíprocas fora necessário entregar o cafezal à família colona, deixando-a explorar livremente as possibilidades da situação. É nesse sentido que Couty critica a substituição pura e simples de um „preto por um branco, um escravo por um contratado, ou assalariado ou seja, a inserção do imigrante no sistema fundado no quadro servil, tal como se procedera até então seria inoperante: impunha-se a própria substituição do trabalho coercitivo pelo incentivado” (BEIGUELMAN, Paula. A formação do povo no complexo cafeeiro: aspectos políticos. São Paulo: Pioneira, 1968, p. 90) 
	O sistema de parcerias teve início nos anos de 1840 e foi estimulado pelo insucesso da política de núcleos coloniais e pela iminência do fim do tráfico. O senador Vergueiro foi o pioneiro na contratação de trabalhadores vindos diretamente da Europa, pois percebeu que convinhamais trazer o imigrante para a grande lavoura do que torná-lo proprietário. 
	 Caio Prado Jr viu, assim como Paula Beiguelman, que um dos maiores problemas relacionados a esse novo sistema, foi a falta de mudança de mentalidade por parte dos proprietários de terra. Acostumados a lidar exclusivamente com escravos, os contratantes não tinham a consideração requerida pelos trabalhadores livres. Os contratos eram assinados pelos emigrados ainda em sua pátria de origem, e neles havia dezenas de clausulas que beneficiavam largamente os proprietários. Além das péssimas condições de trabalho, a repartição do produto era um problema recorrente sendo que a Alemanha chegou a proibir a emigração para o Brasil em 1859.
	Assim sendo, é clara a necessidade de uma mudança maior do que apenas “o trabalhador negro pelo branco”, é necessário trocar o trabalho escravo por um sistema de incentivos e que possibilite a acumulação econômica.
19. Considere os comentários transcritos a seguir: Sobre os ex-escravos, em 1888: “Os ex-cativos... fogem ao trabalho. Se vão para uma fazenda como camaradas, poucos dias param. São excessivamente exigentes, morosos no trabalho, param a cada momento para fazer cigarro e fumar; nas horas de refeição demoram-se indefinidamente, bebem, poucos se sujeitam a fazer um feixe de lenha etc. Qualquer observação que se lhes faça recebem como ofensa e formalizando-se dizem que são livres, largam a ferramenta e lá se vão”; “O anedotário registra que não querem saber de café „nem pra beber‟”. Sobre os imigrantes europeus, em 1869: “... os colonos seriam „homens que, por já ociosos‟ não achavam ocupação nos seus países de origem, „oferecendo-se por isso a emigrar na primeira oportunidade que para isso se ofereça‟”; “Em nosso país, e mesmo nesta América, é um fato esse que tenho de perto observado. Em geral, a gente que tem emigrado para o Brasil está bem longe de ter a moralidade e qualidades precisas para o trabalho. Ou porque já venham onerados de dívidas, ou porque fazem uma idéia muito mais vantajosa do Brasil, ou porque sejam incapazes do trabalho, o que é verdade é que os agentes do governo encarregados de promovê-la pouca atenção têm prestado a tão importante assunto”. Sobre o trabalhador nacional livre, em 1858: “Diz-se que os brasileiros, desde que estão com a espingarda ao ombro ou com o anzol no rio, desde que têm o lambari para comer e a viola para tocar, de nada mais cuidam”; e em 1874: “Os trabalhadores livres agora estão pimpões, porque eles já têm consciência da carestia de braços. Fora da lavoura, eles ganham um dia para o resto da semana. E quando mesmo assim não fosse, eles querem vadiar na segunda-feira, pois no domingo passaram a noite no cateretê, e também querem vadiar no sábado porque é dia de Nossa Senhora. Os quatro dias da semana que restam, querem passar bem, fazer o cigarro no serviço e comer bem sossegado ... qual, pois, a utilidade que poderão prestar ao lavrador que está com seus serviços atrasados?” Ora, se assim era, não é à toa que se afirme ter a cafeicultura se defrontado com uma crise de mão-de-obra a partir da extinção do tráfico negreiro. Pergunta-se: a) Colocava-se efetivamente nesses termos o problema da mão-de-obra? b) Como foi possível à lavoura cafeeira superar essa crise? 
Nem toda a historiografia concorda com essas descrições dos diversos tipos de trabalhadores disponíveis no Brasil na segunda metade do século XIX. O problema da mão de obra vai além desses estereótipos traçados na época. A maior questão encontrada era a adaptação do proprietário em lidar com os trabalhadores imigrantes (ver questão anterior). SINTO QUE FALTA ALGO
	
Com os problemas no sistema de parcerias, um novo sistema foi ganhando espaço e se mostrou muito mais adequado ao momento da história brasileira. Os contratos foram adotando um sistema misto no qual o imigrante receberia uma parcela fixa de renda e outra variável de acordo com sua produtividade. Porém, mais do que a simples mudança de cláusulas, seriam necessárias duas grandes mudanças: a mobilização do governo para que o imigrante realmente se tornasse uma força produtiva substituta da mão-de-obra escrava e alteração de mentalidade di grande produtor agrícola frente ao imigrante. Segundo Petrone: “Não seria o contato com os negros que daria margem às queixas do imigrante, mas a mentalidade escravocrata dos fazendeiros que não conseguiam entender as aspirações dos imigrantes e nem que tratavam com pessoal livres”. Houve, sim, mobilização do governo para promover a imigração subvencionada, sendo o governo provincial de São Paulo o mais interessado no fomento devido a sua carência de mão-de-obra em sua fronteira cafeicultora ocidental.
20. Elabore uma caracterização do chamado “complexo cafeeiro” levando em conta o comentário seguinte: “há, a partir de 1870, um claro movimento de diversificação do investimento em São Paulo que se dá mesmo por meio da criação de empresas em novas atividades (estrada de ferro, transporte urbano, iluminação a gás). A concentração da riqueza, associada à dimensão relativamente reduzida dos novos ramos, acaba por multiplicar a presença das mesmas pessoas em duas, três ou mais empresas. {...} O surgimento do sistema bancário em São Paulo prende-se (...) a esse movimento mais amplo do capital paulista, detonado, sem dúvida, pelo aumento das exportações de café do planalto paulista a partir de 1850.” (SAES, Flávio A. M. de. Crédito e bancos no desenvolvimento da economia paulista, 1850-1930. São Paulo: IPE/USP, 1986) 
	O complexo cafeeiro foi um movimento já claramente identificável nos anos de 1870 e que se manifestou na diversificação dos investimentos a partir do capital cafeeiro. Foi marcado pela multiplicidade de atividades dos empresários, tendo em vista a concentração da riqueza e a dimensão relativamente pequena de novos ramos. O avanço extremamente rápido da economia cafeeira, deslocando o centro econômico para a província de São Paulo, significou a transformação daquela produção o centro dinâmico da gestação capitalista no Brasil. O regime de assalariamento e a mobilidade da mão-de-obra são características desse complexo que demonstram o rumo desta economia aos moldes capitalistas. A mecanização na produção, por sua vez, teve um reflexo social: a classe fundiária, ou seja, a burguesia agrícola passou a controlar também o capital de caráter industrial, de modo que a economia do café ia além da propriedade fundiária.
	Outro elemento que evidencia a modernização do complexo cafeeiro é dado pelas estradas de ferro. Sem elas, teria sido impossível avançar a fronteira agrícola para dar ao café o vulto que este efetivamente obteve. Mais que um serviço de transporte, os grandes cafeicultores viam nas estradas de fero um negócio em si, o que pode ser evidenciado pela alta lucratividade das três companhias (Paulista, Sorocabana e Mogiana) e pela extensão de suas malhas ao longo de todo estado de São Paulo.(tudo Sérgio Silva)
	
21. Discuta: “O capital cafeeiro tinha, portanto diversos aspectos; ele apresenta ao mesmo tempo as características do capital agrário, do capital industrial, do capital bancário e do capital comercial. {...} não havia uma burguesia agrária cafeeira, uma burguesia comercial etc., mas uma burguesia cafeeira exercendo múltiplas funções. {Não obstante, há que} ressaltar a dominação das funções comerciais. Em outros termos, a caracterizar o capital cafeeiro como um capital dominantemente comercial. Essa mesma análise nos permite também distinguir duas camadas bastante bem definidas no seio da burguesia cafeeira. {...} Os grandes capitais ─isto é, a camada superior da burguesia cafeeira─ definiam fundamentalmente uma burguesia comercial. Os médios capitais ─isto é, a camada inferior da burguesia cafeeira─ definiam sobretudo uma burguesia agrária, cuja fraqueza (resultante do fraco desenvolvimento do capitalismo ao nível de produção) a aproximava de uma simples classe de proprietários de terra.” (SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indústria no Brasil. São Paulo: Alfa-Omega,1976, p. 60-61) 
	Um dos principais responsáveis pelo aspecto destacado por Silva na questão (não haver apenas uma burguesia agrária cafeeira ou uma burguesia comercial) é mecanização na produção. Apesar de esta ser empregada apenas no processo de beneficiamento, a qualidade dos grãos foi aumentada, o processo foi acelerado e facilitava a economia de mão-de-obra, relativamente escassa no período tratado. A classe fundiária, ou seja, a burguesia agrícola passou a controlar também a o capital de caráter industrial, de modo que a economia cafeeira ia além da propriedade fundiária.
	Gradualmente, os grandes cafeicultores iam se distanciando das tarefas de produção, nomeando administradores para suas fazendas e passam a se concentrar mais nos negócios do café, como usa comercialização, exportação e gestão junto ao governo.
	Em paralelo ao que afirma Celso Furtado ao comparar as economias cafeeira e açucareira, Silva explicita que os homens ligados ao café desenvolvem atividades comerciais e políticas, estando envolvidos em toda a cadeia de produção e comercialização do produto. Furtado diferencia a classe de liderança da economia cafeeira com a classe de liderança da economia açucareira explicando que a última, era responsável apenas pela produção, ficando a comercialização a cargo completo dos comerciantes metropolitanos (e depois da independência, dos comerciantes ingleses).
Assim, o capital cafeeiro tinha diversos aspectos; era capital agrário, capital industrial, do capital bancário e capital comercial. No entanto, era como capital comercial que prevalecia: como o capitalismo ainda não se desenvolvera profundamente no país, a forma mercantil tinha que ser historicamente a prevalente naquele momento; além disso, estando o país ainda muito ligado ao setor externo, não é de se admirar que o comércio internacional tornasse o caráter comercial do capital cafeeira o predominante.
O autor evidencia, então, duas classes ligadas aos interesses do café: a dos grandes burgueses (proprietários de casas comerciais, centros de exportação, bancos, instituições financeiras, etc.) e dos médios burgueses, que controlavam apenas a propriedade fundiária, sendo beneficiados pelos grandes burgueses, mas não influindo sobre as decisões destes.
22. a)Discorra a respeito das características do fluxo de renda que se estabelece na economia cafeeira, enfatizando as peculiaridades que o distinguem do fluxo de renda próprio de uma economia exportadora "puramente escravista". b)Explique por que tais características acabam por implicar uma tendência ao desequilíbrio externo na economia brasileira. 
	a) Ao se considerar o setor mais dinâmico da economia brasileira, ou seja, aquela ligada à exportação observa-se ter ocorrido um aumento de 214% na quantidade exportada pelo país na segunda metade do século XIX, número certamente muito significativo e muito melhor do que observado por Furtado na primeira metade do mesmo século. Porém, esse crescimento da renda real não se deu eqüitativamente em todo o Brasil. Para analisar as diferenças regionais, Furtado separou o país em 5 setores: Nordeste (com a cultura do açúcar, do algodão e agricultura de subsistência); Sul (cultura da erva-mate, charque e agricultura de subsistência); Centro (cultura do café); Bahia (cultura do cacau, fumo, açúcar e pecuária) e Amazonas (extração da borracha).
	A economia cafeeira experimentou um imenso desenvolvimento ainda que de bastante díspar entre os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, de um lado, e São Paulo e Espírito Santo de outro, nos quais o crescimento na segunda metade do século XIX foi muito mais intenso. Tal desenvolvimento não é só importante por ter gerado um crescimento de 4,5% ao ano na renda per capita, um nível realmente extraordinário, mas também por ter estimulado a produtividade dessas regiões que abasteciam aquele mercado em franca expansão.
	Para Furtado, o desenvolvimento inicial do trabalho assalariado foi um dos acontecimentos mais importantes na segunda metade do século XIX, pois possibilitou a criação e posterior consolidação do mercado interno. Mesmo estando inclusa nos moldes da grande agricultura de exportação de produtos primários para um mercado demandante internacional, a produção cafeeira tinha um dinamismo econômico interno até então inexistente. 
	A renda gerada pelas exportações café acabava sendo distribuída entre o cafeicultor (classe não assalariada), remunerando o capital e geralmente transformando-se em novas inversões de capital, e os assalariados, que a utilizavam principalmente na aquisição de bens de consumo. Esta divisão da renda intensificava a economia monetária e estimulava-se a produção interna, de modo que ocorriam aumentos na produtividade e melhor utilização de fatores até então subutilizados.
	O que chama a atenção de Furtado é que em momentos favoráveis, os ganhos são retidos pelos cafeicultores e não repassados para os salários. Porém, em momentos desfavoráveis, a taxa de câmbio é mudada para proteger o cafeicultor, e as quedas são assim partilhadas pela coletividade que paga o preço das importações mais caras (a isso chamou-se de socialização das perdas).
	Na economia escravista, o coeficiente de importação é quase 1, ou seja, a maior parte da renda que adentra o país, logo sai. O efeito do multiplicador de dispêndio é muito menos do que no caso da economia cafeeira com trabalho assalariado.
	b) O desenvolvimento de uma economia baseada no trabalho assalariado demonstraria alguns desequilíbrios econômicos que haviam sido pouco ou nada relevantes quando se operava no sistema de mão-de-obra escrava. Um dos maiores desequilíbrios seria evidenciado pela participação nacional no regime monetário do padrão-ouro. Este, fundamentado nas características da economia européia, determinava que um país deveria possuir reservas metálicas suficientes para cobrir eventuais déficits em suas balanças de pagamento. Caso um país eventualmente tivesse um déficit, suas reservas metálicas iriam cobri-lo, de forma que o meio circulante daquele país diminuiria, gerando internamente uma baixa nos preços e um decorrente estímulo à suas exportações. Tal mecanismo se mostrou eficiente em países com o nível de desenvolvimento mais avançado, nos quais os coeficientes de importação eram baixos, principalmente em relação ao nível de suas exportações de manufaturados. Porém, em economias ainda muito sensíveis às flutuações de preços e com altos coeficientes de importação, como a brasileira no século XIX, esse sistema dificilmente operava satisfatoriamente.
	Quando uma crise era deflagrada nos centros internacionais demandantes dos produtos primários brasileiros, ocorria uma forte contração da demanda juntamente com a queda de preços e uma conseqüente diminuição na entrada de divisas internacionais no país. Por outro lado, a quantidade de importações não caía na mesma proporção e velocidade, devido à seguinte defasagem temporal: as importações realizadas enquanto caíam os preços dos bens exportados eram financiadas por expansões anteriores daquelas exportações. Assim, a nação incorria em rombos orçamentários que eram cobertos por reservas do padrão-ouro. Logo, a possibilidade de incorrer continuamente esses déficits ameaçava a manutenção do padrão-ouro.
	Porém, esse desequilíbrio só mostrava-se latente por causa da presença do trabalho assalariado. Quando prevalecia o sistema servil, o escoamento de reservas metálicas para o exterior, reduzindo o meio circulante interno, causava poucos problemas uma vez que a base da população que participava da economia monetária era restrita. Quando se colocou a mão-de-obra assalariada, a maior complexidade na distribuição da renda fez com que a demanda por moeda crescesse na economia brasileira. Sendo assim, as saídas de reservas nacionais, reduzindo o meio circulante, tinham efeitos sérios sobre o funcionamento da economia como um todo. 
	O desequilíbrio constante da balança de pagamentos fazia com que o governo levasse a cabo uma política contínua de política de desvalorização da moedanacional através de desvalorizações cambiais. Essa desvalorização impedia um grande volume de importações ao mesmo tempo que formava um “colchão” para os exportadores em épocas nas quais o preço internacional do café caía (apesar do preço ter efetivamente caído, dada a desvalorização da moeda nacional, quando as rendas que eles obtinham eram cambiadas para a moeda nacional, parte das perdas eram amenizadas). Assim, com importações mais caras, a grande massa da população saía prejudicada, pois seus salários eram relativamente fixos. A desvalorização cambial impede que o desequilíbrio seja só uma tendência. Na economia cafeeira, a desvalorização contamina quase toda a cadeia de consumo, pois, a fração monetária da renda que se internaliza é maior.
	Vale ressaltar que este mecanismo de socialização de perdas era uma verdadeira forma, segundo Furtado, de proteger a economia brasileira, ainda dependente e relativamente pouco desenvolvida. Se os efeitos da queda dos preços fossem absorvidas apenas pelo cafeicultor, este diminuiria sua produção gradativamente e a parte mais substantiva desta economia iria rumo á estagnação e talvez ao declínio, decaindo junto a ela a economia salarial que se começava a colocar e que tenderia, nessas circunstâncias, à subsistência Porém, mesmo nas épocas de baixa nos preços, valia a pena para o produtor manter o nível da produção, o que mantinha o nível de emprego na economia.
23. Discuta o episódio da proclamação da República, situando-o com relação ao “(...) profundo desequilíbrio entre o poder político e poder econômico que se observava nos fins do Império, oriundo do empobrecimento das áreas de onde provinham tradicionalmente os elementos que manipulavam o poder e concomitantemente do desenvolvimento de outras áreas que não possuíam a devida representação no governo.” (COSTA, Emília Viotti da. Da Monarquia à República: momentos decisivos. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 344). 
	A historiografia convencional propõe que a proclamação da República resultou de três fatores principais: a questão religiosa, a insatisfação política dos militares e a abolição da escravidão. Emília Viotti da Costa acredita que essa concepção é muito simplista por desconsiderar causas econômicas mais profundas que permearam nosso processo revolucionário e dos quais as 3 causas apontadas são meros reflexos da conjuntura do fim do século XIX. As duas linhas mestras de pensamentos, as quais a autora critica o enfoque personalista são: a monárquica, que vê na República um golpe militar sem embasamento popular; e a republicana que tende a exaltar a adesão popular após o enfraquecimento daquela “planta exótica na América” (monarquia).
	Após a crise de 1929, surge uma nova historiografia que argumenta, em sua nova perspectiva, que o regime monárquico teria gradualmente se mostrado incapaz de resolver os problemas do país. 
	A autora, tendo em vista as críticas às perspectivas tradicionais, trata a questão republicana a partir das alterações sócio-econômicas que se processaram no Brasil e que funcionaram para destituir o poder monárquico. A segunda metade do século XIX foi marcada por rápidas relativamente profundas alterações no campo econômico. Desenvolveram-se as ferrovias, implantaram-se processos mais modernos na produção açucareira e no beneficiamento do café, multiplicaram-se organismos de crédito, impulsionou-se a substituição da força de trabalho cativa pela assalariada, houve a intensificação do processo de urbanização, modelou-se um mercado interno mais consolidado e o capitalismo industrial deu seus primeiros passos. Tudo isto teria reflexos sociais muito profundos. A partir destas alterações econômicas, surgiram novos grupos sociais que não tardaram em manifestar seus próprios interesses. 
	Os industriais nascentes requeriam maior protecionismo do Governo, a nova elite cafeicultora almejava maior representatividade política para promoção de seus interesses econômicos, a pequena burguesia e a classe média requeriam também maior representatividade e demandavam melhorias nos serviços públicos. Ao passo que a organização social brasileira se tornou mais complexa, as elites políticas dominantes, provenientes da antiga e decadente região do Vale do Paraíba e das regiões açucareiras mais tradicionais e menos modernas do nordeste, buscavam acirradamente manter seu status político dominante. O desequilíbrio entre o poder político e poder econômico citado no trecho da questão, é, portanto, esse descompasso entre interesses entre os barões do café do vale do Paraíba e senhores de engenho (poder político) e os cafeicultores do Oeste Paulista (poder econômico).
	Um exemplo de diferentes interesses entre os dois pólos de poder era em relação ao modelo de governo a ser escolhido. A nova classe média dos agricultores vanguardistas do Oeste Paulista levantava agora, a bandeira federativa. É interessante ressaltar que havia sido justamente as províncias de São Paulo, Rio de Janeiro e outras do Centro-Sul as maiores promulgadoras do centralismo pós-Independência. Naquela época, era-lhes mais interessante manter o poder central que haviam adquirido com a transferência da Corte para o Brasil.

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