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HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO Aula 6 – BERGSON: do riso ao tempo. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO Nesta aula abordaremos: - Reconhecer o filósofo Henri Bergson e sua crítica filosófica; - Analisar a percepção de tempo na crítica bergsoniana; - Reconhecer a importância da filosofia de Bergson para a consolidação do pensamento contemporâneo. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO Um homem da virada do século Henri Bergson nasceu e viveu entre dois mundos que se configuravam diante dele: o século XIX cientificista e progressista e o mundo da primeira metade do século XX, caótico e neurastênico diante dos horrores da primeira guerra mundial e da ascensão do fascismo na Itália e nazismo na Alemanha. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO O CIENTIFICISMO DO SÉCULO XIX: A CIÊNCIA TEM RAZÃO Os últimos anos do século XIX e os primeiros do XX foram marcados pela difusão de diversas teorias cientificistas que deixaram marcas profundas no estudo da natureza (com o evolucionismo de Darwin) e da sociedade (com o positivismo de Comte e o darwinismo social de Spencer), e no direito e na psiquiatria (com a antropologia criminal de Cesare Lombroso e Enrico Ferri). Tais correntes procuravam romper com as explicações abstratas e metafísicas, buscando desvendar racionalmente a lógica do mundo natural, social, humano e sobrenatural, preferencialmente através da observação empírica. Todas tinham como ponto em comum a convicção de que a ciência e a técnica poderiam resolver os problemas básicos da humanidade. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO A CRISE DA CONSCIÊNCIA EUROPÉIA: 1914-... A Primeira Guerra Mundial, considerada de “gênero novo” na história das guerras, abre uma fenda ontológica e epistemológica na “civilização” européia. A realidade do progresso, da evolução e das utopias do século XIX que povoaram levantes, revoluções e aventuras coloniais se mostrara absolutamente inverificável e produziu nas mentalidades da sociedade européia do pós-guerra uma profunda depressão e contestação ao ideário científico e político liberal que antecedera o século XX. Os Anos Loucos se aproximavam. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO Além do que se vê... Apesar da influência do pensamento científico, especialmente com relação a sua reflexão sobre o tempo, Bergson procura escapar dos ditames da ciência, procurando perceber a subjetividade que escapa aos olhos empíricos, a brecha que está para além da objetividade, do real, do óbvio. (Merleau Ponty) HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO O TEMPO: MATÉRIA PRIMA DO HISTORIADOR As categorias Braudelianas do tempo histórico são as mais famosas reflexões dentro da teoria da história acerca do tempo. O tempo mental difere do tempo político, da mesma forma que o tempo das relações humanas difere do tempo da geografia, das intempéries e das transformações do relevo e da natureza. O tempo é a materia essencial da abordagem histórica. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO O TEMPO em BERGSON: I-N-C-A-L-C-U-L-Á-V-E-L... Em sua obra, Bergson analisa que o tempo não é passível de ser calculado, por isso sua visão acerca dele é diferente de outras. O tempo vivido é incompreensível, diferente do tempo analisado pela ciência, que é passível de cálculo e análise. Ele diferencia a concepção de tempo a partir de duas vertentes HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO CATEGORIAS TEMPORAIS BERGSONIANAS O TEMPO VIVIDO: incognoscível, qualitativo e inserido no elemento da experiência passada e por isso mesmo fugidia. Subjetivo por excelência, ocorre no agir sensível dos homens na história. O tempo vivido pode ser percebido, conceitualisado, idealisado e fantasiaso: mas jamais calculado. O TEMPO FÍSICO: matemático, mensurável e passível de cálculo. O tempo físico se inscreve na lógica da natureza, desdobra-se como o automatismo das estações do ano, expressa-se na relação objetiva da causalidade e da sucessão. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO MUDANÇA E DURAÇÃO em BERGSON. “Reconheço entretanto que é inseridos no tempo espacializado que nós nos encontramos normalmente. Não despertamos nenhum interesse em escutar o bourdonnent contínuo da vida profunda. Entretanto é exatamente aí que reside a durabilidade verdadeira. É graças a esta que as transformações mais ou menos longas que ocorrem dentro e fora de nós ocorrem em um único e mesmo tempo. (Bergson – A Percepção da Mudança, 1911) HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO O PRESENTE: o residual... O PRESENTE em Bergson consiste em um resíduo de impermanência embora o conceito bergsoniano de DURABILIDADE aponte para uma vivência duradoura do que ocorre efetivamente. Entretanto essa durabilidade, especialmente na sua versão mecânica é absolutamente fantasiosa, cabendo ao passado ser o receptor imutável da experiência humana vivida. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO O PASSADO: ETERNO E INALTERÁVEL Para Bergson o PASSADO é na verdade um ambiente de conservação das experiências humanas. Ele é CRESCENTE e ALIMENTADO COTIDIANAMENTE por cada episódio que vivenciamos, cada ação que tomamos, cada ESCOLHA que fazemos. Bergson atribui ao passado mais do que uma IDÉIA; ele é uma INSTÂNCIA existencial, uma COMPONENTE da vida. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO TUDO É PALPÁVEL NO TEMPO ESPACIAL: PREVISÍVEL Para Bergson, os fenômenos do mundo físico seguem uma ordem imutável e intemporal. Assim, passado e futuro poderiam ser apreendidos no presente e, como esse é um tempo onde a mesma causa sempre produzirá o mesmo efeito, é possível prever antecipadamente fenômenos futuros que de alguma forma preexistem à sua realização. Para além dessas análises, Henry considera o tempo dos físicos e matemáticos como um fenômeno reversível e mesmo que mudássemos as ordens das equações que descrevem acontecimentos já decorridos ou ainda a decorrer, as equações utilizadas para esses cálculos permaneceriam as mesmas. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO FENÔMENOS MÚLTIPLOS E UNIFORMES: O PARADOXO BERGSONIANO. 1) Os fenômenos da existência humana são múltiplos e diversos. Entretanto existe um fio de unidade que os atravessa e uniformisa permanentemente. Entretanto essa uniformização pode ser DESCONSTRUÍDA pela ênfase que damos a multiplicidade e diversidade anterior ao impacto do fio de unidade. 2) Esse processo de ênfase, que transforma o MESMO em DIFERENTE mais uma vez é possível graças a subjetividade da psiquê humana, que unifica o múltiplo e logo depois o pulveriza tornando a temporalidade algo ABSTRATO e VAZIO. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO MEMÓRIA E PERCEPÇÃO A memória tem a função de evocar todas as percepções análogas passadas e uma percepção do presente, recordar o que o precedeu e o que o segue e, assim, sugerir a decisão mais útil a ser tomada. A memória está diretamente ligada na filosofia bergsoniana a percepção da continuidade e mudança temporal e factual, ou seja aos desdobramentos do próprio tempo. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO BERGSON: MARCO NA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA Bergson é um marco na filosofia contemporânea: substituindo pela visão biológica a visão materializante da ciência e da metafísica, ele representa o fim da era cartesiana. Exprime, em nível filosófico, um novo paradigma baseado na consciência, adquiridopela cultura de seu tempo, das conexões entre a vida orgânica e a vida social e psíquica. Chamando a sua metafísica de "positiva", ele dá a essa palavra um significado tão original quanto o que atribui ao condeito de duração ou durabilidade. HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO PONTOS DE FIXAÇÃO: Henri Bergson é um filósofo da virada do século XIX para o XX e expressa essa complexidade. O TEMPO VIVIDO e o TEMPO físico são dois de seus mais importantes conceitos filosóficos. MEMÓRIA e SUBJETIVIDADE estão intimamente ligadas no processo de PERCEPÇÃO do tempo e de sua ABSTRAÇÃO. MODELO DE MOLDURA PARA IMAGEM COM ORIENTAÇÃO VERTICAL HENRI BERGSON: VIDA E OBRA – AULA 06 HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO E como resumir nunca é demais... Não existe [...] matéria mais resistente nem mais substancial (o tempo). Porque a nossa duração não é apenas um instante a seguir ao outro; se fosse, nunca haveria mais nada além do presente - nenhum prolongamento do passado na atualidade, nenhuma evolução, nenhuma duração concreta. A duração é o progresso contínuo do passado que morde o futuro e vai inchando à medida que avança. E, como o passado cresce sem parar, não há nenhum limite à sua preservação. A memória [...] não é uma faculdade de arrumar recordações numa gaveta, ou de inscrevê-las num registro [...] Na realidade, o passado preserva-se a si mesmo, automaticamente. Provavelmente acompanha-nos na sua totalidade a cada instante (BERGSON – A EVOLUÇÃO CRIADORA, 1907)
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